quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O Vale dos Sentimentos

Um pai, vendo o jovem e inexperiente filho possesso de ódio e fúria tomado de um ciúme doentio pela namorada que vira conversando com outro rapaz chamou-o para um canto e contou-lhe a seguinte história:

       Havia um lugar chamado Vale dos Sentimentos e lá moravam todos os sentimentos do mundo. Cada qual com o seu nome: Alegria, Tristeza, Sabedoria, Determinação e outros.
       Apesar de serem tão diferentes, davam-se muito bem. Até os sentimentos como o Orgulho, Tristeza e Vaidade não tinham problemas entre si.
       Mas era lá no fundo do vale, na última casinha que morava o mais bonito dos sentimentos: o Amor.
       Ele era tão bom que quando os outros sentimentos chegavam perto dele ficavam mudados. Isso acontecia porque entre todos eles o Amor era o melhor.
       Porém, no mesmo vale, num lugar mais afastado havia um castelo. Nesse castelo também morava um sentimento, só que não tinha nada de bom. Era o lar da Raiva e a Raiva de tão ruim que era não gostava dos outros moradores do vale. Por isso, quando acordava de mau humor fazia tudo para estragar a beleza do lugar.
       Certo dia teve uma ideia. Preparou uma poção “estraga prazeres” a mais estranha de que se tem notícia. O fumo que se ergueu da poção tomou conta do lugar e do vale todo transformando-se numa tempestade como nunca se tinha visto antes.
       Quando o vale se encheu de raios, chuva e vento todos correram para se proteger. O Egoísmo foi o primeiro a esconder-se, deixando todos para trás. A Alegria deu risadas de alívio por se ter salvo rapidamente. A Riqueza recolheu tudo o que era seu, antes de se abrigar. A Tristeza, a Sabedoria... a Vaidade... Todos conseguiram chegar às suas casas a tempo,... menos o Amor.
       Ele estava tão preocupado em ajudar os outros sentimentos que acabou ficando para trás.
       Então uma coisa ruim aconteceu: Um raio cortou os céus. Ouviu-se um estrondo gigantesco e um corpo caiu no chão. A raiva deu a sua tarefa por cumprida e retirou-se para dormir. Quando a tempestade passou, os sentimentos puderam abrir as suas janelas aliviados. Mas ao saírem, eles sentiram uma coisa diferente no ar.
       Algo que nunca tinham sentido antes. Foi então que eles viram a cena.O que aconteceu com o amor? - perguntavam entre si.
       Ele não se mexe - afirmou outro dos sentimentos.
       Está tão parado que até parece que morreu, exclamou outro.
       Nesse momento a Tristeza começou a chorar, o Orgulho não aceitava, disse que era tudo mentira. A Riqueza afirmava que era um desperdício e a Alegria pela primeira vez verteu lágrimas pelos olhos.
       Foi nesse instante que uma coisa estranha começou a acontecer. Os sentimentos começaram a ter desavenças porque sem o Amor para uni-los, as diferenças apareceram. A situação já estava bem ruim quando eles repararam que estavam sendo observados. Alguém que eles nunca tinham visto antes por ali. O estranho ajoelhou-se na frente do Amor... tocou-o calmamente... e ele abriu os olhos.
Ele não morreu. O amor não morreu! - gritavam os outros sentimentos.
Foi aí que todos puderam ver o rosto do estranho.
Ele era ela, e seu nome era Tempo.
Todos comemoraram, o Amor estava vivo e sempre estará!
       Não há nada que possa acabar com o amor enquanto o Tempo estiver ao seu lado para ajudá-lo.
       Assim a paz voltou a reinar no Vale dos Sentimentos. O Amor e o Tempo casaram-se e tiveram três filhos. Os nomes deles são: Experiência, Perdão e Compreensão e moram juntos, hoje e para todo o sempre no Vale dos Sentimentos, bem lá no fundo daquele lugar que se chama CORAÇÃO.

Após ouvir a história o jovem, chorando, agradeceu ao pai dando-lhe um abraço e saiu correndo à procura da namorada para pedir desculpas e voltar a viver a sua grande paixão com a segurança própria daqueles que amam de verdade...

(José Dias, 2007-10-31)

Sem comentários:

Enviar um comentário