quinta-feira, 7 de junho de 2012

Julgamento

Não julgues...

Habitas num recanto mínimo desta terra.
Os teus olhos chegam
Até onde alcançam muito pouco...
Ao pouco que ouves
Acrescentas a tua própria voz.
Mantém o bem e o mal, o branco e o negro,
Cuidadosamente separados.
Em vão traças uma linha
Para estabelecer um limite.

Se houver uma melodia escondida no teu interior,
Desperta-a quando percorreres o caminho.
Na canção não há argumento,
Nem o apelo do trabalho...
A quem lhe agradar responderá,
A quem lhe agradar não ficará impassível.

Que importa que uns homens sejam bons
E outros não o sejam?
São viajantes do mesmo caminho.

Não julgues,
Ah, o tempo voa
E toda a discussão é inútil.
Olha, as flores florescem à beira do bosque,
Trazendo uma mensagem do céu,
Porque é um amigo da terra;
Com as chuvas de Julho
A erva inunda a terra de verde,
e enche a sua taça até à borda.
Esquecendo a identidade,
Enche o teu coração de simples alegria.
Viajante,
Disperso ao longo do caminho,
O tesouro amontoa-se à medida que caminhas.

Rabindranath Tagore, Abrigo dos Sábios.

2 comentários:

  1. "Os teus olhos chegam
    Até onde alcançam muito pouco..."

    Obrigada por esta belissima partilha.
    Uma frase tão pequenina, que tanto nos diz...

    A Paz de Cristo

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  2. Na verdade, a nosso julgamento, por mais ponderado que seja, é sempre limitado e finito. Todo o cuidado é pouco para emitirmos uma juízo de valor. E, claro, é preferível dar o benefício da dúvida.
    Obrigado Canela pelo comentário, pela presença no blogue.
    Em Cristo Jesus.

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