sábado, 2 de outubro de 2010

XXVII Domingo Tempo Comum - 3/outubro

       1 - Hoje como ontem, existem situações que nos levam a questionar as nossas convicções mais arreigadas.
       Por um lado, a nossa fé inquebrantável em Deus, fonte e origem de todo o Universo, sustentáculo do mundo em que vivemos, fim de todas as coisas, garantia do nosso futuro e do fim da humanidade.
       Por outro lado, as situações de miséria extrema, as catástrofes naturais, o sofrimento dos inocentes, em especial das pessoas mais indefesas, crianças, idosos, doentes, a corrupção em larga escala, o sucesso daqueles que contornam ou infringem as normas, e tantas situações de injustiça declarada.
       Acresce a isto a nossa história pessoal, com os imensos fracassos que nos toldam qualquer visão optimista: as doenças, e que por vezes surgem quando menos se esperam e com gravidade tal que desesperam; a solidão,  a incompreensão por parte dos outros, a indiferença com que somos tratados, pela própria família; as dificuldades financeiras que não sabemos como resolver; as tramóias que nos fazem sem o merecermos; a maledicência alheia, sem que tenhamos dado motivos; a morte de alguém que nos é muito e não sabemos como superar!
       Temos muitas coisas positivas, se calhar em muito maior conta. Mas um pequeno insucesso tira-nos a alegria e a vontade de sorrir e ser feliz.

       2 - É neste quadro que podemos reflectir as leituras deste Domingo.
       A fé não nos livra das dificuldades, dos problemas, dos reveses da vida. A prática religiosa não elimina da sociedade alguns vícios entranhados: a violência, a injustiça social, a exclusão, a pobreza, a toxicodependência, o trabalho precário, a corrupção, a mentira, a traição (amizades, namoros, casais, sócios), a guerra, o conflito (na família, em grupo, em diversos países, entre países diferentes), a falta de habitação condigna.
       O primeiro a ouvir-nos é Deus: "Até quando, Senhor, chamarei por Vós e não Me ouvis? Até quando clamarei contra a violência e não me enviais a salvação? Porque me deixais ver a iniquidade e contemplar a injustiça? Diante de mim está a opressão e a violência, levantam-se contendas e reina a discórdia" (Primeira Leitura).
       Mas Deus prometeu que não nos abandonava e, por conseguinte, com os apóstolos, e quando a dúvida for maior, peçamos-Lhe: "aumenta a nossa fé" (Evangelho). Ele não deixará de nos responder: "o justo viverá pela sua fidelidade" (1.ª leitura). Enviar-nos-á o Seu Filho, a Salvação eterna que peregrina com a humanidade, perdida na noite da violência e da dúvida. Ele garante a vitória do bem, da vida, da verdade. Mais, com a morte e ressurreição de Jesus, Deus antecipa uma justiça que vai muito além dos nossos critérios pessoais e relativos.

       3 - A fé não resolve os nossos problemas, mas dá-lhes um sentido, uma finalidade. Por um lado, relativiza as dificuldades, não são para sempre, quer neste mundo quer na vida futura; por outro, leva-nos ao compromisso de tornarmos Deus presente nos acontecimentos do nosso quotidiano, procurando iluminá-los, envolvê-los no projecto de salvação. É um compromisso que se estende do tempo actual até à eternidade de Deus. A Sua vinda à terra, pela Encarnação, é a certeza que Ele Se coloca definitivamente do nosso lado para vencer todo o mal. E ainda que em diferentes momentos e em situações diversas não tenhamos uma solução à vista, a convicção profunda que Ele nos vale, mesmo quando tudo à volta falha.
        Ouçamos o convite de São Paulo, na Segunda Leitura: "guarda a boa doutrina que nos foi confiada, com o auxílio do Espírito Santo, que habita em nós", para que a fé que Cristo nos dá, ainda que minúscula como o grão de mostarda, não cesse de nos guiar, na esperança e na alegria, para o bem.
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Textos para a Eucaristia (ano C): Hab 1,2-3; 2,2-4; 2 Tim 1,6-8.13-14;  Lc 17,5-10

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