sábado, 23 de outubro de 2010

XXX Domingo Tempo Comum - 24/Outubro

       1 – "O Senhor é um juiz que não faz acepção de pessoas. Não favorece ninguém em prejuízo do pobre e atende a prece do oprimido. Não despreza a súplica do órfão nem os gemidos da viúva. Quem adora a Deus será bem acolhido e a sua prece sobe até às nuvens. A oração do humilde atravessa as nuvens e não descansa enquanto não chega ao seu destino. Não desiste, até que o Altíssimo o atenda, para estabelecer o direito dos justos e fazer justiça" (Primeira Leitura).
       Deus, oração e humildade. A oração feita em humildade leva-nos ao coração de Deus. Ele não deixa de atender a todo aquele que se Lhe dirige com sinceridade. E atende sobretudo o pobre, não para discriminar, mas para a todos incluir.
       Deus olha ao coração e não às aparências. Não faz acepção de pessoas. Não atende o que é mais rico ou mais poderoso. Escuta todos, sobretudo o que tem o coração disponível para rezar, para acolher, para agradecer, para se transformar, para se converter.

       2 – Só a humildade nos liga aos outros e a Deus. A arrogância e a prepotência afastam-nos do diálogo, da entreajuda, do convívio, da comunhão, da caridade, da partilha solidária. Se eu não preciso de ninguém e também não preciso de nada, também perco a vontade de me envolver em projectos de caridade, de vivência em grupo. Se cheguei aqui, que os outros façam por isso que também hão-de chegar. Eu sou bom, sou melhor que todos, estou acima de todos, só o que eu faço é que conta.
       Jesus conta uma parábola "para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros". Dois homens que sobem ao templo para rezar, um publicano e um fariseu. Este, na sua oração, coloca-se acima do outro, é melhor, tem tudo o que é preciso aos olhos de Deus e dos homens. O outro é um pecador e a sua oração é de conversão, não se atrevendo a levantar os olhos, reconhecendo a sua pequenez diante de Deus. Este, porém, diz-nos Jesus, é o que sai justificado diante de Deus, "porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado" (Evangelho).

       3 – A psicologia mostra-nos que na realidade todos precisamos de reconhecimento e da aprovação dos outros. Jesus sabe isso muito bem! Quando nos ignoram, reagimos. Uns pela maledicência, procurando destruir aqueles que eventualmente têm uma aceitação maior. Outros, caem na depressão, ou num humor doentio, cruzam os braços, deixam-se dominar pelo pessimismo. Outros, vão à luta, pela positiva ou pela negativa. Estes, criam situações em que apostam tudo na imagem, mesmo que não haja verdade, conteúdo, mesmo que aquilo que façam só lhes sirva a eles pessoalmente. Aqueles, procurando com perseverança fazer o bem, praticar a justiça, viver em atitude de caridade, sabendo que o próprio facto de estarem a agir correctamente já é compensação.
       Na escola ou numa turma, há alunos que chamam à atenção pela sua inteligência, pela sua criatividade, pela grande humanidade na relação com os outros. Há alunos que são reconhecidos pelo seu trabalho, pela humildade, pela dedicação em tudo o que fazem, pela disponibilidade em aprender e em serem ajudados. E há alunos que seguem o caminho mais fácil. Têm talentos que poderiam ser uma oportunidade de crescerem, de ajudarem os outros e de se evidenciarem, exigiria, porém, um pouco mais de trabalho, de dedicação e de esforço. Vêm os comportamentos e atitudes de conflitualidade, de agressão, de provocação, procurando estar no centro de todas as atenções. É assim também em outros palcos da existência humana.
       Com efeito, há sempre escolhas e caminhos que nos levam aos outros e nos abrem o coração para Deus.

       4 – Diante dos outros até podemos fabricar uma imagem, mas não diante de Deus – Ele tudo vê, perscruta a nossa alma, o nosso íntimo. Sabendo que Ele nos ama infinitamente como somos, e não como poderemos aparentar, procuremos viver na verdade, colocando-nos inteiramente disponíveis para O acolher, para O escutar, para deixar que Ele nos transforme interiormente. Que a nossa oração seja a do pecador, cuja alma é enorme para se abrir ao Outro, para se abrir ao semelhante.
       É nesta humildade orante que somos enviados a testemunhar ao mundo o AMOR que Ele nos dá. A pregação do Evangelho nasce da conversão, da atitude orante, deixando que seja Deus a guiar-nos para o bem e para a verdade. Diz-nos São Paulo, na segunda leitura, "o Senhor esteve a meu lado e deu-me força, para que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todas as nações a ouvissem".
        Não precisamos de dizer muitas coisas a Deus, precisamos que seja o nosso coração a falar-Lhe. Não precisamos de dizer muitas palavras para falar de Deus, precisamos de viver ao jeito de Jesus Cristo, fazendo que os nossos gestos e atitudes sejam expressão do Deus que nos habita.
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Textos para a Eucaristia (ano C):
Sir 35, 15b-17.20-22a; 2 Tim 4, 6-8.16-18; Lc18, 9-14

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