terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Águia ou galinha

       Uma metáfora da condição humana
       Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros. Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
       - Esse pássaro não é uma galinha. É uma águia.
       - De facto – disse o camponês. É águia. Mas eu criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
       - Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
       - Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
       Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
       - Já que você de facto é uma águia, já que você pertence ao céu e não a terra, então abra suas asas e voe! A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá em baixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas. O camponês comentou:
       - Eu lhe disse, ela tornou-se uma simples galinha!
       - Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
       No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no tecto da casa. Sussurrou-lhe:
       - Águia, já que você é uma águia, abra as suas asas e voe!
       Mas quando a águia viu lá em baixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.
       O camponês sorriu e voltou à carga:
       - Eu não lhe disse, ela tornou-se galinha!
       - Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
       No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
       - Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!
       A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direcção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.
       Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre se mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez mais para o alto. Voou... voou... até se confundir com o azul do firmamento...
       E Aggrey terminou conclamando:
       - Irmãos e irmãs, meus compatriotas! Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muitos de nós ainda acham que somos efectivamente galinhas. Mas nós somos águias. Por isso, companheiros e companheiras, abramos as asas e voemos.
       Voemos como as águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar.

Leonardo Boff, in Porque evangelizar é preciso.

1 comentário:

  1. Linda esta citação.
    É necessário nunca perder a Esperança.
    E Jesus Cristo é a nossa Esperança.
    Só quem perdence ao Divino aspira a Ele.
    Abraço em Cristo
    Utilia

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