domingo, 30 de janeiro de 2011

IV Domingo do Tempo Comum - 30/Janeiro

       1 – A vida de cada pessoa tem um fio condutor, não pára, não se interrompe, não avança um dia para a frente, não volta atrás alguns segundos. Por mais que o quiséssemos. Por mais que fizéssemos. A vida não se detém, não se suspende por momentos, não a recuperámos no passado. Este pode ajudar-nos a viver o presente com mais confiança, com mais serenidade e mais alegria, ou fazer-nos vacilar, desanimar ou desistir de alguns sonhos, mas sempre com a certeza que somos os grandes responsáveis pelo dia de hoje.
       Para uma pessoa crente, a vida não é mais fácil, os problemas e as dificuldades não desaparecem com a fé. No entanto, o fio condutor da nossa vida é garantido com a presença amorosa de Deus que nos inspira, nos desafia, nos interpela, nos conduz à verdade e ao bem. Ele atrai-nos simultaneamente da eternidade e do futuro. Da eternidade, onde se encontra à Sua direita a nossa natureza humana, lá colocada por Jesus Cristo. Do futuro, pois será Ele que sempre encontraremos amanhã, que não nos abandona, que não trai, não nos desilude, não foge, está sempre para nós, é a nossa salvação. Ainda que morramos, Ele espera por nós, acolhe-nos para a eternidade.

       2 – O fio condutor na vida de Jesus é Deus.
       Vem, enviado por Deus. O seu alimento é fazer a vontade do Pai. É a dinâmica que está patente em toda a Sua vida pública, no ensino, nos gestos, em cada encontro, em cada palavra, nos prodígios realizados, no acolhimento dos excluídos da sociedade, no diálogo com os que têm responsabilidade de ensinar as pessoas e de as orientar para o bem. O único desejo de Jesus é que todos se convertam e vivam em abundância. O anúncio deste domingo surge neste contexto.
       Depois do Baptismo, Jesus coloca-se em movimento, de um lado para o outro, acolhendo, desafiando, ensinando. É no hoje de Jesus que os cristãos se revêem. E que é que Jesus nos diz hoje? Escutemo-l'O atentamente:
«Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus.
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.
Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus.
Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa». 
       No alto do monte, Jesus ensina-nos o caminho que nos conduz até Ele e por Ele a Deus Pai: a humildade, a paz, a misericórdia, a justiça, mesmo que isso nos traga dissabores, que acarrete a perseguição e até mesmo a morte.

       3 – A mesma lógica nos aparece na profecia de Sofonias e na Epístola de São Paulo aos Coríntios.
       Diz-nos o profeta: "Procurai o Senhor, vós todos os humildes da terra, que obedeceis aos seus mandamentos. Procurai a justiça, procurai a humildade... Só deixarei ficar no meio de ti um povo pobre e humilde, que buscará refúgio no nome do Senhor" (primeira leitura). Ao nosso compromisso corresponde a promessa de Deus de fazer reinar a humildade.
       São Paulo, mais uma vez, é clarividente nas recomendações à Igreja e aos seus membros: "Deus escolheu o que é louco aos olhos do mundo para confundir os sábios; escolheu o que é vil e desprezível, o que nada vale aos olhos do mundo, para reduzir a nada aquilo que vale, a fim de que nenhuma criatura se possa gloriar diante de Deus. É por Ele que vós estais em Cristo Jesus..."
       Com efeito, não é o poder, ou a força, não são os títulos que possamos exibir diante de Deus, que nos inserem no Reino dos Céus; o que conta é a nossa humildade, que se abre à abundância dos dons de Deus, à Sua misericórdia infinita, e que deixa transparecer as maravilhas do Senhor, como luz para o nosso tempo e para o nosso mundo.

Pe. Manuel Gonçalves
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Textos para a Eucaristia (ano A): Sof 2, 3; 3, 12-13; 1 Cor 1, 26-31; Mt 5,1-12

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