sábado, 12 de fevereiro de 2011

VI Domingo do Tempo Comum - 13/fevereiro

       1 – "Os antigos disseram... porém Eu digo-vos". Nesta antítese, Jesus propõe uma mudança de mentalidade, não para desfazer o que de bom a humanidade construiu, e em particular o povo da eleição, mas para levar à plenitude. Com efeito, o próprio Jesus nos diz: "Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas completar..."
       A plenitude da Lei é o amor. O Evangelho deste domingo di-lo claramente. Por um lado não é uma ruptura sem história nem memória, mas uma ruptura que introduz uma atitude diferente, nova, dinâmica, que não se prende a convenções exteriores, mas se abre ao amor, se abre a Deus.
       Ao lermos atentamente a Sagrada Escritura, vemos que o Povo judeu tinha leis extraordinariamente equitativas, justas, e mesmo generosas, prevendo, por exemplo, que ninguém fosse indefinidamente privado dos seus direitos, dos seus haveres ou da sua condição livre, sancionando a devolução jubilar dos bens e da condição familiar. No entanto, há muitos aspectos em que sobrevém a lei de talião, ou seja, olho por olho, dente por dente. Jesus acentua a caridade que nos vem de Deus, a conciliação, uma justiça que não seja apenas retributiva, mas seja solidária e benevolente.
       A atitude de Jesus tornar-nos-á criativos. Não podemos esperar que os outros nos façam bem, para nós lho fazermos também, antecipemo-nos no bem. Não esperemos pelas desculpas de quem nos ofendeu, tomemos a iniciativa de ir ao seu encontro: "Portanto, se fores apresentar a tua oferta sobre o altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão".

       2 – Uma das verdades insofismáveis no cristianismo é que Deus nos criou por amor, para sermos felizes, mas tal como os pais não se substituem aos filhos nas suas escolhas e nos seus percursos de vida, mesmo que sofram pelo sofrimento dos seus filhos, também Deus não nos trata como marionetas, pois criou-nos livres e respeita a nossa liberdade, incondicionalmente. Aceita a nossa escolha, e mesmo a nossa recusa, aceita que até possamos excluí-l'O da nossa vida, ou que nos ponhamos contra Ele, ou vivamos como se Ele não existisse.
       "Deus pôs diante de ti o fogo e a água: estenderás a mão para o que desejares. Diante do homem estão a vida e a morte: o que ele escolher, isso lhe será dado... Não mandou a ninguém fazer o mal, nem deu licença a ninguém de cometer o pecado" (Primeira Leitura).
       A escolha é nossa. Mas a certeza de que Ele Se coloca do nosso lado é reconfortante e é uma garantia que a opção pela vida nos conduzirá a Ele, à felicidade, neste mundo e para a eternidade.
       A escolha do bem envolve-nos a luminosidade de Deus, na descoberta da Sua presença e do Seu amor na nossa existência terrena e quotidiana: "Felizes os que seguem o caminho perfeito e andam na lei do Senhor. Felizes os que observam as suas ordens e O procuram de todo o coração" (Salmo).

       3 – A opção por Jesus Cristo e pelo Evangelho da caridade e do perdão é convite à simplicidade, à transparência, à alegria nas pequenas coisas.
       São Paulo, depois da conversão e da Sua adesão a Jesus Cristo, tornou-se o Apóstolo por excelência, procurando que a Palavra de Deus passasse através das suas palavras muito humanas e muitos simples e através dos seus gestos. "Falamos da sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, que já antes dos séculos Deus tinha destinado para a nossa glória". Para nos tornarmos servidores da verdade, servidores da Palavra de Deus, a nossa linguagem tem de assomar a sabedoria de Deus, ou como nos diz Jesus a nossa "linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não, não’". E assim também a nossa relação com os outros.
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Textos para a Eucaristia (ano A): Sir 15, 16-21 (15-20); Sl 118 (119); 1 Cor 2, 6-10; Mt 5,17-37

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