sábado, 12 de março de 2011

Domingo I da Quaresma - 13 de Março

       1 – Iniciámos a Quaresma na Quarta-feira de Cinzas, com a imposição das Cinzas, em sinal de arrependimento, de conversão a Jesus Cristo e de mudança de vida, para que o nosso coração dividido na dúvida, na incerteza, nos amores e desamores, se torne um coração indiviso em Deus, para que em Deus nos descubramos e nos encontremos todos como irmãos.
        "És pó da terra e à terra hás-de voltar".
       Nesta expressão bíblica, a lembrança da nossa origem comum, que para nós cristãos é Deus, e do mesmo fim, a vida eterna, de retorno a Deus. No entretanto da nossa vida, devemos buscar caminhos de encontro para mais facilmente e com maior alegria e certeza chegarmos juntos do Senhor.
       Neste primeiro Domingo de Quaresma, a liturgia da Palavra recorda-nos a nossa condição frágil e, ao mesmo tempo, as dificuldades que podem atravessar-se no nosso peregrinar e, ainda, a ajuda que nos é dada por Deus através da Sua palavra inspirada.
       "Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo Diabo. Jejuou quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome". Jesus faz a mesma experiência de fragilidade e de limitação para nos ensinar o caminho da superação. Diante da tentação, Jesus responde: “Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”... “Não tentarás o Senhor teu Deus”... “Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto”.
       Deus é a única resposta para vencermos o mal e o egoísmo, pois só Deus nos faz ultrapassar as mágoas, o individualismo, abrindo o nosso coração à grandeza do perdão e da caridade, recentrando a nossa atenção aqui e agora mas orientada para o infinito, para o eterno de Deus.

       2 – O alimento de Jesus Cristo é fazer a vontade de Deus.
       É o Espírito que está no Seu baptismo, que O conduz também ao deserto, onde será tentado. É a presença permanente de Deus, do Seu Espírito, que O ajuda a superar a tentação. Deus é maior que a tentação. Jesus fixa-se n'Aquele que é definitivo, e não no imediato, no prazer, no poder, ou na fama.
       Na verdade, a vida não se revolve com passes de mágica. Também não se resolve com o poder. Por mais poder que tenhamos, há muitas coisas mais essenciais, a vida, a saúde, os amigos, o sentirmo-nos bem connosco e com a nossa consciência.
       A vida não se revolve com a fama. Destarte, os famosos seriam pessoas felizes; os que não a tivessem, pessoas infelizes. Por outro lado, a fama é diabólica, é efémera, ilude-nos mas logo nos castiga. O que nos faz felizes não é apenas o reconhecimento dos outros, mas o trabalho realizado com esmero, com dedicação, com vocação. O esforço e o sacrifício tornam-se fonte de alegria, de paz e de conforto. Não é o que os outros fazem por nós que nos transforma, que nos faz autenticamente felizes, mas o que conquistamos com persistência, com os talentos que Deus nos dá.
       As tentações de Jesus são também as nossas tentações.
       Como n’Ele, também nós, muitas vezes, queríamos a vida facilitada, resolvida, de mão beijada, em que tudo rolasse sobre carris, sem dificuldades, e em que tudo nos caísse do céu. Mas a vida não é assim. E ainda bem. Que sabor teria a nossa vida se pelo meio não houvesse nenhuma dificuldade que nos despertasse, que exigisse o melhor de nós mesmos, que nos obrigasse a descobrir (pela necessidade) o nosso talento?!
       A superação das tentações por Jesus, como nos lembra o Papa Bento XVI, na Sua Mensagem para esta Quaresma, abre "o nosso coração à esperança e guia-nos na vitória às seduções do mal".

       3 – Errar é humano. Esta expressão insinua precisamente a nossa condição errante. Aspirarmos à perfeição – sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito – diz-nos Jesus Cristo. Deve ser uma busca feita com verdade e com persistência. É o nosso ideal de vida. A nossa vocação à santidade. Mas sabemos o quanto estamos distantes dessa perfeição, nesta identidade divina.
       Na história da humanidade, tantas têm sido as histórias de infidelidade, de egoísmo, de violência, de conflito, de morte. O relato do livro de Génesis é disso exemplo. "Colheu o fruto da árvore e comeu; depois deu-o ao marido, que comeu juntamente com ela. Abriram-se então os seus olhos e compreenderam que estavam despidos. Por isso, entrelaçaram folhas de figueira e cingiram os rins com elas". Para os primeiros pais a tentação foi mais forte. Mas não deve provocar desânimo e desistência. Com Cristo, o nosso caminho é invertido para a generosidade e para o perdão, para a bênção e para a vida.
       Com efeito, diz-nos o Apóstolo, "Se a morte reinou pelo pecado de um só homem, com muito mais razão, aqueles que recebem com abundância a graça e o dom da justiça, reinarão na vida por meio de um só, Jesus Cristo. Porque, assim como pelo pecado de um só, veio para todos os homens a condenação, assim também, pela obra de justiça de um só, virá para todos a justificação que dá a vida. De facto, como pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores, assim também, pela obediência de um só, todos se tornarão justos".
        A salvação é uma certeza em gestação, que devemos viver e testemunhar para este nosso tempo.
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Textos para a Eucaristia (ano A): Gen 2, 7-9; 3, 1-7; Rom 5, 12-19; Mt 4, 1-11.

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