sábado, 18 de junho de 2011

Solenidade da Santíssima Trindade - 19 de junho

       1 – A solenidade da Santíssima Trindade é, desde logo, um desafio e um compromisso para o cristão. Em cada oração, em cada celebração litúrgica, em cada encontro entre cristãos, a invocação é trinitária, reunimo-nos em NOME do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Encontramo-nos no coração do mistério divino que vem até nós em Jesus Cristo, pelo Espírito Santo e que nos revela a vontade de Deus Pai para cada um de nós e para a humanidade inteira.
        Jesus, na Sua Mensagem e na Sua Vida, revela-nos o ROSTO de DEUS, em três PESSOAS. Deus, a origem de tudo, fonte de todo o amor e de toda a criação, é Seu Pai e nosso Pai. Jesus reconhece-Se como o Enviado por Deus Pai, Ungido desde toda a criação, como Filho Unigénito, para que n'Ele e através d'Ele todos cheguem ao conhecimento da verdade e se salvem. Por Ele foram criadas todas as coisas. Mas ouçamo-l'O, na resposta a Nicodemos: «Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem acredita n’Ele não é condenado, mas quem não acredita n'Ele já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus»
       Jesus é o Salvador, que vem de Deus. Morre por amor, ressuscita e coloca-nos à direita de Deus Pai. Envia-nos o Espírito Santo, que nos revela toda a verdade. O Espírito dá-nos a vida nova. Revela-nos o caminho para em Jesus termos a vida eterna.

       2 – Mas como dizíamos, a celebração da Trindade é um desafio, pois como MISTÉRIO "obriga-nos" a reflectir, para compreender, mais, para acolher a Sua vida e a Sua vontade. Facilmente compreendemos que Deus só existe UM, mas como desvendar o mistério da Trindade. Admitamos que é fácil falar de Deus como Pai, ainda que nos tivesse sido revelado por Jesus Cristo.
       De Jesus Cristo, como Filho, para um cristão, ainda é fácil falar e aceitar. Conhecemos as Suas palavras e parte essencial da Sua vida entre nós. Mas falar do Espírito Santo já se torna mais difícil, embora Jesus nos fale d'Ele muitas vezes, é "como vento" que sopra onde quer, é o Paráclito, o Defensor junto do Pai, é o Espírito que assegura a permanência de Jesus na terra, entre os Seus, é Ele que nos revela a verdade que nos chega de Deus, para que acolhendo a Cristo tenhamos n'Ele a vida em abundância. Aliás, se não fosse o Espírito Santo nem sequer tínhamos a capacidade para reconhecer Cristo como Senhor.
       E falar de Deus como Pai, Filho e Espírito Santo, Trindade em Três Pessoas, distintas, Unidade da natureza. Perfeita comunhão, sem confusão. Entra na esfera do Mistério, que se desvela cada vez mais e simultaneamente se adensa, se esconde, porque é Msitério. O que se diz do Pai, diz-se do Filho e do Espírito Santo. O que se diz do Filho, diz-se igualmente do Pai e do Espírito. O que se refere ao Espírito Santo, refere-se, do mesmo modo, ao Pai e ao Filho. Em teologia, a este mistério, dá-se o nome de pericorese (divina). Intercâmbio completo e sintonizado entre as Três Pessoas…
       Em todo o caso, o mais importante - revelado por Jesus Cristo - é que Deus nos ama e tanto nos ama que se dispõe a tudo para nos acolher de volta quando chegar a hora, e nos quer felizes pelo tempo em que somos enviados ao mundo.

       3 – A origem da Igreja, como dos Seus membros, é a Santíssima Trindade. O fim da Igreja, a Sua meta, é a Santíssima Trindade. Deus é perfeita comunhão de vida e de amor. N'Ele não existe divisão, nem confusão. O Mesmo Deus, em Três Pessoas.
       Também aqui se torna desafio e compromisso, para a Igreja e para o mundo. Somos diferentes, mas podemos comungar do que é essencial, vivendo de acordo com a nossa origem e com a nossa finalidade: DEUS.
       Como escutámos no domingo passado, somos como um corpo com vários membros, todos importantes, todos necessários, ainda que com tarefas diferentes. É esta a lógica do amor, é a lógica de Deus.
       Moisés invoca a presença de Deus entre o povo, para que todos possam sentir-se abençoados e avançar para o bem, seguros que serão a herança do Senhor: «O Senhor, o Senhor é um Deus clemente e compassivo, sem pressa para Se indignar e cheio de misericórdia e fidelidade... Vós perdoareis os nossos pecados e iniquidades e fareis de nós a vossa herança».
       A nossa missão: deixarmo-nos conduzir por Deus e pelo Seu amor, para vivermos como povo, como família de Deus.

       4 - Um desafio que se converte em compromisso com os outros e com o mundo actual em que vivemos. Sabemos que temos a mesma origem. Mesmo que não fôssemos crentes, ainda assim a certeza da origem comum. Chamemos-lhe, destarte, Big Bang. O fim também é idêntico. Hoje ninguém duvida que aquilo que fazemos (individualmente), hic et nunc (aqui e agora), terá influência, positiva ou negativa, nos outros e na vida das gerações futuras. Veja-se por exemplo as dificuldades da crise económica em famílias e empresas que até há bem pouco tempo viviam "à grande e à francesa" como se nada pudesse alterar o seu status.
       É certo, diga-se em abono da verdade, que os pobres são os primeiros a pagar os erros e a ganância dos decisores políticos e económicos, mas pouco a pouco, se não houver correcções de fundo, todos acabam por pagar. Infelizmente é uma constatação que deveríamos ter prevenido, combatido e evitado. Não faltaram avisos e sinais.
       O nosso compromisso pode fazer-se seguindo o desafio de São Paulo: "Sede alegres, trabalhai pela vossa perfeição, animai-vos uns aos outros, tende os mesmos sentimentos, vivei em paz. E o Deus do amor e da paz estará convosco. Saudai-vos uns aos outros com o ósculo santo. Todos os santos vos saúdam. A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco".
       As diferenças são uma oportunidade de diálogo e de encontro. A Santíssima Trindade, Três Pessoas distintas, na plena Comunhão de Vontades e de Vida. Um só Deus. Sigamos nesta peugada, até à vida eterna.

Textos para a Eucaristia (ano A): Ex 34, 4b-6.8-9; 2 Cor 13, 11-13; Jo 3, 16-18.

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