sábado, 30 de julho de 2011

XVIII Domingo do Tempo Comum - 31 de Julho

       1 - A nossa vida é uma busca constante, busca de felicidade, de realização em diferentes níveis, pessoal, familiar, profissional. E mesmo quando surgem situações de mal, de destruição, de egoísmo, são outras tantas formas de afirmação pessoal, de realização invertida, ainda que por vezes resulte não da vontade decidida e consciente mas pela influência do grupo ou de algum distúrbio psíquico. Mas a regra mantém-se: todos queremos ser felizes; a maneira de o conseguir, ou o grau de realização, é que é diferente de pessoa para pessoa.
       Encontramos pessoas que em pequenas coisas se sentem felizes e outras em que por mais razões que tenham para sorrir andam sempre de cara à banda, indispostas com a vida, com os outros, com o mundo. Existem pessoas que vivem só para este mundo e aparentam ser felizes, mas sempre com um vazio interior, porque as suas vidas fecham-se num tempo limitado e finito. E existem pessoas de fé que são verdadeiramente felizes. Nelas não existe o vazio da escuridão. É certo, como já referia Santo Agostinho, também elas procuram como quem encontra e encontram como quem procura. Por outras palavras, o sentido que encontra na fé e pela fé é motivação para aprofundarem a vivência espiritual, comprometendo-se mais e mais com a transformação deste mundo, para também aqui e agora trazerem razões para esperança.

       2 - Com efeito, a verdadeira resposta às nossas procuras interiores, à nossa sede de sentido, só tem uma resposta plenamente satisfatória em Deus, pois só Ele nos garante e à nossa vida, não apenas hoje, amanhã, mas definitivamente. Todos nós ansiamos por mais. Esta ânsia de sermos felizes é também uma ânsia de eternidade. E neste propósito só Deus assegura definitividade. Só Ele dá um sentido coerente e final que não se corrói com o tempo nem termina quando acaba a pessoa.
       A nossa memória pessoal e humana ficaria para sempre morta, no passado, sem promessas cumpridas, apenas com sonhos desfeitos. Por outro lado, Deus é a certeza que no fim vencerá o Bem, a Verdade, a Justiça, a Beleza. Este Vale de Lágrimas que atravessámos, sem fé, não teria qualquer sentido, pelo contrário acentuaria um vazio permanente, obscuro, destrutivo. E que dizer do sofrimento? Do sofrimento inocente? Já agora é tão difícil perceber. E se não houvesse futuro, se não houvesse Deus, se não houvesse Alguém que garantisse a justiça definitiva.
       É certo que Deus respeita as nossas escolhas. Como é certo que muitas das escolhas que uns e outros fazemos são fonte de injustiças e de sofrimento. Mas no fim, sabemos que Ele lá está, não como o castigador, mas como Amor que Se dá e Se entrega para que todos tenhamos a vida em abundância. Como nos lembra o Apóstolo: "...eu estou certo de que nem a morte nem a vida, nem os Anjos nem os Principados, nem o presente nem o futuro, nem as Potestades nem a altura nem a profundidade nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que se manifestou em Cristo Jesus, Nosso Senhor".

       3 - O Profeta Isaías, mensageiro de Deus, mostra-nos como em Deus podemos encontrar o alimento que dá sentido e sabor às nossas inquietações mais profundas, às nossas buscas interiores.
       «Eis o que diz o Senhor: 'Todos vós que tendes sede, vinde à nascente das águas. Vós que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei. Vinde e comprai, sem dinheiro e sem despesa, vinho e leite. Porque gastais o vosso dinheiro naquilo que não alimenta e o vosso trabalho naquilo que não sacia? Prestai-Me atenção e vinde a Mim; escutai e a vossa alma viverá. Firmarei convosco uma aliança eterna, com as graças prometidas a David'».
       E o alimento que Deus nos dá é gratuito. Acentua-se também aqui que o verdadeiro alimento que não se esgota provém da escuta da Palavra de Deus.
       Do mesmo jeito o Evangelho realça que a multidão vai em busca de um sentido, vai ouvir Jesus, esperando d'Ele palavras de conforto ou, como um dia dirá São Pedro, Palavras de vida eterna. Por vezes, também a curiosidade e o desejo de ver milagres. Mas os evangelhos são expressivos, mostram como a compaixão de Jesus pela multidão O leva a ensinar-lhes muitas coisas, dá-lhes um alimento espiritual. E as multidões seguem-n'O para O ouvir.
       O milagre da multiplicação foi sempre visto como antecipação do mistério maior da nossa fé, a Eucaristia, na qual, nos elementos do pão e do vinho, Jesus nos havia de dar o Seu corpo e sangue como alimento abundante até à eternidade.
       «Tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao Céu e recitou a bênção. Depois partiu os pães e deu-os aos discípulos e os discípulos deram-nos à multidão. Todos comeram e ficaram saciados». Neles todos somos (ou podemos ser) saciados.

       4 - A dimensão vertical (que nos liga a Deus) não dispensa a dimensão horizontal (que nos liga aos outros), antes o exigem. Viver a fé com autenticidade implica o compromisso com o nosso semelhante e com a transformação do mundo presente. Somos enviados por Jesus para, em Seu nome, inundarmos o mundo das pessoas com o Seu amor, com a Sua Paixão, com o Seu perdão, com a Sua vida.
       Aos discípulos Ele não pedirá menos que não sejam serem promotores do bem. Não lhes dá milagres para realizar, mas dá-lhes uma tarefa concreta, de fazerem como Ele fez.
       «Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e, cheio de compaixão, curou os seus doentes. Ao cair da tarde, os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe: 'Este local é deserto e a hora avançada. Manda embora toda esta gente, para que vá às aldeias comprar alimento'. Mas Jesus respondeu-lhes: 'Não precisam de se ir embora; dai-lhes vós de comer'».
       E não vale a pena adiar os problemas e as dificuldades, ou esconder-se. As palavras são também para nós, discípulos deste tempo: "Não precisam de se ir embora; dai-lhes vós de comer". Agora é connosco. Jesus Cristo conta com cada um de nós e com todos nós.


Textos para a Eucaristia (ano A): Is 55,1-3; Rom 8,35.37-39; Mt 14,13-21

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