quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Renascença V+ - nova página e nova plataforma

       A Rádio Renascença - Emissora Católica Portuguesa - está na primeira linha das tecnologias. Também nesta ferramenta da interent o tem feito. Estreou uma nova página, mais agil, mais dinâmica, com mais imagem, mais intuitiva. É uma página arrogada, permitindo uma maior interacção entre a Rádio e os que a visitam através da Internet. Esta no facebook, e agora criou também um novo serviço: Renascença V+, com a possibilidade de visualizar as notícias: Veja-se por exemplo o desenvolvimento das notícias deste dia.

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V Mais Informação | 29 Setembro 2011
Dos alertas de Cavaco ao 'novo' Facebook

Rádio RenasceçaMais informação sobre este video

Em tempo de comentários...

Nos últimos meses, mais atentos às medidas de austeridade, mesmo até às políticas incompreensíveis, não somos só invadidos com notícias, mas verdadeiramente bombardeados de comentários
       Deambulando pela vida alheia, descobrindo novidades sem interesse, discutindo tudo e criticando todos, cresce assustadoramente o número daqueles que perdem horas presos a um post ou a uma notícia online. Nos últimos meses, mais atentos às medidas de austeridade, mesmo até às políticas incompreensíveis, não somos só invadidos com notícias, mas verdadeiramente bombardeados de comentários, em que todos opinam, publicam e republicam, partilham e sugerem. 
       Fenómeno que não se resume ao simples ato de “comentar”, muito desejável até, assiste-se antes à vulgarização do livre arbítrio nos meios virtuais, onde, das prudentes análises, depressa se atinge o patamar do ultraje e da ofensa gratuita. Retirando brilho à discussão fecunda, de partilha saudável, perdem-se horas a comentar, a aguardar o impacto dos impropérios ou de uma certa sabedoria, que só naquele palco se exibe. 
       E, bem vistas as coisas, verdadeiramente preocupante é que tudo isto não serve para nada, não tem qualquer objetivo que se possa admitir como minimamente razoável. São horas a fio retiradas ao trabalho, um tempo perdido e ostensivamente exibido. Isso sim, é assustador, a inutilidade, agravada por uma consequente esterilidade. 
       Muito se comenta, mas pouco se faz, no exemplo do dia a dia, nos resultados apresentados, na produtividade que se impõe. Numa época em que a otimização de recursos é por tudo fundamental, convenhamos que não serão essas horas, passadas a ombrear insultos ou a esgrimir críticas, que contribuem para resolver alguma coisa. 
       Há tantas missões possíveis e enriquecedoras, porquê desperdiçar tempo a alimentar aquelas que jamais estarão ao nosso alcance? 

Sandra Costa Saldanha, Editorial da Agência Ecclesia.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Homem da palavra num mundo de imagem

     Num mundo de imagens, de hiperligações, de comunicação vertiginosa, o discurso do Papa germânico aparece como um contraponto tremendo, pensado, feito apenas de palavra, sem adornos, deixando um desafio que só na aparência é simples: ouvir.
       Durante quatro dias, Bento XVI cumpriu na Alemanha um percurso carregado de simbolismo e pleno de intencionalidade, visível na maneira como olhou para o passado do país, para os desafios superados e as conquistas alcançadas, projetando depois, no futuro, a realização plena das aspirações de todos os que lutaram, às vezes à custa da própria vida, pela liberdade.
       Falando na sua terra e na sua língua, o Papa apostou tudo no discurso e abordou vários temas queridos, mormente no que diz respeito ao papel da religião e das comunidades crentes numa sociedade secularizada, que cede ao relativismo e ao individualismo, podendo, por isso, marginalizar essa dimensão espiritual.
       Ao lembrar os dramas provocados pelo nazismo, em toda a Alemanha, e do comunismo, na antiga RDA, o Papa falou de uma “chuva ácida” que se abateu sobre a Igreja e os seus fiéis, deixando marcas que permanecem até hoje. O que ficou claro dos discursos de Bento XVI é que a libertação desses regimes não pode, no entanto, desmobilizar os fiéis, levá-los a acomodarem-se, esquecendo adversidades menos visíveis, mas igualmente poderosas, nas sociedades ocidentais.
       Ainda que nem sempre sob o olhar atento da imprensa, Joseph Ratzinger deixou no seu país uma espécie de testamento para os católicos e, diria mesmo, para o seu sucessor, em matérias como o diálogo com as Igrejas protestantes, a reconstrução de um projeto europeu com a marca do património cristão e, sobretudo, a «desmundanização» da própria Igreja Católica, colocada à margem de guerras políticas e preocupações materiais, despida de uma excessiva institucionalização que a leva a preocupar-se, antes de mais, consigo mesma.
        O próprio Papa apresentou-se como um líder espiritual, sem objetivos políticos ou económicos, como faria outro qualquer chefe de Estado. Palavras que fazem jus ao tema escolhido para a viagem destes dias: «Onde há Deus, há futuro».

Octávio Carmo, Editorial da Agência Ecclesia

terça-feira, 27 de setembro de 2011

I want to tell you about my feelings

QUERO FALAR CONTIGO SOBRE OS MEUS SENTIMENTOS [1]
       Quero falar contigo sobre os meus sentimentos. Foi assim que a comunicação começou.
       Comunicar é como jogar a bola. Eu atiro a bola e tu apanha-la. E outra vez: eu atiro a bola…
       “Eu quero falar contigo sobre os meus sentimentos”. Foi assim que a comunicação começou. Tal como precisamos de lançar a bola de uma lado para o outro para que haja jogo, nós, para comunicar, precisamos de falar de uns para com os outros sobre os nossos sentimentos.
       Se vós estiverdes demasiadamente perto, ou se estiverdes demasiadamente longe um do outro, não é fácil jogar à bola. Se vós estiverdes demasiadamente perto, ou demasiadamente longe, da pessoa a quem amam, ou do vosso amigo, ou do vosso filho, ou dos vossos pais, não é fácil comunicar.
       A comunicação não começa com as duas pessoas a falar ao mesmo tempo. De um lado ou do outro tem de partir o primeiro movimento. Alguém tem de lançar primeiro a bola.
       Mas tu podes não querer ser o primeiro a atirar a bola – talvez queiras esperar que alguém te atire a bola. (Porque quando a atiras e ninguém a apanha, ficas infeliz). Há ocasiões em que, sem o esperares, és rejeitado. Há ocasiões em que, quando atiras a bola, porque queres jogar com outra pessoa, essa pessoa atira-a para outra.
       Desde muito cedo que nos habituámos a ter algumas pessoas que não ouvem o que dizemos. "Agora estou muito ocupado", dizem. "Falamos mais tarde, está bem?" Por isso, acabamos por pensar: "Não tem importância o que eu possa dizer". É por isso que é preciso ter coragem para ser o primeiro a atirar a bola.
       Às vezes ganhaste finalmente coragem para lançar a bola a outra pessoa só para a ver lançá-­la para longe. Alguma vez isto aconteceu contigo? Ou então tu lanças a bola a partir do teu coração, só para que a pessoa a quem a lançaste lhe dê um pontapé... Alguma vez isto aconteceu contigo?
       Ou então tu lanças uma bola com meio metro de diâmetro, mas, quando ela volta para ti, só tem alguns centímetros... Alguma vez isto aconteceu contigo?
       Alguma vez disseste para ti mesmo "Em vez de ser eu a lançar a bola e ser infeliz, é melhor não lançar a bola; espero que alguém me lance a bola"? Mas, e se ninguém te atira a bola…?
       Tu não és o único que foste surpreendentemente rejeitado, que já recebeu uma bola devolvida, que é infeliz. Talvez tu já tenhas dado também alguns pontapés na bola, e feito alguém infeliz, e nem saibas que o estás a fazer. Todos nós queremos que apanhem as nossas bolas. Todos nós queremos que as pessoas ouçam o que temos para dizer. Todos nós queremos que as pessoas percebam que nós existimos.
       Quem é que no mundo vai aceitar todas as pessoas que querem ser aceites?
       Se a pessoa a quem atiraste a bola do coração a apanha, e se tu apanhas a bola que essa pessoa te atirou do coração, então uma fase da comunicação foi preenchida.
       Mas algumas vezes nós sentimos que "Ele não a apanhou da maneira que eu queria!", ou que "Não tenho possibilidade de apanhar a bola que ele me atirou!", Nós temos muitas formas como estas de falta de comunicação.
       Quando se acumulam momentos de falta de comunicação, as nossas emoções ficam instáveis. Nós ficamos aborrecidos, preocupados, zangados, com preconceitos, hostis. De vez em quando, explodimos... Depois, aos poucos e poucos, começamos a não sentir nada... E, mais cedo ou mais tarde, estamos sozinhos.
       Se a pessoa a quem atiraste a bola não a apanhou da maneira que tu querias, não culpes essa pessoa. Talvez ela não seja muito boa a jogar a bola. Talvez ela estivesse nervosa, e a sua mão tenha deslizado. Talvez a tua bola fosse demasiado pesada.
       Se o teu chefe, ou os teus pais, ou o teu companheiro nunca te deixam dizer o que queres, como te sentes? Se houver três ou quatro bolas que são atiradas para ti ao mesmo tempo, como te sentes?
       Medes a tua capacidade de comunicar através da reacção da pessoa com quem estás a tentar comunicar. Mesmo que não o queiras admitir.
       Há uma maneira boa e uma maneira má de comunicar. Trocar comunicação é uma maneira boa de comunicar. Não trocar comunicação é uma maneira má de comunicar. Igualmente má, é trocar alguma coisa que é parecida com comunicação – mas que não é realmente comunicação.
       O que significa ser parecido com comunicação? Só falar do tempo, ou de desporto, ou do sexo oposto, é parecido com comunicação. Só falar do que fases na vida (como alguém mais velho, como professor, como jovem, como marido, como mulher) é parecido com comunicação. Quando trocas alguma coisa parecida com comunicação, não tens de te preocupar por te sentires só, ou sentires dor. Não tens de te preocupar com sentimentos ou argumentos inesperados. Mas também não tens a experiência de uma alegria inesperada – ou a sensação de estar realmente vivo.
       Se o comportamento da pessoa com quem estás a comunicar não muda, isso significa que realmente aí não houve comunicação. Houve apenas conversa social. A verdadeira comunicação leva sempre a novos comportamentos.
       Há uma diferença entre comunicar com as pessoas e simplesmente confirmar a relação com essas pessoas. As relações tornam-se rígidas. A comunicação muda isso.
       Que tipo de relações queres ter?
       Uma das razões para a existência de problemas na comunicação é que, quando dizes ser amigo de alguém, com que estás mesmo preocupado é em mostrar a essa pessoa que és melhor do que ela.
       Que tipo de relação queres ter com outra pessoa? Uma relação unilateral? Queres que se ignorem uma à outra? Ou queres jogar "contra a parede"? Ou queres conservar os teus sentimentos fechados dentro de ti?
       "Se ao menos eu fosse melhor do que aquela pessoa", dizes tu. Sem se perceber, muitas vezes usamos a comunicação como uma forma de competição. Mas, mete isto na tua cabeça: o preenchimento da fase seguinte da comunicação vem daquilo a que se pode chamar aceitação. As pessoas mudam o seu comportamento quando se sentem aceites.
       Gostar de outra pessoa não é necessariamente aceitá-la. Se houver uma pessoa de que tu não gostes, primeiro aceita o "tu" que não gosta dessa pessoa. O grau em que tu aceitas outra pessoa coincide exactamente com o grau com que te aceitas a ti.
       Aceitar é ouvir o que a outra pessoa tem para dizer.
       "Eu quero falar sobre os meus sentimentos", podes dizer, "mas ninguém me ouve". Tu não és a única pessoa que pensa assim muitas vezes. De facto, isto é o que acontece sempre que as pessoas tentam usar a comunicação para competir, em vez de ser para aceitar.
       Enquanto pensares que a tua capacidade de comunicar é a tua capacidade de falar, nunca poderás experimentar a sensação de estar com outra pessoa. A tua capacidade de comunicar depende da tua capacidade de fazer com que a outra pessoa fale – e a tua capacidade de ouvir o que essa pessoa está a dizer. Ouvir só é ouvir quando se escuta tudo o que o outro está a dizer, sem julgar ou negar, ou comparar essa pessoa contigo.
       Se estiveres realmente a ouvir, e se estiveres preparado para aceitar, será fácil para a outra pessoa falar. Mesmo se a bola for difícil de apanhar, ou tiver sido atirada com pouca força, se fizeres o melhor que puderes para a apanhar... tu consegues.
       Não consegues apanhar uma bola se só ficares à espera. Se estás realmente preparado para aceitar, dá um passo em frente. Usa o teu corpo todo. Estica a tua mão e aceita o que está mesmo à tua frente.
       Se achas que aceitar outra pessoa quer dizer concordar com tudo o que ela diz ou faz, a aceitação não será fácil.
       Aceitar significa ouvir tudo o que a outra pessoa tem para dizer e dar-lhe valor.
       Se houver aceitação, pode-se pensar de maneira diferente, ter interesses diferentes, sentimentos diferentes – e mesmo assim estar junto.
       Quando a aceitação acontece, foi preenchido um novo estádio da comunicação. Quando um estádio da comunicação foi preenchido, sentimo-nos aliviados.
       Quando duas pessoas se conhecem, estão as duas ansiosas. O problema não é a ansiedade. O problema surge quando se tenta esconder isso. Estás tão preocupado com a forma como vais atirar a bola que ignoras a preocupação e tentas agir como se não estivesses ansioso. Estás tão preocupado com a forma como apanhas a bola que ignoras a preocupação e ages como se não estivesses ansioso. No momento em que paras de agir como se nada estivesse errado, tu aceitas-te a ti próprio. Só depois de te teres aceitado a ti próprio é que a verdadeira comunicação acontece.
       "Quero falar contigo sobre os meus sentimentos". No momento em que te começas a sentir assim, começas a atirar bolas que são fáceis de apanhar. (É impossível para uma pessoa que não tenha jogado muito a bola apanhar bolas rápidas e curvas, mesmo que ela queira. Se a pessoa com quem estás a jogar não estiver pronta para aceitar, atira a bola de uma maneira suficientemente fácil para que ela a possa apanhar.)
       Nós vivemos através da comunicação. Quando a tua comunicação muda com outra pessoa, a tua relação muda com todas as outras pessoas também. A tua relação com o teu trabalho e as relações na tua vida mudarão também. E a tua relação contigo mudará também.
       "Quero ouvir-te falar sobre os teus sentimentos".
       É assim que a comunicação começa.
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[1] ITOH, MAMORU (1992), I want to tell you about my feelings, translated by Leslie M. Nielsen, William Morrow and Company, Inc., NY. Traduzido do inglês por Helena Gil da Costa (2002).

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

As melhores imagens de Bento XVI na Alemanha

Bento XVI: em que é a Igreja deve mudar?

       Bento XVI na despedida da Visita Oficial à Alemanha, em encontro com os responsáveis pastorais pergunta-Se: "Acaso não deverá mudar a Igreja?" Deve mudar, para cumprir melhor a missão que Jesus Cristo lhe confiou, deve desmundanizar-se, livrar-se da carga material e política que a distancia da sua missão...devolver a Igreja a sua plena identidade...

domingo, 25 de setembro de 2011

A vida cristã é um compromisso com o próximo

       Na Eucaristia de Domingo, a última celebrada na Visita Oficial ao seu país natal, a Alemanha, no aeroporto de Friburgo, Bento XVI, acentuou a necessidade de uma sólida prática religiosa que vá além das opiniões e das palavras, em corações tocados pela graça de Deus... "A vida cristã é uma pró-existência: um ser para o outro, um compromisso humilde com o próximo e com o bem comum"...

Bento XVI aos jovens: tende a ousadia de ser santos

       Em Friburgo, para cerca de 20 mil jovens, o Papa Bento XVI, em Vigília de Oração, disse aos jovens: "Atrevei-vos a colocar os vossos talentos e dons ao serviço do Reino de Deus... tende a ousadia de ser santos brilhantes, em cujos olhos e corações reluz o amor de Cristo, levando assim a luz ao mundo..."

Bento XVI: São os santos que transformam o mundo

sábado, 24 de setembro de 2011

XXVI Domingo do Tempo Comum - 25 de Setembro

       1 – Coerência de vida.
        É, ou deveria ser, o objectivo de todas as pessoas.
       Por maioria de razão, há-de ser uma motivação e um desafio de todo o cristão, para desse modo imitar o seu Mestre e Senhor, Jesus Cristo, reconhecido Alguém que ensina com autoridade. A autoridade dos ensinamentos de Jesus é contraposta à autoridade dos fariseus e dos doutores da lei, em geral, que são considerados (pelo próprio Jesus) hipócritas, pois exigem e não cumprem, defendem preceitos para os outros mas sem intenções de fazer o mais pequeno esforço para também cumprir. Ao olharmos para o nosso tempo vemos como a coerência de vida é cada vez mais urgente em todos os sectores da vida, social, cultural, desportiva, religiosa, política. E como a falta dessa coerência leva à desmobilização, à indiferença, ao conflito, à descredibilização de pessoas e instituições. Certamente não é alheia à incoerência a crise económico-financeira que atravessa o velho continente.
        O Papa Paulo VI referia que um dos pecados maiores do nosso tempo era a falta de consciência do pecado e o divórcio entre a Igreja e a sociedade, entre a fé e a vida, entre o Evangelho e a cultura. A fé e a militância religiosa não marcam o compromisso dos cristãos nos sectores da vida social em que estão presentes. E desse modo, se alarga também aos cristãos a hipocrisia e o cinismo. O nome não corresponde à vida que se leva (que se vive).
       Por outro lado, o Papa João Paulo II, usava muitas vezes as palavras do Seu Predecessor Paulo VI - “O mundo não precisa de mestres, mas de testemunhas”, uma vez que "as palavras movem, mas o exemplo arrasta", sublinhando a importância de os Mestres também serem testemunhas da fé.
       Do mesmo modo, Bento XVI, propondo a sabedoria e o testemunho dos santos, como pessoas que procuraram a fidelidade à Palavra de Deus no compromisso com os outros na caridade, acentua a coerência dos cristãos no quotidiano e no mundo em que se inserem.

       2 – Com outra parábola relacionada com o vinha, Jesus recorda-nos que "não basta dizer 'Senhor, Senhor', para entrar no Reino dos Céus", mas importa fazer a vontade de Seu Pai que está nos Céus. A proclamação da fé concretiza-se na vivência concreta dos mandamentos, na realização da vontade de Deus, procurando viver de acordo com os Seus ensinamentos. A pergunta de Jesus é de sempre: porque Me chamais Senhor e não realizais o que vos mando?
       «Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Foi ter com o primeiro e disse-lhe: ‘Filho, vai hoje trabalhar na vinha’. Mas ele respondeu-lhe: ‘Não quero’. Depois, porém, arrependeu-se e foi. O homem dirigiu-se ao segundo filho e falou-lhe do mesmo modo. Ele respondeu: ‘Eu vou, Senhor’. Mas de facto não foi. Qual dos dois fez a vontade ao pai?» Eles responderam-Lhe: «O primeiro». 
       Quantas vezes nos ficamos pelas intenções! Quantas vezes já nos aconteceu o que Jesus nos apresenta com esta parábola?! Pessoas que na nossa presença se desfaziam em simpatia, respondendo sempre com amabilidade, com a disposição de cumprirem/realizarem o combinado, com alegria e generosidade, mas mal saíram de ao pé de nós, logo alteraram a opinião que tinham sobre nós e a boa vontade demonstrada. Outras pessoas que quando se lhes pede algo colocam sempre condições várias, porque não podem, porque não sabem, porque é muito difícil, não têm jeito ou não têm tempo, e quando vamos a dar conta já cumpriram!
       Ou também, as pessoas que nos contestam, olhos nos olhos, com uma frontalidade que nos desarma, mas estão sempre prontos para nos defender diante dos outros! O ideal é que às nossas palavras correspondesse a nossa vida, que a nossa fé se transformasse em caridade, justiça, solidariedade, em conciliação. Lembremo-nos sempre: não bastam bons propósitos, é preciso realizá-los ou pelo menos tentar.

       3 – Se se nos afigura tão difícil a coerência de vida, peçamos ao Senhor a fortaleza do Seu Espírito, e o discernimento, para que nas mais variadas situações possamos agir com criatividade, com generosidade, com a alegria, promovendo o bem, a paz, a concórdia.
       Se nos afastarmos do Senhor, tenhamos presente a recomendação do profeta: "Quando o justo se afastar da justiça, praticar o mal o vier a morrer, morrerá por causa do mal cometido. Quando o pecador se afastar do mal que tiver realizado, praticar o direito e a justiça, salvará a sua vida". E com o salmista supliquemos: "Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos, ensinai-me as vossas veredas. Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me, porque Vós sois Deus, meu Salvador: em vós espero sempre".
       A santidade não é um estado permanente, ainda que haja muitas pessoas que vivam e testemunhem uma grande e intensa intimidade com Deus, respirando e transpirando paz, alegria, humildade, generosidade. As palavras que proferem revelam uma maturidade que os e nos transcende, apaziguadores, promotores da nossa satisfação e felicidade. Vivem como se em cada pessoa encontrassem Deus.
       A santidade é um caminho para a maioria de nós, ou para todos nós, ainda que haja alguns muito mais perto. Somos limitados e imperfeitos até à eternidade. Mesmo quando a eternidade é experienciada no tempo e na história, ainda não é infinita e definitiva. Podemos sempre vacilar ou até recuar no caminho. O importante, porém, é fazermo-nos à estrada, tornarmo-nos peregrinos da perfeição de Deus.

       4 – No caminho da santificação não estamos sós. Deus acompanha-nos e acompanham-nos todos os que projectam a sua vida para Deus, para a eternidade, para o Infinito. Enquanto caminhamos, muitas pessoas fortalecem as nossas convicções e/ou nos desafiam a ser mais, a ser melhores.
       São Paulo, dá-nos mais uma lição importante como enfrentar as dificuldades e como vivermos como família, para nos sentirmos mutuamente fortalecidos. Diz-nos, nesta sua epístola aos Filipenses, "Se há em Cristo alguma consolação, algum conforto na caridade, se existe alguma consolação nos dons do Espírito Santo, alguns sentimentos de ternura e misericórdia, então, completai a minha alegria, tendo entre vós os mesmos sentimentos e a mesma caridade, numa só alma e num só coração".
       Vale a pena continuar a escutar e mastigar as palavras do Apóstolos:
       "Não façais nada por rivalidade nem por vanglória; mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós mesmos, sem olhar cada um aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos outros. Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus".
       Não se trata de uma opção ou de um capricho, trata-se de imitar Jesus Cristo, nosso Mestre e Senhor: "Ele, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte, e morte de cruz. Por isso, Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem, no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai".

Textos para a Eucaristia (ano A): Ez 18,25-28 ; Sl 24 (25); Filip 2,1-11; Mt 21,28-32.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Bento XVI em encontro com os protestantes

       Na primeira Viagem oficial de Bento XVI à Alemanha, Sua terra natal (terceira Viagem do seu pontificado, mas só esta é Visita de estado: Bento XVI deslocou-se à Alemanha na condição de Chefe de Estado do Vaticano), hoje foi dia para visita o convento onde viveu, durante alguns anos Lutero, o fundador do Luteranismo, dando início ao movimento de protestantismo...
       "O importante, mostrar juntos que Jesus é o Deus vivo..."
       "A fé não é algo que negociamos ou acordamos entre nós. É o fundamento sobre o qual vivemos"...

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Bento XVI: "Vim à Alemanha para falar de Deus"

       No primeiro discurso de Bento XVI em solo alemão, o Papa, também oriundo deste país, sublinhou o objectivo primeiro da Viagem Apostólica: "Vim para encontrar as pessoas e falar-lhes de Deus"... "A religião é uma questão fundamental para uma convivência plena... Como a religião precisa da liberdade, assim a liberdade precisa da religião

       Veja o notícia completa na página da Rádio Renascença. Acompanhe esta Viagem Papal na Agência Ecclesia, ao minuto...

Bento XVI já está na Alemanha

       Pela terceira vez, como Papa, Bento XVI está na Alemanha, sua terra natal, desta vez em viagem oficial. A primeira, em 2005, na Jornada Mundial da Juventude; depois uma visita à terra/região onde nasceu, e agora em Visita de Estado.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

100 anos - Sr. José Mendes - Pinheiros

       Nasceu há um século, no dia 19 de de Setembro de 1911. 100 anos de vida, para o Sr. José Mendes, viúvo, que teve 8 filhos, dois dos quais morreram em acidentes com a natureza. Um homem paciente, trabalhador, honesto e respeitável.
       A família preparou-lhe uma festa de aniversário completa, 100 anos depois, no dia 19 de Setembro de 2011. Pelas 11h00, a celebração da Eucaristia, no altar de Santa Eufémia, Padroeira de Pinheiros.
        O Pregador convidado foi o mesmo das Festas anuais de Santa Eufémia e Santa Bárbara, Pe. António Jorge Giroto, que partindo do nome do homenageado, em celebração de Acção de Graças (= Eucaristia), para apresentar São José como modelo de vida e exemplo a seguir, pelo silêncio, trabalho, dedicação à família, humildade e descrição.
       Também desta vez usou letras para daí "fixar" palavras, atitudes. No dia de Santa Eufémia tinha sido o C, no dia de Santa Bárbara, o P, neste dia as vogais, A,E,I,O,U.:
A - de AMOR, a Deus e ao próximo. O amor e a amizade são fundamentais para dar sentido à vida;
E - de ESPERANÇA. O cristão tem razões para ser e viver alegre, porque confia, espera em Deus, acredita que Deus não lhe faltará;
I - de IMAGINAÇÃO. Criar, ser imaginativo, não estar à espera que os outros resolvam a sua vida;
O - de ORAÇÃO, como São José, uma oração que dialoga com Deus, não apenas que fala, mas sobretudo que escuta;
U - de UNIDADE, construindo laços de afecto e de amizade, dando sabor à vida, não apenas ~união, o estar juntos, uns ao pé dos outros, mas interagir com os outros, uns nos outros e em Deus.

Symphony Flash Mob na estação Central de Copenhagen

domingo, 18 de setembro de 2011

Festa e Romaria de Santa Eufémia - 2011

       Aqui ficam algumas imagens da Festa e Romaria de Santa Eufémia de Pinheiros, na sua dimensão religiosa, centrados na figura de Santa Eufémia, no primeiro e principal dia de Festa, e na figura de Santa Bárbara, no segundo dia de Festa. As imagens são acompanhadas com a música do SDPJ de Lisboa: "O Senhor é meu Pastor":

sábado, 17 de setembro de 2011

Festa de Santa Eufémia e Santa Bárbara... o C e o P...

       Pinheiros viveu o segundo dia de Festa religiosa. Ontem centrados em Santa Eufémia, hoje, em Santa Bárbara. O pregador, Pe. António Jorge Giroto, numa reflexão simples e significativa, partindo da Palavra de Deus e apresentando Santa Eufémia e Santa Bárbara como cristãs que levaram a séria a vocação primordial, a vocação à santidade.
       Ontem, no primeiro e principal dia da Festa, em honra de Santa Eufémia, apresentou-a na leta C: de CONFIANÇA (em Deus, na vida, no futuro, nos outros), de CONHECIMENTO (não apenas intelectual, mas prático, do que se relaciona e vive com os outros, conhecimento de Deus, da Sua Palavra), de COMPORTAMENTO (a fé e o seguimento de Jesus Cristo levam a alterar os comportamentos no dia a dia), de COMPROMISSO (com o mundo circundante, com as pessoas que nos rodeiam). Vivendo pela Fé, em atitude de esperança e de caridade.
       Hoje, com Santa Bárbara, à volta da letra: PERSEGUIÇÃO (foi perseguida, até pelo próprio pai; foi baptizada pela sua vontade e contra a vontade do Pai; também hoje os cristãos enfrentam perseguições, por vezes são como ela encarcerados em torres...), PALAVRA DE DEUS (onde Santa Bárbara e Santa Eufémia alimentaram a sua fé e fortaleceram as suas convicções. Assim também como cristão devemos partir da Palavra de Deus), PRIVAÇÃO (só tinha uma torre, o pai despojou-a de todos os bens... e também a privação progressiva da nossa vontade para que em nós aumente a vontade de Deus), PERDÃO e PAZ (fruto de quem ama, da caridade que Deus nos comunica)... e PERMANECER (na Igreja, no cristianismo, dando testemunho de Jesus Cristo, no quotidiano, mesmo e apesar das provações)...

XXV Domingo do Tempo Comum - 18 de Setembro

       1 – Disse-lhes Jesus: "Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?... Ide vós também para a minha vinha". Para Deus, que Jesus nos mostra com as Suas palavras, gestos, com a Sua vida, todas as horas são favoráveis à conversão e ao compromisso na construção do Reino de Deus. Por isso Ele, como o proprietário da parábola, chama-nos a todas as horas, sai, vem à nossa procura, ao nosso encontro, desafia-nos a desinstalarmo-nos do nosso comodismo e a trabalharmos na Sua vinha, no Seu reino de amor, de justiça e de paz.
       "O reino dos Céus pode comparar-se a um proprietário, que saiu muito cedo a contratar trabalhadores para a sua vinha... Saiu a meio da manhã, viu outros que estavam na praça ociosos e disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha e dar-vos-ei o que for justo’... Voltou a sair, por volta do meio-dia e pelas três horas da tarde, e fez o mesmo. Saindo ao cair da tarde, encontrou ainda outros que estavam parados e disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha'..."
       Ao amanhecer como ao anoitecer, Deus nunca desiste de nós. Tem sempre lugar para nós. Basta querer!

       2 – Não desiste porque nos ama infinitamente e, por conseguinte, dá-Se-nos total e plenamente. Não se dá aos bocados, não é quantificável o Seu amor por nós. Isso faz-nos espécie! Como é que Ele pode amar na perfeição quem toda a vida viveu de acordo com a Sua vontade e pode, na mesma plenitude, amar aquele que andou a maioria do tempo arredado dos caminhos da verdade e do bem? 
       Humanamente falando é um injustiça...: "Ajustou com eles um denário por dia e mandou-os para a sua vinha... Quando vieram os primeiros, julgaram que iam receber mais, mas receberam também um denário cada um". Na parábola, os que trabalharam todo o dia murmuram porque pensavam que iriam receber mais, ainda que tivessem ajustado o que realmente receberam. Mas a lógica de Deus é diferente, é a lógica do amor puro, infinito, sem limites, não quantificável com os nossos méritos. Deus dá-Se totalmente, dá todo o amor. Não mede. Por isso nos dá o Seu próprio Filho.
       É a dinâmica da parábola do Filho Pródigo (= Parábola do Pai Misericordioso). Quando o Filho se arrepende e volta, o Pai devolve-lhe a dignidade perdida, ele torna a ser filho, e como filho readquire todos os direitos. É também a lógica do Bom Samaritano que encontra uma vítima no caminho e cuida sem temer contaminações, assegurando-se que a vítima recuperará totalmente. Não olha a despesas ou ao tempo perdido. Deus é assim. Ama-nos, infinitamente.

       3 – Com efeito, a liturgia da palavra para este domingo, sublinha a proximidade de Deus, sempre pronto a escutar-nos, sempre pronto a acolher-nos, sempre pronto a vir ao nosso encontro. "O Senhor está perto de quantos O invocam, de quantos O invocam em verdade" (Salmo).
       Daí que o profeta nos convide a aproveitar dessa proximidade: "Procurai o Senhor, enquanto se pode encontrar, invocai-O, enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho e o homem perverso os seus pensamentos".
       O amor de Deus para connosco, a Sua proximidade há-de levar-nos à mudança de vida, à conversão do coração. Abandonemos todas as obras das trevas e procuremos viver segundo os ensinamentos de Deus, segundo a Sua vontade.
       No fundo, como nos refere o Apóstolo São Paulo, enquanto vivermos neste corpo mortal, glorifiquemos o Senhor, vivamos n'Ele e para Ele, procuremos viver em Jesus Cristo, ainda que atraídos pela eternidade divina, onde Ele já Se encontra à direita de Deus Pai e de onde nos atrai constantemente.
       "Cristo será glorificado no meu corpo, quer eu viva quer eu morra. Porque, para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. Mas, se viver neste corpo mortal é útil para o meu trabalho, não sei o que escolher. Sinto-me constrangido por este dilema: desejaria partir e estar com Cristo, que seria muito melhor; mas é mais necessário para vós que eu permaneça neste corpo mortal. Procurai somente viver de maneira digna do Evangelho de Cristo".
       O dilema de Paulo, reflecte o amor a Jesus Cristo, que se concretiza na missão mas também na comunhão plena na eternidade.

Textos para a Eucaristia (ano A): Is 55,6-9; Sl 144 (145); Filip 1,20c-24.27a; Mt 20,1-16a.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

SETEMBRO: o caminho e a estalagem

Não nos podemos instalar simplesmente nas vitórias de ontem, nos saberes adquiridos de um dia, nas experiências de uma determinada etapa
        Chega setembro e damos por nós a conjugar regressos. Há duas maneiras de encarar este reencontro com o nosso quadro habitual de vida. Podemos entendê-lo como um retomar simples de um percurso que a pausa estival interrompeu. Voltamos aos mesmos lugares, ao mesmo ritmo, aos mesmos tiques rotineiros, como se a vida fosse um contínuo inalterado. Ou podemos voltar, tendo ganho uma distância crítica e criativa, em relação ao modo como habitamos o real que nos cabe. Sentimos então, como naquele verso de Rainer Maria Rilke, que temos de chegar ao que conhecemos e arriscar olhá-lo como se fosse a primeira vez.
       De facto, a vida, nas suas várias expressões (laborais, familiares, afetivas…) precisa de recomeços que o sejam verdadeiramente. Não nos podemos instalar simplesmente nas vitórias de ontem, nos saberes adquiridos de um dia, nas experiências de uma determinada etapa. O recomeço supõe uma abertura esperançada em relação ao hoje, encarando-o com a pobreza e a ousadia de quem aceita, depois de ter percorrido já uma estrada, considerar que está novamente, e que estará até ao fim, a viver sucessivos pontos de partida.
       Neste sentido, precisamos de jogar a vida no aberto, mantendo uma plasticidade interior que é um grande investimento de confiança no modo como Deus se vai manifestando a cada momento. Talvez precisemos todos escutar mais profundamente a vida para captar essa novidade que nos chega por dentro, esse refazer das disposições interiores, essa rejuvenescida vontade de nos pormos à estrada, quando a tentação que nos sobrevém, a dada altura, é a de nos arrumarmos num canto qualquer.
       Há aquela frase exigente e fantástica que o D. Quixote repetia: “vale mais o caminho do que a estalagem”. Setembro abeira-se de nós assim, desafiando-nos não a um regresso à estalagem, à zona de conforto, à vida tornada mais ao menos maquinal, mas a expormo-nos aos reinícios autênticos, ao refazer humilde e apaixonado do nosso labor, às aprendizagens que nos avizinham silenciosamente do definitivo escondido no provisório que tateamos.

Pe. José Tolentino Mendonça, in Editorial da Agência Ecclesia.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Santa Eufémia... a morte é encontro com o Ressuscitado

       Na reflexão de ontem, uma das referências foi a nobreza do Centurião que vai ao encontro de Jesus, enviando emissários, e a nobreza de Santa Eufémia.
       O Centurião, sendo chefe de cem soldados, humildemente intercede junto de Jesus por um seu criado. O lugar que ocupa não o inibe de ser um homem bom, um homem de fé. Santa Eufémia, pertence à nobreza, situação que lhe dava privilégios que podiam libertá-la da tortura e da morte. Ainda assim a nobreza de Santa Eufémia assenta na verdade, na fé, no amor a Jesus Cristo.
       Hoje, meditando no Evangelho (Lc 7, 11-17), contemplamos a compaixão de Jesus para com a viúva de Naim cujo filho único vai a sepultar. Jesus usa do seu poder em favor daquela mulher. Sublinhe-se, uma vez mais, que Jesus não usa os seus talentos em benefício próprio. Quando chegar a hora ele será preso, maltratado e morto. Por ora Ele mostra-Se como Senhor da Vida e da Morte.
       Santa Eufémia não teme a tortura e a morte. O seu redentor é Jesus Cristo, só Ele é a Ressurreição e a Vida. Podem tirar a vida biológica, mas não a VIDA que nela germina como dádiva e como compromisso até à eternidade. Eufémia não cessa de incentivar os outros cristãos para que não cedam e intercede por eles, para que seja sacrificada em sua vez. E, por outro lado, a fé inabalável que a morte não é o fim mas a oportunidade de se encontrar face a face com Jesus Cristo.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Santa Eufémia: vítima do preconceito religioso...

       Hoje, na reflexão à volta de Santa Eufémia, podemos acentuar, em continuação ao dia de ontem, a tolerância religiosa e a cooperação com todas as pessoas de bem independentemente da sua religião, do seu partido, ou do seu grupo.
       Na liturgia da Palavra temos, por um lado, o Apóstolo São Paulo a dizer-nos que Deus quer a salvação de todos e todos nos devemos comprometer com a justiça, com a concórdia, com a verdade. E onde nos encontramos? Na oração, que é o lugar da nossa conversão a Jesus Cristo e o início da nossa comunhão com os outros. Por outro lado, no Evangelho, o encontro de Jesus com o Centurião, através dos seus emissários. Vê-se como o Centurião, pertencendo à potência colonizadora, respeita e colabora com os judeus, recorre a Jesus Cristo, sem reticências ou preconceitos, sujeitando-se à chacota, pelo lugar que ocupa, e intercede não por si ou pela sua família mas por um criado. Jesus dá testemunho acerca deste homem. dizendo-nos que não é a religião ou a nacionalidade que nos faz bons, embora o ambiente que nos rodeia possa ajudar e/ou prejudicar, mas o compromisso com o bem e com a verdade.
       Santa Eufémia desafia as autoridades do seu tempo a serem tolerantes, de um modo muito peculiar: pela firmeza da sua fé, das suas convicções, pela intercessão por aqueles que já estão condenados, querendo ir em seu lugar, rezando pelos perseguidores, cantando com as vítimas, testemunhando que a verdade é mais forte que a vida biológica e que a morte.

Ele quer que todos os homens se salvem

       "Recomendo, antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e acções de graças por todos os homens, pelos reis e por todas as autoridades, para que possamos levar uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade. Isto é bom e agradável aos olhos de Deus, nosso Salvador; Ele quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou à morte pela redenção de todos. Tal é o testemunho que foi dado a seu tempo e do qual fui constituído arauto e apóstolo - digo a verdade, não minto - mestre dos gentios na fé e na verdade. Quero, portanto, que os homens rezem em toda a parte, erguendo para o Céu as mãos santas, sem ira nem contenda" (1 Tim 2, 1-8).

       A recomendação do Apóstolo São Paulo, aos cristãos, através de Timóteo, sublinha a salvação que é dada por Jesus Cristo a toda a humanidade. Com efeito, Deus quer que todos se salvem e a salvação inicia-se com a oração que leva ao compromisso de cada um pela paz, pela justiça, pela concórdia entre as pessoas.
       Os crentes deverão prosseguir com um comportamento que em todo seja agradável a Deus.

domingo, 11 de setembro de 2011

sábado, 10 de setembro de 2011

XXIV Domingo doTempo Comum - 11 de Setembro

       1 – "Errar é humano, perdoar é divino".
       Neste ditado popular temos uma constatação e um desafio. Por um lado, é próprio da nossa fragilidade humana errarmos, falharmos na nossa relação com os outros. Vale para uns e para outros. Estamos no mesmo barco. Somos da mesma carne. Num ou noutro tempo, lá cometemos um deslize, uma falha, uma palavra que ofende, um gesto que destrói o outro, uma palavra ou um gesto que destrói a confiança do outro, que mina a sua paz e a sua saúde. 
       Desde logo uma lição importante: se todos pecamos, isto é, se temos em nós o gérmen da fragilidade, do errar, mais consciente ou menos conscientemente, então a nossa compreensão e tolerância para com os outros deveria ser um modo de ser, uma constante, uma opção de vida.
       Por outro lado, sabemos como o perdão não é assim tão fácil de conceder. E porquê? Quem já se sentiu ofendido na sua dignidade? Quem foi insultado, traído, desprezado? Quem já foi vítima do ódio, da maledicência, do boato, da injúria, da violência, da injustiça? Quem já viu o seu nome lançado na lama? Como se sentiu, como se viu impelido a agir?
       Por vezes basta uma palavra fora de tempo, ou a ausência de uma palavra de solidariedade, para nos sentirmos ofendidos!
       Este é o grande desafio: perdoar. É a característica fundamental da caridade, a propriedade de Deus. Ama em perfeição. Perdoa em todas as situações. Só Ele nos liberta do peso do pecado e da culpa. Perdoar é divino. Mas é também um caminho, do crente e de toda a pessoa que quer ser livre, que quer ser saudável. É um ideal que devemos prosseguir com alegria, com paixão. O perdão liberta-nos do rancor, da irritação, do ódio, liberta o nosso coração para que ame, para que viva, para que aprecie o mundo à sua volta.

       2 – No Evangelho deste domingo encontrámos um Pedro muito benevolente: “Se meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?”.
       Deverei perdoar? E quantas vezes? Cada um de nós já foi confrontado com esta questão várias vezes ao longo da sua vida. Não será difícil responder. Já que esta ou aquela pessoa me ofendeu, e se não foi uma ofensa à minha dignidade, então poderei vir a perdoar. E se a mesma pessoa me ofender de novo? Aí o perdão já se torna mais complexo, é que se perdoo novamente pode voltar a fazer o mesmo pois sabe como tenho um coração de manteiga. E uma terceira vez? Já é quebrar a cara e perder a vergonha! Perdoar, nem pensar! O abuso também tem um limite!
       Quando Pedro pergunta a Jesus se deve perdoar até sete vezes, ele está a ser demasiado generoso. Talvez pense que Jesus tenha um gesto de reconhecimento e de felicitação por tamanha generosidade. Mas Jesus surpreende-o: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. O número 7, para a Bíblia, significa perfeição, plenitude. Perdoar 7 vezes é perdoar sempre. Mas para que não restem dúvidas, Jesus eleva o perdão até ao infinito, perdoar sempre, em todas as situações, em todos os momentos, a todas as pessoas.
        Perdoar é divino, perdoar abre-nos o coração aos outros, à vida, à alegria, a Deus. Liberta-nos. Cura-nos. Perdoar traz-nos a confiança, devolve-nos a felicidade. É certo que há situações que não esquecerei, muito menos uma ofensa grave. Fica gravado na memória. Não é uma opção. Perdoar tem a ver com a vontade, é uma opção de vida, é uma escolha. Perdoo, sabendo que me fizeram mal, que feriram a minha dignidade, que me atraiçoaram. Quero bem àquela pessoa, ainda que saiba que me injuriou. Perdoar para sermos perdoados, como na parábola contada por Jesus. Deus perdoa-nos tudo, para que nós vamos perdoando àqueles que nos ofendem.
       Quando não perdoamos, o nosso coração vai-se enchendo de rancor, de ódio, de revolta, de irritação. Para onde quer que vamos, em tudo o que fazemos, acordados ou a dormir, a pessoa que nos ofendeu vai connosco, faz parte da nossa vida, em todas as horas, negativamente. Nem comemos com o mesmo entusiasmo, nem dormimos com a mesma tranquilidade, como que desejaríamos que essa pessoa passasse pelo mesmo... Paralisamos! Adoecemos! Morre em nós a vida nova que recebemos de Deus, em Jesus Cristo, pelo Espírito Santo.
       Embora seja divino, o perdão é uma escolha, é uma questão de saúde, de cura. 

       3 – O perdão é uma exigência da caridade ao jeito de Jesus Cristo. Quem ama perdoa. Os cristãos, seguidores de Jesus Cristo, são chamados a perdoar sempre, deixando-se tocar pela graça de Deus, fonte e origem de todo o amor, fonte e origem do perdão.
       Ben Sirá, alerta-nos para a urgência de pedirmos a Deus a nossa cura, perdoando aqueles que nos ofenderam.
       "O rancor e a ira são coisas detestáveis, e o pecador é mestre nelas. Quem se vinga sofrerá a vingança do Senhor, que pedirá minuciosa conta de seus pecados. Perdoa a ofensa do teu próximo e, quando o pedires, as tuas ofensas serão perdoadas. Um homem guarda rancor contra outro e pede a Deus que o cure? Não tem compaixão do seu semelhante e pede perdão para os seus próprios pecados? Se ele, que é um ser de carne, guarda rancor, quem lhe alcançará o perdão das suas faltas? Lembra-te do teu fim e deixa de ter ódio; pensa na corrupção e na morte, e guarda os mandamentos. Recorda os mandamentos e não tenhas rancor ao próximo; pensa na aliança do Altíssimo e não repares nas ofensas que te fazem".
       As nossas ofensas são perdoadas quando perdoamos as dos outros. A cura é-nos concedida quando libertamos o nosso coração de toda a cólera, sabendo que só desse modo imitámos o proceder de Deus. Como se nos recorda no Salmo: "Como a distância da terra aos céus, assim é grande a sua misericórdia para os que O temem. Como o Oriente dista do Ocidente, assim Ele afasta de nós os nossos pecados".
       Vivendo na graça de Deus, aprenderemos a força libertadora de nos sabermos perdoados, amados por Deus e de sabermos que o nosso perdão disponibiliza o nosso coração, a nossa vida, para a alegria, a confiança, para a disposição para nos encontrarmos e para descobrirmos a beleza da vida, para termos garra para enfrentarmos os momentos de dificuldade com mais serenidade.

       4 – Lembremo-nos da recomendação feita pelo Apóstolo São Paulo aos Romanos: "Nenhum de nós vive para si mesmo e nenhum de nós morre para si mesmo. Se vivemos, vivemos para o Senhor, e se morremos, morremos para o Senhor. Portanto, quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor. Na verdade, Cristo morreu e ressuscitou para ser o Senhor dos vivos e dos mortos".
       Se colocarmos Deus nos nossos pensamentos, na nossa vontade, nas nossas escolhas, nos nossos afazeres, se deixarmos que o Seu Espírito de amor actue em nós, tornar-se-á mais fácil entender que a vida se resolve e se decide na caridade, que, por sua vez, tem no perdão uma das expressões máximas do viver como Jesus viveu, amando, perdoando, fazendo o bem, dando a vida por nós, a que também nós estamos chamados.

Textos para a Eucaristia (ano A): Sir 27, 33 – 28, 9; Sl 102 (103); Rom 14, 7-9; Mt 18, 21-35.

Santa Eufémia vive na rocha firme do Evangelho

       Na sequência da reflexão da Palavra de Deus proposta para hoje, tendo como exemplo Santa Eufémia, no decurso da novena em sua honra, apraz-nos sublinhar que ela soube levar a sua profissão de fé até às últimas consequências.
        Jesus lembra-nos hoje que não basta a fé, não basta professarmos que Ele é o Senhor, se depois não escutarmos a Sua Palavra e não a pusermos em prática. Com efeito, a árvore vê-se pelos frutos. De pouco adianta dizer quer é uma boa/excelente árvore se os seus frutos são intragáveis, são ruins. Vale também para nós, pelo fruto se vê a autenticidade da nossa fé.
       Santa Eufémia, nascida e educada num ambiente cristão, quando chega a hora da provação dá um testemunho de coragem e de fidelidade que se tornam para nós um exemplo e um estímulo. Por um lado, refira-se, não é por nascermos (também nós) em ambiente cristão que nos tornamos verdadeiros cristãos, por vezes somo-lo apenas de nome. Por outro lado, nas circunstâncias actuais do relativismo rreligioso torna-se imperioso não nos envergonharmos de sermos cristãos e de agirmos como tal na vida política, social, económica, cultural.
       Eufémia dá bons frutos. Dela colhemos a alegria de se afirmar cristã, enfrentando a tortura, a ofensa, e a própria morte. Se hesitações, mantendo sempre uma grande intimidade com Jesus. Ela constrói a sua casa sobre rocha firme, nenhuma tempestade abala os alicerces da sua casa, pois está suportada em Jesus Cristo.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Aprender na Escola de Santa Eufémia a viver Jesus Cristo

       No terceiro dia de novena, em honra da nossa padroeira, procurando acolher o exemplo de Santa Eufémia, para melhor vivermos a Palavra de Deus, para com ela nos mantermos firmes na fé, cada vez mais comprometidos com Jesus Cristo.
       Partindo da Liturgia da Palavra de Deus, vemos como o Apóstolo São Paulo sustenta a sua vida e missão na graça de Deus, na misericórdia divina. "A graça de Nosso Senhor superabundou em mim, com a fé e a caridade que temos em Cristo Jesus".
       Do mesmo modo, Santa Eufémia fortaleceu a sua fé no Evangelho e no grande amor a Jesus Cristo. Também ela poderia dizer com o Apóstolo: "Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim" (Gál 2,20), ou "Para mim viver é Cristo" (Fil 1,21).
       No Evangelho deste dia, Jesus apresenta uma palavra para nos dizer que um cego não pode guiar outro, desafiando-nos a olhar para nós antes de fazermos juízos de valor sobre os demais. Na Escola de Santa Eufémia, nós aprendemos a seguir Jesus de todo o coração. Diante do juiz Prisco, que por momentos tenta iludi-la, Eufémia não se deixa guiar pela sua cegueira, mas deixa-se conduzir por Jesus, seu único Mestre e Senhor.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Qual a classe média que está ameaçada?

...mais que um enfraquecimento económico, foi debilidade de alma com dependência viciosa da banalidade, mau gosto, futilidade de vida e perda de valores humanos e patrimoniais.

        E cada vez mais se vão vendo e ouvindo notícias, debates, declarações, sentenças avulsas, sobre uma crise que desaba sobre todos, e onde todos parecem querer fugir na hora de assumir gestos concretos para a solução. Os verdadeiramente pobres já não sabem que dizer e fazer. Os chamados ricos não sentem alteração apreciável. Tal como está a impatrialidade do dinheiro, facilmente se arranja um colchão anónimo em qualquer recanto do planeta e aí se faz descansar em paz os milhões, escapando ao mais rigoroso sistema fiscalizante. Assim ignoram a crise dos outros aquietando a consciência com doações ou fundações que pouco remendam os andrajos ou saram as feridas. A crise, mais cedo ou mais tarde, vai passar e tudo continuará como dantes.
       O novo discurso parece centrar-se agora naquilo a que se chama a classe média. No presente contexto não se sabe bem o que seja, mas deve tratar-se de novos pobres que já foram quase ricos e se sentiram ludibriados pela publicidade, pelos empréstimos, pelos juros, pelas promessas, pela ascensão social que deu carro de luxo, muitos topos de gama, vivenda, piscina, decorador, alfaiate, segundo carro, segunda casa e uma infinidade de quinquilharias de marca que nada têm a ver com saúde, cultura, qualidade de vida ou dignidade. Foi uma espécie de volúpia do pequeno e grande luxo, o culto do supérfluo, o estatuto social como alvo primordial da vida. Tudo isso, mais que um enfraquecimento económico, foi debilidade de alma com dependência viciosa da banalidade, mau gosto, futilidade de vida e perda de valores humanos e patrimoniais.
       É essa classe média que está ameaçada?
       Há muito ferro velho ou plástico ou plasma que é preciso deitar fora. E se a crise ajudar a essa depuração num regresso ao essencial, acaba por ser benéfica.
       Porventura pouco interessa que tudo passe para voltarmos ao mesmo. Todas as classes precisam fazer uma reflexão mais que económica. Como dizia Bento XVI no voo de Roma para Madrid ‘a economia não pode funcionar apenas com uma autorregu-lação mercantil mas tem necessidade de uma razão ética para servir o homem.’ O pão de cada dia é sagrado em qualquer mesa. É mais que um objeto, é imagem do próprio coração do homem.

António Rego, editorial da Agência Ecclesia.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Aspirai às coisas do alto...

       Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar, também vós vos manifestareis com Ele na glória. Portanto, fazei morrer o que em vós é terreno: imoralidade, impureza, paixões, maus desejos e avareza, que é uma idolatria...
       Agora, afastai de vós tudo o que é cólera, irritação, malícia, insulto, linguagem torpe. Não mintais uns aos outros, vós que vos despojastes do homem velho com as suas acções e vos revestistes do homem novo, que, para alcançar a verdadeira ciência, se vai renovando à imagem do seu Criador. Aí não há grego ou judeu, circunciso ou incircunciso, bárbaro ou cita, escravo ou livre; o que há é Cristo, que é tudo e está em todos (Col 3, 1-11).
        Mais um belíssimo texto do Apóstolo São Paulo.
       Pela nossa conversão a Jesus Cristo, pelo Baptismo, com Ele ressuscitamos. Somos novas criaturas, desse modo já não vivemos na morte, mas na vida de Cristo, na Sua ressurreição. Agora guiamo-nos pelos valores da vida, do Evangelho.
       É o grande desafio do Apóstolo: aspirai às coisas do alto, fazei morrer em vós o que é terreno - imoralidade, impureza, paixões, maus desejos e avareza, que é uma idolatria... Sois novas criaturas em Cristo Jesus e, por conseguinte, afastai de vós tudo o que é cólera, irritação, malícia, insulto, linguagem torpe, não mintais uns aos outros...
       Esta é uma mensagem muito concreta do Apóstolo, em que sustenta a nova criação em Jesus e daí tira ilações para a vida do dia a dia. Se somos de Cristo, vivamos n'Ele e por Ele, tenhamos as mesmas atitudes...

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

... só se despreza a caridade cristã!

         Nos últimos 500 anos o Ocidente viveu o maior ataque cultural da história. Seguindo o magno processo contra a cultura cristã, nas suas três fases, entende-se a situação actual. Primeiro atacou-se a Igreja em nome de Deus. Depois descartou-se a divindade mantendo a moral cristã. Hoje desmantela-se a ética.
        A primeira fase seguiu dois passos. Primeiro, com Lutero, Calvino e outros reformadores, agrediu-se a estrutura eclesial conservando o Cristianismo. A fé em Cristo era preciosa, apesar dos perversos eclesiásticos. Depois, através de Hume, Voltaire e outros teístas, o cientifismo deísta rejeitou a doutrina e ritos, acenando à divindade longínqua e apática d'"O Grande Arquitecto" e distorcendo a História para apagar o papel da Igreja.
        A segunda fase do ataque dirigiu--se ao transcendente. Recusava-se Deus e a eternidade, pretendendo conservar as regras cristãs de comportamento social. O primeiro passo, de Feuerbach, Comte e outros ateus, quis demonstrar filosoficamente a inexistência formal de Deus na sociedade humanista ideal. O falhanço dos esforços teóricos levou Thomas Huxley, Bertand Russell e outros agnósticos ao ateísmo prático simplesmente desinteressado da questão religiosa.
        A fase actual é de ataque frontal à moral cristã. Primeiro, com Saint-Simon, Marx e outros revolucionários, visou-se uma moral exclusivamente humana. Mas, como Nietzsche e Sartre tinham explicado, eliminando a referência metafísica, vivemos "Para lá do Bem e do Mal".
        Para compreender os traços essenciais da atitude moral dominante é preciso lembrar o elemento novo e original que o Cristianismo trouxe à civilização há 2000 anos. Aí se situa o núcleo da luta moral da nossa era. Quando Cristo nasceu, a sociedade ocidental já possuía uma estrutura ética sofisticada. Homero, Zoroastro, Sócrates, Zenão, Epicuro e tantos outros tinham estabelecido um sistema complexo de virtudes, regras e comportamentos. No campo estrito da ética, a revelação cristã trouxe apenas um contributo: a misericórdia.
        Para Aristóteles e seus contemporâneos, o perdão era uma injustiça inaceitável. A visão cristã do mundo tornou-o indispensável: "todos pecaram e estão privados da glória de Deus. Sem o merecerem, todos são justificados pela Sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus" (Rm 3, 23-24).
        Aquilo que a moral de hoje perdeu é a misericórdia. Em jornais, novelas, televisão e cinema encontramos valores e atitudes elevados. Mantêm-se virtudes, guardam-se mandamentos, pululam os exemplos honestos, sensatos, equilibrados. Tolera-se tudo. Só se despreza a caridade cristã.
        Existem duas formas de destruir a misericórdia: eliminando o pecado e eliminando o perdão
       Estas são precisamente as duas atitudes mais comuns nos dias que correm. Numa enorme quantidade de situações não se vê nada de mal. Naquelas em que se vê, não há desculpa possível. As acções do próximo ou são indiferentes ou intoleráveis. O que nunca são é censuradas e perdoadas. O que nunca se faz é combinar o repúdio do pecado com a compaixão pelo pecador.
        O resultado está à vista. A moral oficial, em filmes, romances, séries e telejornais, é uma amálgama de regras, princípios e procedimentos, sem fundamento, coerência ou justificação. Do libertarismo mais acéfalo salta-se ao moralismo totalitário sem lógica ou razão. Aborto e adultério tornavam-se de crimes em direitos, enquanto tabaco e touradas passaram de hábitos a infâmias. Os enredos da moda exaltam os valores pagãos, mágicos, bárbaros, orientais, ocultistas, libertinos, vampiros. Todos, menos cristãos.
        Após 500 anos de ataques à Igreja, este é o estado do Ocidente. Qual a situação da fé, com cinco séculos de agressões? Está igual a si mesma. A moral cristã perdura, 100 anos depois de Nietzsche. A fé em Cristo mantém-se, 250 anos depois de Hume. A Igreja Católica permanece, cinco séculos após Lutero. O último meio milénio não foi mais duro para os discípulos de Cristo que os anteriores. Desde o Calvário, a Igreja é atacada. Ressuscitando ao terceiro dia.
João César das Neves, in (DN 5/09/2011) POVO.

Há dias para fazer o bem?

       Jesus disse-lhes: «Eu pergunto-vos se é permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar a vida ou tirá-la». Então olhou para todos à sua volta e disse ao homem: «Estende a mão». Ele assim fez e a mão ficou curada. Os escribas e fariseus ficaram furiosos e começaram a falar entre si do que haviam de fazer a Jesus (Lc 6, 6-11).
        Jesus entra numa sinagoga, lugar de oração, de escuta da Sagrada Escritura, e de reflexão, para os judeus. Aproveita a ocasião para ensinar. Entre os presentes um homem com a mão direita paralítica. Os doutores da lei e os fariseus estão atentos ao ensino de Jesus mas também aos gestos que Ele possa fazer.
       Jesus não se inibe e chama o homem para que ele fique ainda mais visível, pergunta se é permitido fazer bem ou mal em dia de Sábado, o dia sagrado dos judeus... e cura a mão paralítica.
Para Jesus, como para os seus seguidores, todos os dias são bons para fazer bem... e todos os dias sãos ruins para fazer mal

domingo, 4 de setembro de 2011

Se hoje escutardes a voz de Deus...

       O Salmo proposto para a Eucaristia: "Se hoje escutardes a voz do Senhor, não fecheis o vosso coração" - Salmo 94 (95). Uma interpretação possível, a da Canção Nova:

sábado, 3 de setembro de 2011

XXIII Domingo do Tempo Comum - 4 de Setembro

       1 – Ouçamos as doutas palavras de São Paulo: "Não devais a ninguém coisa alguma, a não ser o amor de uns para com os outros, pois, quem ama o próximo, cumpre a lei. De facto, os mandamentos que dizem: «Não cometerás adultério, não matarás, não furtarás, não cobiçarás», e todos os outros mandamentos, resumem-se nestas palavras: «Amarás ao próximo como a ti mesmo». A caridade não faz mal ao próximo. A caridade é o pleno cumprimento da lei".
       Num dos diálogos com os doutores da lei, os especialistas da religião judaica, Jesus deixara claro que o maior dos mandamentos é amar a Deus sobre todas as coisas, colocar Deus sempre em primeiro lugar, antes e acima de tudo, e em todas as escolhas, e ao próximo como a si mesmo. Estes dois mandamentos contêm e resumem toda lei e os profetas, todos os preceitos necessários para viver na fidelidade à palavra/vontade de Deus.
       Não é necessário inventar nada. Está tudo nestes dois mandamentos.
       É nesta linha que escutamos o Apóstolo a desafiar-nos para que a nossa única dívida seja o amor, a caridade. Quem ama cumpre toda a lei. Toda a Lei, no que diz respeito à nossa relação com os outros, consiste na caridade, em amar-nos uns aos outros, tendo como referência e modelo o próprio Jesus Cristo.

       2 – A caridade, o amor ao próximo, concretiza-se no perdão, na solidariedade, na partilha, na delicadeza para com aqueles que nos rodeiam.
       Como tantas vezes se acentua, não basta amar os que estão a milhas de distância, ainda que muitas vezes sejamos chamados a solidarizar-nos com ajudas monetárias, mas importa amar os que estão perto de nós, que fazem parte das nossas relações familiares, profissionais, sociais. É aqui que se testa o nosso amor.
       É sempre demasiado fácil amar os que não nos incomodam, os que nos são indiferentes, os que não conhecemos. Amar os que nos podem contrariar e contradizer, os que são diferentes de nós e no entanto convivem connosco, em casa, no trabalho, na comunidade, já se torna mais difícil e sobretudo amar aqueles que nos incomodam, de quem não gostamos tanto. É um desafio permanente para os seguidores de Jesus.
       Diz-nos Jesus: "Se o teu irmão te ofender, vai ter com ele e repreende-o a sós. Se te escutar, terás ganho o teu irmão. Se não te escutar, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão fique resolvida pela palavra de duas ou três testemunhas. Mas se ele não lhes der ouvidos, comunica o caso à Igreja; e se também não der ouvidos à Igreja, considera-o como um pagão ou um publicano".
       O mesmo escutamos na primeira Leitura: «Filho do homem, coloquei-te como sentinela na casa de Israel. Quando ouvires a palavra da minha boca, deves avisá-los da minha parte»".
       Não devemos desistir de perdoar, e de tentar conciliar-nos com os irmãos, uma e outra vez, e outra vez. Não demos o caso como perdido à primeira contrariedade. E veremos como é saudável apostarmos positivamente nos outros. Faz-nos bem à saúde.
       3 – Obviamente que a vivência da caridade não é um capricho ou uma escolha acessória para a nossa vida de cristãos, é um compromisso que assenta no seguimento de Jesus Cristo, procurando, em tudo, e em todas as circunstâncias, imitar Aquele que amamos e seguimos, Aquele que nos identifica como comunidade, como Igreja. Somos, cada um a seu modo, parte integrante do Corpo de Jesus Cristo, que é a Igreja. Pertencemos-Lhe, somos cristãos, somos d’Ele, o Cristo. Ele faz parte de nós. É como o sangue que circula nas veias e que nos mantém vivos. Assim há-de circular em nós a vontade de Deus, a postura de Jesus Cristo, a disponibilidade de dar a vida pelos outros. Será isso que nos mantém como pedras vivas.
       Ressoa, destarte, a palavra de Deus que devemos escutar e acolher em nosso coração, na nossa vida. A Palavra de Deus é alimento, é luz que nos guia para Ele, é dinamismo que nos aproxima dos outros e de Deus. "Quem dera ouvísseis hoje a sua voz: «Não endureçais os vossos corações»".
       A escuta da Palavra de Deus conduz-nos à oração, à intimidade com Ele e com os outros. É na oração que nos tornámos comunidade: "Se dois de vós se unirem na terra para pedirem qualquer coisa, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos Céus. Na verdade, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles».
       Daí a insistência na oração, na medida em que nos abre o coração para Deus e para os outros e nos prepara para escutar a palavra de Deus, iluminando-nos para cumprirmos com fidelidade a Sua vontade.

Textos para a Eucaristia (ano A): Ez 33,7-9; Sl 94 (95); Rom 13,8-10; Mt 18,15-20.