sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Mar, terra e ar: o calar, o gritar, o cantar...

       "Gandhi evidencia três espaços de vida do cosmos e mostra como cada um desses três espaços vitais comunica também um modo próprio de ser. No mar vivem os peixes e estão calados. Os animais sobre a terra gritam, mas os pássaros, cujo espaço vital é o céu, cantam. Do mar é próprio o estar calado, da terra, o gritar, e do céu, o cantar.
       Porém, o Homem participa dos três: ele traz consigo a profundidade do mar, o peso da Terra e a altura dos Céus; por isso são também suas as três propriedades: o calar, o gritar, o cantar. Hoje (...) vemos que para o Homem privado da transcendência lhe sobre só o gritar, porque quer ser somente terra e procura tornar a sua terra também céu e profundidade do mar. A verdadeira liturgia, a liturgia da comunhão dos santos, restitui-lhe a sua totalidade. Ensina-lhe novamente o calar e o cantar, abrindo-lhe a profundidade do mar e ensinando-o a voar, o ser do anjo; elevando o seu coração, faz ressoar outra vez nele aquele canto que tinha esmorecido. Mais, podemos até dizer que a verdadeira liturgia se reconhece precisamente pelo facto de que ela nos liberta do agir comum e nos restitui a profundidade da altura, o silêncio e o canto. A verdadeira liturgia reconhece-se pelo facto de ser cósmica, não à medida de um grupo. Essa canta com os anjos. Essa cala-se com a profundidade do universo em expectação. E desse modo redime a terra".

J. Ratzinger/Bento XVI,
in Guido Marini, Liturgia. Mysterium salutis. Paulus. Lisboa 2011.

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