segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus - 1 de janeiro

       1 – “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adotivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abá! Pai!». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus”.
       Com a vinda de Jesus, cujo nascimento celebramos, chegou até nós o próprio Deus, em Pessoa, a eternidade no tempo, o Infinito no finito. Em Jesus, Deus feito Homem, tornamo-nos, com Ele, filhos e herdeiros da eternidade, da graça divina.
       Oito dias de celebração do Natal como se fora um só DIA para acentuarmos a importância deste nascimento, a plenitude dos tempos, desta PRESENÇA entre nós, para percebemos melhor a grandeza deste mistério, no qual somos incluídos.
       A liturgia propõe-nos, no primeiro dia do NOVO ANO, a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, coincidindo, desde 1968, por iniciativa do Papa Paulo VI, com o Dia Mundial da Paz.
       O quadro é o mesmo. A proximidade de Maria no presépio conduz-nos Àquele que nos traz a verdadeira Paz. Nós queremos estar bem perto do Presépio, sob a LUZ que Maria nos dá.
       2 – “Os pastores dirigiram-se apressadamente para Belém e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. Quando O viram, começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino. E todos os que ouviam admiravam-se do que os pastores diziam. Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração. Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado. Quando se completaram os oito dias para o Menino ser circuncidado, deram-Lhe o nome de Jesus, indicado pelo Anjo, antes de ter sido concebido no seio materno”.
       A narração lucana mostra-nos o encontro dos pastores com Maria, José e o Menino Jesus, a alegria por estarem na presença do Messias, do Salvador anunciado e desejado por todo o povo. Estão deslumbrados, contando rapidamente o que os Anjos lhes disseram, para que nenhuma palavra fique esquecida!
       A descoberta de Deus naquele Menino não é uma conquista do poder, da inteligência ou de capacidades extraordinárias, como bem se vê na narração evangélica, é uma graça de Deus, concedida segundo a Sua liberalidade, aos pobres, a todos aqueles e aquelas que têm uma coração disponível para se deixar surpreender.
       Só um coração vazio de si mesmo, pode abrir-se ao mistério, aos outros, a Deus, e acolher Aquele que vem do alto, perceber como o mistério de Deus pode preencher de Luz os seus corações.
       3 – Os pastores estão cheios de vida, de esperança. Estão vazios das preocupações palacianas e das disputas do poder. Fazem companhia uns aos outros, ajudam-se, animam-se, protegem-se, vivem em função das mulheres e dos filhos, enfrentam as dificuldades para sustentar a família. Dependem uns dos outros e das condições do tempo e da terra. Estão habituados a procurar as melhores pastagens, mas também a ler os sinais vindos do céu. Não são magos, mas vivem de mãos dadas com os céus e com a terra, com o tempo.
       A tradição bíblica profetiza a vinda do Messias como pastor para o meio do povo, apascentar o rebanho. O próprio Deus é o Pastor de Israel. Diante de Jesus, são pastores diante do Pastor, por excelência. Eles juntam os seus rebanhos; o Deus Menino apascentará a humanidade inteira como um só rebanho. Saliente-se de novo a estreita ligação ao projeto da paz, ajuntar, família, rebanho, para que todos se sintam e sejam filhos, e irmãos, e herdeiros da graça de Deus.
       Maria e José ficam maravilhados com tudo o que é dito do Seu filho pelos pastores. Silenciosos, ficam a meditar nas palavras dos pastores. Não entendem muito bem, mas guardam no coração. Que mãe não ficaria extremamente agradecida e babada quando falam bem do filho. Maria sabe que o Filho não é Seu (exclusivamente) e que não O poderá reter junto de Si. Mas vai colocá-lo em primeiro lugar, como sempre fazem os pais. Como os pastores vivem para a família, Maria viverá para amar Jesus, para O educar, para Lhe dar as ferramentas para ser feliz e responsável. Viverá, a partir da Cruz, para os seus filhos, para a humanidade inteira. A Mãe de Deus tornar-se-á Mãe da Igreja, Mãe nossa.
       Viver colocando os outros em primeiro lugar não força um vazio interior, pelo contrário, é uma razão maior, Esperança que não desaparece, Luz que não se apaga. Voltemos às palavras de Bento XVI na noite de Natal, “se a luz de Deus se apaga, apaga-se também a dignidade divina do homem. Então deixamos de ser, todos, irmãos e irmãs, filhos do único Pai que, a partir do Pai, se encontram interligados uns aos outros”.
       4 – Na Sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, Bento XVI coloca como pano de fundo a bem-aventurança – bem-aventurados os obreiros da paz – mostrando como a família é crucial na promoção da paz, na grande medida de ser promotora da vida e da felicidade.
       Ainda agora celebrávamos a Festa da Sagrada Família, reconhecendo como a família é espaço de diálogo, de compreensão, e como as mães, na maioria da vezes, com a sua sensibilidade e delicadeza, têm um rosto conciliador, são obreiras da paz, entre os filhos, destes com os pais, e com a sociedade. Assim, Maria assume essa missão de conciliar, interceder, juntar todos os filhos no seu manto de Mãe, para a todos conduzir a Jesus Cristo.
       Com Ela, sejamos também obreiros da paz. Como aos pastores, também a nós Ela nos mostra Jesus, que vem de Deus. Diz-nos o Papa, “a realização da paz depende sobretudo do reconhecimento de que somos, em Deus, uma úni­ca família humana”. Com efeito, “através da encarnação do Filho e da redenção por Ele operada, o próprio Deus entrou na história e fez surgir uma nova criação e uma nova aliança entre Deus e o homem”, colocando-nos diante da possibilidade de termos um novo coração, transformado pelo amor.
       Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade. A paz é dom de Deus, mas também obra e responsabilidade do homem. Na verdade, continua Bento XVI, “a paz pressupõe um humanismo aberto à transcendência; é fruto do dom recíproco, de um mútuo enriquecimento, graças ao dom que provém de Deus e nos permite viver com os outros e para os outros. A ética da paz é uma ética de comunhão e partilha”.
       5 – O mistério da Encarnação permite-nos viver numa saudável ilusão, que se funda na fé, na certeza que Deus está do nosso lado e com Ele é possível vencer o mal com o amor e com o perdão, com a justiça, a verdade e a paz e que nos compromete com a vida e com a transformação da história e do mundo em que vivemos.
       Quando não há esperança, deixa de haver vida, ou pelo menos a vida deixa de ter sentido. Com o nascimento de Jesus, Deus alcança-nos no nosso ambiente, na nossa casa. Vem habitar em nós, respondendo com a Sua vida, o Seu amor e a Sua presença a todas as promessas.
       Deus quer a nosso bem, como deixa antever nas palavras dirigidas a Moisés (e no Salmo Responsorial): «Fala a Aarão e aos seus filhos e diz-lhes: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo: ‘O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz’. Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei».
       Ele é a nossa paz. Cabe-nos transformar a bênção de Deus em nós, em compromisso com a humanidade inteira, sempre com o ponto de partida no nosso coração, em nossa casa, na nossa família, na nossa paróquia, seguindo o desejo da Mãe de Deus e Mãe nossa.
       Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós. Rainha da Paz, dai-nos a paz.


Textos para a Eucaristia (ano C): Num 6, 22-27 ; Sl 66 (67); Gal 4, 4-7; Lc 2, 16-21.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Sagrada Família de Jesus, Maria e José - 30 de dezembro

       1 – Quando nos damos conta que Jesus não segue connosco, como é que reagimos?
       Podemos até nem perceber que Jesus já não vai connosco e já não há chama, nem vida nova, nem mobilização interior, nem compromisso solidário. O que pode suceder na vida pessoal, na vivência da fé, quando esta não é mais que o escrupuloso cumprimento do dito dever de cristão, na esmola que se dá, ou na tradição inalterável que seguimos sem interrogar o seu sentido ou a sua finalidade.
       Uma pequena estória:
       Num jardim público estavam dois soldados a guardar um banco, não deixando que ninguém se sentasse. Passaram milhares de pessoas, durante anos a fio. Os soldados faziam o seu turno e eram rendidos por outros. Um dia um homem, a transpirar de esforço, procurou um banco que estivesse disponível e só encontrou vago aquele que era guardado pelos militares. Insistiu para que o deixassem descansar um pouco. Não adiantou. Tinham ordem para não deixar sentar ninguém. Mas não fazia sentido. Era um banco de jardim igual a todos os outros. Os sentinelas, depois do respetivo turno, intrigados, decidiram tirar tudo a limpo. Ninguém sabia, nem os mais graduados. Era uma rotina que tinha anos. Todos os dias na ordem de serviço estava a guarda ao banco de jardim. Pesquisaram nos arquivos e verificaram que tinha sido um pedido da junta de freguesia, que tinha mandado pintar os bancos e tinha pedido ao quartel para fazerem barreira àquele banco para que ninguém se sentasse com a tinta fresca e estragasse a roupa. Era por algumas horas. Ninguém mais se interrogou, nem as classes dirigentes, nem os soldados, nem os transeuntes. E afinal a razão de ser da sentinela ao banco de jardim já não tinha sentido há muito, muito tempo.
       Bento XVI propõe-nos o ANO da FÉ, na procura do fundamento, do sentido, da matriz da fé. O que nos move. O que nos diz Jesus. O que é roupagem e o que é essencial. Em que Deus acreditamos? Quem segue connosco no caminho? Como testemunho Jesus se nem sei se Ele ainda está nas minhas escolhas?
       2 – Na festa da Sagrada Família, é-nos proposta mais uma pérola do Evangelho de São Lucas. Por volta dos 12 anos, José e Maria levam Jesus a Jerusalém, ao Templo, como faziam cada ano pela Páscoa. Mas esta era uma Páscoa diferente. Entrado nos 12 anos, Jesus passava a ler a Sagrada Escritura em público. Esta seria a sua primeira vez. Doravante, podia discutir os vários temas da Bíblia, já não era a criança excluída. Chegara a idade de também ele se interrogar sobre os fundamentos da fé e de se preparar (a partir dos 13 anos) para cumprir com a Lei, de se apresentar no Templo nas 3 festas principais: Páscoa, das Semanas (Pentecostes) e das Cabanas.
       Vale a pena ler com atenção o relato de São Lucas e descobrir como a Sua família teve um papel preponderante na sua educação, na inserção na comunidade, e numa atitude de diálogo, de confiança e de compreensão:
“Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa. Quando Ele fez doze anos, subiram até lá, como era costume nessa festa. Quando eles regressavam, passados os dias festivos, o Menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o soubessem. Julgando que Ele vinha na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-l’O entre os parentes e conhecidos. Não O encontrando, voltaram a Jerusalém, à sua procura. Passados três dias, encontraram-n’O no templo, sentado no meio dos doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. Todos aqueles que O ouviam estavam surpreendidos com a sua inteligência e as suas respostas. Quando viram Jesus, seus pais ficaram admirados; e sua Mãe disse-Lhe: «Filho, porque procedeste assim connosco? Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura». Jesus respondeu-lhes: «Porque Me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?». Mas eles não entenderam as palavras que Jesus lhes disse. Jesus desceu então com eles para Nazaré e era-lhes submisso. Sua Mãe guardava todos estes acontecimentos em seu coração. E Jesus ia crescendo em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens”.
       3 – Só Deus é Deus. Só Deus deverá ser considerado Deus. E Deus tem sempre o primeiro lugar. Assim no-lo mostra Jesus, sem que isso implique desobediência aos pais, ou fuga às responsabilidades mundanas, familiares e/ou profissionais.
       Este episódio é conhecido, e reproduzido nos mistérios do rosário, por “perda e encontro de Jesus no Templo entre os doutores da Lei”. Fica desde logo claro que Maria e José O perderam pelo caminho. São pessoas, não são Deus. Podia acontecer a qualquer família. Acontece-lhes. A caravana em que seguia a família, seria constituída por muitas pessoas, pelos vários familiares, e pelos conterrâneos, viajam juntos, protegendo-se melhor dos salteadores.
       Pelos 12 anos, as crianças ganhavam a liberdade de se juntar aos da sua idade, e viajarem juntos. À noite regressavam para os pais. Nessa ocasião, Maria e José deram-se conta que Jesus não se encontrava na caravana. Tinham feito um dia de viagem para norte. Viajam outro dia de regresso a Jerusalém e encontram Jesus ao terceiro dia (pode ser já uma imagem da ressurreição, Jesus aparece/ressuscita ao terceiro dia).
       A perda de Jesus, lido o texto com atenção, não exprime primeiramente a Sua desobediência, mas a prioridade da missão: primeiro as coisas de Deus. Mostra como a família de Jesus é profundamente religiosa. Todos os anos vai ao Templo. José é um homem justo, face à Lei, cumpridor dos requisitos da Torah. A família segue a tradição dos antigos. Veja-se a conjugação entre liberdade e obediência. Maria e José não podiam prever a opção de Jesus, não são Deus. Jesus esclarece a prioridade.
       4 – Mas há outros elementos que importa sublinhar. Maria e José dão-se conta que Jesus não está com eles no caminho e imediatamente voltam à sua procura. E nós, quando nos apercebemos que Deus não está nas nossas escolhas, regressamos para O encontrar e trazer de volta à nossa vida?
       A família protege os seus membros. Por isso é família. Maria e José deixam o caminho para procurar Jesus. Um dia será Jesus a sair do caminho, para encontrar os descaminhados, os que estão à margem, fora do caminho, fazendo-os regressar…
       Chegam perto de Jesus, e não discutem com Ele, mostram a preocupação e perguntam-lhe pela razão de ter procedido daquele modo. Mais uma lição importante para pais, para educadores, para a forma como lidar uns com os outros. Perguntar. Escutar as razões dos outros. Tentar compreender o porquê de determinada atitude.
       No mesmo registo, a epístola de São Paulo aos Colossenses com as seguintes recomendações:
"Revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, se algum tiver razão de queixa contra outro... Acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição. Reine em vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados para formar um só corpo... E tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras, seja tudo em nome do Senhor Jesus, dando graças, por Ele, a Deus Pai. Esposas, sede submissas aos vossos maridos, como convém no Senhor. Maridos, amai as vossas esposas e não as trateis com aspereza. Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto agrada ao Senhor. Pais, não exaspereis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo".
       Ainda que a linguagem possa ser instrumentalizada, fica claro, que o importante é proceder como Jesus, amar, perdoar, tratar os outros com delicadeza, com bondade, colocando os outros em primeiro lugar.
       5 – Voltemos uma vez mais à narrativa evangélica.
       Maria, José e Jesus voltam juntos para casa. São família na festa e na dificuldade. Maria e José não deixam o filho para trás. Perderam-no e vão procurá-lo. Não exasperam. Interrogam e deixam que Ele explique. Não percebem muito bem. O que Jesus lhes diz ultrapassa a sua compreensão humana. Mas agora é tempo de recuperar caminho, de regressar a casa. Maria (e José com ela) guarda todas aquelas coisas no coração, medita-as. Jesus não contesta a “repreensão” de Maria. Regressa com os pais, em atitude filial, obediente, crescendo com eles em graça e sabedoria.
       Ao carinho, amor e cuidado dos pais pelos filhos há de corresponder o respeito, a escuta, a obediência, o amor e o cuidado dos filhos pelos pais. Bem Sirá, inspirado pelo Espírito de Deus, deixa-nos uma preciosidade:
“Deus quis honrar os pais nos filhos e firmou sobre eles a autoridade da mãe. Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados e acumula um tesouro quem honra sua mãe. Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos e será atendido na sua oração. Quem honra seu pai terá longa vida, e quem lhe obedece será o conforto de sua mãe. Filho, ampara a velhice do teu pai e não o desgostes durante a sua vida. Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida, porque a tua caridade para com teu pai nunca será esquecida e converter-se-á em desconto dos teus pecados”.
       Amar. Eis o mandamento divino. Colocar Deus em primeiro lugar, e n'Ele a ligação essencial aos outros, aos pais, aos filhos, aos irmãos, aos vizinhos. Amar Deus, amando os que estão perto de nós. Como sublinhou Bento XVI, na noite de Natal, “Se a luz de Deus se apaga, apaga-se também a dignidade divina do homem. Então deixamos de ser, todos, irmãos e irmãs, filhos do único Pai que, a partir do Pai, se encontram interligados uns aos outros”.

Textos para a Eucaristia (ano C): Sir 3, 3-7.14-17a; Col 3, 12-21; Lc 2, 41-52.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Editorial Voz Jovem - dezembro 2012


       1 – Como é que um acontecimento tão longínquo pode hoje modificar a nossa vida?
       Com efeito, o Natal é tão atual agora como no tempo de Jesus. Como? Trata-se do mistério de Deus que envolve a humanidade toda. Jesus é luz de Israel que Se revelará a todas as nações (cf. Lc 2, 21-39). É o mesmo Deus que quer habitar em nós. Um dia lá em Belém, hoje em cada coração.

       2 – Como reagiria eu se Maria e José me batessem à porta? Tenho lugar para Deus na minha vida? Interpelações de Bento XVI na noite de Natal. Se estamos cheios de nós mesmos não há lugar para os outros.
       Importa voltar ao mistério do Natal. Deus, na Sua grandeza, assume a nossa natureza frágil, “…Por isso venho a ti como menino, para que Me possas acolher e amar”.
       De novo as palavras de Bento XVI:
       “Se a luz de Deus se apaga, apaga-se também a dignidade divina do homem. Então deixamos de ser, todos, irmãos e irmãs, filhos do único Pai que, a partir do Pai, se encontram interligados uns aos outros”.

       3 – Viver hoje o Natal imitando Maria.
       Docilidade na escuta. Não compreende tudo. O essencial só é visível aos olhos do coração.
       Docilidade que interroga. Maria interroga o Anjo e Jesus. Guarda e medita os acontecimentos. Interroguemos a nossa fé. Não aceitar tudo o que vem do mundo, ou com a roupagem do divino…
       Docilidade e pressa no serviço. Primeiro ajudar e só depois pensar. Quem pensa demasiado como ajudar, quase nunca ajuda…

       4 – Viver hoje o Natal imitando José.
       Não fazer julgamentos precipitados. José descobre que Maria está grávida. O filho não é seu. Não se precipita. Aguarda. Pensa. Reflete. Sonha. Só então percebe como os planos de Deus vão além dos planos humanos e temporais.
       5 – Viver hoje o Natal com a Família de Nazaré. A vida nunca é a ideal. Maria e José encontram dificuldades, têm de proteger o Menino, no nascimento. Depois, têm de deixar a casa e a terra para sobreviver.
       Compreensão e tolerância. A religião abre-nos aos outros. Maria e José abrem as portas para os pastores e os magos. Cumprem com as tradições religiosas. Apresentam Jesus no templo, vão lá todas as páscoas, voltam para O procurar, interrogam para perceber, guardam no coração o que ultrapassa a compreensão humana.

       6 – Viver hoje o Natal com a postura de Jesus.
       Jesus alimenta-se da vontade de Deus. Vive a partir de Deus. Mas obedece a Maria e a José (cf. Lc 2, 41-52).

       7 – Viver o Natal a partir do Natal de Jesus.
       Cada vez mais o Natal dispensa Jesus… A vida pulsa mais nos afetos e sentimentos que nos bens que possuímos. No presépio (curral) onde o milagre acontece não há muitas coisas, mas há calor, luz. Aquela criança é uma bênção. Para os pais. Para Israel. Para os povos da terra.
       E hoje? As vidas que nascem (e as que estão para nascer) são bênção para os pais? Para a sociedade? Como é que acolhemos quem irrompe na nossa vida?

in Boletim Voz Jovem, dezembro 2012
Para uma melhor compreensão consultar o esboço: Viver o Natal em 2013

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Viver o Natal no ano de 2013

(Esboço do Editorial Voz Jovem - dezembro 2012)
 
       1 – Como é que um acontecimento tão longínquo pode dizer-nos respeito e modificar a nossa vida? Como é que a nossa fé poderá hoje ter a vitalidade que tinha para os apóstolos e nas primeiras comunidades cristãs?
       Com efeito, o Natal é tão atual agora como no tempo de Jesus. Como? Precisamente porque se trata de um evento intemporal. O mistério de Deus envolve a humanidade toda. Jesus nasce para todos. É luz de Israel que revelará a todas as nações, como profetiza o velho Simeão por altura da apresentação de Jesus no templo (Lc 2, 21-39).
        O grande salto de Deus é a Encarnação. Ora Se Deus pode ENCARNAR, de forma discreta, quase no anonimato e dar-Se a conhecer ao mundo inteiro, simbolizado na adoração dos Magos, então o acesso ao Deus Menino é igual para as pessoas de todos os tempos e lugares. Os pastores souberam da boa e alegre NOTÍCIA, a partir do Céu, sob o qual também nos encontramos. Pisámos a mesma terra, protegida pelo mesmo Céu.
       As circunstâncias são diferentes como diferente é o tempo que passa, mas é o mesmo Deus que quer habitar em nós e ficar entre nós. Um dia lá em Belém, hoje em qualquer coração, em todas as casas, em todas as aldeias e cidades.
 
 
       2 – Como reagiria eu se Maria e José me batessem à porta? Tenho lugar para Deus na minha vida? São interpelações feitas por Bento XVI na missa da noite de Natal, no Vaticano. Como viver hoje o Natal?
       Se estamos cheios de nós mesmos não há lugar para os outros. Importa voltar ao mistério do Natal. Deus, na Sua grandeza ousa assumir a nossa natureza frágil, “como se dissesse: Sei que o meu esplendor te assusta, que à vista da minha grandeza procuras impor-te a ti mesmo. Por isso venho a ti como menino, para que Me possas acolher e amar” (Bento XVI, missa da noite de Natal).
       A LUZ projetada então em Belém, há de invadir-nos de novo. A glória a Deus implica-nos na promoção da paz e da justiça na terra dos homens. Voltemos à expressividade de Bento XVI:
       “Onde não se dá glória a Deus, onde Ele é esquecido ou até mesmo negado, também não há paz… Se a luz de Deus se apaga, apaga-se também a dignidade divina do homem. Então deixamos de ser, todos, irmãos e irmãs, filhos do único Pai que, a partir do Pai, se encontram interligados uns aos outros”.
       Esta é a candura de Deus que Se faz Menino, vulnerável, mas cuja Luz é redenção. Com o Menino aprendamos a ser irmãos, tornemo-nos verdadeiramente filhos de Deus, reconhecendo no outro a PRESENÇA do Deus altíssimo que por amor Se faz criança, inocente, frágil, com um olhar que nos procura e nos desafia.
 
       3 – Viver hoje o Natal imitando Maria.
       Docilidade que escuta e se dispõe a acolher o mistério que vem de Deus. Não compreende tudo. Nem tudo se encerra nos nossos esquemas racionais, há mais vida para lá das nossas justificações e para lá do que é palpável. O essencial só é visível aos olhos do coração.
       Docilidade que interroga. Não aceitar tudo o que vem do mundo, ou das pessoas que nos rodeiam ou que venha com a roupagem do divino. Em ano da fé, importa de novo interrogar os fundamentos da nossa fé, as razões da nossa esperança. Ela interroga o Anjo. Interroga Jesus. Medita os acontecimentos.
       Docilidade no serviço. Pressa em ser prestável. Primeiro ajudar e só depois pensar. Quem pensa demasiado como ajudar, quase nunca descobre a alegria de servir. Simplesmente servir, em casa da sua prima Isabel (Lc 1, 39-45), nas bodas de Canaã (Jo 2, 1-11). Serviço que começa por casa e pela família.
 
       4 – Viver hoje o Natal imitando José.
       Não fazer julgamentos precipitados. José descobre que Maria está grávida. O filho não é seu. Não se precipita. Aguarda. Pensa. Reflete. Sonha. Só então percebe como os planos de Deus vão além dos planos humanos e temporais. É um homem justo. Não lhe conhecemos palavras. Mas conhecemos o compromisso com Maria e com Jesus. Conhecemo-lo como trabalhador. Protege a sua casa com trabalho e com dedicação, dá um nome a Jesus e constrói a casa para serem verdadeiramente família, em Belém ou em Nazaré.
 
       5 – Viver hoje o Natal com a Família de Nazaré.
       A vida nunca é a ideal. Maria e José encontram dificuldades por altura do nascimento, tem de ser criativos para protegerem o Menino, e logo depois a necessidade de deixarem a casa e a terra para sobreviverem. Tinham o suficiente. Sem ostentações. Mas em clima de oração e de diálogo. Cumprem com as tradições religiosas. Apresentam Jesus no Templo. Todos os anos vão ao Templo de Jerusalém, pela Páscoa. Estão inseridos na comunidade, vivem a fé na abertura à comunidade. Quando encontram Jesus não O recriminam, perguntam-lhe as razões de tal atitude…
       Compreensão e tolerância. A religião há de aproximar, proteger, promover a vida, o diálogo, a harmonia. Não é propriedade privada. A religião abre-nos aos outros. Maria e José colocam Jesus na manjedoura, abrem as portas para os pastores, para os magos, para nós!
 
       6 – Viver hoje o Natal com a postura de Jesus.
       Jesus alimenta-se da vontade de Deus. Vive a partir de Deus. Isso não significa que não deva obediência a Maria e a José. O episódio narrado por Lucas é significativo (Lc 2, 41-52). Não se trata apenas da perda de Jesus no templo. Muito mais. Primeiro, mostra como a família se insere na prática da religião. Como Jesus acompanha os pais. Como nos situa no essencial: ocupamo-nos das nossas coisas, Jesus ocupa-se sobretudo com as coisas de Deus. Quando não há lugar para Deus, deixa de haver espaço para os outros.
       Escuta Maria (e José). Regressa com eles. Respeita. É obediente. Alimenta a sabedoria em família.
 
       7 – Viver o Natal a partir do Natal de Jesus.
        É recorrente que as festas do Natal tenham muito de benéfico para as famílias e pontualmente para pessoas mais carenciadas, com campanhas solidárias. Não é menos verdade, que esta e outras festas são oportunidade de negócio. Para muitas pessoas não é mais do que isso. Tudo se resume a comprar e a vender, a gastar e a consumir. Como no Antigo Testamento, também hoje as posses parecem ser sinal de bênção. O consumo pode iludir por certo tempo o questionamento da vida.
       Cada vez mais o Natal dispensa Jesus. Dispensa a LUZ que nos vem do alto. E definitivamente a vida pulsa mais nos afetos e sentimentos que nos bens que possuímos. Com conta, peso e medida, estes ajudam-nos a viver melhor, mas por vezes são apenas fonte de preocupação. No presépio (curral) onde o milagre acontece não há muitas coisas, mas há calor. Aquele nascimento irradia luz. Abre as portas. Aquela criança é uma bênção. Para os pais. Para Israel. Para os pastores. Para os magos. Para os povos da terra.
       E hoje? As vidas que nascem (e as que estão para nascer) são bênção para os pais? Para a sociedade? Como é que acolhemos quem irrompe na nossa vida?
       Viver hoje Natal, com desprendimento, com simplicidade, acentuando os afetos, atendendo a cada olhar, recebendo o outro como presente de Deus, e oferecendo-nos como DOM a favor de todos, concretizando em nossa casa, na nossa rua, no nosso bairro, na nossa comunidade.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O nosso Cartão Natal

O nosso cartão de Natal é virtual, identificando as paróquias nas respetivas páginas do facebook:
 (Paróquia de Tabuaço,: foto de um painel do teto - imagem utilizada na folha dominical e distribuída no dia de Natal - tendo como pano de fundo a vila de Tabuaço).
 (Paróquia de Carrazedo: Imagem do Menino Jesus, que integra o Presépio de Carrazedo, e com uma vela da paz acesa)
 (Paróquia de Távora: imagem do Presépio)
(Paróquia de Pinheiros: imagem parcial do Presépio. A mesma imagem foi distribuída às pessoas durante a Missa de Natal)

Jesus de Nazaré - Infância de Jesus - análise...


A nossa leitura sobre o livro do Papa Bento XVI, AQUI.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Reflexão para o NATAL de Jesus cristo

       Estamos novamente a viver a quadra natalícia. Esta recorda-nos que Deus não desiste do homem. A vinda de Jesus ao mundo é a expressão máxima da afirmação anterior. Deus criou o mundo e o homem, mas este afastou-se de Deus pelo pecado e assim feriu de forma grave a bondade inicial do ato criador de Deus.
       O pecado desfigurou a imagem divina do homem criado à imagem e semelhança de Deus. Mas Deus enviando o seu Filho ao mundo quis, pela sua Encarnação, assumir tudo o que é humano e pela sua paixão morte e ressurreição restaurar o que o pecado tinha destruído.
       É uma grande lição, esta, que nos vem do Natal: Deus não fez um mundo diferente, nem criou um homem novo; Ele veio para este mundo e para este homem para o transformar.
       Esta exemplaridade da Encarnação deve servir-nos como chave de leitura para a nossa vida, e para o nosso tempo: se Deus aposta em nós, como não havemos de apostar uns nos outros? O mundo mudou muito: fatores demográficos, sociais, culturais, migratórios e outros alteraram profundamente – e num espaço de tempo muito curto – a configuração social e eclesial das nossas comunidades. Mas aceitar esta realidade e trabalhar com ela é uma forma de fidelidade ao Evangelho.
       Por conseguinte, evitemos a tentação de fugir da realidade, de nos alienarmos ou de nos demitirmos dos sinais interpelantes do nosso tempo. Sobretudo evitemos a tentação de imaginarmos que tudo seria perfeito se a realidade fosse outra, se as pessoas fossem diferentes e se os recursos fossem inesgotáveis.
       A realidade é o que é, as pessoas são o que são e os recursos nunca serão suficientes se não tivermos prioridades bem definidas. Revisitando o Evangelho constamos que os tempos de Jesus não eram fáceis e eram, tal como hoje, mais difíceis para uns do que para outros. Mas é precisamente àqueles para quem a vida era mais dura que Deus se dirige em prioridade, basta pensar nos pobres pastores de Belém, os mais excluídos dos excluídos sociais da altura; foram esses que primeiro receberam o anúncio do nascimento do Salvador e os primeiros a comtemplar o rosto humano do Filho de Deus.
       Talvez seja mesmo necessário uma certa pobreza, pelo menos interior, para não nos deixarmos distrair por tanto barulho, tanto consumismo, tanta futilidade, tanta autossuficiência e tanto orgulho que nos encadeiam os olhos e nos impedem de ver a luz diáfana do Presépio.
       O Santo Padre Bento XVI no seu livro sobre a infância de Jesus afirma que o jumento e o boi do presépio representam a humanidade. Bela imagem esta, a dos animais que estão comtemplando o Menino sem se aperceberem do mistério de que eram testemunhas. Na mesma linha o nosso Bispo escreve:
Há dois mil anos Deus sonhou
E foi
Natal em Belém.
Sonha também.
Se o jumento corou
E o boi se ajoelhou,
Não deixes tu de orar também. 
          (D. António Couto, Estação de Natal, p. 37)

       Ajoelhemos nós também diante do Deus feito menino para nos ensinar a grandeza das coisas pequenas. Então, também hoje, será Natal!
P. João Carlos

sábado, 22 de dezembro de 2012

Domingo IV do Advento - ano C - 23 de dezembro

       1 – Em vésperas de Natal, celebração festiva do nascimento de Jesus, a Palavra de Deus coloca-nos mais perto do grande milagre da Encarnação: Deus vem em Pessoa para o meio de nós.
       O profeta Miqueias, mesmo não tendo noção do alcance das suas palavras, diz-nos claramente que está para chegar o Messias e que virá como pastor para apascentar todo o Israel:
Eis o que diz o Senhor: «De ti, Belém-Efratá, pequena entre as cidades de Judá, de ti sairá aquele que há de reinar sobre Israel. As suas origens remontam aos tempos de outrora, aos dias mais antigos. Por isso Deus os abandonará até à altura em que der à luz aquela que há de ser mãe. Então voltará para os filhos de Israel o resto dos seus irmãos. Ele se levantará para apascentar o seu rebanho pelo poder do Senhor, pelo nome glorioso do Senhor, seu Deus. Viver-se-á em segurança, porque ele será exaltado até aos confins da terra. Ele será a paz».
       Miqueias nomeia a cidade onde nascerá Aquele que vem para reinar, um lugar discreto, pobre, pequeno; perspetiva a Sua missão, virá para ajuntar os filhos dispersos de Israel; antecipa o ambiente que chegará com o Seu pastoreio, com a Sua realeza: segurança e paz. Entenda-se, desde já, que esta paz radicará na nossa identificação a Jesus Cristo, e não num determinado de pacifismo descomprometedor. Como o próprio Jesus dirá, a paz pode implicar luta, perseguição, contrariedades a favor da verdade, do bem e do serviço ao próximo.
       2 – Da promessa visível em Miqueias avançamos para a oração que se faz súplica no Salmo responsorial: “Deus dos Exércitos, vinde de novo, olhai dos céus e vede, visitai esta vinha; protegei a cepa que a vossa mão direita plantou, o rebento que fortalecestes para Vós. Estendei a mão sobre o homem que escolhestes, sobre o filho do homem que para Vós criastes”.
       Esta prece revela uma grande fé em Deus. Apesar dos tempos adversos, o crente confia na benevolência de Deus. Desde logo a experiência do passado, que garante o amor, a fidelidade e a presença de Deus. Foi Deus que criou, que plantou, que cuidou, que fortaleceu. A história da fragilidade gerou conflitos, afastamento, convulsões sociais, políticas e religiosas, dispersão, descaracterização do povo eleito.
       É possível voltar. O pedido a Deus é, sobretudo, um desafio aos membros do povo eleito. Tornou-se para nós um grito. Deus vem. Deus desce. Deus planta, cuida, fortalece-nos. Como reagimos? Estamos disponíveis para O acolher, para O reconhecer nos irmãos, para O descobrir no nosso mundo? Em que medida estamos dispostos a alterar o nosso coração, a nossa vida, para nos tornarmos vinha cultivável e fértil?
       3 – São Lucas narra a Visitação de Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel. Na anunciação Maria toma conhecimento que Isabel, apesar da idade avançada, foi abençoada por Deus e encontra-se grávida. Que fazer com esta informação? Eis a resposta:
“Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor».
       Registe-se a precisão de Lucas ao relatar a Visitação, deixando-nos alguns dados, mais que curiosos, significativos. Pressa de Nossa Senhora em auxiliar Isabel. Há momentos que as palavras devem imediatamente dar lugar a gestos concretos. Quantas situações em que temos toda a informação, mas não vamos além disso?!
       Encontro, no seio materno, de João Batista e de Jesus. Ambos gerados por ação de Deus, envolvidos no mistério divino, ainda que a missão e as circunstâncias sejam distintas. A alegria, como víamos no domingo passado, é uma característica fundamental no nosso encontro com Jesus Salvador. Como nos sentimos por nos sabermos salvos por Jesus? É diferente a nossa vida por termos Jesus na nossa vida?
       Papel preponderante de Maria na vida de Jesus, e futuramente na comunidade cristã. Ela é a eleita do Senhor, a cheia de Graça, escolhida para ser a Mãe do Filho do Altíssimo. É bem-aventurada porque acreditou em tudo o que o Senhor lhe comunicou. Isabel deixou-se contagiar com a PRESENÇA de Deus em Maria. E nós, cristãos, de que forma nos deixamos contagiar por Jesus, pela Sua palavra, pelos seus sacramentos, pelas pessoas que Ele coloca ao nosso lado?
       4 – Com a chegada de Jesus Cristo, o culto antigo dá lugar a um culto novo, centrado na pessoa, no coração, nos sentimentos e afetos, na postura de cada um na inserção à comunidade crente. Os ritos têm a sua importância, como identificação e referência ao povo, à cultura, à história, em que nos inserimos e a que pertencemos. Muitas vezes, porém, acontece que a pessoa tem de se submeter a costumes e tradições ultrapassadas, sem ligação à vida concreta.
       Ao nível religioso sucede o mesmo, introduzem-se elementos que têm sentido numa determinada comunidade, e numa época específica, e com o tempo perdem o seu propósito mobilizador e por vezes mantêm-se apenas por birrice e por receio de mudança, ou para garantir o estatuto a alguns membros da comunidade.
“Ao entrar no mundo, Cristo disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formaste-Me um corpo. Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado. Então Eu disse: ‘Eis-Me aqui; no livro sagrado está escrito a meu respeito: Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’»... aboliu o primeiro culto para estabelecer o segundo. É em virtude dessa vontade que nós fomos santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita de uma vez para sempre”.
       A Epístola aos Hebreus mostra desta forma a prevalência da pessoa sobre a lei. Cristo vai à frente. Ele vem para fazer a vontade de Deus. Encarna para viver, para humanizar, para nos fazer descobrir a nossa pertença a Deus. Ele oferece-Se por nós e para nossa salvação. Maria, como víamos, intui esta prevalência. Exemplifica como fazer: pressa em servir. 


Textos para a Eucaristia (ano C): Miq 5, 1-4a; Sl 79 (80); Hebr 10, 5-10; Lc 1, 39-45.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Bento XVI - Jesus de Nazaré. A Infância de Jesus

       Aguardado há algum tempo, o terceiro volume da obra de Bento XVI, Jesus de Nazaré, desta feita, a Infância de Jesus. Ainda que seja o terceiro volume, este livro corresponde à primeira etapa de vida de Jesus, partindo sobretudo dos evangelhos de São Lucas e de São Mateus, que relatam momentos da infância de Jesus.
       Diga-se desde logo, que este estudo foi iniciado antes de Bento XVI ter sido eleito Papa. Joseph Ratzinger é, sem dúvida, um dos teólogos mais brilhantes que a Igreja conheceu no século XX e início deste novo século e milénio. Nesta sua obra, em três volumes, mostra a Sua vertente mais teológica, não fugindo dos vários questionamentos histórico, científicos, de crítica textual, de vivência da fé, em comunhão com a Igreja, povo de Deus, e com o Magistério, alimentando-se particularmente da Bíblia, da Fé, dos Padres da Igreja, mas também de estudos recentes, de autores católicos, mas também protestantes, ou procurando estudos noutras religiões.
       É um texto de fácil leitura, acessível, como nos tem habituado nas homilias, intervenções, catequese, e igualmente nos estudos publicados. Fácil, acessível, recorrendo a imagens, ao sensus fidei, à vida, com a preocupação de aprofundar a fé. A dimensão mais histórica da vida de Jesus, as dúvidas, as imprecisões, as interpretações textuais, a evolução das traduções, as novas descobertas arqueológicas, os novos estudos teológicos, não engendram dificuldades na vivência da fé, fundamentam-na, mas não a aprisionam, o mistério ultrapassa as lacunas que possam ser encontradas na história e na documentação existente. A fé é maior, ainda que enraizada na história, no tempo, em contextos culturais sociais e religiosos específicos...
       Logo depois de publicado, gerou alguma celeuma sobretudo à volta do boi e do jumento no presépio. Saliente-se que os evangelhos não falam em animais presentes junto à manjedoura ou que animais. Em todo o caso Bento XVI refere o contrário do que Lhe foi atribuído: atualmente nenhum presépio, segundo ele, dispensa o boi e o jumento (ou a vaca e o burro).
       Mais uma vez fica claro que não basta ouvir o que nos dizem de outros, mas ir à fonte, ver, ler, escutar, perceber.

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré. A Infância de Jesus. Princípia Editora. Cascais 2012.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Mensagem de Natal de D. António, Bispo de Lamego


A NOTÍCIA DO NATAL
Chega uma criança
À madrugada
Desarmada
Traz mãos e pés e uns olhos tão bonitos
Traz um rasto de lume e de esperança
E uma espada
Apontada
À raiz dos nossos conflitos.
        1. É assim que vem Jesus em filigrana pura, em contra-luz coada de alegria, e atravessa ao colo de Maria as páginas arenosas da Escritura. Ei-lo que vem rosado de ternura, acorda, esfrega os olhos azulados de lonjura, salta para o chão, vê-se que procura a minha mão, sabe o meu nome e o de toda a criatura.
        2. Conta-me histórias, a dele e a minha, mas conta também as estrelas uma a uma, apresenta-me Abraão, Moisés, David, demora-se um pouco no caminho com Elias, Isaías, Miqueias, Jeremias, recebe os pastores dos campos de Belém, canta com eles, acena aos anjos nas alturas, fica longamente extasiado a abrir os presentes trazidos pelos magos.
         3. O espaço que habita é um curral que os animais gratuitamente acederam partilhar com ele, com ele brincam, vê-se que sabem de cor a partitura de Génesis um e de Isaías onze.
         4. Maria e José também conhecem e jogam esse jogo, esfuziante corre-corre de alegria, até eu dou por mim a fazer casinhas num prato de aletria, mas na sala ao lado há gente a dormir longe dali, refastelada e dormente, indiferente, trocando a luz do dia pela romaria.
        5. Oh humanidade sem sal, sem sol e sem sonho, só com sono, acorda que já a luz desponta, todo o tempo é pouco porque o tempo é graça, não fiques atolada na desgraça, desconsolada e triste, como quem tem sempre que pagar a conta.
         6. Levanta-te, olha em redor e vê que já nasceu o dia, e há-de andar por aí uma roda de alegria. Se não souberes a letra, a música ou a dança, não te admires, porque tudo é novo. Olha com mais atenção. Se mesmo assim ainda nada vires, então olha com os olhos fechados, olha apenas com o coração, que há-de bater à tua porta uma criança. Deixa-a entrar. Faz-lhe uma carícia. É ela que traz a música e a letra da canção. Ela é a Notícia.
+ António Couto 

Ps – O mais belo Natal de Jesus para todos e um Novo Ano cheio das maravilhas do nosso Deus, são os votos do vosso bispo e irmão, António.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Tu acreditas na vida após o nascimento?

No ventre de uma mulher grávida estavam dois bebés.
O primeiro pergunta ao outro:
       Tu acreditas na vida após o nascimento?
       Certamente que sim. Algo tem de haver depois de nascermos! Talvez estejamos aqui, principalmente, porque precisamos de nos preparar para o que seremos mais tarde.

       Tolice, não há vida após o nascimento. E se houvesse como seria ela? ...
       Eu cá não sei, mas certamente haverá mais luz lá do que aqui... Talvez caminhemos com os nossos próprios pés e comamos com a boca.

       Isso é absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca é totalmente ridículo! O cordão umbilical alimenta-nos. Estou convencido de que a vida após o nascimento não existe, pois o cordão umbilical é muito curto!
       Olha, eu penso de outro modo. Penso que há algo depois do nascimento, talvez um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui...

       Mas nunca ninguém voltou de lá, para nos falar sobre isso!? O parto é o fim da vida. E a vida, afinal, nada mais é do que a angústia prolongada na escuridão.
       Bem, eu não sei exactamente como será depois do nascimento, mas com certeza veremos a mamã e ela cuidará de nós.
       Mamã? Tu acreditas na mamã? E onde está ela?
       Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e através dela é que nós vivemos. Sem ela nada disto existiria!

       Eu não acredito. Nunca vi nenhuma mamã, pelo que não existe mamã nenhuma!
       Eu acredito. E sabes porquê? Porque às vezes, quando estamos em silêncio, ouço-a cantar e sinto como ela afaga o nosso mundo. E também penso que a nossa vida só será "real"depois de termos nascido. Nesse momento tomará nova dimensão. Aqui, onde estamos agora, apenas estamos a preparar-nos para essa outra vida...

Recebida da Plataforma Pró vida

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Festa da Imaculada Conceição - fotos em formato de vídeo

       O DIA MAIOR da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição foi no dia 8 de dezembro - solenidade/festa da Padroeira de Tabuaço (e de Portugal).
       Festa da Padroeira, Festa da Comunidade. Esta é a mais envolvente festa da comunidade paroquial, implicando os vários grupos paroquiais, os Bombeiros, as Guias da Europa, as autoridades autárquicas, a GNR, a comunidade no seu conjunto. A festa foi precedida de uma novena de preparação, este ano a cargo do Pe. Ricardo Barroco, e incluiu também o compromisso dos acólitos, integrando a Bárbara, a Luana, a Ana Almeida, a Ana Balsa e a Sofia.
       Em jeito de vídeo, uma escolha de imagens, com a música da Irmão Maria Amélia, da Congregação das Irmãs Hospitaleiras da Imaculada Conceição.



Para ver o conjunto completo de fotos consulte a página da paróquia Tabuaço no facebook, AQUI (acólitos) e AQUI (festa da Imaculada Conceição)

domingo, 16 de dezembro de 2012

Festa de Natal da CATEQUESE - 2012

       No passado sábado, 15 de dezembro, no Auditório do Centro de Promoção Social de Tabuaço, realizou-se a Festa de Natal da Catequese. Com encontro marcado para as 14h30, a festa iniciou com a celebração da Santa Missa. Seguiu-se a apresentação dos vários anos de catequese, que nos brindaram com poemas, canções, teatro, dança.
       Ficam algumas imagens desta tarde bem animada, agradecendo a todos os que participaram e a todos os que apoiaram a logística.
Para ver todas as imagens que temos disponíveis
visite-nos na página da Paróquia de Tabuaço no facebook

Escola da Fé - CREIO EM JESUS CRISTO - Pe. Giroto

       No dia 14 de dezembro, sexta-feira, no Centro Paroquial de Tabuaço, mais um tempo de formação, encontro, reflexão, testemunho de fé e de vida, desta feita com o Pe. António Jorge Giroto.
       Depois da temática - Creio em Deus Pai -, este encontro versava sobre a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.
          O ponto de partida foi o poema de José Régio que se segue:

Ignoto Deo

Desisti de saber qual é Teu nome,
Se tens ou não tens nome que Te demos,
Ou que rosto é que toma, se algum tome,
Teu Sopro tão além de quanto vemos. 
Desisti de Te amar, por mais que a fome
Do Teu amor nos seja o mais que temos,
E empenhei-me em domar, nem que os não dome,
Meus, por Ti, passionais e vãos extremos. 
Chamar-Te amante ou pai…, grotesco engano
Que por demais tresanda a gosto humano!
Grotesco engano o dar-te forma! E enfim, 
Desisti de Te achar no quer que seja,
De Te dar nome, rosto, culto, ou igreja…
— Tu é que não desistirás de mim!
José Régio, Biografia

       Sempre numa toada de grande familiaridade, o Pe. Giroto, servindo-se de alguns documentos importantes paras os cristãos - a Bíblia, o Catecismo da Igreja Católica, os documentos do Vaticano II e um ou outro estudo - ajudou-nos a aprofundar a fé em Jesus Cristo, numa lógica de compromisso com o tempo presente. Numa belíssima imagem, baseando-se no texto dos Atos dos Apóstolos, em que Pedro e João não dão moedas mas pegam pela mão um paralítico e falam-lhe de Jesus... assim também nós, que estamos coxos, precisamos de nos levantar, saltar, dançar, indo à procura de Jesus onde O poderemos encontrar...
       Dentro deste espaço de formação, houve também tempo para perguntas, em jeito de partilha. E uma das questões presentes - como fazer? Desde que nos levantamos, todas as horas que temos pela frente é para viver ao jeito de Jesus Cristo.