sábado, 22 de dezembro de 2012

Domingo IV do Advento - ano C - 23 de dezembro

       1 – Em vésperas de Natal, celebração festiva do nascimento de Jesus, a Palavra de Deus coloca-nos mais perto do grande milagre da Encarnação: Deus vem em Pessoa para o meio de nós.
       O profeta Miqueias, mesmo não tendo noção do alcance das suas palavras, diz-nos claramente que está para chegar o Messias e que virá como pastor para apascentar todo o Israel:
Eis o que diz o Senhor: «De ti, Belém-Efratá, pequena entre as cidades de Judá, de ti sairá aquele que há de reinar sobre Israel. As suas origens remontam aos tempos de outrora, aos dias mais antigos. Por isso Deus os abandonará até à altura em que der à luz aquela que há de ser mãe. Então voltará para os filhos de Israel o resto dos seus irmãos. Ele se levantará para apascentar o seu rebanho pelo poder do Senhor, pelo nome glorioso do Senhor, seu Deus. Viver-se-á em segurança, porque ele será exaltado até aos confins da terra. Ele será a paz».
       Miqueias nomeia a cidade onde nascerá Aquele que vem para reinar, um lugar discreto, pobre, pequeno; perspetiva a Sua missão, virá para ajuntar os filhos dispersos de Israel; antecipa o ambiente que chegará com o Seu pastoreio, com a Sua realeza: segurança e paz. Entenda-se, desde já, que esta paz radicará na nossa identificação a Jesus Cristo, e não num determinado de pacifismo descomprometedor. Como o próprio Jesus dirá, a paz pode implicar luta, perseguição, contrariedades a favor da verdade, do bem e do serviço ao próximo.
       2 – Da promessa visível em Miqueias avançamos para a oração que se faz súplica no Salmo responsorial: “Deus dos Exércitos, vinde de novo, olhai dos céus e vede, visitai esta vinha; protegei a cepa que a vossa mão direita plantou, o rebento que fortalecestes para Vós. Estendei a mão sobre o homem que escolhestes, sobre o filho do homem que para Vós criastes”.
       Esta prece revela uma grande fé em Deus. Apesar dos tempos adversos, o crente confia na benevolência de Deus. Desde logo a experiência do passado, que garante o amor, a fidelidade e a presença de Deus. Foi Deus que criou, que plantou, que cuidou, que fortaleceu. A história da fragilidade gerou conflitos, afastamento, convulsões sociais, políticas e religiosas, dispersão, descaracterização do povo eleito.
       É possível voltar. O pedido a Deus é, sobretudo, um desafio aos membros do povo eleito. Tornou-se para nós um grito. Deus vem. Deus desce. Deus planta, cuida, fortalece-nos. Como reagimos? Estamos disponíveis para O acolher, para O reconhecer nos irmãos, para O descobrir no nosso mundo? Em que medida estamos dispostos a alterar o nosso coração, a nossa vida, para nos tornarmos vinha cultivável e fértil?
       3 – São Lucas narra a Visitação de Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel. Na anunciação Maria toma conhecimento que Isabel, apesar da idade avançada, foi abençoada por Deus e encontra-se grávida. Que fazer com esta informação? Eis a resposta:
“Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor».
       Registe-se a precisão de Lucas ao relatar a Visitação, deixando-nos alguns dados, mais que curiosos, significativos. Pressa de Nossa Senhora em auxiliar Isabel. Há momentos que as palavras devem imediatamente dar lugar a gestos concretos. Quantas situações em que temos toda a informação, mas não vamos além disso?!
       Encontro, no seio materno, de João Batista e de Jesus. Ambos gerados por ação de Deus, envolvidos no mistério divino, ainda que a missão e as circunstâncias sejam distintas. A alegria, como víamos no domingo passado, é uma característica fundamental no nosso encontro com Jesus Salvador. Como nos sentimos por nos sabermos salvos por Jesus? É diferente a nossa vida por termos Jesus na nossa vida?
       Papel preponderante de Maria na vida de Jesus, e futuramente na comunidade cristã. Ela é a eleita do Senhor, a cheia de Graça, escolhida para ser a Mãe do Filho do Altíssimo. É bem-aventurada porque acreditou em tudo o que o Senhor lhe comunicou. Isabel deixou-se contagiar com a PRESENÇA de Deus em Maria. E nós, cristãos, de que forma nos deixamos contagiar por Jesus, pela Sua palavra, pelos seus sacramentos, pelas pessoas que Ele coloca ao nosso lado?
       4 – Com a chegada de Jesus Cristo, o culto antigo dá lugar a um culto novo, centrado na pessoa, no coração, nos sentimentos e afetos, na postura de cada um na inserção à comunidade crente. Os ritos têm a sua importância, como identificação e referência ao povo, à cultura, à história, em que nos inserimos e a que pertencemos. Muitas vezes, porém, acontece que a pessoa tem de se submeter a costumes e tradições ultrapassadas, sem ligação à vida concreta.
       Ao nível religioso sucede o mesmo, introduzem-se elementos que têm sentido numa determinada comunidade, e numa época específica, e com o tempo perdem o seu propósito mobilizador e por vezes mantêm-se apenas por birrice e por receio de mudança, ou para garantir o estatuto a alguns membros da comunidade.
“Ao entrar no mundo, Cristo disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formaste-Me um corpo. Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado. Então Eu disse: ‘Eis-Me aqui; no livro sagrado está escrito a meu respeito: Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’»... aboliu o primeiro culto para estabelecer o segundo. É em virtude dessa vontade que nós fomos santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita de uma vez para sempre”.
       A Epístola aos Hebreus mostra desta forma a prevalência da pessoa sobre a lei. Cristo vai à frente. Ele vem para fazer a vontade de Deus. Encarna para viver, para humanizar, para nos fazer descobrir a nossa pertença a Deus. Ele oferece-Se por nós e para nossa salvação. Maria, como víamos, intui esta prevalência. Exemplifica como fazer: pressa em servir. 


Textos para a Eucaristia (ano C): Miq 5, 1-4a; Sl 79 (80); Hebr 10, 5-10; Lc 1, 39-45.

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