sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A esperança ativa

       É verdade que todos os paraísos são paraísos perdidos? A julgar pela aparência todas as histórias, até a história bíblica, nos garante que sim. De facto, no livro do Génesis, o primeiro casal humano acaba lançado para fora do paraíso, depois de uma breve e atrapalhada permanência. E as portas do paraíso ficam interditas aos humanos. Contudo, a linguagem simbólica e a natureza teológica daquele relato exigem uma atenção a investimentos de sentido que se podem sintetizar assim: o tempo da salvação não é narrado como nostalgia de uma época de ouro passada, mas, o que se procura afirmar é que, através de vicissitudes e contradições, o tempo não deixa de avançar para uma plenitude. De certa forma, o homem descobre que está fora do paraíso para que possa encaminhar-se para ele. A expulsão bíblica não é, portanto, uma perda, mas o primeiro, e misterioso, passo para o caminho da promessa. O que não se escamoteiam são as tensões e desvios que o homem vai introduzindo. Reconhecer, porém, que mundo e a história não são propriamente lugares paradisíacos não nos deve fazer cair os braços, nem desesperar.
       No território ambíguo que se abre, na irresolução que nos caracteriza a nós próprios, os crentes são chamados a identificar (e a imaginar) novas possibilidades.
       Que ensina a sabedoria bíblica aos nossos tempos conturbados? Ensina, sem dúvida, que a esperança é mais importante de que a saudade; e que a promessa humilde que, quotidianamente, nos coloca a caminho é bem mais preciosa que os paraísos que nos deixam parados a olhar para trás.
       Na magnífica encíclica sobre a Esperança, e que podia bem servir-nos de mapa nas horas de sofrimento e incerteza, escreve o Papa Bento XVI: “A esperança em sentido cristão é sempre esperança também para os outros. E é esperança ativa, que nos faz lutar para que as coisas não caminhem para o «fim perverso». É esperança ativa precisamente também no sentido de mantermos o mundo aberto a Deus. Somente assim, ela permanece também uma esperança verdadeiramente humana”.
 José Tolentino Mendonça
Diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura

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