sábado, 26 de janeiro de 2013

III Domingo do Termpo Comum - ano C - 27 de janeiro

       1 – Regressa São Lucas, que nos acompanhará durante este ano litúrgico e que hoje nos apresenta o seu propósito: investigar, desde o princípio, a vida de Jesus, recolher toda a informação possível depois de outros já o terem feito a partir de testemunhos oculares, para que o amigo ilustre Teófilo fique seguro do que lhe ensinaram acerca de Jesus. A mensagem chega até nós. Segura e de confiança para ele, e para as comunidades que têm oportunidade de ler e/ou escutar, também para nós, fazendo-nos participantes da caminhada de Jesus, desde a Galileia a Jerusalém, da sinagoga à Cruz, inseridos na Igreja.
       O evangelho mostra outro início, depois do Batismo, no Jordão, e das Bodas de Caná, definitivamente, em Nazaré, Jesus entra numa espiral de vida pública, de anúncio da Boa Nova. Vai à Sinagoga, ao sábado, e respeita a tradição religiosa. Dão-lhe, para ler o rolo sagrado, com o texto de Isaías: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos e a proclamar o ano da graça do Senhor».
       Após a proclamação do texto, senta-se, para refletir aquela passagem. Estavam fixos em Jesus os olhos de toda a sinagoga. Começou então a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir».
       2 – No batismo, a vinda do Espírito Santo e a voz que vem do Pai, dando testemunho do Filho. Em Nazaré, Jesus confirma: cumpriu-se o tempo o Espírito do Senhor está sobre Mim. Os céus rasgaram-se e Deus vem até nós, faz ouvir a Sua voz, dá-nos o Seu Filho, que inaugura um tempo novo, de graça e justiça, de paz e de boa nova, anunciada prevalentemente aos pobres e desvalidos, a todos os que se dispõem a escutar e a acolher a novidade que vem da eternidade.
       O texto de Lucas, seguindo o profeta Isaías, acentua a BOA NOVA da salvação e não tanto a dinâmica de juízo, ainda que este se entenda por salvífico. Aquele que julga é o Mesmo que AMA e salva. A linguagem cristã – fazendo como Lucas, voltando ao início, ao contexto em que vive Jesus e os seus discípulos –, há de ser sobretudo positiva, num olhar carregado de esperança, de alegria, sabendo da proximidade da salvação, da presença de Deus no meio de nós.
       Nietzsche, a famoso filósofo ateu (pelo menos ateu dos deuses desenhados pelos seus contemporâneos), reclamava dos cristãos o testemunho da alegria, da confiança, que fossem e parecessem rostos de gente salva. Há situações na vida que não permitem exuberância. Porém, a certeza de nos sentirmos salvos em Jesus Cristo, permite-nos viver confiantes. Nem as alegrias nos colocam na lua, nem as tristezas nos levam ao inferno. Deus conduz a história e a garante a nossa vida para lá das oscilações do tempo presente. No entanto, esta garantia de Deus passa pelo nosso empenho em tornarmos visível no mundo inteiro o ROSTO e a PRESENÇA de Deus.

       3 – Não estamos sós, nesta peregrinação pela vida e pelo tempo. Deus, com Jesus, não apenas se coloca do nosso lado, mas faz-Se um de nós, entranhando-se na vida humana e ensinando-nos a viver humanamente.
       Não estamos sós, há uma multidão de santos que nos precede, que exemplifica a vivência da fé, e que junto de Deus ilumina a nossa caminhada. No dia 24 de abril de 2005, no início do Seu pontificado, na Praça de São Pedro, no Vaticano, o Papa Bento XVI sublinhava precisamente a companhia dos SANTOS, cuja ladainha tinha sido cantada por três vezes, no funeral de João Paulo II, na entrada dos Cardeais no Conclave para escolher um novo Papa, e nesta Missa inaugural, sublinhando que a fragilidade pessoal seria compensada pela santidade dos homens e mulheres que traduziram Cristo para os seus contemporâneos e pela oração de todos os crentes.
       Questionava Bento XVI: “E agora, neste momento, eu, frágil servo de Deus, devo assumir esta tarefa inaudita, que realmente supera qualquer capacidade humana. Como posso fazer isto?” E continuava: “não estou sozinho. Não devo carregar sozinho o que na realidade nunca poderia carregar sozinho. Os numerosos santos de Deus protegem-me, amparam-me e guiam-me. E a vossa oração, queridos amigos, a vossa indulgência, o vosso amor, a vossa fé e a vossa esperança acompanham-me”.
       Quando Jesus Se levanta para ler e para refletir a palavra de Deus, repete a Sua pertença ao POVO da Aliança. Quando, em cada Domingo, nos levantamos para escutar o Evangelho e nos sentamos para meditar, atualizamos o mistério que nos liga à humanidade, reunida para acolher Deus e a Sua mensagem de amor.
       4 – A primeira leitura acentua a importância de escutar a Palavra de Deus, com reverência, deixando que nos emocione, nos envolva, nos mova para a vida. A Palavra de Deus não é dita no passado, mas é DITA hoje, para nós. São muitas as que se deixam tocar pela palavra de Deus.
       Nesta leitura revemos o que fazemos em cada Eucaristia, em cada encontro cristão. Lemos, escutamos, meditamos, vamos (enviados) para casa, em atitude de alegria, de esperança e de testemunho. Não podemos silenciar o Espírito que ressoa em nós.
“O escriba Esdras estava de pé num estrado de madeira feito de propósito. Estando assim em plano superior a todo o povo, Esdras abriu o Livro à vista de todos; e quando o abriu, todos se levantaram. Então Esdras bendisse o Senhor, o grande Deus, e todo o povo respondeu, erguendo as mãos: «Amen! Amen!». E prostrando-se de rosto por terra, adoraram o Senhor. O governador Neemias, o sacerdote e escriba Esdras, bem como os levitas, disseram a todo o povo: «Hoje é um dia consagrado ao Senhor vosso Deus. Não vos entristeçais nem choreis». – Porque todo o povo chorava, ao escutar as palavras da Lei –. Depois Neemias acrescentou: «Ide para vossas casas, comei uma boa refeição, tomai bebidas doces e reparti com aqueles que não têm nada preparado. Hoje é um dia consagrado a nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza».
       Sublinhe-se também a importância do DIA SAGRADO, consagrado ao Senhor. É DIA de descanso, de oração, de contemplação, de escuta e meditação da palavra, de envolvimento com a comunidade crente. É em POVO que escutamos, cantamos, choramos, e nos alegramos. Partilhamos a Palavra e o Pão. Atente-se de novo ao texto: ide para vossas casas, comei, bebei, reparti...

       5 – No texto de Neemias constatamos que, na comunidade, todos têm missões diferentes, o sacerdote Esdras, o Povo, os levitas. Diversos os serviços, os dons, mas a favor de todos.
       Jesus assume a Sua missão como serviço a todas as gentes. Faz o que Lhe compete, contando com o contributo de cada pessoa que encontra. Até para fazer milagres, conta com a fé, com a atitude de abertura de quem a Ele recorre.
       Note-se, por exemplo, um aspeto que diferencia João Batista e Jesus Cristo. João Batista vai para o deserto, para as margens de Israel. Jesus está dentro, no meio do povo, na sinagoga, nesta e naquela povoação. Os significados teológicos são significativos. João “obriga” o Povo a reentrar na Terra Prometida. Conversão, penitência, mudança de vida, para “merecer” a Terra prometida. Jesus é a própria Terra Prometida que Deus nos dá por herança, gratuitamente. Está no centro, entre nós, atraindo as margens para Si, para que todos O possam encontrar. Ele vê-Se bem.
       Na segunda leitura, o apóstolo Paulo relembra o nosso compromisso em Cristo Jesus. Fomos batizados no mesmo Espírito, na mesma fé. Jesus cumpre como CABEÇA e nós como membros. Sem dispensas.
“Assim como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim sucede também em Cristo. Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos batizados num só Espírito para constituirmos um só corpo e a todos nos foi dado a beber um só Espírito”.


Textos para a Eucaristia (ano C): Ne 8, 2-4a.5-6.8-10; 1 Cor 12, 12-30; Lc 1, 1-4; 4, 14-21.
Reflexão Dominical na Página da P

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