segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O futuro do Papado

       O Papa, que se apresentou ao mundo como "humilde trabalhador na vinha do Senhor", reconheceu que já não reúne as condições exigidas para liderar a Igreja e decidiu retirar-se para a discrição de um mosteiro de clausura.
       Este gesto surpreendente de Ratzinger parece, à primeira vista, contrastar com o testemunho do Beato João Paulo II, que assumiu a sua missão até ao fim. Os que discordam da sua renúncia acham que ele deveria ter feito o mesmo. Na minha opinião, ele dá continuidade ao trajeto do seu antecessor e, nessa medida, permite um novo entendimento da figura do Papa e do seu papel.
       João Paulo II optou por expor ao mundo a doença e a velhice. Convenceu-se de que assim prestava um serviço à mentalidade, sobretudo ocidental, que procura esconder a decrepitude humana. Bento XVI não escamoteou o cansaço e a falta de vigor, abdicando de continuar ao leme da Barca de Pedro.
       Com o contributo destes dois homens, a imagem do Papa humanizou-se. Como o mais comum dos mortais, também eles adoecem, envelhecem. E, a partir de Bento XVI, é-lhes mais facilmente reconhecido o direito de se retirarem quando acharem que já não estão à altura da missão que lhes foi confiada.
       Agora resta-nos aguardar que os cardeais escolham o homem certo para dar continuidade aos caminhos desbravados pelos últimos Pontífices. Alguns pensam que é chegada a hora de eleger um cardeal africano. Outros perfilham a escolha de alguém vindo dos países onde a Igreja cresce e se desenvolve, como os países latino-americanos ou as terras orientais.
       Tendo em conta: a crise de fé que se atravessa nos países ocidentais; a necessidade de reforçar o diálogo com a sociedade contemporânea, que desde João XXIII se vem intensificando; a urgência da reevangelização do velho mundo, proposta por João Paulo II e assumida por Bento XVI – a Igreja Católica para o século XXI precisa de um Bispo de Roma oriundo do continente europeu ou norte-americano. Alguém que, sem deixar de apoiar e contribuir para o fortalecimento do catolicismo no hemisfério sul e a oriente, promova a sua renovação no ambiente ocidental.
       Dentro em breve, quase de certeza antes da Páscoa, poderemos comprovar se foi essa a opção que o Conclave tomou.

Pe. Fernando Calado Rodrigues, in Correio da Manhã

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