segunda-feira, 22 de abril de 2013

A imperfeição humaniza-nos

       "Levamos tanto tempo até perder mania das coisas perfeitas, das pessoas perfeitas, e curarmo-nos do impulso que nos exila no aparente conforto das idealizações, ou finalmente vencermos o vício de sobrepor à realidade um cortejo de confortáveis (mas falsas) imagens! «É preciso ir além da perfeição»...
       "Abraçar a imperfeição é aceitar a amizade como uma história em aberto, que conta ativamente connosco. Na imperfeição é sempre possível começar e recomeçar. A imperfeição permite-nos compreender a singularidade, a diversidade, o real impacto da passagem do tempo em cada um... a imperfeição humaniza-nos. Acolhê-la é uma condição necessária na amizade, e na maturação pessoal que nos cabe fazer..."

       "Todos somos feridos, opacos, inacabados. Cada um de nós traz dentro de si uma quantidade irrazoável de sonhos sufocados, de pontas desacertadas, de palavras que nunca chegaram a ser ditas, de uma violência interior, mais difusa ou concentrada. Mesmo a nossa felicidade vem misturada com a memória de infelicidades que ainda nos ardem, mesmo que as calemos. Somos verdadeiros, porém, quando tomamos consciência disso e quando o partilhamos na confiança de uma amizade. Os mecanismos de autodefesa e de culpabilização só nos isolam mais. E a santidade, há de explicar Jesus a Pedro, não é a impecabilidade, mas este movimento profundo em nós de nos voltarmos para um outro, para o Todo-Outro, e deixarmo-nos atravessar por uma experiência de reconhecimento e misericórdia como na penumbra da catedral o vitral se deixa atravessar pelo luz. O nosso pedido deve, por isso. ser: «Aproxima-te de mim, porque sou um homem pecador» atrevendo-nos a essa forma necessária e rara de audácia que é a humildade"

in TOLENTINO MENDONÇA. Nenhum Caminho será Longo.

Sem comentários:

Enviar um comentário