sábado, 13 de abril de 2013

Domingo III da Páscoa - ano C - 14 de abril de 2013

       1 – Com a Páscoa de Jesus, a vida nova para os discípulos. É tempo de arregaçar as mangas e colocar as mãos à obra. É tempo para lançar as redes ao mar e pescar. E são tantos os mares e tantas as pessoas e tanto o peixe para as redes de Jesus. E por mais que sejam os peixes, as redes não se rompem, pois os seus fios entrelaçam o amor, a paixão e a entrega de Jesus Cristo.
       Belo o texto que São João nos apresenta como Boa Notícia de salvação. O túmulo vazio já ficou para trás. Lá não há vida. O passado pode ser raiz, ponto de partida, mas não cais ou ponto de chegada. O sepulcro recolheu o Corpo de Jesus. Está vazio naquela manhã de Páscoa. As mulheres e depois os discípulos foram bem cedinho. Não queriam acreditar. Será que alguém roubou o corpo de Jesus? Têm que O procurar em outro lugar? Onde? Com o avançar da manhã Jesus está mais longe, mais próximo, mais espiritual, mais disponível, mais acessível. A vastidão de Deus irrompe com a ressurreição do Mestre. O Céu não tem uma abertura, é o próprio Céu que se espalha por toda a parte. O nosso Céu é Jesus Crucificado e Ressuscitado.
       De novo Jesus Se planta no caminho dos Apóstolos. O cenário agora é diferente. Jesus encontra-os em casa, a caminhar, junto ao túmulo. Desta feita encontra-os no próprio local de trabalho. Ele está por toda a parte. Ele vai a todo o lado. Está onde está o ser humano. Que belíssima NOTÍCIA: onde eu estou, Deus está também, em Jesus Cristo pelo Espírito Santo.
       2 – Os discípulos saíram de casa. O medo que antes os fez prisioneiros entre quatro paredes, com as portas e janelas fechadas, dá vez à LUZ que Jesus traz. A luz entra por todos os lados. É sobretudo LUZ interior, no coração de cada um. Sentem-se motivados. Novos. Renascidos com o Mestre. Voltam a fazer o que faziam. Estão no campo, e à beira mar.
       Como quando acabamos de despertar, em que por vezes nos sentimos desorientados, a estremunhar, querendo apressar-nos mas com a paralisia da noite e das trevas, também os discípulos ainda estão ensonados, sem saber bem o que hão de fazer. Têm nas mãos a batata quente, mas que fazer com ela? Pedro, habituado ao trabalho, e mais vocacionado para isso do que para intelectualidades, ou profundas reflexões, decide sair de casa para trabalhar: «Vou pescar». Os outros acompanham-no, afinal não têm muito que fazer nem muito em que pensar, ainda estão atordoados.
       “Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele”. Eram horas de terminar a pescaria e regressar à praia para arrumar as redes e limpar o barco. Então eis o inesperado, Jesus pergunta-lhes: «Rapazes, tendes alguma coisa de comer?». Mas como não tinham pescado nada respondem negativamente, desconsolados. Eis mais uma interpelação inusitada daquele Homem: «Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis». Com a manhã a surgir, as condições para a pesca são mínimas, se antes não conseguiram nada, quanto mais agora! Mas também não têm nada a perder.
       Mais uma agradável surpresa: “Lançaram a rede e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes”. Depois de tanto esforço, depois de terem desistido, uma nova tentativa e a abundância. As condições da pesca afinal não são menores na manhã quando o Senhor está com eles, quando Jesus está connosco. Todo o esforço feito sem Deus, sem Jesus, dá em nada. Tudo o que se faça com Jesus multiplica-se em abundância sem fim. A Páscoa está aí em pescas generosas, se não faltar o Espírito do Senhor.
       3 – O texto de João brinda-nos com outros pormenores significativos. Os olhos dos discípulos abrem-se e veem o Mestre. O primeiro a reconhecê-lo é o discípulo predileto, que diz a Pedro: «É o Senhor». Não se conhece o nome daquele discípulo. Pode ser cada um de nós. Pode ser a comunidade que se coloca em situação de escuta em relação a Jesus e em relação às pessoas. Somos prediletos quando O reconhecemos.
       Pedro deixa-se guiar pelo discípulo predileto. Ele tinha vacilado antes. É necessário estar atento aos companheiros, entrar na lógica da comunidade crente, como Tomé que se afastara, reconhecendo Jesus apenas quando reentra na comunidade. O discípulo predileto é expressão da constância, da fé, mesmo nos momentos de dor, de morte, de desencanto. Ele esteve sempre, reclinado sobre o peito de Jesus, junto à Cruz, aos pés de Jesus, a correr para o túmulo, ao encontro do Mestre, inserido na comunidade aquando das aparições do Mestre. Ele guia Pedro e guia-nos também a nós, para sermos também discípulos diletos e prediletos.
       E assim também os demais discípulos que recolhem os muitos peixes e correm ao encontro de Jesus. “Quando saltaram em terra, viram brasas acesas com peixe em cima, e pão. Disse-lhes Jesus: «Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora». Simão Pedro subiu ao barco e puxou a rede para terra cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede. Disse-lhes Jesus: «Vinde comer». Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar: «Quem és Tu?», porque bem sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com os peixes”.
       O ambiente era o da pesca, agora é o da partilha. Uma MESA improvisada. Não importa esperar pelas condições mais favoráveis, ou pelas condições ideais, é sempre hora para repartir, é sempre tempo para dar. O mundo inteiro é CASA do cristão. Tendo Jesus por perto, não faltará o alimento. Podem ser poucos os recursos, mas quando a vontade é grande, é possível fazer muito. Com Jesus é possível tudo. Ele fará em nós maravilhas, não de forma automática ou milagrosa, mas connosco e através de nós.
       Ele prepara o banquete, mas conta com o nosso esforço e com o nosso amor, com os poucos peixes que possamos dar, mas sem os quais não haverá refeição com Jesus. A pesca é d'Ele, mas Ele quer que seja nossa também. Espera por nós. Está lá, e em toda a parte, aguarda que cheguemos com os nossos peixes, para que a refeição aconteça. E a salvação.
       4 – Desponta a Primavera. Irrompe a luz e a Vida nova. As árvores ressequidas despertam, trazem o verde e logo o colorido. Com a Páscoa, e com as Aparições do Ressuscitado, os discípulos assumem a missão de levar Jesus a toda a parte, nas diversas e adversas situações. Movidos pelo Espírito Santo, enfrentarão muitas contrariedades, Jesus é a Boa Notícia, a melhor NOTÍCIA que chega até nós. Façamo-la chegar a outros. Demos testemunho, sem cessar, sem medo nem vergonha mas com entusiasmo, como Pedro e os Apóstolos naqueles dias, quando ameaçados, proibidos de pregar ou até presos: «Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens. O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós destes a morte, suspendendo-O no madeiro. Deus exaltou-O pelo seu poder, como Chefe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e o perdão dos pecados. E nós somos testemunhas destes factos, nós e o Espírito Santo que Deus tem concedido àqueles que Lhe obedecem».
       Hoje, neste ano de 2013, somos nós as testemunhas destas coisas, nós e o Espírito Santo.



Textos para a Eucaristia (ano C): Atos 5, 27b-32.40b-41; Ap 5, 11-14; Jo 21, 1-19.

Sem comentários:

Enviar um comentário