sábado, 11 de maio de 2013

Domingo VII da Páscoa - Ascensão do Senhor - 12 de maio

       1 – Quarenta dias depois da Páscoa, seguindo são Lucas, Jesus ascende para a glória do Pai, sem, contudo, nos deixar verdadeiramente. Nós fazemos esta experiência de partida, distância, ausência física, presença espiritual, com familiares e com amigos, que por diversas razões têm de se afastar por um tempo, mormente por questões de trabalho ou de estudo.
       Sublinhe-se, desde logo, que a partida de alguém, também a de Jesus, para os amigos e familiares, reveste-se de tristeza e apreensão. Se for por um tempo limitado, procura-se mitigar a dor, telefonando, conectando-se pela Internet, através das redes sociais, nestes meios modernos que também servem para aproximar pessoas. Se a separação é para sempre, a dor é bem maior. Não voltaremos a ver aquela pessoa nesta vida terrena e finita. Então apelamos à memória afetiva.
       Um pouco antes de ascender para Deus Pai, Jesus prepara os Seus discípulos com palavras de confiança e de precaução. Ele vence o mundo, o que não anula as intempéries, as adversidades no caminho humano e finito, logo limitado e sujeito a retrocessos. Sabermos que Ele, de algum modo, fica no meio de nós, compromete-nos e conforta-nos para as horas de treva. Fica a promessa: o envio do Espírito. Jesus permanecerá com os Seus, permanecerá vivo, através do Espírito Santo que recordará toda a verdade anunciada e, mistericamente, permitirá a PRESENÇA REAL de Jesus nos Sacramentos.
       2 – Vejamos com mais cuidado os dois textos de São Lucas, o Evangelho e os Atos dos Apóstolos. A informação de um completa e aprofunda a reflexão do outro. Primeiro o Evangelho:
“Disse Jesus aos seus discípulos: «Está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois testemunhas disso. Eu vos enviarei Aquele que foi prometido por meu Pai. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos com a força do alto». Depois Jesus levou os discípulos até junto de Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-Se deles e foi elevado ao Céu. Eles prostraram-se diante de Jesus, e depois voltaram para Jerusalém com grande alegria. E estavam continuamente no templo, bendizendo a Deus”.
       O evangelista faz um resumo da missão de Jesus, cumprida e plenizada com a Sua morte e Ressurreição. O Messias, anunciado pelos profetas, é Jesus, filho de Deus. Morreu, ressuscitou e agora é tempo dos discípulos partirem a anunciar a todas as nações o arrependimento e o perdão dos pecados, pois são testemunhas privilegiadas. Não ficarão abandonados à sua sorte. Jesus vai para o Pai mas enviará o Espírito Santo, para serem revestidos da força do alto.
       Registe-se o pormenor da descrição com que termina o relato: Jesus abençoa os discípulos enquanto se afasta e é elevado para o Céu. A mais bela oração da comunidade é a bênção, o BEM que vem de Deus e que espalhamos uns pelos outros. A partida de Jesus é revestida de bênção. Também é bênção o ascender para o Pai, pois envia o Espírito, e doravante a Boa Notícia chegará a todas as nações. A bênção, recordemo-lo uma vez mais, não é egoística, mas instrumental, acolhemo-la para a dar a outros, para a comunicar aos irmãos. Provoca em nós alegria e confiança, para bendizermos a Deus na oração, na pregação, no testemunho de vida e na prática do bem.
       3 – Os apóstolos voltam renovados para Jerusalém e aí permanecem. A lógica do evangelho é mais abrangente, a pregação e o testemunho começa em Jerusalém mas para se estender a outras nações. Alguma coisa terá acontecido. Se olharmos para outras passagens do Novo Testamento, nomeadamente para as Cartas de São Paulo, verificamos que a leitura imediata e cronológica das palavras de Jesus – Eu virei de novo – provoca uma espera descomprometida, em que discípulos e comunidade (de Jerusalém e também as comunidades fundadas ou organizadas por São Paulo) ficam extasiados à espera que Jesus regresse e os leve para o Céu, destruindo o mundo presente para o substituir por um mundo novo.
       Dito isto se perceberá melhor como São Lucas aprofunda e expande a informação no segundo dos seus livros, nos Atos dos Apóstolos:
“Aqueles que se tinham reunido começaram a perguntar: «Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?». Ele respondeu-lhes: «Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a sua autoridade; mas recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra». Dito isto, elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos. E estando de olhar fito no Céu, enquanto Jesus Se afastava, apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco, que disseram: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu».
       Como tivessem ficado pasmados a olhar para o Céu, para as nuvens, aguardando que de novo Jesus descesse e consumasse o mundo e o tempo, do Céu, como no Batismo, como na Transfiguração, faz-se ouvir uma voz clara, límpida, por meio de dois homens vestidos de branco. Não lhes compete, nem a nós, saber o tempo, cabe-lhes acolher o Espírito Santo, para serem, e nós também, testemunhas d'Ele até aos confins da terra. Ele, esse Jesus, virá do mesmo modo, mas sem data prevista. Toca a andar, encontrareis Jesus em toda a parte onde O levardes.
       4 – Com a Ressurreição/Ascensão de Jesus ao Céu, para o Pai, é-nos dado o Espírito Santo para vivermos e testemunharmos Jesus Cristo. É a promessa de Jesus e que se concretiza com o Pentecostes, a celebrar no próximo domingo.
       No início da semana, dizia o Papa Francisco que “a vida cristã não pode ser entendida sem a presença do Espírito Santo. Não seria cristã. Seria uma vida religiosa, pagã, piedosa, que acredita em Deus, mas sem a vitalidade que Jesus quer para os seus discípulos… O Espírito Santo é o próprio Deus, a Pessoa Deus, que dá testemunho de Jesus Cristo em nós”. Dois dias depois, na Audiência Geral das quartas-feiras, reafirmava que “o Espírito Santo traz aos nossos corações a própria vida de Deus, uma vida de verdadeiros filhos, num relacionamento feito de confidência, liberdade e confiança no amor misericordioso do Pai, que nos dá também um olhar novo sobre os outros, fazendo-nos ver neles irmãos e irmãs que devemos respeitar e amar…”
       É no Espírito Santo que os Apóstolos rapidamente difundem a alegria de serem discípulos de Jesus, ainda que enfrentando momentos de dúvida e hesitação. É admirável que com tão poucos meios, tão poucos tenham feito tanto pela palavra de Deus.
       Na segunda leitura, o apóstolo São Paulo renova a confiança em Deus e desafia a deixar-nos tocar pela sabedoria que vem de Deus, pelo Espírito Santo:
"O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de revelação para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza do seu poder para nós os crentes..."
       5 – Hoje é também o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Bento XVI, na Mensagem para este dia, divulgada no passado dia 24 de janeiro, festa de São Francisco de Sales, desafia os cristãos ao uso das redes sociais, como forma de comunicar e viver o evangelho. Não é um mundo paralelo, é um ambiente diferente, onde a pessoa comunica e se comunica, busca respostas, as mais variadas. O Evangelho não pode ficar fora desta realidade humana.
       São Paulo utilizou tudo o que tinha ao seu dispor, foi a todos os ambientes. Célebre o discurso do Apóstolo no areópago de Atenas (Atos 17, 22-34). Os meios de Comunicação são um novo areópago que não pode ser descurado pela Igreja e pelos cristãos comprometidos. O que se pede ao ambiente digital? O mesmo que ao mundo físico: coerência de vida, autenticidade, fidelidade a Jesus Cristo.

Textos para a Eucaristia (ano C): Atos 1, 1-11; Ef 1, 17-23; Lc 24, 46-53.

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