quarta-feira, 31 de julho de 2013

Papa Francisco - Cuidem do vosso olhar

       Por isso vos peço, a vós, catequistas: cuidem do vosso olhar! Não vacilem nesse olhar dignificador. Não fechem nunca os olhos perante o rosto de uma criança que não conhece Jesus. Não desviem o olhar, não se finjam distraídos. Deus coloca-vos, envia-vos para que amem, olhem, acarinhem, ensinem… E os rostos que Deus vos confia não se encontram somente nos salões da paróquia, no templo… Vão mais além: estejam abertos aos novos cruzamentos de caminhos em que a fidelidade adquire o nome de criatividade. Recordais seguramente que o Diretório Geral para a Catequese, na Introdução, nos propõe a parábola do Semeador. Tendo presente este horizonte bíblico, não percam a identidade do vosso olhar de catequistas. Porque há maneiras e maneiras de olhar… Há quem olhe com olhos de estatística … e muitas vezes só veja números, só saiba contar… Há quem olhe com olhos de resultados… e muitas vezes só veja fracassos… Há quem olhe com olhos de impaciência … e só veja esperas inúteis…

in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir. Nascente. Amadora 2013

terça-feira, 30 de julho de 2013

Papa Francisco - não tenhais medo da vossa fragilidade

       E, nesta bonita vocação artesanal de ser «crisma e carícia do que sofre», não tenhais medo de cuidar da fragilidade do irmão com a vossa própria fragilidade: a vossa dor, o vosso cansaço, as vossas perdas; Deus transforma-os em riqueza, unguento, sacramento. Recordai o que meditámos juntos no dia do Corpo de Cristo: há uma fragilidade, a Eucaristia, que esconde o segredo do partilhar. Há uma fragmentação que permite, no gesto terno do dar, alimentar, unificar, dar sentido à vida.

in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir. Nascente. Amadora 2013

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Papa Francisco - Temos de o dizer à «dona Rosa»...

       O tempo urge. Não temos o direito de ficar simplesmente a acariciar a alma. De ficarmos fechados no nosso mundinho… pequenino. Não temos o direito de nos sentirmos tranquilos e de gostarmos de nós próprios. Como me amo! Não, não temos esse direito! Temos de sair pelo mundo e contar que, há 2000 anos, um homem quis reconstruir o paraíso terrestre e veio para isso mesmo. Para voltar a equilibrar as coisas. Temos de o dizer à «dona Rosa», que encontramos na varanda. Temos de o dizer aos miúdos, àqueles que já perderam a esperança e àqueles para quem tudo é «pálido», tudo é música de tango, tudo é um cambalacho. Temos de o dizer à senhora gorda com a mania de que é fina e que acredita que esticando a pele vai obter a vida eterna. Temos de o anunciar aos jovens que, tal como a senhora da varanda, mostram que querem viver nos mesmos O Verdadeiro Poder É Servir moldes. Não vou aqui dizer a letra do tango, mas, se o fizesse, seria algo como: «faças o que fizeres, é tudo igual.»

Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir. Nascente. Amadora 2013

sábado, 27 de julho de 2013

XVII Domingo do Tempo Comum - ano C - 28 de julho

       1 – «Pedi e dar-se-vos-á; procurai e encontrareis; batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque quem pede recebe; quem procura encontra e a quem bate à porta, abrir-se-á. Se um de vós for pai e um filho lhe pedir peixe, em vez de peixe dar-lhe-á uma serpente? E se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á um escorpião? Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que Lho pedem!»
       Persisti na oração, diz-nos Jesus. Como Maria, irmã de Marta, coloquemo-nos aos pés Jesus, escutando a Sua Palavra, predispondo-nos a escutá-l’O e a falar com Ele, tão próximos que falem os corações.
       Um dos discípulos pede a Jesus para que Ele lhes ensine a rezar. E Jesus ensina: «Quando orardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso reino; dai-nos em cada dia o pão da nossa subsistência; perdoai-nos os nossos pecados, porque também nós perdoamos a todo aquele que nos ofende; e não nos deixeis cair em tentação’».
       A oração do Pai-nosso, mostra a clareza da mensagem de Jesus. Não é preciso dizer muitas palavras, é necessário rezar com o coração e com a vida, e que as palavras traduzam a ligação alegre e confiante a Deus, reconhecendo-O como Pai, para nos reconhecermos como irmãos, acolhendo o Reino de Deus em nós para comunicarmos aos outros o evangelho da vida e da caridade.
       2 – Logo Jesus sublinha a necessidade de rezar, de pedir, de insistir com Deus como se insiste com um amigo. Jesus dá o exemplo daquele homem que tendo visitas e, sendo já tarde, vai ter com o seu amigo para lhe solicitar três pães. Insiste uma e outra vez, até incomodar, até ser atendido. Deus não deixará de atender a vossa prece. É Jesus Quem no-lo diz. Rezai assim. Insisti. Batei à porta!
       Na primeira leitura encontramos um belíssimo testemunho desta forma de rezar. Depois da visita de Deus a Abraão, através de três viajantes, que seguiram o seu caminho, Deus permanece e revela-lhe o propósito de destruir a grande cidade de Sodoma e Gomorra, pela maldade das suas gentes. Abraão regateia com o Senhor: «Irás destruir o justo com o pecador? Talvez haja cinquenta justos na cidade. Matá-los-ás a todos? Não perdoarás a essa cidade, por causa dos cinquenta justos que nela residem? Longe de Ti fazer tal coisa: dar a morte ao justo e ao pecador, de modo que o justo e o pecador tenham a mesma sorte! Longe de Ti! O juiz de toda a terra não fará justiça?». 
       Abraão transparece valentia na oração, intercedendo pelas pessoas daquela cidade, negociando com Deus até ao limite. Se lá houver 50, 45, 40, 30, 20, 10 justos, pergunta Abraão a Deus, irás destruí-los pelos pecados dos outros? Deus responde: «Em atenção a esses dez, não destruirei a cidade».
       Referindo-se a esta passagem, na Missa matutina, no início do mês, na de Casa de Santa Marta, o Papa Francisco falava da oração corajosa de Abraão, e como este negoceia a salvação da cidade. Vai fazendo com que o preço baixe de 50 para 10. Regateia enquanto é possível. Abraão assume as dores dos outros como suas; defende a cidade como se fizesse parte dela.
       O cristão há de ser corajoso ao rezar ao Senhor. Podem ser poucas palavras, mas confiantes no beneplácito de Deus. E rezando uns pelos outros, a exemplo do nosso Pai na Fé, Abraão.

       3 – Um exemplo muito plástico, muito visual: o COLO da Mãe. É a oração mais sublime. Desde que nasce a criança tem no colo materno o seu refúgio, a sua segurança, que se estende até à idade adulta. Na minha geração e nas anteriores mais ainda, a afetividade entre os filhos e os pais era mais comedida, mais sóbria. O mesmo amor, com menos palavras afetuosas e com menos gestos de carinho.
       Hoje a relação do filho com a mãe (com os pais) é de cumplicidade. O colo da mãe é ocupado muitas vezes por motivos diversos, em diferentes idades, independentemente de quem está à volta. Pensemos, ao jeito do sorridente Papa João Paulo II, que Deus é Pai e Mãe ou como muitas vezes releva da Sagrada Escritura, é Pai que ama como Mãe, a partir das Suas entranhas. É uma ligação umbilical, genética, mas também muito espiritual: a mãe pressente as dores do filho. Assim Deus para connosco.
       Recostamo-nos ao colo da Mãe, ao ventre que nos gerou, ao peito que nos amamentou, ao corpo que nos deu vida, nos dá vida. Aconchegamo-nos, em concha, em posição fetal, como se ainda nos sentíssemos dentro do seu corpo, com a mesma segurança, com a certeza que nada nos pode fazer mal se estamos juntos, colados nela, coração com coração, pele com pele, vida com vida.
       Recostamos a cabeça e o corpo todo, a vida por inteiro, no colo da Mãe, para sentirmos o aroma da sua presença, o seu conforto, a sua voz no nosso coração, o seu olhar na nossa alma, o seu amor na nossa vida. No colo da mãe, para pedir, para chorar, para nos sentirmos especiais, para nos sentirmos filhos. No regaço da mãe para sabermos que o mundo continua ali, e não nos foge por debaixo dos pés, sentindo o seu abraço e os seus beijos demorados, a sua atenção. Somos parte dela, somos a sua vida, preenchemos o seu coração e por isso quando nos afastamos, ou adoecemos, ou nos transviamos, o seu coração fica apertadinho, a quebrar e tudo o mais perde sentido e importância. A mãe esquece o frio e o calor, esquece as suas necessidades, por nós, por cada filho. Assim Deus.
       4 – Escutando o desafio de Jesus, rezemos com coragem e insistência.
       Pensemos em Deus como Mãe.
       Com a nossa mãe, no seu colo reconfortante, pedimos, e choramos, e rimos, sem máscaras, sem pudores. Sabemos que ela nos escuta e perscruta, o seu coração sintoniza o nosso, em alta fidelidade. Quando pode atende-nos, quando não pode compreende-nos, apoia-nos, solidariza-se, chora e ri connosco. Ao seu colo vamos para dizer muitas coisas, para lhe contar a nossa vida, os nossos medos, os nossos desejos, as nossas angústias e preocupações, as nossas alegrias e conquistas. E quando não temos palavras, ficamos em silêncio. Mãe que é mãe não enjeita o seu colo, mesmo magoada, ou cansada, ou desiludida. O seu colo é nosso e para nós.
       Deus de tanto nos amar, descobre o colo de Maria, e nesse colo nos dá Jesus, e mais tarde nos dará Maria por mãe, para que mesmo que nos falte a nossa mãe, nunca nos falte o colo de uma Mãe.
       Se rapidamente vamos ao colo da mãe, rapidamente nos acheguemos ao colo de Deus, pedindo, agradecendo, permanecendo junto d’Ele, deixando que Ele permaneça junto de nós, como permaneceu junto de Abraão, segredando-lhe os nossos medos e anseios, o nosso cansaço e a nossa dor, entreguemos-lhe o nosso coração. Com coragem, confiantes. Por mais persistente que seja o sofrimento, mais intensa seja a nossa oração. Também aí Ele associa a Sua paixão ao nosso desânimo. E se o sofrimento persistir, e não estiver ao alcance a cura, não deixemos de nos colocar ao Seu colo, pedindo força e ânimo para aceitarmos o que não é possível mudar.
       E ainda que queiramos protestar com Ele, façamo-lo sem medo. Ele escuta as nossas queixas. Ele não recua, como não recua o colo da Mãe. Muitas vezes a Mãe sofre o sofrimento do filho. Ela quereria assumir no seu corpo, na sua vida, o sofrimento do filho para que ele não sofresse. Mas não pode. Vale, nessas horas, a companhia, a certeza que nos apoia, que está do nosso lado, que compreende a nossa dor, e nos dá a mão e o regaço, e firma o seu no nosso olhar.

       5 – Ele vem para nascer e viver no meio de nós, caminhar connosco e connosco penetrar no sofrimento e na morte, e como Deus, Jesus nos abre de novo outro colo e outro céu, nos dá a mão e como irmão nos eleva para o coração de Deus. As distâncias encurtam-se. Deus faz-Se homem.
“Sepultados com Cristo no batismo, também com Ele fostes ressuscitados pela fé que tivestes no poder de Deus que O ressuscitou dos mortos. Quando estáveis mortos nos vossos pecados e na incircuncisão da vossa carne, Deus fez que voltásseis à vida com Cristo e perdoou-nos todas as nossas faltas. Anulou o documento da nossa dívida, com as suas disposições contra nós; suprimiu-o, cravando-o na cruz”.
       O Céu fica mais perto. Com a Ressurreição, Jesus parte, e envia-nos o Espírito Santo. A oração permite-nos acolher o Espírito e a salvação, compreender a nossa fragilidade e a nossa limitação. A oração predispõe-nos para reconhecer os outros como irmãos e para aceitarmos os nossos limites, para perdoarmos os limites dos outros, para transformarmos a fé em vida e em compromisso.


Textos para a Eucaristia (ano C): Gen 18, 20-32; Col 2, 12-14; Lc 11, 1-13.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Sem Deus, ateus e religiosos seriam nada...

       "A grande questão era que Deus precisava de existir, caso contrário, ateus e religiosos seriam ambos destroçados pelo caos da inexistência, extinguir-se-se-ia a liberdade de ser e a de pensar. Teria de haver um Deus com uma capacidade muito maior do que qualquer imaginação religiosa para resgatar as informações do córtex cerebral que se perderam com a morte. Caso contrário, seríamos mera poeira cósmica. Alguns de nós estariam nas páginas da história para nos fazer pensar que fomos algo do passado e disfarçar o angustiante facto de que seremos nada, simplesmente nada, no futuro.

Augusto Cury, O Semeador de Ideias.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Papa Francisco - voltará a Aparecida em 2017

       Uma mãe se esquece dos seus filhos? Não quer e não pode... Um favor, um jeitinho: rezem por mim, eu preciso... até 2017 que vou voltar!
       Será interessante o Papa participar nas comemorações dos 300 anos de Aparecida e nos 100 anos das Aparições de Fátima...

NOTÍCIA: Agência Ecclesia.

Papa Francisco Oração a Nossa Senhora Aparecida

       Oração do papa Francisco diante da imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, a proferir no início da missa a que vai presidir dentro de algumas horas no santuário homónimo.
«(…) Ó Mãe, como Vós,
eu abraço minha missão.
Em vossas mãos coloco minha vida
e vamos Vós-Mãe e Eu-Filho
caminhar juntos, crer juntos, lutar juntos,
vencer juntos como sempre juntos
caminhastes vosso Filho e Vós.

Mãe Aparecida,
um dia levastes vosso Filho
ao templo para O consagrar ao Pai,
para que fosse inteira disponibilidade
para a missão.
Levai-me hoje ao mesmo Pai,
consagrai-me a Ele com tudo
o que sou e com tudo o que tenho.

Mãe Aparecida,
ponho em vossas mãos,
e levai até o Pai a nossa e vossa juventude,
a Jornada Mundial da Juventude:
quanta força, quanta vida,
quanto dinamismo brotando e explodindo
e que podem estar a serviço da vida,
da humanidade.

Finalmente, ó Mãe, vos pedimos:
permanecei aqui,
sempre acolhendo vossos filhos
e filhas peregrinos,
mas também ide connosco,
estai sempre ao nosso lado
e acompanhai na missão
a grande família dos devotos,
principalmente quando
a cruz mais nos pesar,
sustentai nossa esperança e nossa fé.»

D. Manuel Clemente - a Fé do Povo. Religiosidade popular

D. MANUEL CLEMENTE, A Fé do Povo. Compreender a religiosidade popular. Paulus Editora. Lisboa 2013, 104 páginas.
       Depois de termos sugerido Uma Casa aberta a todos, com entrevistas de Paulo Rocha, transcritas do programa da Igreja Católica, na RTP 2, Ecclesia, nova sugestão, desta feita sobre a religiosidade popular.
       Sob este título, dois trabalhos: "A Religiosidade Popular. Notas apara ajudar ao seu entendimento" (1978) e "Religiosidade Popular e fé cristã" (1987), com a junção de dois pequenos textos publicados na Família Cristã: "O resto, o rasto e o rosto" e "A terra, o sangue e os mortos" (julho e novembro de 2011).
       É uma leitura agradável sobre a religiosidade popular, buscando raízes, contextos, justificações, desafios pastorais. Origens pré-nacionais, e pré-cristãs, mas também raízes dentro do cristianismo, com incidência universal mas também com características nacionais ou locais, em diálogo/conflito com a hierarquia. Com necessidade de purificação, mas também, muitas vezes, com a devoção popular ajudar a corrigir desvios e heresias. mesmo antes e com mais eficiência que a hierarquia.
       Na Introdução:
"Di-lo Jesus: o Seu Evangelho é como uma semente que cai à terra. E cada terra, mesmo falando só da boa, é como é e como o tempo e os homens a fizeram. Por outras palavras, é uma cultura, uma mentalidade, uma maneira de ouvir e responder. Nela se inclui depois o Evangelho, para que produza melhor fruto. Mas este fruto, sabendo a Cristo, saberá também à terra onde cresceu. Daí também que a religião seja popular, porque é de Deus e de cada povo..."
       Da conclusão à segunda parte:
"O cristianismo é essencialmente sacramental: em Jesus Cristo o próprio Deus que se visibiliza e revela; também Cristo ressuscitado de algum modo se vê e toca a hóstia e o irmão. E o catolicismo sublinhou sempre, e algumas vezes polemicamente, esta sacramentalidade, esta mediação constante, porque a fé cristã é fé em Cristo vivo e próximo nos sinais em que nos interpela e se avizinha".
       Texto - resto, rasto e o rosto:
"O resto pagão talvez seja inevitável, enquanto o mundo for mundo: pega-nos à terra, aos antepassados, ao ciclo nascer, crescer e morrer... Rasto mais ou menos profundo, de algo diferente: houve Alguém que nasceu, mas de de outra maneira; viveu, mas com outros sentimentos; morreu, mas venceu a morte... cristamente falando, as coisas só se resolvem na contemplação de um rosto, o do próprio Cristo, ou seja, numa relação pessoa com Aquele que nos personaliza, apelando à nossa liberdade".
       Belíssima reflexão sobre a religiosidade popular, sobre a vivência da fé, sobre a inculturação, melhor, pela encarnação da fé, na tensão dialógica entre a fé e a terra...

terça-feira, 23 de julho de 2013

Primeira intervenção do Papa FRANCISCO no Brasil

      "Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo. Venho em Seu nome par alimentar a chama de amor fraterno que arde em cada coração... Cristo abre espaço para eles porque sabe que energia alguma pode ser mais potente que aquela que se desprende do coração dos jovens quando conquistados pela experiência da Sua amizade. Cristo bota fé nos jovens e confia-lhes o futuro da sua própria causa, ide e fazei discípulos, ide para além das fronteiras do que é humanamente possível e criem um mundo de irmãos... também os jovens botam fé em Cristo... a juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo... os braços do Papa se alargam para abraçar a inteira nação brasileira..."

 

7 bem-aventuranças para a Família

       O padre José Tolentino Mendonça propôs este sábado em Belo Horizonte, no Brasil, uma reflexão sobre sete bem-aventuranças para a família cristã, durante a conferência "Família, Amizade, Afetividade e Sexualidade: desafios para um amor integral".
       A palestra abriu o terceiro dia do Congresso Mundial das Universidades Católicas (CMUC), realizada entre quinta-feira e domingo na Pontifícia Universidade Católica - Minas.
       Na primeira das duas conferências que apresentou no encontro, o diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura e vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, propôs sete bem-aventuranças para a família cristã.

Bem-aventurada a família hospitaleira.
       Não somos nada e de ninguém. Precisamos aceitar as graças e fraquezas de todos os integrantes da família. É o princípio da incompletude e da comunhão, ou seja, cada um completa-se com as suas qualidades e defeitos. Sozinhos, ficamos aquém de nós mesmos.

Bem-aventurada a família que combate o analfabetismo do afeto.
       Os membros da família precisam de acolher as pessoas como elas são, o que fizeram e o que serão. É preciso abraçar as hesitações e ter afeto com todos.

Bem-aventurada a família que dá importância ao inútil.
       Vivemos num mundo em que tudo precisa de motivo, função e posição. Precisamos aceitar a perder para dar.
 
Bem-aventurada a família que não deita fora a "Caixa de Brinquedos".
       A "Caixa de Brinquedos" da família é o tempo para conversar, lembrar acontecimentos do dia a dia, realizar atividades lúdicas, interagir idosos com crianças, resgatar momentos de alegria, como receitas de avós e o Natal. Muitas famílias deixaram de abrir as "Caixas de Brinquedo", tendo perdido a oportunidade de construir um amor integral.
 
Bem-aventurada a família que usa bem a crise.
       «Somente por meio da crise é que podemos ver a verdade e o sentido da vida. A experiência da crise é importante para evitar o pior, e viver a vida com profundidade e não superficialmente. Crise é libertação e independência.»

Bem-aventurada a família que acredita ser um laboratório da alegria.
       A felicidade é singular como rir e chorar. A família que é laboratório da alegria é fábrica de abraço e doação.

Bem-aventurada a família que vive aberta ao mundo e a Deus.
       Vivemos rodeados de perguntas, e a família de hoje é uma delas. A família precisa de estar aberta para trocar conhecimentos para alcançar o amor.

        Para o consultor do Pontifício Conselho para a Cultura, a família não pode ficar desagregada: «É o lugar onde aprendemos a amar, compartilhar, resolver conflitos e dar o valor ao afeto. A família precisa ser uma escola da vida».

Pontifícia Universidade Católica - Minas, 22.07.13,

segunda-feira, 22 de julho de 2013

D. Manuel Clemente - Uma Casa aberta a todos

D. MANUEL CLEMENTE, Uma Casa Aberta a Todos. Paulinas Editora. 2.º edição. Prior Velho 2013, 248 páginas.
       No passado dia 7 de julho, D. Manuel Clemente, no Mosteiro dos Jerónimos, assumia a Diocese de Lisboa, como Patriarca, substituindo D. José da Cruz Policarpo. Se já era uma voz relevante na Igreja, na cultura, na sociedade, em Portugal, com a assunção do Patriarcado alarga a curiosidade sobre a sua vida e o seu pensamento.
       As Paulinas permitem-nos as duas coisas. Numa primeira parte, sob a condução de Paulo Rocha, diretor da Agência Ecclesia, responsável por programas como Ecclesia e 70X7 que passam na RTP 2, com uma forte ligação à Igreja, D. Manuel Clemente responde a diversas questões. É, aliás, o formato usado no programa Ecclesia, onde os dois têm abordado diversos temas relacionados com a vida da Igreja e com a sua história. A colaboração com essa assiduidade findam, mas para já a reprodução de algumas entrevistas de Paulo Rocha com D. Manuel Clemente, sobre a sua vida, vocação, como Bispo no Porto e como Patriarca em Lisboa, desafios pastorais, diálogo com a cultura, a sociedade e a política, temas fraturantes, promoção da vida e do bem comum.
        Em análise, nesta(s) entrevista(s), a figura do Papa Francisco, desde a eleição, os gestos e as palavras, e o recuo à sua infância, vocação, e intervenções enquanto Arcebispo de Buenos Aires.
       Na segunda parte desta obra, a Editora apresenta textos de D. Manuel Clemente, em diferentes intervenções, em ocasiões distintas, textos ao tempo de sacerdote, ou Bispo Auxiliar de Lisboa, Bispo do Porto, ou como professor, na Universidade, homilias, textos de reflexão, intervenções públicas, seguindo o Decionário. Em cada um das letras, variadíssimos temas: amor, vida, vocação, bem, bispo, corpo, confiança, crisma, alegria, Deus, Espírito Santo, Eucaristia, Educação, Europa e Cristianismo, Fé e Ciência, Família, Francisco de Assis, Idosos, Laicado, Oração, Páscoa, Porto, Peregrinação, Poesia, Professor, Vieira (Pe. António), Sociedade civil, e tantos outros.
       Na divisão das duas partes, álbum fotográfico, com fotos da família, da infância, da ordenação, como escuteiro, de sacerdote, bispo...
       Num género ou outro, a entrevista ou as reflexões, permitem conhecer melhor o novo Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente. Mais uma leitura agradável, permitindo encarar os desafios do ser cristão na sociedade deste tempo.

domingo, 21 de julho de 2013

Frei Rito Dias - Salmo 56

O Deus da Bíblia nunca diz quem é, mas onde está.
Sempre que a alegria bate à porta,
Deus manda entrar.

Sempre que a paz quer falar,
Deus escuta.

Sempre que a tristeza chega,
Deus manda esperar.

Sempre que o futuro é duvidoso,
Deus tem a certeza.

Sempre que a amizade atraiçoa,
Deus é fiel.

Sempre que o medo nos assusta,
Deus dá a mão.

Sempre que a cobiça pisa o inocente,
Deus reclama.

Sempre que a inveja mata o amor,
Deus ama.

Sempre que a dor oculta Deus,
Deus aparece.

Sempre que as promessas humanas faltam,
Deus cumpre.

Sempre que a liberdade propõe,
Deus é escolha.

Sempre que o homem foge de Deus,
Deus vai com ele.

Sempre que a esperrança vai embora,
Deus Fica.
Tu contaste os passos do meu peregrinar (v 9a)

Frei Manuel Rito Dias, in Bíblica, n.º 347, junho-agosto 2013

Bento XVI - Confissão como limpeza da alma

Livia:
       "Santo Padre, antes do dia da minha Primeira Comunhão confessei-me. Depois, confessei-me outras vezes. Mas, gostaria de te perguntar: devo confessar-me cada vez que recebo a Comunhão? Mesmo quando cometo os mesmos pecados? Porque eu sei que são sempre os mesmos".
BENTO XVI:
       Diria duas coisas: a primeira, naturalmente, é que não te deves confessar sempre antes da Comunhão, se não cometeste pecados graves que necessitam ser confessados.
        Portanto, não é preciso confessar-te antes de cada Comunhão eucarística. Este é o primeiro ponto. É necessário somente no caso em que cometes um pecado realmente grave, que ofendes profundamente Jesus, de forma que a amizade é destruída e deves começar novamente. Apenas neste caso, quando se está em pecado "mortal", isto é, grave, é necessário confessar-se antes da Comunhão. Este é o primeiro ponto.
       O segundo: embora, como disse, não é necessário confessar-se antes de cada Comunhão, é muito útil confessar-se com uma certa regularidade. É verdade, geralmente, os nossos pecados são sempre os mesmos, mas fazemos limpeza das nossas habitações, dos nossos quartos, pelo menos uma vez por semana, embora a sujidade é sempre a mesma. Para viver na limpeza, para recomeçar; se não, talvez a sujeira não possa ser vista, mas se acumula. O mesmo vale para a alma, por mim mesmo, se não me confesso a alma permanece descuidada e, no fim, fico satisfeito comigo mesmo e não compreendo que me devo esforçar para ser melhor, que devo ir em frente.
       E esta limpeza da alma, que Jesus nos dá no Sacramento da Confissão, ajuda-nos a ter uma consciência mais ágil, mais aberta e também de amadurecer espiritualmente e como pessoa humana. 
       Portanto, duas coisas: confessar é necessário somente em caso de pecado grave, mas é muito útil confessar regularmente para cultivar a pureza, a beleza da alma e ir aos poucos amadurecendo na vida.

Sacramento da Confirmação - Tabuaço 2013 - em imagens

       Celebração do Sacramento da Confirmação, na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, Tabuaço, no dia 6 de julho de 2013, sob a presidência de D. António José da Rocha Couto, Bispo de Lamego, na Igreja Paroquial de Tabuaço.
       Imagens da celebração, em formato de diaporama/vídeo, com o belíssimo cântico GRÃO DE TRIGO, interpretado por Isabel Cardoso:

sábado, 20 de julho de 2013

XVI Domingo do Tempo Comum - ano C - 21 de julho 2013

       1 – “Jesus entrou em certa povoação e uma mulher chamada Marta recebeu-O em sua casa. Ela tinha uma irmã chamada Maria, que, sentada aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra”.
       Primeira lição: o amor tem concretização. Não se vive genericamente. Amamos o mundo inteiro, mas precisamos de nos sentir acarinhados por alguém, um familiar, um amigo, uma pessoa que nos espera... Jesus vive a maior parte da sua vida com os pais. Vem para a humanidade inteira. Porém, nasce em Belém; seus pais são Maria e José; vive em Nazaré, e situa a Sua vida pública na Judeia e na Galileia, com algumas passagens pontuais pela Samaria. Tem muitos amigos, os discípulos. Um grupo mais restrito de 12 apóstolos, entre os quais se salientam três ou quatro mais próximos. Vai a casa de fariseus, de publicanos, vai onde é convidado ou para onde Se faz convidado – «Zaqueu, desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa» (Lc 19, 5) – mas tem depois uma ou outra família onde Se hospeda e onde regressa, como é a casa dos seus amigos Lázaro, Maria e Marta.
       Segunda lição: Jesus não é o super-homem. Verdadeiramente Deus. Verdadeiramente homem. Não é uma personagem esquisita, heroica, ao jeito das figuras televisivas ou cinematográficas. É um homem de carne e osso, concreto, que vive num tempo e num espaço determinados. Mesmo que frugalmente, como naquela época, tem necessidade de comer, de descansar, de sentir a presença dos amigos. Vê-se neste evangelho mas também em muitas outras passagens, como quando reclama a vigilância e proximidade dos discípulos. Em contraponto com João Batista, que vive no deserto e se alimenta de gafanhotos e mel silvestre, Jesus come como os seus discípulos, vai a festas para as quais é convidado, e come as refeições que a Mãe lhe prepara. Passando naquela povoação, Jesus e os discípulos não deixam de visitar os amigos, aproveitando para repousar e recuperar energias.
       2 – «Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária».
       Depois de mais uma jornada, Jesus, com os seus discípulos, entra em determinada povoação e Marta recebe-O em sua casa. Aprendamos com ela a receber Jesus em nossa casa. Mas depois de O acolhermos, é necessário darmos-Lhe atenção. Marta atarefa-se para receber bem. Entretanto vê que a sua irmã está sentada aos pés de Jesus a escutá-l'O. Forma sublime de acolher, com o ouvido, melhor, com o coração!
       «Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe sozinha a servir?»
       Marta aproxima-se de Jesus e dá-lhe uma leve repreensão. Ele tinha obrigação de compreender. Sua irmã está ali “sem fazer nada”, quando poderia estar a ajudá-la.
       Jesus não recrimina Marta pelo carinho e generosidade com que O trata e como cuida da casa. No entanto alerta para algo mais importante. Se cada um faz o que lhe compete…
       Quando se recebe alguém em casa é necessário preparar tudo. À última hora adensam-se os preparativos. Quantos mais a ajudar, melhor. No entanto, se temos um convidado, um amigo, não o deixamos sozinho na sala, a não ser que não haja outra possibilidade.
       Jesus aponta para a escuta da Palavra, para a prioridade da oração, da contemplação, do estar junto d'Ele, aos seus pés. Há todo outro trabalho útil e meritório, mas este não pode anular aquele. De que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma, a sua vida?

       3 – «Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas...».
       Como não revermo-nos neste alerta de Jesus?
       Vivemos numa luta permanente. Atarefados, em grandes correrias, com a agenda cheia, não há tempo para nada. Falta depois o tempo para o essencial, para estar com a família, para os pais brincarem com os filhos, para os filhos passarem tardes com os pais e os avós, ou participarem num programa comum, na Eucaristia, numa festa, um almoço ou jantar. Os filhos têm os seus compromissos, os horários dos pais são incompatíveis com o dos filhos.
       Queremos fazer muitas coisas, estar em todo o lado, e acabamos por nem fazer uma coisa nem outra, nem estar num sítio nem no outro, ou pelo menos com a qualidade e envolvimento devidos. Matamo-nos a trabalhar e quando nos apercebemos, em vão, cansamo-nos para nada, ou porque não aproveitamos, ou porque já não temos saúde para gozar os frutos, ou não tivemos tempo para solidificar amizades ou dedicar tempo e afeto à família, ou porque aqueles para quem trabalhamos não agradecem e esbanjam rapidamente o que nos custou tanto a conseguir.
       Temos esta consciência? Corremos, corremos, e parece que não saímos do mesmo lugar, e quanto mais corremos mais nos atrasamos? Já alguém se sentiu assim? Com a vida a escapar-se-lhes como a areia entre os dedos das mãos? Tantas preocupações e trabalhos e no final parece que ficamos de mãos vazias! Quem é que já experimentou situações assim? Lutas e cansaços, e para quê?
       4 – «…uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte».
       Justo equilíbrio, sem perder o norte, o ponto de partida, o chão que nos liga, a meta para onde nos dirigimos. Cada um de nós há de apostar em ser Marta – que acolhe, trabalha, labuta –, e Maria – que escuta, acolhe, contempla, bebe as palavras do Senhor.
       E assim a Igreja! A melhor parte, o ponto de partida: estar aos pés do Senhor. Perto de Jesus. Escutá-l'O. Primeiro, discípulos, e depois apóstolos, enviados. De novo a fé e as obras. Uma coisa leva à outra. Não estão desligadas. Se corremos muito mas sem Deus, sem oração, sem ligação a um sentido maior, corremos o risco de nos perdermos. Por outro lado, a fé há de ser encarnada. Fé com carne, com vida, com obras.
       São Bento, Padroeiro da Europa, cuja festa celebramos a 11 de julho, tem uma regra muito simples: ora et labora – reza e trabalha. É possível que o trabalho, honesto, dedicado, seja oração. Mas há tempos específicos para a oração, para que aquele não seja um fardo. É preciso trabalhar e descansar. Trabalhar e beneficiar dos frutos do trabalho. Trabalhar e partilhar o que se produz. Também isso é oração. Esta desperta-nos para os outros.
       Espaço e tempo para a contemplação, a beleza, o encontro com os amigos e com a família, para o descanso, para participar em atividades lúdicas e culturais, para apreciar a natureza, para rezar, para louvar e agradecer, para descobrir a harmonia do que nos rodeia e o engenho de homens e mulheres que vivem perto ou longe de nós e que ajudam a embelezar esta nossa terra.

       5 – «Se agradei aos vossos olhos, não passeis adiante sem parar em casa do vosso servo».
       Na primeira leitura, vemos a delicadeza de Abraão, um homem de Deus, justo, trabalhador, que, pela hora de mais calor, está a descansar. Vê passar três homens, e não precisa de grandes cálculos, entende este encontro como sinal da presença de Deus, sinal de bênção.
       Também aqui, a fé é concretizável em gestos de generosidade e aproximação. Abraão faz uma leitura muito rápida. Quem passa pela minha casa, à frente da minha porta, vem da parte de Deus, então é necessário tratá-lo como enviado de Deus.
       Abraão convida ao descanso e rapidamente prepara uma bela refeição, para que aqueles homens possam restaurar as forças da viagem. Que bela lição esta que Abraão nos dá. É necessário que aqueles que passam por nós deixem um pouco de si e levam um pouco de nós, como evoca Antoine de Saint-Exupéry, no Principezinho. O que fizerdes ao meu irmão, a Mim o fazeis…
       Abraão não se engana. Aquelas personagens deixarão a sua bênção transformadora: «Passarei novamente pela tua casa daqui a um ano e então Sara tua esposa terá um filho».

       6 – Cristo no meio de vós, esperança da glória. E nós O anunciamos…
       Deus passa em nossa casa, mas não vai adiante sem antes bater à nossa porta, permitindo-nos a hospitalidade. Podemos abrir-lhe a porta e deixá-l’O entrar, mais e mais na nossa vida.
       O mistério desta vinda e deste encontro revela-Se em plenitude em Jesus Cristo. Assume a condição de filho, para nos assumir como irmãos. Primeiro, a descoberta, o encontro e a conversão, como em Paulo, e depois o anúncio. Não podemos dar o que não temos. Damos Aquele que nos habita.


Textos para a Eucaristia (ano C): Gen 18, 1-10a; Col 1, 24-28; Lc 10, 38-42.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Bento XVI - que significa "Eu sou o Pão da vida"

Anna:
       "Caro Papa, poderias explicar-nos o que Jesus queria dizer quando disse ao povo que o seguia: "Eu sou o pão da vida"?".

BENTO XVI:
       Então deveríamos talvez, antes de tudo, esclarecer o que é o pão. Hoje nós temos uma cozinha requintada e rica de diversíssimos pratos, mas nas situações mais simples o pão é o fundamento da nutrição e se Jesus se chama o pão da vida, o pão é, digamos, a sigla, uma abreviação para todo o nutrimento.
       E como temos necessidade de nos nutrir corporalmente para viver, assim como o espírito, a alma em nós, a vontade, tem necessidade de se nutrir. Nós, como pessoas humanas, não temos somente um corpo, mas também uma alma; somos seres pensantes com uma vontade, uma inteligência, e devemos nutrir também o espírito, a alma, para que possa amadurecer, para que possa alcançar realmente a sua plenitude.
       E, por conseguinte, se Jesus diz eu sou o pão da vida, quer dizer que Jesus próprio é este nutrimento da nossa alma, do homem interior do qual temos necessidade, porque também a alma deve nutrir-se.
       E não bastam as coisas técnicas, embora sejam muito importantes. Temos necessidade precisamente desta amizade de Deus, que nos ajuda a tomar decisões justas. Temos necessidade de amadurecer humanamente.
       Por outras palavras, Jesus nutre-nos a fim de que nos tornemos realmente pessoas maduras e a nossa vida se torne boa.

Bento XVI - o que significa Adoração

Adriano:
       "Santo Padre, disseram-nos que hoje faremos a Adoração Eucarística. O que é? Como se faz? Poderias explicar-nos isto? Obrigado".
BENTO XVI:
        Então, o que é a adoração, como se faz, veremos imediamente, porque tudo está bem preparado: faremos algumas orações, cânticos, a genuflexão e estamos assim diante de Jesus.
       Mas, naturalmente, a tua pergunta exige uma resposta mais profunda: não só como fazer, mas o que é a adoração.
       Eu diria: adoração é reconhecer que Jesus é meu Senhor, que Jesus me mostra o caminho a tomar, me faz entender que vivo bem somente se conheço a estrada indicada por Ele, somente se sigo a via que Ele me mostra.
       Portanto, adorar é dizer: "Jesus, eu sou teu e sigo-te na minha vida, nunca gostaria de perder esta amizade, esta comunhão contigo".
       Poderia também dizer que a adoração na sua essência é um abraço com Jesus, no qual eu digo: "Eu sou teu e peço-te que estejas também tu sempre comigo".

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Papa Francisco e os jovens...

       Nós cristãos não podemos lavar as mãos... a polícia é uma das formas mais elevadas da caridade... hoje não se tem em conta a pessoa, mas o dinheiro, os números... É um dever do cristão trabalhar pelo bem comum... o cristão deve envolver-se na polícia...

BRUNO FORTE - porquê confessar-se?

BRUNO FORTE, Porquê confessar-se? A reconciliação e a beleza de Deus. Paulus Editora. 2.ª edição. Lisboa 2012, 64 páginas.
       Bruno Forte é um reconhecido teólogo italinao. Aos 30 anos já era doutorado em Teologia e em Filosofia. Natural de Nápoles, desde cedo dedicou a sua vida ao estudo, à investigação teológica, ao diálogo filosófico. Paris e Tubinga, França e Alemanha (e passagens por outros países,  encontros com outras tendências teológicas), permitiram-lhe novas experiências e aberturas.
       No seu percurso académico, e sacerdotal, o diálogo com crentes de outras confissões cristãs, com a ortodoxia, com outras religiões, o judaísmo, o islamismo, em ambientes muitos diferentes, mas com o fito de tornar acessível a procura de Deus que nos visita na história. Diga-se, aliás, que este é um princípio basilar na sua reflexão teológica: Deus entranha-Se na história dos homens, da humanidade. Não é um Ser distante, alheado.
       Nomeado Bispo, por João Paulo II, ordenado pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, Bruno Forte dedica-se sobretudo à missão de Pastor. Ainda, como o próprio refere, a teologia seja de uma ajuda prestimosa para o serviço pastoral, procurando tornar mais simples a Palavra de Deus e mais acessível a reflexão teológica, sem, no entanto, deixar de lado os fundamentos teológicos do compromisso eclesial com os mais pobres e simples.
       Para melhor conhecer a obra e o pensamento de Bruno Forte e o seu percurso, o nascimento, a família, o ambiente em que é educado, a vocação, o sacerdócio e a teologia, a filosofia, as viagens, os livros, o trabalho pastoral em Nápoles, a eleição para Bispo, o trabalho episcopal como Arcebispo Metropolitano de Chieti-Vasto recomedamos outras leitura, em forma de entrevista (o entrevistador é sobrinho do Papa João XXIII):

BRUNO FORTE, Uma Teologia para a vida. Fiel ao Céu e à terra. Paulus Editora. Lisboa 2013, 248 páginas.
       Nesta entrevista biográfica também se veem encontro com grandes pensadores e teólogos, como Henri de Lubac, Yves Congar,, Chenu, Moltmann, ou com filósofos de renome. Em 2004, o Papa João Paulo II convidou-o para Pregador do retiro ao Papa e aos seus colaboradores, no início da Quaresma. O então Cardeal Ratzinger prontificou-se a "emprestar-lhe" a secretária a fim de esta traduzir as reflexões para alemão, para a edição alemã. Já antes, Ratzinger, Presidente da Comissão Teológica Internacional, pedira a Bruno Forte para encabeçar a comissão responsável pelo documento "Memória e Reconciliação", base para o pedido de perdão do Papa João Paulo II, pelo ano jubilar 2000. Ratzinger, deu a sua aprovação.
       Com 55 anos foi eleito Bispo e ordenado, a 8 de setembro de 2004, pelo Cardeal Ratzinger, em Nápoles. Por curiosidade, a homilia de Ratzinger veio a ser publicada no primeiro conjunto de escritos, discursos, homilias, de Bruno Forte, sob o título "A Luz da Fé", que é exatamente o título da primeira Encíclica do Papa Francisco, Lumen Fidei - a Luz da Fé... Curioso.
       Como Bispo, Bruno Forte, tem apostado em clarificar e tornar acessível a teologia para a comunidade.
        No ano de 2005, no início da Quaresma escreveu à Diocese esta carta pastoral, sobre o Sacramento da Reconciliação. Outros escritos pastorais: "Crismar-se, porquê?", "As quatro noites da salvação"; "Porquê ir à Missa ao Domingo?"
         Neste pequeno livro, além da Carta Pastoral de D. Bruno, também a lectio divina, leitura meditada da parábola do Filho Pródigo/Pai da Misericórdia (cf. Lc 15, 11-32). Nas últimas páginas, subsídio para o Exame de Consciência, baseado nos 10 Mandamentos, e ainda oração para o Ato de Contrição.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Bento XVI - Jesus presente na Eucaristia

Andrea:
       "A minha catequista, ao preparar-me para o dia da minha Primeira Comunhão, disse-me que Jesus está presente na Eucaristia. Mas como? Eu não o vejo!".
BENTO XVI:
       Sim, não o vemos, mas existem tantas coisas que não vemos e que existem e são essenciais.
       Por exemplo, não vemos a nossa razão, contudo temos a razão. Não vemos a nossa inteligência e temo-la. Não vemos, numa palavra, a nossa alma e todavia ela existe e vemos os seus efeitos, pois podemos falar, pensar, decidir, etc...
        Assim também não vemos, por exemplo, a corrente eléctrica, mas sabemos que existe, vemos este microfone como funciona; vemos as luzes.
       Numa palavra, precisamente, as coisas mais profundas, que sustentam realmente a vida e o mundo, não as vemos, mas podemos ver, sentir os efeitos. A electricidade, a corrente não as vemos, mas a luz sim. E assim por diante.
       Desse modo, também o Senhor ressuscitado não o vemos com os nossos olhos, mas vemos que onde está Jesus, os homens mudam, tornam-se melhores. Cria-se uma maior capacidade de paz, de reconciliação, etc...
       Portanto, não vemos o próprio Senhor, mas vemos os efeitos: assim podemos entender que Jesus está presente. Como disse, precisamente as coisas invisíveis são as mais profundas e importantes. 
       Vamos, então, ao encontro deste Senhor invisível, mas forte, que nos ajuda a viver bem.

Bento XVI - a minha Primeira Comunhão

Andrea:
       "Caro Papa, que recordação tens do dia da tua Primeira Comunhão?"
 BENTO XVI:
       Antes de tudo, gostaria de dizer obrigado por esta festa da fé que me ofereceis, pela vossa presença e alegria.
       Agradeço e saúdo o abraço que tive de um de vós, um abraço que simbolicamente vale para vós todos, naturalmente.
       Quanto à pergunta, recordo-me bem do dia da minha Primeira Comunhão. Era um lindo domingo de Março de 1936, portanto, há 69 anos.
       Era um dia de sol, a igreja muito bonita, a música, eram muitas coisas bonitas das quais me lembro. Éramos cerca de trinta crianças, meninos e meninas, da nossa pequena cidade com não mais de 500 habitantes.
        Mas, no centro das minhas recordações alegres e bonitas está o pensamento o mesmo já foi dito pelo vosso porta-voz que compreendi que Jesus tinha entrado no meu coração, tinha feito visita justamente a mim.
       E com Jesus, Deus mesmo está comigo. Isto é um dom de amor que realmente vale mais do que tudo que pode ser dado pela vida; e assim estava realmente cheio de uma grande alegria porque Jesus tinha vindo até mim.
        E entendi que então começava uma nova etapa da minha vida, tinha 9 anos, e que então era importante permanecer fiel a este encontro, a esta Comunhão.
       Prometi ao Senhor, por quanto podia: "Gostaria de estar sempre contigo" e pedi-lhe: "Mas, sobretudo permanece comigo". E assim fui em frente na minha vida.
        Graças a Deus, o Senhor tomou-me sempre pela mão, guiou-me também nas situações difíceis. E dessa forma, a alegria da Primeira Comunhão foi o início de um caminho realizado juntos.
       Espero que, também para todos vós, a Primeira Comunhão que recebestes neste Ano da Eucaristia seja o início de uma amizade com Jesus para toda a vida. Início de um caminho juntos, porque caminhando com Jesus vamos bem e a vida se torna melhor.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Papa Francisco - cultura do encontro

       Permito-me uma proposta: precisamos de gerar uma cultura de encontro. Perante a cultura do fragmento, como alguns quiseram chamar-lhe, ou da não-integração, nestes tempos difíceis ainda se nos exige mais: não favorecer quem pretende capitalizar o ressentimento, o esquecimento da nossa história partilhada, ou se regozija em debilitar vínculos...
         O homem de carne e osso, com uma pertença cultural e história concreta... é ele que deve estar no centro dos nossos desvelos e reflexões...
       Não se pode educar se estivermos desencaixados da memória. A memória é potência unificadora e integradora. Assim como o entendimento entregue às suas próprias forças desobstrui, a memória vem a ser o núcleo vital da uma família ou de um povo. Uma família sem memória não merece tal nome. Uma família que não respeita e não cuida dos seus avós, que são a sua memória viva, é uma família desintegradora; mas uma família e um povo que se recordam são uma família e um povo com futuro...
        Para quem não tem passado, não há nada realizado. Tudo é futuro, há que fazer tudo a partir do zero...
       Juntarmo-nos em harmonia, sem renunciar ao que é nosso, a algo que nos transcende.
       E isto não pode fazer-se por via do consenso, que nivela por baixo, mas sim pelo caminho do diálogo, da confrontação de ideias e do exercício da autoridade.
       ... o diálogo requer paciência, clareza, boa vontade para com o outro. Não exclui a confrontação, de diversos pontos de vistas, sem no entanto usar as ideias como armas mas como luz. Não abdiquemos das nossas ideias, utopias, propriedades ou direitos, renunciemos apenas à pretensão de que sejam únicos e absolutos...

in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir.

Papa Francisco - a minha liberdade com os outros...

       "Se é verdade que não há humanidade sem história e sem comunidade; se o nosso falar é sempre resposta a uma voz que nos chamou primeiro (e, em última instância, à Voz que nos fez ser), que outro sentido pode ter a liberdade que não seja a possibilidade de «ser com os outros»? Para que quero ser livre se não tenho nem um cão que me ladre? Para que quero construir um mundo se nele vou estar só, numa prisão de luxo? A liberdade, deste ponto de vista, não «termina» mas «começa» onde começa a dos outros. Como todo o bem espiritual, é maior quanto mais partilhado for.
       Mas viver a liberdade «positiva» implica também, como se indica acima, uma completa «revolução» de características imprevisíveis, outra forma de entender a pessoa e a sociedade. Uma forma que não se centra em obejetos de posse, mas em pessoas a quem promover e amar".

in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir.

domingo, 14 de julho de 2013

Santo Padre, para que serve receber a comunhão?

Alessandro:
       "Para que serve ir à Santa Missa e receber a Comunhão para a vida de todos os dias?".

BENTO XVI:
       Serve para encontrar o centro da vida. Nós vivemos entre tantas coisas.
       E as pessoas que não vão à igreja não sabem que lhes falta precisamente Jesus. Sentem, contudo, que falta algo na sua vida.
        Se Deus permanece ausente na minha vida, se Jesus não faz parte da minha vida, falta-me um guia, falta-me uma amizade essencial, falta-me também uma alegria que é importante para a vida. A força também de crescer como homem, de superar os meus vícios e de amadurecer humanamente. 
       Portanto, não vemos imediatamente o efeito de estar com Jesus quando vamos à Comunhão; vê-se com o tempo. Assim como, no decorrer das semanas, dos anos, se sente cada vez mais a ausência de Deus, a ausência de Jesus. É uma lacuna fundamental e destrutiva.
        Poderia falar agora facilmente dos países onde o ateísmo governou por anos; como as almas foram destruídas, e também a terra; e assim podemos ver que é importante, aliás, diria, fundamental, nutrir-se de Jesus na comunhão.
       É Ele que nos dá a luz, nos oferece a guia para a nossa vida, uma guia da qual temos necessidade.

Bento XVI - ir à Missa ao Domingo

Giulia:
       "Santidade, dizem-nos que é importante ir à Missa aos domingos. Nós iríamos com gosto mas, frequentemente, os nossos pais não nos acompanham porque aos domingos dormem, o pai e a mãe de um amigo meu trabalham numa loja e nós, geralmente, vamos fora da cidade visitar os avós. Podes dizer-lhes uma palavra para que entendam que é importante ir à Missa juntos, todos os domingos?". 
BENTO XVI:
       Claro que sim, naturalmente, com grande amor, com grande respeito pelos pais que, certamente, têm muitas coisas a fazer.
       Contudo, com o respeito e o amor de uma filha, pode-se dizer: querida mãe, querido pai, seria tão importante para todos nós, também para ti, encontrarmo-nos com Jesus. Isto enriquece-nos, traz um elemento importante para a nossa vida.
       Juntos encontramos um pouco de tempo, podemos encontrar uma possibilidade. Talvez até onde mora a avó há uma possibilidade.
       Numa palavra diria, com grande amor e respeito pelos pais, diria-lhes: "Entendei que isto não é importante só para mim, não o dizem somente os catequistas, é importante para todos nós; e será uma luz do domingo para toda a nossa família".

sábado, 13 de julho de 2013

XV Domingo do Tempo Comum - ano C - 14 de julho

       1 – Sigamos Jesus. Como discípulos procuremos acompanhá-l'O, escutá-l'O, compreender a Sua mensagem. Como BOM SAMARITANO, Ele vem ao nosso encontro, unge-nos com o óleo da caridade, cura as nossas enfermidades, os nossos medos, ilumina as nossas trevas, retira-nos do círculo da morte e da violência, abre-nos o coração de Deus. Traz-nos a eternidade, faz-nos viver humanamente, para nos tornarmos definitivamente imagem e semelhança de Deus.
       No meio da multidão, onde nos queremos com Ele, um doutor da Lei quer testá-l'O. Não é o único. Talvez em alguns momentos da nossa vida quereríamos que Jesus fosse mais evidente (contra o mal), mesmo à custa de parte da nossa liberdade, que Ele respeita e promove. Por que não uma receita para a nossa conduta: «Mestre, que hei de fazer para receber como herança a vida eterna?».
       A primeira resposta de Jesus aponta para a terra, a história e a vida dos homens, para a Sagrada Escritura, palavra de Deus em palavras humanas, vivência da fé do povo eleito. Procuramos no Céu, e a Sua Palavra está entre nós, busquemos, não o extraordinário mas o quotidiano, entre as pessoas que caminham connosco. Deus encontra-nos no nosso caminho. Acha-nos. Para O encontrarmos, basta procurá-l'O nos nossos irmãos. O que diz a Lei? Pergunta Jesus.
       «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento; e ao próximo como a ti mesmo».
       O doutor da Lei afinal sabe o que é necessário para viver, isto é, para entrar na comunhão com Deus: colocar Deus como prioridade para melhor servir os irmãos.
       Com efeito, a Lei dada a Moisés, o mandato divino, não é nada que não seja acessível aos crentes. “Este mandamento que hoje te imponho não está acima das tuas forças nem fora do teu alcance... Esta palavra está perto de ti, está na tua boca e no teu coração, para que a possas pôr em prática”.

       2 – Se dúvidas subsistissem, Jesus convida a procurarmos as respostas em nós, com a ajuda da daqueles que nos precederam. Como dissera Moisés, a Lei não se impõe, pois está inscrita no nosso coração. Trazemos em nós as marcas da nossa origem e filiação divinas. Daí a urgência da oração mais diligente, de um diálogo constante com Deus, com o nosso íntimo, com a voz da nossa consciência. Daí a necessidade do silêncio e da contemplação, da escuta atenta da palavra de Deus.
       Jesus não apresenta soluções mágicas, receitas que encaixem para todos. Convida a refletir, a encontrar caminhos, a deixar-Se tocar pela Graça, a inspirar-nos pelo Espírito Santo que nos habita. Seguimo-l'O, vemos como Ele faz. Escutamos as Suas palavras. Absorvemos os Seus gestos, a Sua entrega constante. Vislumbramos a Sua postura, a Sua opção preferencial pelos mais pobres. E depois caber-nos-á a nós assumir a Sua maneira de agir, para sermos verdadeiramente Seus discípulos.
       E quem é o meu próximo? Pergunta o doutor da Lei e perguntamos nós. É aquele com quem simpatizo, que pertence ao meu grupo de amigos, à minha religião, ao meu partido, ao meu clube, à minha ideologia? É aquele que pensa como eu? Que se identifica com a minha maneira de ser e de viver? É aquele que me merece admiração e respeito?
       A resposta de Jesus é, antes, a formulação de nova pergunta. Cabe-nos a resposta:
«Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores. Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o meio- morto. Por coincidência, descia pelo mesmo caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Do mesmo modo, um levita que vinha por aquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas, deu-as ao estalajadeiro e disse: ‘Trata bem dele; e o que gastares a mais eu to pagarei quando voltar’. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?». O doutor da lei respondeu: «O que teve compaixão dele». Disse-lhe Jesus: Então vai e faz o mesmo».
        3 – A parábola do Bom Samaritano, mais um exclusivo de São Lucas, é uma extraordinária lição sobre o amor de Deus. Ele é Pai de misericórdia, que ama, que nos chama à vida, que acredita em nós. É Deus fiel. Sanciona a nossa liberdade, como na parábola do filho pródigo. Ama-nos até ao sofrimento, até ao infinito. Quebra todos os limites. Deixa-nos partir, mas o Seu olhar permanece em nós, sobre nós, fixa-se no nosso coração. Espera. Leva a paciência ao grau mais elevado. Faz festa quando nos reencontramos com a vida.
       Assim o Pai de Jesus Cristo, assim o Filho, assim os discípulos.
       Deus não fica passivamente à nossa espera. Ele age com o Seu amor. Atrai-nos. Respeita-nos. A porta está aberta. Saímos. A porta não se fecha, como quando saímos de nossas casas. Com efeito, a casa está escancarada. É o Coração de Deus. É um AMOR pró-ativo. (Não é passivo ou reativo). Ama-nos primeiro. Procura-nos. As Suas entranhas revolvem-se quando nos afastamos e com as trevas procuramos esconder a luminosidade do Seu amor e da Sua presença em nós. Ele é o Bom Samaritano. Não se limita a uma circunscrição religiosa, política, ideológica ou de conveniência. Abraça. Todos. Sem exceção. Reabilitando sobretudo os excluídos da vida.
       No caminho de Jericó também estamos nós. Ora como vítimas da violência, do preconceito, da desconfiança, da prepotência. Ora passamos como sacerdotes ou levitas, dispostos a ajudar os nossos, ou quando as circunstâncias forem mais favoráveis e que não nos tragam dissabores, mas não aqueles que consideramos estranhos, desconhecidos, estrangeiros, que fazem parte de outro grupo, de outro partido, de outra religião. Podem ser perigosos! Podem incomodar a nossa letargia… desinstalar-nos!
       No caminho de Jericó, somos samaritanos, sempre que deixamos de lado o egoísmo e a presunção e ajudamos sem estarmos à espera que nos solicitem. Ide e fazei o mesmo. Diz-nos Jesus. Como Eu fiz, fazei vós também. Dai-lhes vós mesmos de comer. Compromisso. Hoje. Não podemos passar ao largo com indiferença, ou deixando que outros façam, ou lavando as mãos como se não fosse connosco, por que não é dos nossos. Ou culparmos a situação presente, desculpando a nossa inação. A mesma pergunta Deus nos faz hoje: onde está o teu irmão? E como responder? Acaso sou guarda do meu irmão? Se somos discípulos de Jesus, arregaçamos as mãos, cingimos os rins, e corremos, sem peias nem teias, e ajudamos, corremos ao encontro do outro.
       Próximo é aquele que precisa da minha ajuda. Mais, próximo sou eu quando me aproximo do outro para ajudar. E é bom que me faça próximo, já que me digo discípulo de Cristo.
       4 – A história da salvação é a história da Aliança de Deus com o Seu povo, com a humanidade inteira, a começar em Abraão. Deus não é Juiz equidistante, sentado no seu cadeirão a ver a humanidade destruir-se. É o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacob, é o Deus de Israel. Está identificado com pessoas e com o povo que é eleito em ordem à bênção de todos os povos. É o Deus de Jesus Cristo, próximo, que vem ao nosso encontro, que Se debruça para nos levantar, que nos pega na mão, como a mãe ao filho, que nos socorre, nos lava os pés, e cura as nossas feridas.
“Cristo Jesus é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura; porque n’Ele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis... Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu corpo. Ele é o Princípio, o Primogénito de entre os mortos; em tudo Ele tem o primeiro lugar. Aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus”.
       Nós somos o Seu Corpo, a Igreja. Através de nós, Ele continua a ser o Bom Pastor, o Bom Samaritano.


Textos para a Eucaristia (ano C): Deut 30, 10-14; Col 1, 15-20; Lc 10, 25-37.