terça-feira, 29 de abril de 2014

PABLO D'ORS - A Biografia do Silêncio

PABLO D'ORS (2014). A Biografia do Silêncio. Breve ensaio sobre a meditação. Prior Velho: Paulinas Editora. 160 páginas.
       Este é certamente um livro diferente, e sobretudo na nossa mentalidade ocidental mais orientada para a ação, para a pressa, para o fazer coisas, participar em atividades, passear, viajar, ansioso por coisas novas. A não-ação, o silêncio e a paciência, a meditação, embora estejam presentes, são sobretudo vistas como descanso no meio das tarefas e das preocupações da vida.
       Sendo assim, esta será também uma leitura provocante. O autor, em jeito de testemunho pessoal, vai mostrando como a meditação revolucionou pacificamente a sua vida, pois meditar é viver e viver sem meditar significa não ir ao fundo do nosso autêntico eu. Pode custar a começar, por vezes exigindo algum esforço físico e mental. Mas pouco a pouco surge a necessidade de sentar e meditar, esvaziar-se de si e neste esvaziar-se de si a possibilidade de se encontrar com o verdadeiro eu, e com Deus. Maria acolhe no Seu ventre, Jesus Cristo, porque soube esvaziar-se de Si para se encher de Deus. "Deves esvaziar-te de tudo o que não és tu... Deus só pode entrar no que está vazio e está puro. Por isso, entrou Jesus Cristo no seio da Virgem Maria" (p 136).
       Meditar ajuda-nos a encontrar a fonte dos nossos medos. Quando não meditamos reagimos, discutimos, conflituamos, por vezes sem saber o que nos levou a isso. Meditando podermos encontrar o que deu origem a este ou aquele sentimento, a esta ou aquela reação, precavendo-nos para situações futuras, antecipando qualquer manifestação de ansiedade e tensão. "Pode-se viver sem lutar contra a vida. Mas, porque se há de ir contra a vida, se se pode ir a seu favor? Porquê apresentar a vida como um ato de combate, em de de um ato de amor?" (p 123).
(José Antonio Pagola e Pablo d'Ors)

O próprio a falar sobre a Biografia do Silêncio:
Vejamos o discurso do próprio Pablo d'Ors:
"Não penso que o homem seja feito para a quantidade, mas para a qualidade..." (p 14)
"Creio que para escrever, como para viver e amar, não nos devemos reter, mas desprender-nos. A chave de quase tudo está na magnanimidade do desprendimento. O amor, a arte e a meditação, pelo menos estas três coisas funcionam assim.
Quando digo que convém que estejamos soltos ou desprendidos, refiro-me à importância de confiar. Quando maior confiança tivermos em alguém, tanto melhor poderemos amá-lo; quanto mais o criador se entregar à sua obra, tanto mais ela lhe corresponderá. O amor - como a arte ou a meditação - é pura e simplesmente confiança... A meditação é uma prática da espera. Mas o que realmente se espera? Nada e tudo. Se se esperar alguma coisa concreta, essa espera deixará de ter valor, pois seria alimentada pelo desejo de uma coisa de que se carece... as esperas costuma ser aborrecidas e incómodas...  (pp 24-25)
"Nós, os seres humanos, costumamos definir-nos por contraste ou oposição, que é o mesmo que dizer, por separação ou por divisão" (p 34).
"É absurdo condenar a ignorância passada a partir da sabedoria presente" (p 35).
"Quando sou consciente, volto a minha casa; quando perco a consciência, afasto-me, sabe-se lá para onde. Todos os pensamentos e ideias nos afastam de nós mesmos. Somos o que resta, quando desaparecem os pensamentos" (p 42).
"NO amor autêntico não se espera nada do outro; no romântico, sim. E mais: o amor romântico é essencialmente a esperança de que o nosso parceiro nos dará a felicidade. Quando nos apaixonamos sobrecarregamos o outro com as nossas expectativas... O ser amado não existe para que o outro não se perca, mas para se perderem juntos, para viverem, em companhia, a libertadora aventura da perdição" (pp 46-47).
"Tanto a arte como a meditação nascem sempre da entrega; nunca do esforço. E o mesmo acontece com o amor. O esforço põe em funcionamento a vontade e a razão; a entrega, pelo contrário, a liberdade e a intuição..." (p 54).
"TRISTE NÃO É MORRER, MAS FAZÊ-LO SEM TER VIVIDO" (p 95).
"Não importa qual tenha sido o teu passado. Não conta que bagagem levas contigo. Tu, só tu é que contas, e tudo o resto é indiferente ou, até, pode chegar a ser um estorvo" (p 106).
"Só sofremos porque pensamos que as coisas deveriam ser de maneira diferente. Quando abandonamos essa pretensão, deixamos de sofrer" (p 126).
"Um ser humano é tanto mais nobre quando maior for a sua capacidade de hospedagem ou de acolhimento. Quanto mais vazios de nós estivermos, mais caberá dentro de nós. O vazio de si, o esquecimento de si, é diretamente proporcional ao amor aos outros" (p 127).
"A meditação concentra-nos, devolve-nos a casa, ensina-nos a conviver com o nosso ser, fende a estrutura da nossa personalidade até que, de tanto meditarmos, esta fenda vai crescendo e a velha personalidade rompe-se e, como a flor, começa a emergir outra nova. Meditar é assistir a este fascinante e tremendo processo de morte e renascimento" (contracapa).

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