sábado, 7 de junho de 2014

Solenidade de Pentecostes - 8 de junho de 2014

       1 – Em Deus circula a vida, na plenitude do AMOR. Celebrar o Pentecostes é celebrar a vida nova que nos é dado por Jesus Cristo. Três dias depois da crucifixão e morte, o PRIMEIRO DIA da semana, o primeiro dia da NOVA CRIAÇÃO, o túmulo reenvia-nos, do lugar da morte, para o mundo, ao encontro de Jesus, ao encontro das pessoas para lhes dar Jesus. Ele vive e apresenta-Se no meio de nós, entre os discípulos. Nova presença, espiritual, gloriosa, pelo Espírito Santo.
       Páscoa: Ressurreição. Ascensão do Senhor. Pentecostes. Santíssima Trindade. O mesmo mistério, aprofundado na liturgia por festas e solenidades. O mesmo AMOR de Deus por nós, que nos envolve, criando-nos, apostando em nós, esperando, pacientemente, pelas nossas escolhas de bem e de verdade, de justiça e de paz, de perdão e de amor, não para lhe agradarmos – se bem que quando amamos tudo fazemos para ser agradáveis com a pessoa amada – mas por que nos faz bem, pois dessa forma nos encontramos com a nossa identidade mais profunda, o que nos faz felizes e verdadeiramente humanos. Aí nos encontraremos com Deus. O melhor louvor a Deus é tratar bem todos os seus filhos, sobretudo os mais pobres, não porque sejam moralmente melhores, mas por que lhe devemos essa atenção e cuidado, imitando Jesus Cristo, e correspondendo ao Seu mandato: o que fizerdes ao mais pequeno dos meus irmãos, a Mim o fazeis.
       2 – Diz Jesus: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».
       Tarde do primeiro DIA da semana. Ainda não refeitos das horas amargas da Paixão e já Jesus Se coloca no meio deles, VIVO, deixando-Se ver e tocar. É Ele, não é nenhum fantasma. O medo encerra-nos, a alegria e a paz dão-nos confiança, provocam em nós o desejo de comunicar e de partilhar a vida. A surpresa inicial dá lugar à missão: IDE. Como o Pai Me enviou também vos envio. Ide. Ide, confiantes, pois não ides sós. Eu estarei sempre convosco, até ao fim dos tempos. Recebei o Espírito Santo e sentireis que Eu estou convosco.
       Curiosamente, dias antes, Jesus tinha-lhes dito que todos O abandonariam, deixando-O só. Só não, porque o Pai não O deixa só. É a mesma garantia que lhes dá agora: não ficareis sós, Eu estarei convosco. Como o Pai Me ama, também vos amo. Eu e o Pai somos UM. Quem Me ama, cumpre os Mandamentos. Eu e o Pai viremos a ele e nele faremos a nossa morada. É o mistério da Santíssima Trindade muito vincado nesta solenidade. Jesus dá-lhes o Espírito Santo em abundância, ou como refere são Lucas, nos Atos dos Apóstolos, de junto do Pai, o Filho envia o Espírito Santo, como vento forte que arrasta o mundo à sua passagem, como fogo que queima, inquieta, provoca, exige resposta!
       3 – O Pentecostes, com efeito, ilustra a presença de um Deus que não é estático, distante, impassível, mas que circula e faz circular a vida, é um Deus próximo, que Se mexe ao encontro da humanidade. O Filho foi morto. O Pai ressuscitou-O. Jesus ascende para a eternidade, colocando à direita do Pai a nossa natureza humana. Envia-nos o Espírito Santo.
       A passagem é bem nossa conhecida. O medo apoderara-se dos discípulos, que levam tempo a assimilar que Jesus está VIVO. Os seus olhos duvidam, mas não o coração. Ele está de volta, assumindo uma PRESENÇA NOVA que só pode ser percebida através da fé, da disposição para O ver e tocar.
       "Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu, um rumor semelhante a forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem".
       Toda a casa fica CHEIA do ESPÍRITO SANTO. As línguas de fogo dividem-se por cada um. É tempo de deixar fluir o Espírito Santo. É HORA de espalhar a BOA NOTÍCIA. Ainda que o Espírito seja invisível, faz-Se notar, faz barulho, agita as águas, atrai. Uma multidão se ajunta para VER e para OUVIR. E alguns deles, a residir em países vizinhos, já não sabiam falar aramaico ou hebraico, mas ENTENDEM. A linguagem do bem, do amor, da conciliação compreende-se para lá das palavras, ainda que estas possam ajudar. «Ouvimo-los proclamar nas nossas línguas as maravilhas de Deus». As maravilhas de Deus são audíveis em todas as línguas, por todas as pessoas, cujo coração está vazio de si e pronto a encher-se de Deus e do Seu amor.
       4 – Por experiência sabemos que as nossas intuições nem sempre nos conduzem a bom termo. Quantas vezes seguimos com firmeza um intuição, refletida e ponderada, mas passado algum ou muito tempo verificamos que foi um erro, ou então de que as coisas não eram bem como se pintavam!
       Diz-nos o Apóstolo São Paulo que na fé não atua apenas a nossa dimensão pessoal – eu cá tenho a minha fé – atua, antes de mais o Espírito Santo, que me impele para a comunidade. O discernimento do Espírito exige o diálogo e o encontro com os outros, a oração pessoal e a comunitária.
       "Ninguém pode dizer «Jesus é o Senhor» a não ser pela ação do Espírito Santo".
       Logo de seguida, o Apóstolo lembra o que nos une e fundamenta a nossa fé: o Espírito atua em todos, ainda que os dons e os serviços sejam diversos, como o corpo com os seus diferentes membros:
"Há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum. Assim como o corpo é um só e tem muitos membros e todos os membros, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim também sucede com Cristo. Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos batizados num só Espírito, para constituirmos um só Corpo".
       Há dois mil anos, São Paulo alertava para o facto de alguns se acharem mais importantes pelos dons que tinham ou pela missão que assumiam na comunidade. O Apóstolo esclarece: tudo seja para glória de Deus. Tudo seja a favor do bem comum. Deus age em nós a favor de todos.
       Recebemos o Espírito Santo e tornarmo-nos filhos de Deus, e como o Filho assumimos os outros como irmãos a quem queremos todo bem e de quem queremos cuidar sabendo que o fazemos ao próprio Pai. Quem meus filhos beija minha boca adoça.

Pe. Manuel Gonçalves



Textos para a Eucaristia: Atos 2, 1-11; Sl 103 (104); 1 Cor 12, 3b-7. 12-13; Jo 20, 19-23.

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