sábado, 13 de dezembro de 2014

Domingo III do Advento - ano B - 14 de dezembro

        1 – «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações». O Cântico do Magnificat, que hoje nos é proposto como Salmo Responsorial, mostra-nos a medida, a profundidade, a razão da nossa alegria: a certeza de que Deus coloca o Seu olhar em nós, para nos envolver ternamente com o Seu amor.
       Celebrámos na segunda-feira passada, 8 de dezembro, a solenidade da Imaculada Conceição, onde esta belíssima oração de louvor, que brota dos lábios e do coração e da vida de Nossa Senhora, ressoa com mais intensidade. A Imaculada Conceição, a cheia de Graça, alegra-Se com a presença e ação de Deus, antecipando, diante da sua prima Isabel, a alegria de Se saber visitada pelo Espírito Santo que n’Ela opera a maior das maravilhas: a gestação do Filho de Deus. É uma alegria que vem do interior, vem de dentro, mas contagia e transborda exteriormente, de um a outro coração, de um a outro olhar, de pessoa a pessoa. O filho de Isabel, que ficará conhecido como João Batista, exulta de alegria, ainda no ventre de sua mãe, quando Jesus – também no ventre materno – se aproxima. A voz de Maria é melodia para os ouvidos de Isabel, é melodia para os ouvidos daquele feto que nadando nas entranhas de sua mãe faz saber e sentir a alegria pela proximidade de Jesus.

       2 – Este é o Domingo da Alegria (Gaudete), que nos prepara para a festividade do Natal, mas cuja alegria antecipadamente experimentamos, pela certeza de que Deus vai irromper na nossa vida e na história do mundo.
       A alegria do Evangelho deve envolver-nos, contagiar-nos, transformar-nos, comprometer-nos com o anúncio. Recebemos o Evangelho – a Boa Notícia da salvação –, não para ficarmos contentes, mas para O levar a todo o mundo. É o último mandamento de Jesus: ide e anunciai o Evangelho em toda a terra (cf. Mt 28, 19-20), ou, na ressonância do lema pastoral da nossa Diocese de Lamego: IDE E CONSTRUÍ COM MAIS AMOR A FAMÍLIA DE DEUS.
       João Batista dá-nos o exemplo. Vem antes, a preparar o caminho do Senhor, e não cessa de anunciar a proximidade da Sua vinda: "Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz".
       Por ocasião da anunciação logo exulta de alegria no seio da sua Mãe. Trinta anos depois: «Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Endireitai o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías». Muitas realidades da nossa vida exigem e merecem tempo e meditação. Por vezes é necessário deixar crescer o trigo e o jogo até à hora da ceifa (cf. Mt 13, 24-30). Tal como Jesus, também João Batista se prepara por um longo período de tempo e só vai a jogo quando se sente adulto, maduro, preparado.
       A palavra de Deus é acolhida em vasos de barro, que somos nós, mas depois temos que cuidar do vaso para que na nossa fraqueza se manifesta a beleza, a riqueza e a grandeza d'Aquele que vem, o Messias de Deus, a Palavra que Se faz carne.
       Como Maria: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Como João Batista: «Eu batizo na água, mas no meio de vós está Alguém que não conheceis: Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias»
       O Precursor reconhece-se como instrumento ao serviço da Palavra de Deus, ao serviço do Eleito de Deus. Pensemos numa equipa de ciclismo e que tem um chefe de fila. Todos trabalham para que o líder chegue à frente e ganhe a volta, mesmo que tenham de sacrificar os seus egos. Mas se o chefe de fila ganha, toda a equipa está de parabéns. Aqui o chefe de fila é Jesus Cristo. Todos trabalhamos para que Ele viva. Melhor, todos, se somos verdadeiros discípulos, deveremos deixar que Ele trabalhe em nós e através de nós nasça em todo o mundo.
       3 – O compromisso com o Evangelho da Alegria é um desafio permanente. São certamente muitas as ocasiões e as razões para que a vida não seja um rio de águas calmas. Quantas vezes a nossa vida se transforma em mar revolto, com ondas tão grandes que nos deitam por terra, embatendo com violência em nós e nas nossas expetativas e seguranças. As tempestades fazem parte da nossa vida, e assim o frio e o nevoeiro e as nuvens densas... o que nos fará apreciar o calor e os dias de sol, e o céu limpo.
       O Apóstolo, tendo feito a experiência de encontro com Jesus e convertendo-se ao Evangelho, faz-se arauto da alegria:
«Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias, pois é esta a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus. Não apagueis o Espírito, não desprezeis os dons proféticos; mas avaliai tudo, conservando o que for bom. Afastai-vos de toda a espécie de mal. O Deus da paz vos santifique totalmente, para que todo o vosso ser – espírito, alma e corpo – se conserve irrepreensível para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. É fiel Aquele que vos chama e cumprirá as suas promessas».
       Quais os motivos desta alegria? Repitamo-lo: a presença do Deus de Jesus Cristo em nós, através do Seu Espírito Santo. Daí também o convite à oração. A intimidade com Deus abre-nos as portas do coração à eternidade, ao amor, à esperança e, por sua vez, compromete-nos com o bem. A oração, como a esperança, não é passiva. Rezamos e concorremos para que Deus atue em nós. Empenhamo-nos, afastando-nos de todo o mal, para que Deus nos santifique.
       4 – A chegada do Messias e a instauração do Reino de Deus é uma alegre notícia que deverá fazer-se ouvir nas montanhas e nas colinas, nos desertos e nos vales, nas aldeias e nos campos, nos descampados e nas cidades. O profeta Isaías, uns séculos antes de João Batista, faz-se precursor desta vinda de Deus ao meio do seu povo.
«O espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu e me enviou a anunciar a boa nova aos pobres, a curar os corações atribulados, a proclamar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros, a promulgar o ano da graça do Senhor. Exulto de alegria no Senhor, a minha alma rejubila no meu Deus, que me revestiu com as vestes da salvação e me envolveu num manto de justiça, como noivo que cinge a fronte com o diadema e a noiva que se adorna com as suas jóias. Como a terra faz brotar os germes e o jardim germinar as sementes, assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor diante de todas as nações».
       No início do seu ministério, lendo as palavras de Isaías, Jesus identificar-se-á com a unção do Espírito Santo e com a missão de levar a boa notícia aos pobres e aos povos de toda a terra. Ele virá revestido com as vestes da salvação para que a justiça e a paz brote em toda a parte, e então o júbilo possa comunicar-se a todos os corações. Esta é a razão primeira e última da nossa alegria: Deus, em Jesus, vem habitar em nós, faz a Sua morada no nosso coração, na nossa vida, no nosso mundo. É uma alegria que ninguém nos poderá tirar.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano B): Is 61, 1-2a. 10-11; Salmo: Lc 1, 46b-48. 49-50. 53-54; 1 Tes 5, 16-24; Jo 1, 6-8. 19-28.

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