terça-feira, 31 de julho de 2018

Santo Inácio de Loiola, presbítero

Nota biográfica:
       Nasceu no ano 1491 em Loiola, na Cantábria (Espanha); seguiu primeiramente a vida da corte e a vida militar. Depois, consagrando-se totalmente ao Senhor, estudou teologia em Paris e aí reuniu os primeiros companheiros, com quem mais tarde fundou em Roma a Companhia de Jesus. Exerceu intensa actividade apostólica e, particularmente com os seus escritos e com a formação de discípulos, contribuiu grandemente para a reforma da vida cristã e para a renovação da acção missionária. Morreu em Roma no ano 1556.

Oração (de coleta):
        Senhor nosso Deus, que suscitastes na vossa Igreja Santo Inácio de Loiola para propagar a maior glória do vosso nome, concedei que, à sua imitação e com o seu auxílio, combatendo o bom combate na terra, participemos da sua vitória no Céu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Da Autobiografia de Santo Inácio, redigida pelo Padre Luís Gonçalves da Câmara

Examinai os espíritos para ver se vêm de Deus

Inácio gostava muito de ler livros mundanos e fantasistas, que costumam chamar-se «de cavalaria». Quando se sentiu livre de perigo, pediu que lhe dessem alguns deste género para passar o tempo. Mas não se tendo encontrado naquela casa nenhum livro desses, deram-lhe a «Vita Christi» e um livro da vida dos Santos, ambos em vernáculo.
Com a leitura frequente destas obras, começou a ganhar algum gosto pelas coisas que ali estavam escritas. Mas deixando de as ler, detinha-se a pensar algumas vezes naquilo que tinha lido e outras vezes nas coisas do mundo em que antes costumava pensar.
Entretanto, Nosso Senhor vinha em seu auxílio, fazendo com que a estes pensamentos se sucedessem outros, sugeridos pelas novas leituras. De facto, lendo a vida de Nosso Senhor e dos Santos, detinha-se a pensar consigo mesmo: «E se eu fizesse como fez São Francisco e como fez São Domingos?». E reflectia em muitas coisas destas, durante longo tempo. Mas sobrevinham-lhe depois os pensamentos mundanos de que acima se fala, e também neles se demorava longamente. E esta sucessão de pensamentos durou muito tempo.
Mas havia esta diferença: quando se entretinha com os pensamentos mundanos, sentia grande prazer; e logo que, já cansado, os deixava, ficava triste e árido de espírito; quando, porém, pensava em seguir os rigores dos Santos, não somente sentia consolação enquanto neles pensava, mas também ficava contente e alegre depois de os deixar.
No entanto, não advertia nem considerava esta diferença, até que uma vez se lhe abriram os olhos da alma e começou a admirar-se desta diferença e a reflectir sobre ela; e compreendeu por experiência própria que um género de pensamentos lhe deixava tristeza e o outro alegria.
Mais tarde, quando fez os Exercícios Espirituais, foi desta experiência que tomou as primeiras luzes para compreender e ensinar aos seus irmãos o discernimento de espíritos.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Reino dos Céus: grão de mostarda... ou fermento...

       Jesus disse ainda à multidão a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se ao grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Sendo a menor de todas as sementes, depois de crescer, é a maior de todas as hortaliças e torna-se árvore, de modo que as aves do céu vêm abrigar-se nos seus ramos». Disse-lhes outra parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado». Tudo isto disse Jesus em parábolas, e sem parábolas nada lhes dizia, a fim de se cumprir o que fora anunciado pelo profeta, que disse: «Abrirei a minha boca em parábolas, proclamarei verdades ocultas desde a criação do mundo» (Mt 13, 31-35)
        No evangelho que nos é proposto para este dia, Jesus fala-nos através de duas parábolas bem nossas conhecidas e ilustrativas do jeito simples e próximo de Jesus comunicar. Uma e outra parábola acentuam que não é o tamanho ou o poder inicial da semente, nem a visibilidade... mas a seiva no seu interior que de pequena semente a torna uma árvore frondosa, ou a "qualidade" do fermente.
       Deus sustenta o mundo em todo o tempo, mesmo quando as situações problemáticas parecem mostrar a ausência de Deus. Mesmo quando não se percebe a presença e o amor de Deus, Deus está, Deus faz-Se presente, Deus conta connosco. Por outro lado, não importa a pobreza inicial da nossa vida, mas o que poderemos vir a tornar-nos.

sábado, 28 de julho de 2018

Domingo XVII do Tempo Comum - ano B - 29.julho.2018

Parábola do trigo e do joio

       «O reino dos Céus pode comparar-se a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi-se embora. Quando o trigo cresceu e começou a espigar, apareceu também o joio. Os servos do dono da casa foram dizer-lhe: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem então o joio?’. Ele respondeu-lhes: ‘Foi um inimigo que fez isso’. Disseram-lhe os servos: ‘Queres que vamos arrancar o joio?’. ‘Não! – disse ele – não suceda que, ao arrancardes o joio, arranqueis também o trigo. Deixai-os crescer ambos até à ceifa e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em molhos para queimar; e ao trigo, recolhei-o no meu celeiro’» (Mt 13, 24-30).
       Outra parábola de Jesus usando a imagem da semente lançada à terra.
       Nesta, o semeador lança a semente, mas alguém, pela calada da noite, lança o joio, um semente ruim que poderá estragar a colheita. Perguntam os servos ao senhor se quer que arranquem o joio, ao que este responde para deixarem amadurecer trigo e joio, boa e má semente, para que não paguem os justos pelos pecadores, o bem pelo mal.
       A tolerância do senhor da parábola é a mesma de Deus que ama e usa de misericórdia até ao fim.
       É de todos conhecida a expressão de uma outra parábola, o risco de deitar a água suja fora com o bebé dentro da água. Isto é, com a desculpa de destruir o mal poderemos correr o risco de destruir o bem e de impedir que o bem frutifique.
       Vale a pena pensar nisto!

Poderá aprofundar a reflexão em: XVII Domingo do TC (ano A) - 24 de julho de 2011

quinta-feira, 26 de julho de 2018

São Joaquim e Santa Ana, Pais da Virgem Santa Maria

Nota biográfica:
       Segundo uma antiga tradição, que remonta ao séc. II, assim se chamavam os pais da Santíssima Virgem Maria. O culto de Santa Ana existia no Oriente já no séc. VI e estendeu-se ao Ocidente no séc. X. Mais recentemente foi introduzido o culto de São Joaquim.

Oração:
       Senhor, Deus dos nossos pais, que concedestes a São Joaquim e Santa Ana a graça de darem ao mundo a Mãe do vosso Filho, alcançai-nos, por sua intercessão, a salvação que prometestes ao vosso povo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Dos Sermões de São João Damasceno, bispo

Pelos seus frutos os conhecereis

Porque estava determinado que de Ana havia de nascer a Virgem Mãe de Deus, a natureza não ousou preceder o germe da graça; mas para dar o seu fruto, esperou que a graça produzisse o seu. Convinha, de facto, que nascesse aquela Primogénita de quem havia de nascer o Primogénito de toda a criatura, no qual subsistem todas as coisas.
Oh bem-aventurados esposos Joaquim e Ana! Toda a criatura vos está obrigada. Porque foi por vosso intermédio que a criatura ofereceu ao Criador o melhor de todos os dons, isto é, a Virgem Mãe, a única que era digna do Criador.
Alegrai-vos, Ana estéril, que não tínheis filhos; soltai brados de júbilo e alegria, Vós que não dáveis à luz. Exultai, Joaquim, porque da vossa filha nos nasceu um Menino e nos foi dado um Filho e o seu nome será Anjo do grande conselho, de salvação para todo o mundo, Deus forte. Este Menino é Deus.
Oh bem-aventurados esposos, Joaquim e Ana, verdadeiramente sem mancha! Sois conhecidos pelo fruto do vosso ventre, como disse uma vez o Senhor: Pelos seus frutos os conhecereis. Estabelecestes as normas da vossa vida do modo mais agradável a Deus e digno d’Aquela que de vós nasceu. No vosso convívio casto e santo educastes a pérola da virgindade, Aquela que havia de ser virgem antes do parto, virgem no parto e ainda virgem depois do parto; Aquela que, de modo único e excepcional, conservaria sempre a virgindade, tanto na sua mente como na sua alma e no seu corpo.
Oh castíssimos esposos, Joaquim e Ana! Guardando a castidade prescrita pela lei natural, conseguistes alcançar, por graça de Deus, o que excede a natureza, porque gerastes para o mundo a Mãe de Deus, Mãe sem conhecer varão. Levando ao longo da existência humana uma vida piedosa e santa, gerastes uma filha que é superior aos Anjos e agora é rainha dos Anjos.
Ó donzela formosíssima e dulcíssima! Ó Filha de Adão e Mãe de Deus! Bem-aventurado o pai e a mãe que Vos geraram! Bem-aventurados os braços que Vos estreitaram em seu regaço e os lábios que Vos beijaram castamente, isto é, unicamente os de vossos pais, para que sempre e em tudo conservásseis a perfeita virgindade! Aclamai o Senhor, terra inteira, exultai de alegria e cantai. Levantai a vossa voz; clamai e não temais.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

São Tiago (Maior), Apóstolo

Nota biográfica:
       Nasceu em Betsaida; era filho de Zebedeu e irmão do apóstolo João. Esteve presente nos principais milagres do Senhor. Foi morto por Herodes cerca do ano 42. É venerado com culto especial em Compostela (Espanha), com as relíquias aí depositadas, onde se ergue a célebre basílica a ele dedicada, que atrai desde o século IX inumeráveis peregrinos de toda a cristandade.
       Foi o primeiro mártir entre os DOZE apóstolos. Era um dos três discípulos mais próximos de Jesus. Esteve presente na Transfiguração de Jesus (antecipação/visualização da glória da Ressurreição) e na hora dolorosa da agonia no Jardim das Oliveiras.
       Como no elenco dos Apóstolos aparecem duas pessoas com este nome - Tiago, filho de Zebedeu e Tiago, filho de Alfeu -, distinguem-se da seguinte forma, o primeiro como São Tiago Maior e o segundo como Tiago Menor. Como refere o Papa, a preocupação não é medir a santidade de um e outro, mas o realce que um e outro têm nos escritos neotestamentários.
       Ocupa o segundo lugar, logo depois de Pedro, em Marcos (3, 17), ou terceiro lugar, depois de Pedro e André, em Mateus (10, 2), ou depois de Pedro e João nos Atos dos Apóstolos (1, 13).
       Segundo o livro de Atos dos Apóstolos (12, 1-2), Tiago foi morto à espada, juntamente com outros membros da comunidade de Jerusalém, nos inícios dos anos 40, sob o reinado de Herodes Agripa, neto de Herodes o Grande. E os seus restos mortais teriam sido posteriormente levados/trazidos para Santiago de Compostela, segundo uma tradição antiquíssima...
Oração:
       Vós quisestes, Deus omnipotente, que São Tiago fosse o primeiro dos Apóstolos a dar a vida pelo Evangelho: concedei à vossa Igreja a graça de encontrar força no seu testemunho e auxílio na sua protecção. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Fonte: Secretariado Nacional da Liturgia.

BENTO XVI sobre São TIAGO MAIOR:
Queridos irmãos e irmãs!
       Prosseguimos a série de retratos dos Apóstolos escolhidos directamente por Jesus durante a sua vida terrena. Falámos de São Pedro e de seu irmão, André. Encontramos hoje a figura de Tiago. Os elencos bíblicos dos Doze mencionam duas pessoas com este nome: Tiago, filho de Zebedeu, e Tiago, filho de Alfeu (cf. Mc 3, 17.18; Mt 10, 2-3), que são comummente distinguidos com os nomes de Tiago, o Maior e Tiago, o Menor. Sem dúvida, estas designações não querem medir a sua santidade, mas apenas distinguir o realce que eles recebem nos escritos do Novo Testamento e, em particular, no quadro da vida terrena de Jesus. Hoje dedicamos a nossa atenção à primeira destas duas personagens homónimas.
       O nome Tiago é a tradução de Iákobos, forma helenizada do nome do célebre patriarca Tiago. O apóstolo assim chamado é irmão de João, e nos elencos acima mencionados ocupa o segundo lugar logo depois de Pedro, como em Marcos (3, 17), ou o terceiro lugar depois de Pedro e André no Evangelho de Mateus (10, 2) e de Lucas (6, 14), enquanto que nos Actos vem depois de Pedro e de João (1, 13). Este Tiago pertence, juntamente com Pedro e João, ao grupo dos três discípulos privilegiados que foram admitidos por Jesus em momentos importantes da sua vida.
       Dado que faz muito calor, gostaria de abreviar e mencionar aqui só duas destas ocasiões. Ele pôde participar, juntamente com Pedro e Tiago, no momento da agonia de Jesus no horto do Getsémani e no acontecimento da Transfiguração de Jesus. Trata-se portanto de situações muito diversas uma da outra: num caso, Tiago com os outros dois Apóstolos experimenta a glória do Senhor, vê-o no diálogo com Moisés e Elias, vê transparecer o esplendor divino de Jesus; no outro encontra-se diante do sofrimento e da humilhação, vê com os próprios olhos como o Filho de Deus se humilha tornando-se obediente até à morte. Certamente a segunda experiência constitui para ele a ocasião de uma maturação na fé, para corrigir a interpretação unilateral, triunfalista da primeira: ele teve que entrever que o Messias, esperado pelo povo judaico como um triunfador, na realidade não era só circundado de honra e de glória, mas também de sofrimentos e fraqueza. A glória de Cristo realiza-se precisamente na Cruz, na participação dos nossos sofrimentos.
       Esta maturação da fé foi realizada pelo Espírito Santo no Pentecostes, de forma que Tiago, quando chegou o momento do testemunho supremo, não se retirou. No início dos anos 40 do século I o rei Herodes Agripa, neto de Herodes o Grande, como nos informa Lucas, "maltratou alguns membros da Igreja. Mandou matar à espada Tiago, irmão de João" (Act 12, 1-2).
        A notícia tão limitada, privada de qualquer pormenor narrativo, revela, por um lado, quanto era normal para os cristãos testemunhar o Senhor com a própria vida e, por outro, como Tiago ocupava uma posição de relevo na Igreja de Jerusalém, também devido ao papel desempenhado durante a existência terrena de Jesus. Uma tradição sucessiva, que remonta pelo menos a Isidoro de Sevilha, narra de uma sua permanência na Espanha para evangelizar aquela importante região do Império Romano.
       Segundo outra tradição, ao contrário, o seu corpo teria sido transportado para a Espanha, para a cidade de Santiago de Compostela. Como todos sabemos, aquele lugar tornou-se objecto de grande veneração e ainda hoje é meta de numerosas peregrinações, não só da Europa mas de todo o mundo. É assim que se explica a representação iconográfica de São Tiago que tem na mão o cajado do peregrino e o rolo do Evangelho, típicos do apóstolo itinerante e dedicado ao anúncio da "boa nova", características da peregrinação da vida cristã.
        Portanto, de São Tiago podemos aprender muitas coisas: a abertura para aceitar a chamada do Senhor também quando nos pede que deixemos a "barca" das nossas seguranças humanas, o entusiasmo em segui-lo pelos caminhos que Ele nos indica além de qualquer presunção ilusória, a disponibilidade a testemunhá-lo com coragem, se for necessário, até ao sacrifício supremo da vida. Assim, Tiago o Maior, apresenta-se diante de nós como exemplo eloquente de adesão generosa a Cristo. Ele, que inicialmente tinha pedido, através de sua mãe, para se sentar com o irmão ao lado do Mestre no seu Reino, foi precisamente o primeiro a beber o cálice da paixão, a partilhar com os Apóstolos o martírio.
       E no final, resumindo tudo, podemos dizer que o caminho não só exterior mas sobretudo interior, do monte da Transfiguração ao monte da agonia, simboliza toda a peregrinação da vida cristã, entre as perseguições do mundo e os confortos de Deus, como diz o Concílio Vaticano II. Seguindo Jesus como São Tiago, sabemos, também nas dificuldades, que seguimos o caminho justo.

in Audiência Geral de Bento XVI, 21 de junho de 2006.
BENTO XVI, A Santidade não passa de moda, Editorial Franciscana, Braga 2010

terça-feira, 24 de julho de 2018

Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?

        Enquanto Jesus estava a falar à multidão, chegaram sua Mãe e seus irmãos. Ficaram do lado de fora e queriam falar-Lhe. Alguém Lhe disse: «Tua Mãe e teus irmãos estão lá fora e querem falar contigo». Mas Jesus respondeu a quem O avisou: «Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?». E apontando para os discípulos, disse: «Estes são a minha mãe e os meus irmãos: todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe» (Mt 12, 46-50).
       Este é um dos encontros bem conhecidos de Jesus com a Sua Mãe e com parentes próximos. De terra em terra, anunciando o reino dos Céus, curando os enfermos, expulsando espírito impuros, deixando uma mensagem de salvação, Jesus confronta-se com a oposição daqueles que instalados no poder não querem perder qualquer regalias, confronta-se com uma visão tradicional de Deus, contrapondo um Deus próximo, Pai, libertador.
       Esta aparição de Sua mãe e seus familiares dever-se-á a alguns rumores que diziam que Jesus estaria fora de Si, descontrolado, louco. Certamente que Nossa Senhora e os seus familiares estariam habitualmente perto de Jesus, mas ao mesmo tempo tinham as lides caseiras para realizar. Aqui foi em sobressalto que Maria terá ido até Jesus.
       A resposta de Jesus é contundente: minha Mãe e meus irmãos são todos aqueles que fazem a vontade de meu Pai que está nos céus. Faz lembrar outro episódio em que uma mulher diz alto e bom som para Jesus: feliz aquela que Te trouxe no seu ventre e os peitos que Te amamentaram. A resposta é semelhante: felizes antes aqueles que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática.
       À primeira vista parece que Jesus renega a Sua Mãe. Mas num olhar mais atento vê-se como Maria integra esta outra família primordial, a família daqueles que acolhem a vontade de Deus e a concretizam no dia a dia.
       Por outro lado, acentua-se uma prioridade e uma realidade: todos podemos ser família de Jesus, desde e quando fazemos a vontade de Deus.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Santa Brígida, Padroeira da Europa

Nota biográfica:
       Nasceu na Suécia em 1303; casou muito jovem e teve oito filhos que educou com esmero exemplar. Ingressou na Ordem Terceira de S. Francisco e, depois da morte do marido, entregou-se a uma vida de maior ascetismo, embora sem deixar de viver no mundo. Fundou então uma Ordem religiosa e, partindo para Roma, foi para todos exemplo de grande virtude. Empreendeu peregrinações de penitência e escreveu muitas obras em que narra as suas experiências místicas. Morreu em Roma no ano 1373.
Oração (de colecta):
       Senhor, nosso Deus, que dirigistes Santa Brígida pelos diversos caminhos da vida e admiravelmente lhe ensinastes a sabedoria da cruz na contemplação da paixão do vosso Filho, fazei que, seguindo dignamente os caminhos do vosso chamamento, procuremos em todas as coisas a vossa presença. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Das orações atribuídas a Santa Brígida

Elevação da alma a Cristo Salvador

Bendito sejais, meu Senhor Jesus Cristo, que predissestes a vossa morte e na última ceia consagrastes maravilhosamente o pão material, transformando-o no vosso Corpo glorioso, e por amor O destes aos Apóstolos como memorial da vossa digníssima paixão, e lhes lavastes os pés com vossas santas e preciosas mãos, manifestando assim a imensa grandeza da vossa humildade.
Honra Vos seja dada, meu Senhor Jesus Cristo, que suastes sangue do vosso corpo inocente ante o temor da paixão e da morte, prosseguindo no entanto o desígnio de consumar a nossa redenção, mostrando assim claramente o vosso amor para com o género humano.
Bendito sejais, meu Senhor Jesus Cristo, que fostes levado à presença de Caifás e, sendo Vós o juiz de todos, humildemente permitistes que Vos entregassem ao julgamento de Pilatos.
Glória Vos seja dada, meu Senhor Jesus Cristo, pelo escárnio que sofrestes ao serdes revestido dum manto de púrpura e coroado de agudos espinhos, e por terdes suportado, com infinita paciência, que cuspissem no vosso rosto glorioso, velassem os vossos olhos e Vos batessem brutalmente na face e no pescoço, com mãos sacrílegas e desumanas.
Louvor Vos seja dado, meu Senhor Jesus Cristo, que permitistes com grande paciência ser atado à coluna, ser cruelmente flagelado e conduzido ao tribunal de Pilatos coberto de sangue, aparecendo à vista de todos como inocente cordeiro levado ao matadouro.
Honra Vos seja dada, meu Senhor Jesus Cristo, que, tendo o vosso glorioso corpo ensanguentado, fostes condenado à morte de cruz, transportastes dolorosamente aos vossos sagrados ombros o duro madeiro e, conduzido com fúria ao lugar do suplício e despojado das vossas vestes, assim desejastes ser cravado no lenho da cruz.
Honra Vos seja dada para sempre, Senhor Jesus Cristo, que no meio de tais angústias olhastes com grande bondade e amor para a vossa Mãe digníssima, que nunca pecou nem consentiu na menor falta; e, a fim de a consolar, a confiastes à protecção do vosso fiel discípulo.
Bendito sejais eternamente, meu Senhor Jesus Cristo, que na vossa mortal agonia destes a todos os pecadores a esperança do perdão, ao prometer misericordiosamente a glória do paraíso ao ladrão arrependido.
Louvor eterno Vos seja dado, meu Senhor Jesus Cristo, por todos os momentos em que por nós pecadores suportastes na cruz as maiores amarguras e angústias; porque as dores agudíssimas das vossas chagas penetravam ferozmente na vossa alma bem-aventurada e trespassavam cruelmente o vosso peito sacratíssimo e, com um estremecimento do coração, exalastes suavemente o espírito; e inclinando a cabeça, entregastes humildemente o espírito nas mãos de Deus Pai, enquanto o vosso corpo cedia à rigidez da morte.
Bendito sejais, meu Senhor Jesus Cristo, que com vosso precioso sangue e a vossa morte sacratíssima remistes as almas e as reconduzistes misericordiosamente deste exílio para a vida eterna.
Bendito sejais, meu Senhor Jesus Cristo, que, para nossa salvação, permitistes que o vosso lado e o vosso coração fossem trespassados pela lança e fizestes brotar abundantemente do vosso peito sangue e água para nossa redenção.
Glória Vos seja dada, meu Senhor Jesus Cristo, porque quisestes que o vosso bendito corpo fosse descido da cruz pelos vossos amigos e reclinado nos braços da vossa Mãe dolorosíssima, e que ela o envolvesse em panos; que fosse depositado no sepulcro e guardado pelos soldados.
Honra sempiterna Vos seja dada, meu Senhor Jesus Cristo, que ao terceiro dia ressuscitastes dos mortos e Vos manifestastes vivo àqueles que escolhestes e, quarenta dias depois, à vista de muita gente, subistes ao Céu e aí colocastes com toda a honra os vossos amigos que havíeis libertado do limbo.
Louvor e glória eterna a Vós, Senhor Jesus Cristo, que enviastes o Espírito Santo aos corações dos discípulos e comunicastes às suas almas o imenso amor divino.
Bendito, louvado e glorificado sejais pelos séculos, meu Senhor Jesus, que estais sentado sobre o trono do vosso reino dos Céus, na glória da vossa divindade, onde viveis corporalmente com todos os vossos santíssimos membros que assumistes da carne da Virgem. E assim haveis de vir no dia de juízo para julgar as almas de todos os vivos e os mortos: Vós que viveis e reinais com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amen.

sábado, 21 de julho de 2018

Domingo XVI do Tempo Comum - ano B - 22 de julho de 2018

Muitos O seguiram e Ele curou-os a todos...

       Os fariseus reuniram conselho contra Jesus, a fim de O fazerem desaparecer. Mas Jesus, ao saber disso, retirou-Se dali. Muitos O seguiram e Ele curou-os a todos, mas intimou-os que não descobrissem quem Ele era, para se cumprir o que o profeta Isaías anunciara, ao dizer: «Eis o meu servo, a quem Eu escolhi, o meu predileto, em quem se compraz a minha alma. Sobre ele farei repousar o meu Espírito, para que anuncie a justiça às nações. Não discutirá nem clamará, nem se fará ouvir a sua voz nas praças. Não quebrará a cana já fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega, enquanto não levar a justiça à vitória; e as nações colocarão a esperança no seu nome» (Mt 12, 14-21).
        Obviamente ninguém quer morrer. Nas escolhas de Jesus, a morte está como horizonte, a aguardar. No final parece que Jesus procura a sua própria morte. Ele próprio chega a dizer que ninguém lhe tira a vida, Ele dá-a a favor de todos. Nestas palavras entende-se que Jesus tem o poder de Se livrar da morte provocada por outros, mas sobretudo uma opção de vida, a Sua vida será uma oferta que nem morte anulará.
       Neste texto, como em outros, Jesus segue o Seu caminho, com descrição, sem levantar ondas, sem provocações gratuitas, a Sua missão é levar a justiça a todas as gentes, curando, levando a paz, restabelecendo a esperança...

sexta-feira, 20 de julho de 2018

SHERYL SANDBERG - FAÇA ACONTECER

SHERYL SANDBERG (2014). Faça acontecer. Mulheres, trabalho e vontade de liderar. Barcarena: Editorial Presença. 288 páginas.
       Depois de ter lido e sugerido o livro da autora - OPÇÃO B, em colaboração com o psicólogo Adam Grant, sobre a morte do marido e como enfrentar, com os filhos, a dor, fazer o luto, enquadrar-se com a vida na família e no trabalho, nos eventos sociais e culturais, como resistir diante do sofrimento e caminhar em frente com as memórias, com a presença de quem já partiu, com as novas possibilidades que se colocam -, procurei adquirir e ler uma primeira obra. Quando se lê um autor com muito é normal que se procurem ler outros livros e/ou títulos.
       A número 2 da Facebook, neste primeiro livro aborda a liderança, sobretudo a liderança no feminino. O seu feminismo é saudável, pois não se trata de denegrir lideranças masculinas para impor as femininas, mas de lutar para que homens e mulheres possam escolher, com as mesmas possibilidades, não tanto por serem homens ou mulheres mas por serem competentes. Pelo meio vai sublinhando o que já se conseguiu e como algumas leis foram necessárias para "obrigar" a alguns equilíbrios, ainda que, também aqui, empresas, associações, entidades públicas e privadas não tivessem necessidade de cumprir leis mas que naturalmente criassem as condições para homens e mulheres se baterem em pé de igualdade.
       A autora mostra o caminho feito, mas um grande caminho a percorrer, desafiando as mulheres a sentar-se à mesa, a levantar o dedo, a não baixar o braço, a "exigir" como os homens aquilo a que têm direito. Por exemplo, na Google, onde trabalhou verificou que antes dela não havia casas de banho para Senhoras porque nunca fora necessário... por outro lado solicitou que houvesse lugares de estacionamento para grávidas, para facilitar a chegada ao local de trabalho... são pequenos aspetos mas que podem ajudar a equilibrar...
       Ao longo do livro, a autora lembra que é necessário relembrar e assumir as descriminações tendo em conta o género, mas também como, por vezes, são as mulheres precisamente a boicotar o acesso de outras a lugares de liderança, pensando que ao ajudarem-se poderiam estar a desistir de alguma promoção, pois se há para uma pode não haver para outro. Recorda que empresas onde existem lideranças femininas também há mais possibilidades de outras mulheres serem promovidas.
       Uma dicotomia que pode ser conjugada: boas mães e excelentes profissionais, fazer escolhas, optando por ser "apenas" Mãe, ou uma profissional dedicada, capaz de progredir na carreira. A autora defende a opção, sublinhando que uma boa profissional pode ser também uma excelente Mãe.
       Sheryl Sandberg não esconde as condições em que vive, nomeadamente quanto à condição económica, social e cultural, que lhe permite ter mais segurança para algumas escolhas, mas ao mesmo tempo mostra como lutou para conquistar o seu lugar. Serve-se de muitos exemplos, de mulheres e de homens cuja liderança são inspiradoras, mostra como na Google ou na Facebook trabalham em equipa, com a flexibilidade para ajustar horários e se ajustarem uns aos outros, a abertura à crítica e a disponibilidade para sublinhar os sucessos e de os integrar, venham debaixo ou de cima. O próprio líder da Facebook, ou a autora, promovem as sugestões, as críticas para melhorar quer a relação entre todos os que ali trabalham ou noutras filiais, bem como a expansão da própria aplicação-empresa.

Vale a pena ver ou rever a conferência TED (as legendas em português podem ser colocadas acedendo às definições na parte inferior do vídeo)

O Filho do Homem é também o Senhor do sábado

        Jesus passou através das searas em dia de sábado e os discípulos, sentindo fome, começaram a apanhar e a comer espigas. Os fariseus viram e disseram a Jesus: «Vê como os teus discípulos estão a fazer o que não é permitido ao sábado». Jesus respondeu-lhes: «Não lestes o que fez David, quando ele e os seus companheiros sentiram fome? Entrou na casa de Deus e comeu dos pães da proposição, que não era permitido comer, nem a ele nem aos seus companheiros, mas somente aos sacerdotes. Também não lestes na Lei que, ao sábado, no templo, os sacerdotes violam o repouso sabático e ficam isentos de culpa? Eu vos digo que está aqui alguém que é maior que o templo. Se soubésseis o que significa: ‘Eu quero misericórdia e não sacrifício’, não condenaríeis os que não têm culpa. Porque o Filho do homem é Senhor do sábado» (Mt 12, 1-8).
       Jesus e os seus discípulos passam no meio das searas e estes vão debicando os grãos das espigas, pois sentiram fome. Certamente, em trânsito, entre cidades e aldeias, por vezes não deveriam ter muito que comer, e por vezes nem tempo. E Jesus não faz esperar as pessoas.
       Segundo a tradição, retirar as espigas para comer não é mal e também não prejudica ninguém. Mas o que aqui está em causa, é o apanharem e comerem as espigas ao sábado, o dia de descanso, o dia sagrado. Na volta vemos a resposta firme e clara de Jesus, como em outros lugares do Evangelho.
       As leis hão de ser um ser um serviço para as pessoas, para as ajudar a viver melhor e a organizar-se em sociedade de forma harmoniosa, não tem, ou não deve ter, uma preocupação escravizante. O que é certo é que ao longo dos séculos as leis judaicas se multiplicaram de tal forma que se tornaram incompreensíveis para as pessoas mais simples. Acresce a isto, que muitas das leis foram elaboradas para beneficiar ou justificar a postura dos líderes do povo.
       Sem reservas, Jesus diz que toda a LEI está ao serviço da pessoa humana (e não apenas de uma classe ou corporação). E quanto às leis religiosas, especificamente, têm de ser libertadoras, e não castradoras. "Eu quero a misericórdia e não sacrifícios". Mais importante é a conversão interior e a conduta que se assume perante os outros.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Vinde a MIM, todos os que andais fatigados

       Naquele tempo, Jesus exclamou: «Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve» (Mt 11, 28-30).
       Jesus é o nosso conforto, o lugar em que nos descobrimos e nos encontramos como irmãos uns dos outros e como filhos bem amados de Deus. Qual o melhor conforto que nos pode ser dado senão a amizade, a compreensão, um significado envolvente para a vida, a promessa da imortalidade, a garantia que a nossa vida tem uma sentido que nos transcende e transcende o tempo presente e o mundo atual?!
       Jesus é esta promessa de definitividade. É a nossa esperança. Mais, é uma promessa que se cumpre com a Sua morte e ressurreição. As suas palavras, à luz da Ressurreição, adquirem um novo prisma, de promessa passam a cumprimento. Ele coloca as nossas esperanças na eternidade.
       A certeza de que Ele está connosco em todo o tempo e lugar, e por todo o sempre, descansa a nossa sede permanente de nos transcendermos, ou pelo menos, dá-lhe uma objetividade que nos atrai.
       O convite de Jesus confirma a preocupação de ser habitação de todos, especialmente daqueles que vivem em maiores dificuldades morais, afectivas, sociais, aqueles que cansaram da vida, das pessoas. O encontro com Jesus Cristo há-de ser de libertação, de descanso, de encontro consigo próprio, de realização do melhor que há em nós.
       Por outro lado, e como já refletimos por aqui (XIV do tempo Comum - A), Ele ensina-nos a mansidão e a humildade, que nos abrem para o futuro e que nos permitem a comunhão com os outros...

terça-feira, 17 de julho de 2018

BB. Inácio de Azevedo e Companheiros

Nota biográfica:
       Inácio de Azevedo nasceu no Porto, de família ilustre, em 1526 ou 1527; entrou na Companhia de Jesus em 1548 e foi ordenado sacerdote em 1553. Mais tarde partiu para o Brasil, a fim de se consagrar ao apostolado missionário. Tendo voltado à pátria, conseguiu recrutar numerosos colaboradores para a sua obra evangelizadora e empreendeu a viagem de regresso; mas, interceptados ao largo das ilhas Canárias pelos corsários anticatólicos, ali sofreu o martírio no dia 15 de Julho de 1570; os trinta e nove companheiros que iam na mesma nau foram também martirizados no mesmo dia.
Oração (de colecta):
       Deus eterno e todo-poderoso, que dotastes de invencível constância na fé os bem-aventurados mártires Inácio de Azevedo e seus companheiros, concedei-nos que, fortalecidos por tão numerosos exemplos, imitemos o fogo da sua caridade e participemos da sua glória na pátria celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


“…para mim, viver é Cristo e morrer, um lucro.“
(Fl 1, 21)
       Ao cabo de alguns dias de viagem, era o dia 15 de Julho de 1570, faz hoje precisamente 447anos, “davam já a volta para a cidade da Palma, de que distavam duas ou três léguas”, avistaram a vela de uma grande nau e depois mais três, de modo que, inicialmente, chegaram a pensar tratar-se da armada de D. Luís de Vasconcellos, mas tal não se veio a confirmar. Era antes Jacques de Sória, corsário calvinista francês, conhecido pelo seu ódio de morte aos católicos e entre estes, muito especialmente, aos jesuítas. Acompanhavam Sória perto de meio milhar de soldados, todos eles animados pelo mesmo furor contra a Igreja Católica.
       Rapidamente prepararam a nau Santiago para a peleja, não obstante a diferença numérica de homens e armamento. O capitão da nau Santiago pediu ao Padre Inácio irmãos para a luta: “Padre, estamos prestes para pelejar, mas temos muito pouca gente, sendo tantos os inimigos; dai-nos alguns desses vossos Irmãos mais robustos, que nos ajudem». Respondeu o Padre: «Dar-vo-los-ei, não para pelejarem mas para vos animarem com suas palavras»”. Tripulação e irmãos jesuítas estavam animados na defesa da sua nau, ainda que isso lhes custasse a própria vida. Foram aguentando a peleja até que a nau foi invadida pelos corsários franceses e então começou corpo a corpo uma luta desigual, iniciando-se assim uma verdadeira carnificina.
       “Quando o galeão chegou a distância de se poder ouvir, Sória gritou de lá: - «Deitai, deitai ao mar esses Pretes que vão semear falsa doutrina no Brasil!»”.

Vale a pena visitar o blogue: Santos da Arquidiocese de Évora:

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Nossa Senhora do Carmo

Nota histórica:
       As Sagradas Escrituras celebram a beleza do Carmelo, onde o profeta Elias defendeu a pureza da fé de Israel no Deus vivo. No século XII, alguns eremitas foram viver para aquele monte, e mais tarde constituíram uma Ordem dedicada à vida contemplativa sob o patrocínio da Virgem Maria, Mãe de Deus.
Oração (de coleta):
       Venha em nossa ajuda, Senhor, a poderosa intercessão da bem-aventurada Virgem Maria, para que, protegidos pelo seu auxílio, cheguemos ao verdadeiro monte da salvação, Jesus Cristo Nosso Senhor. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

São Leão Magno, papa

Maria concebeu em seu espírito, antes de conceber em seu corpo

Foi escolhida uma virgem da descendência real de David, que, destinada a receber em seu seio o gérmen sagrado, antes de conceber corporalmente a seu Filho, Deus e homem, concebeu-O em seu espírito. E para evitar que, desconhecendo o desígnio de Deus, Ela se perturbasse perante efeitos tão inesperados, foi informada, no colóquio com o Anjo, sobre o que se ia operar por virtude do Espírito Santo. E acreditou que, estando para ser em breve Mãe de Deus, não sofreria dano a sua pureza. Como podia duvidar deste género de concepção tão original Aquela a quem é prometida a eficácia do poder do Altíssimo? A sua fé e confiança são confirmadas com o testemunho de um milagre precedente, a inesperada fecundidade de Isabel; e esta revelação do Anjo é um sinal do poder divino: quem deu poder a uma estéril de conceber pode concedê-lo também a uma virgem.
Por conseguinte, o Verbo de Deus, que é Deus, o Filho de Deus, que no princípio estava junto de Deus, por quem todas as coisas foram feitas e sem o qual nada foi feito, a fim de libertar o homem da morte eterna, fez-Se homem; desceu para assumir a nossa humildade sem diminuição da sua majestade, de modo que, permanecendo o que era e assumindo o que não era, uniu a verdadeira condição de servo à condição segundo a qual Ele é igual a Deus Pai, e realizou entre as duas naturezas uma aliança tão admirável que nem a inferior foi absorvida por esta glorificação, nem a superior foi diminuída por esta assunção.
E assim, conservando-se a perfeita propriedade de uma e outra natureza, que subsistem numa só pessoa, a humildade é assumida pela majestade, a fraqueza pela força, a mortalidade pela eternidade; e para pagar a dívida contraída pela nossa condição pecadora, a natureza invulnerável une-se à natureza passível, e a condição de verdadeiro Deus e verdadeiro homem associa-se na pessoa única do Senhor; e assim, o único mediador entre Deus e os homens pôde, como exigia a nossa salvação, morrer segundo uma natureza e ressuscitar segundo a outra. Com razão, portanto, o nascimento do Salvador havia de conservar intacta a integridade virginal de sua Mãe, que salvaguardou a pureza, dando à luz a Verdade.
Tal era, caríssimos, o nascimento que convinha a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus, nascimento pelo qual Ele é semelhante a nós pela sua humanidade e superior a nós pela sua divindade. Na verdade, se não fosse Deus verdadeiro, não nos traria o remédio; se não fosse verdadeiro homem, não nos serviria de exemplo.
Por isso, quando nasceu o Senhor, os Anjos cantaram cheios de alegria Glória a Deus nas alturas e anunciaram paz na terra aos homens de boa vontade. Eles vêem, de facto, a celeste Jerusalém ser construída por todos os povos do mundo. E se tanto rejubilam os coros sublimes dos Anjos, qual não deve ser a alegria da nossa humilde condição humana perante tão inefável prodígio da bondade divina?

sábado, 14 de julho de 2018

Domingo XV do Tempo Comum - ano B - 15.julho.2018

São Camilo de Lellis, Presbítero

Nota biográfica:
       Nasceu perto de Chieti (Itália) no ano 1550; seguiu primeiramente a vida militar e, quando se converteu, consagrou-se ao cuidado dos enfermos. Terminados os seus estudos e ordenado sacerdote, fundou uma Congregação destinada a erigir hospitais e a atender os doentes. Morreu em Roma no ano 1614.

Oração de coleta:
       Senhor, que dotastes São Camilo de admirável caridade para com os doentes, infundi em nós o vosso espírito de amor, para que, tendo-Vos servido nos nossos irmãos, possamos, na hora da morte, ir em paz ao vosso encontro. Por Nosso Senhor.
Da Vida de São Camilo, escrita por um seu companheiro

Servindo o Senhor nos irmãos

Começarei pela santa caridade, raiz e complemento de todas as virtudes, que era familiar a Camilo mais do que qualquer outra. Ele vivia sempre inflamado no fogo desta santa virtude, não só para com Deus, mas também para com o próximo e especialmente para com os enfermos; era tão intensa que o simples facto de ver os enfermos era bastante para se enternecer no mais íntimo do coração e esquecer por completo todas as delícias, prazeres e afectos terrenos. Quando socorria qualquer enfermo, fazia-o com tanta bondade e compaixão que parecia esgotar-se e consumir-se até ao extremo das suas forças. De bom grado aceitaria para si todos os sofrimentos deles e qualquer outro mal, para os aliviar das suas dores ou curar das doenças.
Via nos enfermos a pessoa de Cristo com tão sentida emoção que muitas vezes, quando lhes dava de comer, considerando-os em sua alma como os seus «cristos», chegava a pedir-lhes a graça e o perdão dos pecados. Por isso estava diante deles com tanto respeito como se estivesse realmente na presença do próprio Senhor. De nada falava com tanta frequência e com tanto fervor como da santa caridade. O seu desejo seria infundi-la no coração de todos os homens.
Para inflamar os seus irmãos religiosos na prática desta virtude fundamental, costumava repetir-lhes aquelas dulcíssimas palavras de Cristo: Estava enfermo e viestes Visitar-Me. Parecia que ele tinha estas palavras verdadeiramente gravadas no seu coração, tal era a frequência com que as dizia e repetia.
A caridade de Camilo era tão grande e tornava-se a todos tão evidente que acolhia na piedade e benevolência do seu coração não só os enfermos e moribundos, mas também, de modo geral, todos os outros pobres e miseráveis. Finalmente, era tão forte o seu espírito de caridade para com os indigentes que costumava dizer: «Ainda que não se encontrassem pobres no mundo, conviria que alguém se dedicasse a ir à procura deles e a encontrá-los no seio da terra, a fim de lhes fazer bem e de praticar a misericórdia».

Não temais os que matam o corpo

       Disse Jesus aos seus apóstolos: "O discípulo não é superior ao mestre, nem o servo é superior ao seu senhor. Ao discípulo basta ser como o seu mestre e ao servo ser como o seu senhor... O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia; e o que escutais ao ouvido proclamai-o sobre os telhados. Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Temei antes Aquele que pode lançar na geena a alma e o corpo. Não se vendem dois passarinhos por uma moeda? E nem um deles cairá por terra sem consentimento do vosso Pai. Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Portanto, não temais: valeis muito mais do que todos os passarinhos. A todo aquele que se tiver declarado por Mim diante dos homens também Eu Me declararei por ele diante do meu Pai que está nos Céus. Mas àquele que Me negar diante dos homens, também Eu o negarei diante do meu Pai que está nos Céus" (Mt 10, 24-33).
       No Evangelho proposto para este Sábado, Jesus chama a atenção dos seus discípulos para que procurem em tudo imitar o Mestre e Senhor, para assim se manterem fiéis à vontade divina. Por outro lado, Jesus insiste, novamente, na proximidade de Deus: Deus preocupa-Se até com os passarinhos quanto mais pelo ser humano?!
       Nas recomendações aos enviados, a certeza de que o discípulos não é mais que o Mestre, e não precisa de ser mais, basta-lhe seguir as pisadas. E se o Mestre sofrerá também os discípulos passarão pelas mesmas provações.
       Advertindo para as dificuldades que poderão encontrar, Jesus remete para a confiança em Deus e para a definitividade de Deus. Os homens podem até matar, mas só Deus tem poder que ultrapassa os limites do tempo e do espaço, da história. Deus é garantia do nosso futuro, para lá da existência histórica.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Prudentes como as serpentes, simples como as pombas

       Disse Jesus aos seus Apóstolos: "Envio-vos como ovelhas para o meio de lobos. Portanto, sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Tende cuidado com os homens: hão-de entregar-vos aos tribunais e açoitar-vos nas sinagogas. Por minha causa, sereis levados à presença de governadores e reis, para dar testemunho diante deles e das nações. Quando vos entregarem, não vos preocupeis em saber como falar nem com o que dizer, porque nessa altura vos será sugerido o que deveis dizer; porque não sereis vós a falar, mas é o Espírito do vosso Pai que falará em vós" (Mt 10, 16-23).
        Jesus confronta os Seus apóstolos com as respetivas escolhas futuras. Ele chama-os e envia-os, mas não esconde que o seguimento não trará, humanamente falando, apenas alegria, factos extraordinários, prodígios realizados ou a realizar, trará também a perseguição, a calúnia, a prisão.
       A advertência de Jesus em relação à reação das pessoas é de prevenção e de confiança, para que os discípulos saibam o que vão encontrar e não se iludem nem positiva nem negativamente. E por isso Ele lhes diz para serem prudentes e simples, não embarcando em euforias mas não desanimando em nenhum situação. O Espírito de Deus estará com eles em todos os momentos. Deus estará com eles e o Espírito Santo os iluminará na hora de se apresentarem diante de governadores e réis, para darem testemunhos de Jesus Cristo e do Seu Evangelho de paz, de amor e de bem.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Recebestes de graça; dai de graça

       Disse Jesus aos seus Apóstolos: «Ide e proclamai que está próximo o reino dos Céus. Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, sarai os leprosos, expulsai os demónios. Recebestes de graça; dai de graça. Não adquirais ouro, prata ou cobre, para guardardes nas vossas bolsas; nem alforge para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado; porque o trabalhador merece o seu sustento. Quando entrardes em alguma cidade ou aldeia, procurai saber de alguém que seja digno e ficai em sua casa até partirdes daquele lugar. Ao entrardes na casa, saudai-a, e se for digna, desça a vossa paz sobre ela; mas se não for digna, volte para vós a vossa paz. Se alguém não vos receber nem ouvir as vossas palavras, saí dessa casa ou dessa cidade e sacudi o pó dos vossos pés. Em verdade vos digo que haverá mais tolerância, no dia do Juízo, para a terra de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade» (Mt 10, 7-15).
        O chamamento por parte de Jesus não é fixista, isto é, não é para acomodar aqueles que são chamados, é um chamamento ativo, corresponde a uma missão, a um envio. Jesus chama para enviar. Hoje no evangelho ouvimo-l'O a fazer as recomendações aos discípulos: anunciar o reino de Deus, curar os enfermos, expulsar os espíritos impuros, permanecendo leves, disponíveis para estar com as pessoas.
       Recebestes de graça, dai de graça. Os talentos que Deus nos dá são para partilhar, só assim têm valor e sentido. Se cruzarmos os braços, por mais talentos que tenhamos, de nada valem, é como se não existissem em nós.
       Enviados para levar a paz de Jesus Cristo, que está entranhada no coração. Não uma paz qualquer, uma paz imposta, mas a que brota do amor...
       O Evangelho é a expressão plena de que Deus em Jesus Cristo entra na humanidade, habita no meio de nós, mais, habita em nós. Os discípulos, ao serem enviados, levam esta boa nova de que o Reino de Deus chegou até nós.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

São Bento, Abade, Padroeiro da Europa

Nota biográfica por BENTO XVI:

       Festa de São Bento Abade, Padroeiro da Europa, um Santo que me é particularmente querido, como se pode intuir pela escolha que fiz do seu nome. Nascido em Núrsia por volta do ano 480, Bento fez os primeiros estudos em Roma mas, desiludido com a vida da cidade, retirou-se para Subiaco, onde permaneceu por cerca de três anos numa gruta o célebre "sacro speco" dedicando-se totalmente a Deus. Em Subiaco, servindo-se das ruínas de uma enorme vila do imperador Nero, ele, juntamente com os seus primeiros discípulos, construiu alguns mosteiros dando vida a uma comunidade fraterna fundada sobre a primazia do amor de Cristo, na qual a oração e o trabalho se alternavam harmoniosamente com o louvor a Deus. Alguns anos mais tarde, em Montecassino, deu forma concreta a este projecto, e escreveu-o na "Regra", a única obra sua que chegou até nós. Entre as cinzas do Império Romano, Bento, procurando antes de tudo o Reino de Deus, lançou, talvez sem se aperceber, a semente de uma nova civilização que se teria desenvolvido, integrando por um lado, os valores cristãos com a herança clássica e, por outro, as culturas germânica e eslava.
       Há um aspecto típico da sua espiritualidade, que hoje gostaria de realçar de modo especial. Bento não fundou uma instituição monástica finalizada principalmente à evangelização dos povos bárbaros, como outros grandes monges missionários da época, mas indicou aos seus seguidores como finalidade fundamental, aliás única da existência, a busca de Deus: "Quaerere Deum". Mas ele sabia que quando o crente entra em relação profunda com Deus não pode contentar-se com viver de maneira medíocre seguindo uma ética minimalista e uma religiosidade superficial. Nesta luz, compreende-se então melhor a expressão que Bento tirou de São Cipriano e que sintetiza na sua Regra (IV, 21) o programa de vida dos monges: "Nihil amori Christi praeponere", "Nada antepor ao amor de Cristo". Consiste nisto a santidade, proposta válida para cada cristão que se tornou uma verdadeira urgência pastoral nesta nossa época na qual se sente a necessidade de ancorar a vida e a história em referências espirituais firmes.
       Maria Santíssima, que viveu em profunda e constante comunhão com Cristo, é modelo sublime e perfeito de santidade. Invoquemos a sua intercessão, juntamente com a de São Bento, para que o Senhor multiplique também na nossa época homens e mulheres que, através de uma fé iluminada, testemunhada com a vida, sejam neste novo milénio sal da terra e luz do mundo.
Oração de Colecta:
       Senhor nosso Deus, que fizestes de São Bento um mestre insigne na escola do serviço divino, concedei-nos que, preferindo a todas as coisas o vosso amor, avancemos de coração alegre e generoso pelo caminho dos vossos mandamentos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Da regra de São Bento, abade

Nada absolutamente anteponham a Cristo

Em primeiro lugar, qualquer obra que empreenderes, com instantíssima oração hás de pedir a Deus que a leve a bom termo; de modo que havendo-Se dignado contar-nos entre o número dos seus filhos, não tenha alguma vez de Se entristecer por causa das nossas más acções. Com efeito, devemos em todo o tempo pôr ao seu serviço os bens que em nós depositou, para não suceder que Ele, como pai irado, venha a deserdar os seus filhos, ou como tremendo Senhor irritado com os nossos pecados, nos entregue a penas eternas, como servos perversos que O não quiseram seguir para a glória.
Levantemo-nos, então, por uma vez, como nos convida a Escritura: Já é tempo de nos levantarmos do sono. Abramos os olhos para a luz divinizante e, de ouvidos atentos, escutemos a exortação que todos os dias nos dirige a voz divina: Se hoje ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações; e ainda: Quem tem ouvidos para ouvir, escute o que o Espírito diz às Igrejas.
E que diz Ele? Vinde, filhos, escutai-me; ensinar-vos-ei o temor do Senhor. Correi, enquanto tendes a luz da vida, para que não vos surpreendam as trevas da morte.
E o Senhor, ao buscar o seu operário na multidão do povo a quem dirige estas palavras, diz ainda: Qual é o homem que quer a vida e deseja ver dias felizes? E se tu, ao ouvires este convite, responderes: «Eu», Deus te dirá: «Se queres alcançar a verdadeira e perpétua vida, guarda do mal a tua língua e da mentira os teus lábios; evita o mal e faz o bem; procura a paz e segue-a. E quando isto fizerdes, estarão então os meus olhos sobre vós e os meus ouvidos atentos às vossas preces; e ainda antes que chameis por Mim, vos direi: Aqui estou».
Que há de mais doce para nós, irmãos caríssimos, do que esta voz do Senhor que nos convida? Vede como o Senhor, na sua piedade, nos mostra o caminho da vida.
Cinjamos, pois, os nossos rins com a fé e com a prática das boas obras; conduzidos pelo Evangelho, avancemos pelos seus caminhos, a fim de merecermos contemplar Aquele que nos chamou para o seu reino. Se queremos habitar na mansão do seu reino, saibamos que a não poderemos atingir senão pelo caminho das boas obras.
Assim como há um zelo mau de amargura, que afasta de Deus e leva ao inferno, assim também há um zelo bom, que aparta dos vícios e conduz a Deus e à vida eterna. É este zelo que, com ardentíssimo amor, devem exercitar os monges, quer dizer: antecipem-se uns aos outros na estima recíproca; suportem com muita paciência as suas enfermidades, físicas ou morais; rivalizem em prestar mútua obediência; ninguém procure o que julga útil para si, mas antes o que o é para os outros; amem-se mutuamente com pura caridade fraterna; vivam sempre no temor e no amor de Deus; amem o seu abade com sincera e humilde caridade; nada absolutamente anteponham a Cristo, o qual nos conduza todos juntos à vida eterna.
FONTES:
Secretariado Nacional da Liturgia
BENTO XVI - Festa de São Bento - 10 de junho de 2005.
Audiência Geral de 9 de abril de 2008 sobre São BENTO.
Estes dois textos podem também ser encontrados em:
BENTO XVI, A Santidade não passa de moda. Editorial Franciscana, Braga 2010

terça-feira, 10 de julho de 2018

A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos

       Apresentaram a Jesus um mudo possesso do demónio. Logo que o demónio foi expulso, o mudo falou.
       A multidão ficou admirada e dizia: «Nunca se viu coisa semelhante em Israel». Mas os fariseus diziam: «É pelo príncipe dos demónios que Ele expulsa os demónios».
        Jesus percorria todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino e curando todas as doenças e enfermidades. Ao ver as multidões, encheu-Se de compaixão, porque andavam fatigadas e abatidas, como ovelhas sem pastor. Jesus disse então aos seus discípulos: «A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara» (Mt 9, 32-38).
        A missão de Jesus é constante. Por vezes ficam apenas escassos momentos para descansar, retirando-se para lugares isolados, com uma multidão que procura adivinhar onde Ele está. Percorre cidades e aldeias. Vai ao encontro das pessoas, nas sinagogas, lugares de oração, de escuta da Palavra de Deus, de reflexão, aos campos, às praças. Definitivamente vai, vem, ao encontro das pessoas. Hoje, fá-lo através de nós, sempre e quando nos predispomos amar ao jeito que Ele amava.
       Anuncia o Reino de Deus, cura doenças e enfermidades.
       Também nós, do mesmo modo, em palavras e em atos, somos enviados a anunciar este reino de paz, de justiça e de amor. Também nós possuímos um poder curativo. Como o utilizamos? Quando vêm até nós, contribuímos para a saúde e a alegria daqueles que vêm?
       No reino de Deus há lugar para todos. Todos são necessários, todos são sempre poucos...A seara é grande... No reino de Deus todos figuram como intervenientes principais. A seara é grande... Deus quer precisar de todos nós. Criou-nos livres, salva-nos na nossa liberdade, no nosso sim. Todos somos chamados. Cabe a cada um responder à chamada, com as palavras e a vida. Cabe a cada um acolher o Seu Espírito Santificador...

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Tem confiança, minha filha. A tua fé te salvou

       Estava Jesus a falar aos seus discípulos, quando um chefe se aproximou e se prostrou diante d’Ele, dizendo: «A minha filha acaba de falecer. Mas vem impor a mão sobre ela e viverá». Jesus levantou-Se e acompanhou-o com os discípulos. Entretanto, uma mulher que sofria um fluxo de sangue havia doze anos, aproximou-se por detrás d’Ele e tocou-Lhe na fímbria do manto, pensando consigo: «Se eu ao menos Lhe tocar no manto, ficarei curada». Mas Jesus voltou-Se e, ao vê-la, disse-lhe: «Tem confiança, minha filha. A tua fé te salvou». E a partir daquele momento a mulher ficou curada. Ao chegar a casa do chefe e ao ver os tocadores de flauta e a multidão em grande alvoroço, Jesus disse-lhes: «Retirai-vos, porque a menina não morreu; está a dormir». Riram-se d’Ele. Mas quando mandou sair a multidão, Jesus entrou, tomou a menina pela mão e ela levantou-se. E a notícia divulgou-se por toda aquela terra (Mt 9, 18-26)
       Dois episódios que se entrelaçam, mas que mostram a força que brota do amor de Deus por nós, e da fé como abertura aos dons divinos. Um chefe dos judeus aproxima-se de Jesus clamando para que Jesus intervenha. A minha filha morreu, mas se Tu lhe impuseres as mãos ela viverá. A certeza e a confiança deste homem em Jesus. E não sairá defraudado, Jesus atende-os, sublinhando dessa forma a resposta dada à fé e pela fé em Deus.
       É nesta mesmo prerrogativa, que pelo caminho, Jesus dará a força d'Ele para curar uma mulher que vivia atormentada por um fluxo de sangue que a afastava do convívio social e até da religião. Jesus é a sua última esperança, talvez devesse ser a primeira, para ela e para nós.
       Neste dois gestos se sublinha a bondade de Deus. Ele, em Jesus Cristo, vem para nos salvar, para nos restituir ao bem e à felicidade, à harmonia, para que tenhamos vida em abundância.

sábado, 7 de julho de 2018

Domingo XIV do Tempo Comum - ano B - 8.julho.2018

Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho

        Os discípulos de João Baptista foram ter com Jesus e perguntaram-Lhe: «Por que motivo nós e os fariseus jejuamos e os teus discípulos não jejuam?». Jesus respondeu-lhes: «Podem os companheiros do esposo ficar de luto, enquanto o esposo estiver com eles? Dias virão em que o esposo lhes será tirado: nesses dias jejuarão. Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho, porque o remendo repuxa o vestido e o rasgão fica maior. Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás, os odres rebentam, derrama-se o vinho e perdem-se os odres. Mas deita-se o vinho novo em odres novos e assim ambas as coisas se conservam» (Mt 9, 14-17).
        São novos os tempos, novos devem ser os comportamentos, as atitudes.
       Não se põe panos novo em vestido velho, pois este seria repuxado por aquele. Nem vinho novo em odres velhos. Este é o tempo novo da graça e da salvação, é tempo de Jesus Cristo que vive na Igreja e no mundo pelo Espírito Santo e pelo compromisso dos cristãos, dos crentes. Não bastam pequenos remendos, é necessário um vestido novo, uma nova linguagem, uma nova postura.
       Os discípulos de João que vão ter com Jesus veem-n'O como mais um entre outros, que vem para cimentar o que já existe e para confirmar o que outros já deram a conhecer. Na resposta de Jesus, a certeza que Ele vem não apenas para renovar o existente, para para trazer a novidade de Deus. Deus no meio de nós.
       É-nos dado um tempo de graça, não o desperdicemos com tradições ou costumes que nos fechem à novidade de Deus.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Prefiro a misericórdia ao sacrifício

       Jesus ia a passar, quando viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança dos impostos, e disse-lhe: «Segue-Me». Ele levantou-se e seguiu Jesus. Um dia em que Jesus estava à mesa em casa de Mateus, muitos publicanos e pecadores vieram sentar-se com Ele e os seus discípulos. Vendo isto, os fariseus diziam aos discípulos: «Por que motivo é que o vosso Mestre come com os publicanos e os pecadores?». Jesus ouviu-os e respondeu: «Não são os que têm saúde que precisam do médico, mas sim os doentes. Ide aprender o que significa: ‘Prefiro a misericórdia ao sacrifício’. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores» (Mt 9, 9-13).
       O chamamento de Mateus mostra como Jesus não é preconceituoso e como não segue a opinião geral. Cada vez que chama alguém não o faz pelas qualidades pessoais mas pelo que poderão vir a ser. Neste sentido, o mais importante é a disponibilidade humilde para acolher o desafio de Jesus Cristo.
       No Evangelho destaca-se também que a salvação não é discriminatória (preconceituosa) mas é para todos. A preferência é dada aos pobres, aos humildes, aos pecadores, não para excluir, mas precisamente para a todos incluir.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Os teus pecados estão perdoados! Levanta-te...

        Jesus subiu para um barco, atravessou o mar e foi para a cidade de Cafarnaum. Apresentaram-Lhe então um paralítico que jazia numa enxerga. Ao ver a fé daquela gente, Jesus disse ao paralítico: «Filho, tem confiança; os teus pecados estão perdoados». Alguns escribas disseram para consigo: «Este homem está a blasfemar». Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse: «Porque pensais mal em vossos corações? Na verdade, que é mais fácil: dizer: ‘Os teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te e anda’? Pois bem. Para saberdes que o Filho do homem tem na terra o poder de perdoar os pecados, ‘Levanta-te – disse Ele ao paralítico – toma a tua enxerga e vai para casa’». O homem levantou-se e foi para casa. Ao ver isto, a multidão ficou cheia de temor e glorificava a Deus por ter dado tal poder aos homens (Mt 9, 1-8).
        Por vezes o que nos paralisa tem pouco de físico como o medo, o pecado, o remorso, uma consciência pesada e culpabilizante. Jesus diz claramente que as doenças não são consequência do pecado, nem do próprio nem dos pais. Deus não castiga. Mas por vezes, nós castigamo-nos, adoecemos, tornamos físico o que era moral ou psicológico. E Jesus liberta-nos de todo o tipo de prisões.
       Só Deus pode perdoar os pecados. É uma verdade para o mundo judaico, mas também para o mundo cristão. Jesus perdoa os pecados. Conclusão: Jesus é Deus. Ou, na observação dos judeus que O ouviam, faz-Se passar por Deus e isso é blasfémia.
       A multidão dos simples, daqueles e daquelas que abrem o coração ao futuro de Deus, rejubila com as maravilhas operadas através de Jesus Cristo. Hoje, Jesus continua a agir na Igreja e no mundo, através de nós.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Santa Isabel de Portugal

Nota biográfica:
       Filha dos reis de Aragão, nasceu em Saragoça, Espanha, em 1271. Uniu-se em matrimónio ao nosso Rei D. Dinis, em 1282, e vem viver para Portugal. Teve dois filhos. Dedicou-se de modo singular à oração e às obras de misericórdia, e suportou infortúnios e dificuldades com grande fortaleza de ânimo. É tida como um anjo de paz, no seio da família real, mas sobretudo reconhecida pela atividade a favor dos necessitados, especialmente durante a grande fome de 1333.
       Depois da morte de seu marido, D. Dinis, em 1325, distribuiu os seus bens pelos pobres fixa-se no Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, tomando o hábito da Ordem Terceira de Santa Clara, e dedicando-se à oração e aos pobres.
       Morreu em 4 de Julho de 1336, quando mediava o conflito entre o seu filho e o seu genro. Foi canonizada pelo Papa Urbano VIII, em 25 de Maio de 1625.

Oração de Coleta: 
       "Senhor nosso Deus, fonte de paz e de amor, que deste a Santa Isabel de Portugal o dom de reconciliar os homens desavindos, concedei-nos, por sua intercessão, a graça de trabalhar ao serviço da paz para sermos chamados filhos de Deus. Por Nosso Senhor..."
De um Sermão atribuído a São Pedro Crisólogo, bispo

Bem-aventurados os pacíficos

Diz o Evangelista: Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus. Com razão florescem as virtudes cristãs naquele que possui a harmonia da paz cristã, porque não merecem o nome de filhos de Deus senão os que trabalham pela paz.
É a paz, caríssimos, que liberta o homem da sua condição de escravo e lhe dá o título de livre, que muda a sua condição perante Deus, transformando-o de servo em filho, de escravo em homem livre. A paz entre os irmãos é a realização da vontade de Deus, a alegria de Cristo, a perfeição da santidade, a norma da justiça, a mestra da doutrina, a guarda dos bons costumes e a justa ordem em todas as coisas. A paz é a recomendação das nossas orações, o caminho mais fácil e eficaz para as nossas súplicas, a realização perfeita de todos os nossos desejos. A paz é a mãe do amor, o vínculo da concórdia e o claro indício da pureza da alma, capaz de exigir de Deus tudo o que quer: pede tudo o que quer e recebe tudo o que pede. A paz deve conservar-se a todo o custo, segundo os mandamentos do nosso Rei. É o que diz Cristo nosso Senhor: Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. O que equivale a dizer: «Deixo-vos em paz, em paz vos quero encontrar». Ele quis dar, ao partir, aquilo que deseja encontrar em todos no seu regresso.
É mandamento do Céu conservarmos a paz que nos foi dada; uma só palavra resume o que desejou Cristo na despedida: voltar a encontrar o que nos deixou. Plantar e enraizar a paz é obra de Deus; arrancá-la de raiz é obra do Inimigo. Porque, assim como o amor fraterno provém de Deus, assim o ódio vem do demónio. Por isso devemos apartar de nós toda a espécie de ódio, pois está escrito: Quem odeia o seu irmão é homicida.
Vedes portanto, amados irmãos, a razão por que devemos amar a paz e estimar a concórdia: são elas que geram e alimentam a caridade. Sabeis, como diz o Apóstolo, que a caridade vem de Deus. Está, portanto, longe de Deus quem não tem caridade.
Por conseguinte, irmãos, guardemos estes mandamentos que são fonte de vida, Procuremos conservar-nos sempre unidos no amor fraterno pelos laços duma paz profunda e fortalecer o amor recíproco mediante o salutar vínculo da paz, que cobre a multidão dos pecados. Seja a maior aspiração da nossa alma este amor fraterno, que traz consigo todo o bem e todo o prémio. A paz é virtude que devemos conservar com grande empenho, porque onde há paz aí habita Deus.
Amai a paz e em tudo encontrareis tranquilidade de espírito. Deste modo assegurareis o nosso prémio e a vossa alegria, e a Igreja de Deus, fundada na unidade da paz, manter-se-á fiel aos ensinamentos de Cristo.

terça-feira, 3 de julho de 2018

São TOMÉ, Apóstolo

Nota Biográfica:
       Tomé é conhecido entre os Apóstolos especialmente pela sua incredulidade que se desvaneceu na presença de Cristo ressuscitado; ele proclamou a fé pascal da Igreja: «Meu Senhor e meu Deus». Sobre a sua vida nada se sabe ao certo, além dos pormenores contidos no Evangelho. Diz-se que pregou o Evangelho na Índia. Desde o séc. VI celebra-se no dia 3 de Julho a memória da trasladação do seu corpo para Edessa.

Jesus disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente».
Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!».
Disse-lhe Jesus: Porque me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto».

Oração (coleta):
       Concedei-nos, Deus omnipotente, a graça de celebrar com alegria a festa do apóstolo São Tomé, de modo que, ajudados pela sua intercessão, tenhamos a vida pela fé em Jesus Cristo, que ele reconheceu como Senhor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

BENTO XVI sobre SÃO TOMÉ

Queridos irmãos e irmãs!
Prosseguindo os nossos encontros com os doze Apóstolos escolhidos diretamente por Jesus, hoje dedicamos a nossa atenção a Tomé. Sempre presente nas quatro listas contempladas pelo Novo Testamento, ele, nos primeiros três Evangelhos, é colocado ao lado de Mateus (cf. Mt 10, 3; Mc3, 18; Lc 6, 15), enquanto nos Actos está próximo de Filipe (cf. Act 1, 13). O seu nome deriva de uma raiz hebraica, ta'am, que significa "junto", "gémeo". De facto, o Evangelho chama-o várias vezes com o sobrenome de "Dídimo" (cf. Jo 11, 16; 20, 24; 21, 2), que em grego significa precisamente "gémeo". Não é claro o porquê deste apelativo.
Sobretudo o Quarto Evangelho oferece-nos informações que reproduzem alguns traços significativos da sua personalidade. O primeiro refere-se à exortação, que ele fez aos outros Apóstolos, quando Jesus, num momento crítico da sua vida, decidiu ir a Betânia para ressuscitar Lázaro, aproximando-se assim perigosamente de Jerusalém (cf. Mc 10, 32). Naquela ocasião Tomé disse aos seus condiscípulos: "Vamos nós também, para morrermos com Ele" (Jo 11, 16).
Esta sua determinação em seguir o Mestre é deveras exemplar e oferece-nos um precioso ensinamento: revela a disponibilidade total a aderir a Jesus, até identificar o próprio destino com o d'Ele e querer partilhar com Ele a prova suprema da morte. De facto, o mais importante é nunca separar-se de Jesus. Por outro lado, quando os Evangelhos usam o verbo "seguir" é para significar que para onde Ele se dirige, para lá deve ir também o seu discípulo. Deste modo, a vida cristã define-se como uma vida com Jesus Cristo, uma vida a ser transcorrida juntamente com Ele. São Paulo escreve algo semelhante, quando tranquiliza os cristãos de Corinto com estas palavras: "estais no nosso coração para a vida e para a morte" (2 Cor 7, 3). O que se verifica entre o Apóstolo e os seus cristãos deve, obviamente, valer antes de tudo para a relação entre os cristãos e o próprio Jesus: morrer juntos, viver juntos, estar no seu coração como Ele está no nosso.
Uma segunda intervenção de Tomé está registada na Última Ceia. Naquela ocasião Jesus, predizendo a sua partida iminente, anuncia que vai preparar um lugar para os discípulos para que também eles estejam onde Ele estiver; e esclarece: "E, para onde Eu vou, vós sabeis o caminho"(Jo 14, 4). É então que Tomé intervém e diz: "Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos nós saber o caminho?" (Jo 14, 5). Na realidade, com esta expressão ele coloca-se a um nível de compreensão bastante baixo; mas estas suas palavras fornecem a Jesus a ocasião para pronunciar a célebre definição: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14, 6). Portanto, Tomé é o primeiro a quem é feita esta revelação, mas ela é válida também para todos nós e para sempre. Todas as vezes que ouvimos ou lemos estas palavras, podemos colocar-nos com o pensamento ao lado de Tomé e imaginar que o Senhor fala também connosco como falou com ele.
Ao mesmo tempo, a sua pergunta confere também a nós o direito, por assim dizer, de pedir explicações a Jesus. Com frequência nós não o compreendemos. Temos a coragem para dizer: não te compreendo, Senhor, ouve-me, ajuda-me a compreender. Desta forma, com esta franqueza que é o verdadeiro modo de rezar, de falar com Jesus, exprimimos a insuficiência da nossa capacidade de compreender, ao mesmo tempo colocamo-nos na atitude confiante de quem espera luz e força de quem é capaz de as doar.
Depois, muito conhecida e até proverbial é a cena de Tomé incrédulo, que aconteceu oito dias depois da Páscoa. Num primeiro momento, ele não tinha acreditado em Jesus que apareceu na sua ausência, e dissera: "Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito" (Jo 20, 25). No fundo, destas palavras sobressai a convicção de que Jesus já é reconhecível não tanto pelo rosto quanto pelas chagas. Tomé considera que os sinais qualificadores da identidade de Jesus são agora sobretudo as chagas, nas quais se revela até que ponto Ele nos amou. Nisto o Apóstolo não se engana. Como sabemos, oito dias depois Jesus aparece no meio dos seus discípulos, e desta vez Tomé está presente. E Jesus interpela-o: "Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!" (Jo 20, 27). Tomé reage com a profissão de fé mais maravilhosa de todo o Novo Testamento: "Meu Senhor e meu Deus!" (Jo 20, 28). A este propósito, Santo Agostinho comenta: Tomé via e tocava o homem, mas confessava a sua fé em Deus, que não via nem tocava. Mas o que via e tocava levava-o a crer naquilo de que até àquele momento tinha duvidado" (In Iohann. 121, 5). O evangelista prossegue com uma última palavra de Jesus a Tomé: "Porque me viste, acreditaste. Felizes os que, sem terem visto, crerão" (cf. Jo 20, 29). Esta frase também se pode conjugar no presente; "Bem-aventurados os que crêem sem terem visto".
Contudo, aqui Jesus enuncia um princípio fundamental para os cristãos que virão depois de Tomé, portanto para todos nós. É interessante observar como o grande teólogo medieval Tomás de Aquino, compara com esta fórmula de bem-aventurança aquela aparentemente oposta citada por Lucas: "Felizes os olhos que vêem o que estais a ver" (Lc 10, 23). Mas o Aquinate comenta: "Merece muito mais quem crê sem ver do que quem crê porque vê" (In Johann. XX lectio VI 2566). De facto, a Carta aos Hebreus, recordando toda a série dos antigos Patriarcas bíblicos, que acreditaram em Deus sem ver o cumprimento das suas promessas, define a fé como "fundamento das coisas que se esperam e comprovação das que não se vêem" (11, 1). O caso do Apóstolo Tomé é importante para nós pelo menos por três motivos: primeiro, porque nos conforta nas nossas inseguranças; segundo porque nos demonstra que qualquer dúvida pode levar a um êxito luminoso além de qualquer incerteza; e por fim, porque as palavras dirigidas a ele por Jesus nos recordam o verdadeiro sentido da fé madura e nos encorajam a prosseguir, apesar das dificuldades, pelo nosso caminho de adesão a Ele.
Uma última anotação sobre Tomé é-nos conservada no Quarto Evangelho, que o apresenta como testemunha do Ressuscitado no momento seguinte à pesca milagrosa no Lago de Tiberíades (cf. Jo21, 2). Naquela ocasião ele é mencionado inclusivamente logo depois de Simão Pedro: sinal evidente da grande importância de que gozava no âmbito das primeiras comunidades cristãs. Com efeito, em seu nome foram escritos depois os Atos e o Evangelho de Tomé, ambos apócrifos mas contudo importantes para o estudo das origens cristãs. Por fim recordamos que segundo uma antiga tradição, Tomé evangelizou primeiro a Síria e a Pérsia (assim refere já Orígenes, citado por Eusébio de Cesareia, Hist. eccl. 3, 1) depois foi até à Índia ocidental (cf. Atos de Tomé 1-2 e 17ss.), de onde enfim alcançou também a Índia meridional. Nesta perspectiva missionária terminamos a nossa reflexão, expressando votos de que o exemplo de Tomé corrobore cada vez mais a nossa fé em Jesus Cristo, nosso Senhor e nosso Deus.
in Audiência Geral, 27 de Setembro de 2006: AQUI.