sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Festa de Santo André, Apóstolo

Nota biográfica:
       André é irmão de Simão Pedro e é natural de Betsaida.
       O nome é de origem grega e não hebraica. Na lista dos Apóstolos aparece em segundo lugar, e outras vezes em quarto. Gozava de um enorme prestígio nas comunidades cristãs do início. É, juntamente com Pedro, dos primeiros a ser chamado por Jesus: "Caminhando ao longo do mar da galileia, Jesus viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar. Disse-lhes: «Vinde comigo e Eu farei de vós pescadores de homens»" (Mt 4, 18-19; Mc 1, 16-17). O quarto Evangelho dá-nos a informação que ele foi primeiramente discípulo de João Baptista e depois seguiu a Cristo, a quem apresentou também seu irmão Pedro (Jo 1, 36-43).
       A Igreja Bizantina honra-o como Protóklitos, isto é o primeiro chamado por Jesus.
       Os Evangelho apresentam André em outras ocasiões: aquando da multiplicação dos pães, dizendo a Jesus que havia um jovem que tinha cinco pães de cevada e dois peixes, mas insuficiente para tanta gente (Jo 6, 8-9); quando Jesus refere que do Templo não ficará pedra sobre pedra, apesar da solidez da construção, então juntamente com Pedro e João, André interroga Jesus: "Diz-nos quando isto acontecerá e qual o sinal de que tudo está para acabar?" (Mc 13, 1-4); próximo da Páscoa, antes da Paixão, vêm à cidade alguns gregos e manifestam o desejo de ver Jesus e é André e Filipe que servem de intérpretes (Jo 12, 23-24). Depois do Pentecostes, segundo uma tradição, pregou em diversas regiões e foi crucificado na Acaia.
       A tradição narra a morte de André em Petrasso, onde sofreu o suplício da crucifixão e à semelhança de Pedro pediu para ser crucificado de maneira diferente á do Mestre, tendo sido crucificado numa cruz decussada, cruzada transversalmente e inclinada, e que ficou conhecida como a "cruz de Santo André".
       Portanto, diz-nos o Papa Bento XVI, "o apóstolo André ensina-nos a seguir Jesus com prontidão (cf (Mt 4,20; Mc 1, 18), a falar com entusiasmo d'Ele a quantos encontrarmos, e sobretudo a cultivar com Ele um relacionamento de verdadeira familiaridade, bem conscientes de que só n'Ele podemos encontrar o sentido último da nossa vida e da nossa morte".

Oração de coleta:
       Nós Vos suplicamos, Deus omnipotente, que, assim como o apóstolo Santo André foi na terra pregador do Evangelho e pastor da vossa Igreja, seja também no Céu poderoso intercessor junto de Vós. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo

BENTO XVI SOBRE SANTO ANDRÉ, o Protóklitos 
Queridos irmãos e irmãs!
Nas últimas duas catequeses falámos da figura de São Pedro. Agora queremos, na medida em que as fontes o permitem, conhecer mais de perto também os outros onze Apóstolos. Portanto, falamos hoje do irmão de Simão Pedro, Santo André, também ele um dos Doze. A primeira característica que em André chama a atenção é o nome: não é hebraico, como teríamos pensado, mas grego, sinal de que não deve ser minimizada uma certa abertura cultural da sua família. Estamos na Galileia, onde a língua e a cultura gregas estão bastante presentes. Nas listas dos Doze, André ocupa o segundo lugar, como em Mateus (10, 1-4) e em Lucas (6, 13-16), ou o quarto lugar como em Marcos (3, 13-18) e nos Actos (1, 13-14). Contudo, ele gozava certamente de grande prestígio nas primeiras comunidades cristãs.
O laço de sangue entre Pedro e André, assim como a comum chamada que Jesus lhes faz, sobressaem explicitamente nos Evangelhos. Neles lê-se: "Caminhando ao longo do mar da Galileia, Jesus viu os dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes: "Vinde comigo e Eu farei de vós pescadores de homens"" (Mt 4, 18-19; Mc 1, 16-17). Do Quarto Evangelho tiramos outro pormenor: num primeiro momento, André era discípulo de João Baptista; e isto mostra-nos que era um homem que procurava, que partilhava a esperança de Israel, que queria conhecer mais de perto a palavra do Senhor, a realidade do Senhor presente. Era verdadeiramente um homem de fé e de esperança; e certa vez, de João Baptista ouviu proclamar Jesus como "o cordeiro de Deus" (Jo 1, 36); então ele voltou-se e, juntamente com outro discípulo que não é nomeado, seguiu Jesus, Aquele que era chamado por João o "Cordeiro de Deus". O evangelista narra: eles "viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia" (Jo 1, 37-39). Portanto, André viveu momentos preciosos de familiaridade com Jesus.
A narração continua com uma anotação significativa: "André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. Encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: "Encontramos o Messias" que quer dizer Cristo. E levou-o até Jesus" (Jo 1, 40-43), demonstrando imediatamente um espírito apostólico não comum. Portanto, André foi o primeiro dos Apóstolos a ser chamado para seguir Jesus. Precisamente sobre esta base a liturgia da Igreja Bizantina o honra com o apelativo de Protóklitos, que significa exactamente "primeiro chamado". E não há dúvida de que devido ao relacionamento fraterno entre Pedro e André a Igreja de Roma e a Igreja de Constantinopla se sentem irmãs entre si de modo especial. Para realçar este relacionamento, o meu Predecessor, o Papa Paulo VI, em 1964, restituiu as insignes relíquias de Santo André, até então conservadas na Basílica Vaticana, ao Bispo metropolita Ortodoxo da cidade de Patrasso na Grécia, onde segundo a tradição o Apóstolo foi crucificado.
As tradições evangélicas recordam particularmente o nome de André noutras três ocasiões, que nos fazem conhecer um pouco mais este homem. A primeira é a da multiplicação dos pães na Galileia. Naquele momento foi André quem assinalou a Jesus a presença de um jovem que tinha cinco pães de cevada e dois peixes: era muito pouco observou ele para todas as pessoas reunidas naquele lugar (cf. Jo 6, 8-9). Merece ser realçado, neste caso, o realismo de André: ele viu o jovem portanto já se tinha perguntado: "mas o que é isto para tantas pessoas?" (ibid.) mas apercebeu-se da insuficiência dos seus poucos recursos. Contudo, Jesus soube fazê-los bastar para a multidão de pessoas que vieram ouvi-lo. A segunda ocasião foi em Jerusalém. Saindo da cidade, um discípulo fez notar a Jesus o espectáculo dos muros sólidos sobre os quais o Templo se apoiava. A resposta do Mestre foi surpreendente: disse que não teria ficado em pé nem sequer uma pedra daqueles muros. Então André, juntamente com Pedro, Tiago e João, interrogou-o: "Diz-nos quando tudo isto acontecerá e qual o sinal de que tudo está para acabar" (Mc 13, 1-4).
Para responder a esta pergunta Jesus pronunciou um importante discurso sobre a destruição de Jerusalém e sobre o fim do mundo, convidando os seus discípulos a ler com atenção os sinais do tempo e a permanecer sempre vigilantes. Podemos deduzir deste episódio que não devemos ter receio de fazer perguntas a Jesus, mas ao mesmo tempo devemos estar prontos para receber os ensinamentos, até surpreendentes e difíceis, que Ele nos oferece.
Por fim, nos Evangelhos está registrada uma terceira iniciativa de André. O Cenário ainda é Jerusalém, pouco antes da Paixão. Para a festa da Páscoa narra João tinham vindo à cidade santa alguns Gregos, provavelmente prosélitos ou tementes a Deus, que vinham para adorar o Deus de Israel na festa da Páscoa. André e Filipe, os dois apóstolos com nomes gregos, servem como intérpretes e mediadores deste pequeno grupo de Gregos junto de Jesus. A resposta do Senhor à sua pergunta parece como muitas vezes no Evangelho de João enigmática, mas precisamente por isso revela-se rica de significado. Jesus diz aos dois discípulos e, através deles, ao mundo grego: "Chegou a hora de se revelar a glória do Filho do Homem. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto" (12, 23-24).
O que significam estas palavras neste contexto? Jesus quer dizer: sim, o encontro entre mim e os Gregos terá lugar, mas não como simples e breve diálogo entre mim e algumas pessoas, estimuladas sobretudo pela curiosidade. Com a minha morte, comparável à queda na terra de um grão de trigo, chagará a hora da minha glorificação. A minha morte na cruz originará grande fecundidade: o "grão de trigo morto" símbolo de mim crucificado tornar-se-á na ressurreição pão de vida para o mundo; será luz para os povos e para as culturas. Sim, o encontro com a alma grega, com o mundo grego, realizar-se-á naquela profundidade à qual faz alusão a vicissitude do grão de trigo que atrai para si as forças da terra e do céu e se torna pão. Por outras palavras, Jesus profetiza a Igreja dos gregos, a Igreja dos pagãos, a Igreja do mundo como fruto da sua Páscoa.
Tradições muito antigas vêem em André, o qual transmitiu aos gregos esta palavra, não só o intérprete de alguns Gregos no encontro com Jesus agora recordado, mas consideram-no como apóstolo dos Gregos nos anos que sucederam ao Pentecostes; fazem-nos saber que no restante da sua vida ele foi anunciador e intérprete de Jesus para o mundo grego. Pedro, seu irmão, de Jerusalém, passando por Antioquia, chegou a Roma para aí exercer a sua missão universal; André, ao contrário, foi o apóstolo do mundo grego: assim, eles são vistos, na vida e na morte, como verdadeiros irmãos uma irmandade que se exprime simbolicamente no relacionamento especial das Sedes de Roma e de Constantinopla, Igrejas verdadeiramente irmãs.
Uma tradição sucessiva, como foi mencionado, narra a morte de André em Patrasso, onde também ele sofreu o suplício da crucifixão. Mas, naquele momento supremo, de modo análogo ao do irmão Pedro, ele pediu para ser posto numa cruz diferente da de Jesus. No seu caso tratou-se de uma cruz decussada, isto é, cruzada transversalmente inclinada, que por isso foi chamada "cruz de Santo André". Eis o que o Apóstolo dissera naquela ocasião, segundo uma antiga narração (início do século VI) intituladaPaixão de André: "Salve, ó Cruz, inaugurada por meio do corpo de Cristo e que se tornou adorno dos seus membros, como se fossem pérolas preciosas. Antes que o Senhor fosse elevado sobre ti, tu incutias um temor terreno.
Agora, ao contrário, dotada de um amor celeste, és recebida como um dom. Os crentes sabem, a teu respeito, quanta alegria possuis, quantos dons tens preparados. Portanto, certo e cheio de alegria venho a ti, para que também tu me recebas exultante como discípulo daquele que em ti foi suspenso... Ó Cruz bem-aventurada, que recebestes a majestade e a beleza dos membros do Senhor!... Toma-me e leva-me para longe dos homens e entrega-me ao meu Mestre, para que por teu intermédio me receba quem por ti me redimiu. Salve, ó Cruz; sim, salve verdadeiramente!".
Como se vê, há aqui uma profundíssima espiritualidade cristã, que vê na Cruz não tanto um instrumento de tortura como, ao contrário, o meio incomparável de uma plena assimilação ao Redentor, ao grão de trigo que caiu na terra. Nós devemos aprender disto uma lição muito importante: as nossas cruzes adquirem valor se forem consideradas e aceites como parte da cruz de Cristo, se forem alcançadas pelo reflexo da sua luz. Só daquela Cruz também os nossos sofrimentos são nobilitados e adquirem o seu verdadeiro sentido.
Portanto, o apóstolo André ensina-nos a seguir Jesus com prontidão (cf. Mt 4, 20; Mc 1, 18), a falar com entusiasmo d'Ele a quantos encontramos, e sobretudo a cultivar com Ele um relacionamento de verdadeira familiaridade, bem conscientes de que só n'Ele podemos encontrar o sentido último da nossa vida e da nossa morte.
Saudação em Língua portuguesa:
Amados irmãos!
Nossa Catequese de hoje se centra na figura do Apóstolo André, irmão de Pedro. A Igreja bizantina honra-o com o nome deProtóklitos, ou seja o que foi "chamado por primeiro", por ter sido o primeiro entre os apóstolos a seguir o Senhor. Depois dele viriam todos os demais, antes de mais Pedro, a quem o Messias confiara a sua Igreja. André foi o apóstolo do mundo grego; por isso, ele exprime uma simbólica aliança entre a Igreja de Roma e a de Constantinopla.
Ao recorrer à intercessão deste grande apóstolo, peço a todos os peregrinos presentes de língua portuguesa, especialmente aos grupos vindos de Portugal e do Brasil, que rezem pela unidade da Igreja e pela comunhão de todos os cristãos. Com a minha Bênção Apostólica.

BENTO XVI, Os Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Cristo. As origens da Igreja. Editorial Franciscana: Braga 2008.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Erguei-vos, a vossa libertação está próxima

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Quando virdes Jerusalém cercada por exércitos, sabei que está próxima a sua devastação. Então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes, os que estiverem dentro da cidade saiam para fora e os que estiverem nos campos não entrem na cidade. Porque serão dias de castigo, nos quais deverá cumprir-se tudo o que está escrito. Ai daquelas que estiverem para ser mães e das que andarem a amamentar nesses dias, porque haverá grande angústia na terra e indignação contra este povo. Cairão ao fio da espada, irão cativos para todas as nações, e Jerusalém será calcada pelos pagãos, até que aos pagãos chegue a sua hora. Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas e, na terra, angústia entre as nações, aterradas com o rugido e a agitação do mar. Os homens morrerão de pavor, na expetativa do que vai suceder ao universo, pois as forças celestes serão abaladas. Então hão-de ver o Filho do homem vir numa nuvem, com grande poder e glória. Quando estas coisas começarem a acontecer, erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima» (Lc 21, 20-28).
       Depois de uma série de avisos sobre o fim dos tempos, as guerras, a destruição da cidade de Jerusalém, os sinais a lua e nas estrelas, Jesus sossega os seus discípulos: "Erguei-vos e levantai a cabeça, a vossa libertação está próxima". É um apelo renovado à confiança em Deus. "Não temais", é a expressão tantas vezes usada por Jesus, para nos dizer que basta confiar. Ainda que tudo nos pareça adverso, Deus está próximo, sempre próximo, tão próximo, que nos habita.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Na perseverança salvareis as vossas almas

       Disse Jesus aos seus discípulos: "Deitar-vos-ão as mãos e hão-de perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e às prisões, conduzindo-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome. Assim tereis ocasião de dar testemunho. Tende presente em vossos corações que não deveis preparar a vossa defesa. Eu vos darei língua e sabedoria a que nenhum dos vossos adversários poderá resistir ou contradizer. Sereis entregues até pelos vossos pais, irmãos, parentes e amigos. Causarão a morte a alguns de vós e todos vos odiarão por causa do meu nome; mas nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá. Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas" (Lc 21, 12-19).
       As palavras de Jesus aos seus discípulos são de alerta, mas igualmente de confiança. Alerta-os para as dificuldades que enfrentarão no cumprimento da missão de pregar a boa-nova, serão perseguidos e alguns deles sofrerão o martírio. O seguimento de Jesus não traz facilidades, mas há-de trazer a felicidade até à eternidade.
       Com efeito, Deus não nos pede impossíveis e, por isso, Jesus sossega os seus discípulos para que tenham confiança, Deus acompanhá-los-á, protegê-los-á, nem um só cabelo se perderá.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Não vos alarmeis... não será logo o fim!

       Jesus disse-lhes: «Dias virão em que, de tudo o que estais a ver, não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído». Eles perguntaram-Lhe: «Mestre, quando sucederá isto? Que sinal haverá de que está para acontecer?». Jesus respondeu: «Tende cuidado; não vos deixeis enganar, pois muitos virão em meu nome e dirão: ‘Sou eu’; e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não os sigais. Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas, não vos alarmeis: é preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim». Disse-lhes ainda: «Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino. Haverá grandes terramotos e, em diversos lugares, fomes e epidemias. Haverá fenómenos espantosos e grandes sinais no céu» (Lc 21, 5-11).
       Ao olharmos para os textos litúrgicos sugeridos para hoje, constatámos como é fácil alguém utilizar a Bíblia para fomentar o medo, a ameaça, a pregação cataclítica do fim do mundo, de destruição de todo o que nos é visível, e até mesmo de uma grande castigo da parte de Deus.
       Mas sem necessidade de grandes teorizações, basta ler com atenção o texto sagrado para vermos que as palavras proferidas são sobretudo de esperança e de confiança em Deus. Diz Jesus, "não vos alarmeis" com estas coisas e se aparecerem os profetas da desgrala, "não vos deixeis enganar". Mesmo que o mundo esteja a ruir, tende confiança, "Eu venci o mundo".
       Aquilo que parecem profecias da desgraças, são anúncio do julgamento de Deus e Deus vem, em Jesus Cristo, para julgar recuperando o que estava perdido.
       A plenitude dos tempos, para nós crentes, chega com Jesus Cristo. Ele insere-nos no Seu mundo de justiça, de perdão, de amor e de paz. Com Ele, o reino de Deus chegou, ainda que não se tenha manifestado totalmente no tempo, impele-nos para a eternidade de Deus.
       Jesus caminha connosco. Não há nada a temer. E muito menos a morte. A nossa missão e o nosso compromisso é com a vida.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

A viúva que deu mais que todos

       Naquele tempo, Jesus levantou os olhos e viu os ricos deitarem na arca do Tesouro as suas ofertas. Viu também uma viúva muito pobre deitar duas pequenas moedas. Então Jesus disse: "Em verdade vos digo: Esta viúva pobre deu mais do que todos os outros. Todos eles deram do que lhes sobrava; mas ela, na sua penúria, ofereceu tudo o que possuía para viver" (Lc 21, 1-4).
       Obviamente que a solidariedade não se quantifica. Também será demasiado complicado qualificar a generosidade desta ou daquela pessoa, desta ou daquela empresa. Quando alguém dá muito, podendo dar muito, beneficiará muitos. Quem dá pouco, ainda que pouco possa dar, vai beneficiar a poucos.
       Mas as contas de Jesus são de outra ordem. Ele qualifica a doação desta mulher. Os que deitam altas quantias no tesouro do templo dão muito, podem dar muito, dão do que não lhes faz falta, e dão à frente de todos para serem bem vistos. Aquela mulher, dá do que lhe faz falta. A sua oferta é genuína: tem pouco, mas quer dar uma oferenda para o tesouro do templo, ainda que lhe venha a faltar.
       Deus não nos pede impossíveis, mas na hora de ajudar, não devemos calcular, mas dar genuinamente. Deus não nos pede muito ou pouco, pede que nos demos a nós mesmos, o nosso tempo, a nossa energia, os nossos dons, ao serviço do outro.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

A minha casa é casa de oração

       Jesus entrou no templo e começou a expulsar os vendedores, dizendo-lhes: «Está escrito: ‘A minha casa é casa de oração’; e vós fizestes dela ‘um covil de ladrões’». Jesus ensinava todos os dias no templo. Os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os chefes do povo procuravam dar Lhe a morte, mas não encontravam o modo de o fazer, porque todo o povo ficava maravilhado quando O ouvia (Lc 19, 45-48).
       O verdadeiro culto, como sublinha Jesus, há de ser em espírito e verdade. O culto que se exterioriza, vivendo-se em comunidade e em lógica de partilha e amadurecimento de fé, é fundamental mas se decorrer do culto interior, da conversão, da adequação da vida aos ideiais do perdão, do amor, da partilha, da paz que nos é dada em Jesus Cristo.
       No entanto, o templo como lugar sagrado é espaço de encontro, de oração, de reflexão, de escuta da palavra e da vontade de Deus. Por conseguinte deverá ser um lugar digno, antecipando e expressando o templo que é cada um de nós, arrumado e arejado, recolhido e à escuta, para sermos lugar de encontro com Deus e para que o expressemos em gestos e palavras.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Apresentação de Nossa Senhora

Nota histórica:
       Neste dia da dedicação (ano 543) da igreja de Santa Maria a Nova, construída perto do templo de Jerusalém, celebramos, juntamente com os cristãos da Igreja Oriental, a «dedicação» que Maria fez de Si mesma a Deus, já desde a infância, movida pelo Espírito Santo que a encheu de graça desde a sua Imaculada Conceição.
Oração de coleta:
       Ao celebrarmos a memória gloriosa da Santíssima Virgem Maria, nós Vos pedimos, Senhor: concedei nos, por sua intercessão, que mereçamos participar da plenitude da vossa graça. Por Nosso Senhor.
Santo Agostinho, bispo

Acreditou pela fé e concebeu pela fé

Peço-vos que repareis no que diz o Senhor ao estender a mão para os seus discípulos: Estes são minha mãe e meus irmãos e Quem fizer a vontade de meu Pai, que Me enviou, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe. Porventura não fez a vontade do Pai a Virgem Maria, que acreditou pela fé e concebeu pela fé, que foi escolhida para que d’Ela nascesse a salvação entre os homens e que foi criada por Cristo antes de Cristo ter sido criado n’Ela? Maria cumpriu, e cumpriu perfeitamente, a vontade do Pai; e, por isso, Maria tem mais mérito por ter sido discípula de Cristo do que por ter sido mãe de Cristo; mais ditosa é Maria por ter sido discípula de Cristo do que por ter sido mãe de Cristo. Portanto, Maria era bem-aventurada, porque, antes de dar à luz o Mestre, trouxe-O no seio.
Vê se não é como digo. Passava o Senhor, acompanhado da multidão e fazendo milagres divinos. E uma mulher exclamou: Bem-aventurado o ventre que Te trouxe. Ditoso o ventre que Te trouxe. E o Senhor, para que se não buscasse a felicidade na natureza material da carne, que respondeu? Mais felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática. Por isso também Maria era feliz porque ouviu a palavra de Deus e a pôs em prática; guardou mais a verdade de Cristo na sua mente do que o corpo de Cristo no seu seio. Cristo é verdade; Cristo é carne. Cristo é verdade no espírito de Maria, Cristo é carne no seio de Maria; é mais o que está no espírito do que o que se traz no seio.
Maria é santa, Maria é bem aventurada. Mas é mais importante a Igreja do que a Virgem Maria. Porquê? Porque Maria é uma parte da Igreja, membro santo, membro excelente, membro supereminente, mas apesar disso membro do corpo total. Se é membro do corpo, é certamente mais o corpo do que o membro. A cabeça é o Senhor, e Cristo total é a cabeça e o corpo. Que mais direi? Temos no corpo da Igreja uma cabeça divina, temos a Deus por cabeça.
Reparai portanto em vós mesmos, irmãos caríssimos. Também vós sois membros de Cristo, também vós sois corpo de Cristo. Vede como o sois, quando Ele diz: Eis minha mãe e meus irmãos. Como sereis mãe de Cristo? Todo aquele que ouve e pratica a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe. Quando diz «irmãos» e «irmãs», fala evidentemente da mesma e única herança.
É uma só, na verdade, a herança. Por isso, a misericórdia de Cristo, que sendo único não quis ficar só, fez de nós herdeiros do Pai e herdeiros consigo.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Hoje a salvação entrou nesta casa!

       Jesus entrou em Jericó e começou a atravessar a cidade. Vivia ali um homem rico chamado Zaqueu, que era chefe de publicanos. Procurava ver quem era Jesus, mas, devido à multidão, não podia vê-l’O, porque era de pequena estatura. Então correu mais à frente e subiu a um sicómoro, para ver Jesus, que havia de passar por ali. Quando Jesus chegou ao local, olhou para cima e disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa». Ele desceu rapidamente e recebeu Jesus com alegria. Ao verem isto, todos murmuravam, dizendo: «Foi hospedar-Se em casa dum pecador». Entretanto, Zaqueu apresentou-se ao Senhor, dizendo: «Senhor, vou dar aos pobres metade dos meus bens e, se causei qualquer prejuízo a alguém, restituirei quatro vezes mais». Disse-lhe Jesus: «Hoje entrou a salvação nesta casa, porque Zaqueu também é filho de Abraão. Com efeito, o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido» ( Lc 19, 1-10).
       O Evangelho deste dia mostra o chamamento interior. Deus suscita em nós a conversão. Zaqueu sentiu necessidade de encontrar Jesus. Ultrapassa os obstáculos, fazendo que a sua pequena estatura não seja impedimento para chegar até Jesus. Jesus olha e vê Zaqueu. Deus vê para lá da nossa estatura, do nosso pecado, mas nós precisamos de caminhar ao Seu encontro e deixarmo-nos ver por Ele, para, a exemplo de Zaqueu, nos deixarmos transformar.

       Alguns desafios do Evangelho proposto para hoje:
- desejo de ver e de encontrar Jesus;
- deixar-nos "ver" por Ele. Não nos escondamos da Sua presença e do Seu chamamento;
- desçamos do nosso "pedestal", do nosso orgulho, e acolhámo-l'O em nossa casa. Façamos do nosso coração e da nossa vida, a Sua casa, morada santa de Deus, pois "hoje entrou a salvação nesta casa";
- acolher a pessoa no seu todo, como ser humano, filho de Deus. Jesus não julga Zaqueu. Chama-o na sua pequenez, quer ir a sua casa..
- que a nossa pequena estatura não nos impeça de ver Jesus, que veio "procurar e salvar o que estava perdido".
Veja a reflexão completa no XXXI Domingo Tempo Comum.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Que queres que Eu te faça? Senhor, que eu veja!

        Quando Jesus Se aproximava de Jericó, estava um cego a pedir esmola, sentado à beira do caminho. Quando ele ouviu passar a multidão, perguntou o que era aquilo. Disseram-lhe que era Jesus Nazareno que passava. Então ele começou a gritar: «Jesus, filho de David, tem piedade de mim». Os que vinham à frente repreendiam-no, para que se calasse, mas ele gritava ainda mais: «Filho de David, tem piedade de mim». Jesus parou e mandou que Lho trouxessem. Quando ele se aproximou, perguntou-lhe: «Que queres que Eu te faça?». Ele respondeu-Lhe: «Senhor, que eu veja». Disse-lhe Jesus: «Vê. A tua fé te salvou». No mesmo instante ele recuperou a vista e seguiu Jesus, glorificando a Deus. Ao ver o sucedido, todo o povo deu louvores a Deus (Lc 18, 35-43).
        A visão física é importante. Se nos imaginarmos às escuras, no breu da noite, sem qualquer claridade, já podemos intuir as dificuldades de um invisual. Mas os sentidos deste compensam, em certa medida, a falta de visão. É uma outra forma de ver. O Evangelho deste dia, fala da visão física mas também da visão espiritual. Esta muitas vezes é tenebrosa. Pior do que o "cego" é o que não quer ver.
       Mais uma vez podemos retirar um sentido mais literal - intervenção milagrosa de Jesus a favor de uma pessoa concreta -, mas igualmente um sentido simbólico, sabendo que muitas vezes estamos cegos e de tal maneira que não vemos a beleza da criação, os desafios da vida, a grandeza das pessoas que nos rodeiam, a alegria da presença de Deus em nós e em tudo o que nos rodeia.
       A fé abre-nos o coração para os outros e para o Totalmente Outro, ou melhor, o Totalmente Próximo (Deus connosco). Pela fé descobrimo-nos como filhos de Deus em Jesus Cristo e nesta mesma fé encontramo-nos como irmãos. É a fé que nos salva, retirando-nos da solidão e do egoísmo, colocando-nos em movimento de partilha solidária, de comunhão...
        Jesus vai passando. Está aqui! Não tenhamos receio de Lhe pedir: Senhor, que eu veja! Peçamos-Lhe que nos ilumine, que guie os nossos caminho pelo bem: "Senhor, que eu veja!".

sábado, 17 de novembro de 2018

Domingo XXXIII do Tempo Comum - ano B - 18.11.2018

Santa Isabel da Hungria

Nota biográfica:
       Isabel era filha de André II, rei da Hungria, e nasceu no ano 1207. Ainda muito jovem foi dada em matrimónio a Luís IV, landgrave da Turíngia, e teve três filhos. Dedicou-se a uma vida de intensa meditação das realidades celestes e de caridade para com o próximo. Depois da morte de seu marido, renunciou aos seus títulos e bens e construiu um hospital onde ela mesma servia os enfermos. Morreu em Marburgo no ano 1231.
Oração de coleta:
       Senhor, que destes a Santa Isabel da Hungria o dom de conhecer e venerar a Cristo nos pobres, concedei nos, por sua intercessão, a graça de servirmos com caridade sem limites os pobres e os atribulados. Por Nosso Senhor, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Conrado de Marburgo,
diretor espiritual de Santa Isabel da Hungria
ao Sumo Pontífice, no ano 1232

Isabel conheceu e amou a Cristo nos pobres

Isabel começou muito cedo a distinguir se na virtude. Em toda a sua vida foi consoladora dos pobres; a dada altura dedicou se inteiramente aos famintos e, junto de um castelo seu, mandou construir um hospital onde recolhia muitos enfermos e estropiados. Distribuía largamente os dons da sua beneficência, não só a quantos ali acorriam a pedir esmola, mas em todos os territórios da jurisdição de seu marido, chegando ao ponto de gastar nessas obras de assistência todas as rendas provenientes dos quatro principados e vendendo por fim, para utilidade dos pobres, todos os objectos de valor e vestes preciosas.
Costumava visitar duas vezes por dia, de manhã e à tarde, todos os seus doentes, ocupando se pessoalmente dos que apresentavam aspeto mais repugnante. Dava de comer a uns, deitava outros na cama, transportava outros aos ombros e dedicava se a todo o género de serviço humanitário. Em todas estas coisas nunca ela encontrou má vontade em seu marido de grata memória. Finalmente, depois da morte deste, no desejo da suma perfeição, pediu me com lágrimas que a autorizasse a pedir esmola de porta em porta.
Precisamente no dia de Sexta-Feira Santa, estando desnudados os altares, numa capela da sua cidade, onde acolhera os Frades Menores, na presença de testemunhas e postas as mãos sobre o altar, renunciou à sua própria vontade, a todas as pompas do mundo e ao que o Salvador no Evangelho aconselha a deixar. Feito isto e vendo que poderia ser absorvida pelo tumulto do século e pela glória mundana naquela terra, em que no tempo do marido vivera com tanta grandeza, veio para Marburgo contra minha vontade. Nesta cidade construiu um hospital para receber doentes e aleijados dos quais sentou à sua mesa os mais miseráveis e desprezados.
Além destas atividades caritativas, diante de Deus o afirmo, raras vezes encontrei mulher mais dada à contemplação. Algumas religiosas e religiosos viram muitas vezes que, quando voltava do recolhimento da oração, o seu rosto resplandecia maravilhosamente e os seus olhos brilhavam como raios de sol.
Antes de morrer ouvi a de confissão. Perguntando-lhe o que se devia fazer dos seus haveres e mobiliário, respondeu me que tudo quanto parecia possuir era já dos pobres desde há muito tempo e pediu-me que distribuísse tudo por eles, exceto a pobre túnica com que estava vestida e com a qual desejava ser sepultada. Depois recebeu o Corpo do Senhor e, seguidamente, até à hora de Vésperas, falou muitas vezes do que mais a tinha impressionado na pregação. Por fim, encomendou devotamente a Deus os que lhe assistiam e expirou como quem adormece suavemente.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Santo Alberto Magno, Bispo e Doutor da Igreja

Nota biográfica: 
       Nasceu em Lauingen, junto do Danúbio (Alemanha), cerca do ano 1206. Fez os seus estudos em Pádua e em Paris. Entrou na Ordem dos Pregadores e exerceu o magistério em vários lugares com grande competência. Ordenado bispo de Ratisbona, pôs todo o seu empenho em estabelecer a paz entre os povos e cidades. É autor de muitas e importantes obras, tanto de cultura sagrada como profana. Morreu em Colónia no ano 1280.
Oração de coleta:
       Senhor, que tornastes grande Santo Alberto na arte de conciliar a sabedoria humana com a fé divina, concedei nos que, seguindo os seus ensinamentos, possamos, através dos progressos da ciência, conhecer Vos melhor e amar Vos cada vez mais. Por Nosso Senhor.
Santo Alberto Magno, bispo, sobre o Evangelho de São Lucas

Pastor e doutor para edificação do Corpo de Cristo

Fazei isto em memória de Mim. Nestas palavras de Cristo há a notar duas coisas. A primeira é o mandato de celebrarmos este sacramento, quando diz: Fazei isto. A segunda é a afirmação de que se trata do memorial do Senhor que vai morrer por nós.
Fazei isto. Com efeito, não pôde mandar fazer nada mais útil, mais agradável, mais salutar, mais apetecível nem mais semelhante à vida eterna. Vejamos isto ponto por ponto.
O que é mais útil para a nossa vida é o que serve para nos dar o perdão dos pecados e a plenitude da graça. O Pai das almas, ensina nos tudo o que é útil para receber a sua santificação. Mas a sua santificação consiste no sacrifício de seu filho, isto é, na oblação sacramental, na qual Se ofereceu por nós ao Pai e Se ofereceu a nós para que O celebrássemos no sacramento. Por eles Me santifico a Mim próprio. Cristo, que pelo Espírito Santo Se ofereceu a Deus como sacrifício imaculado, purificará a nossa consciência das obras mortas, para servirmos o Deus vivo.
Nada mais agradável podemos fazer. Na verdade, que há de mais agradável do que o sacramento que contém todas as delícias divinas? Enviastes ao vosso povo um pão do Céu, já preparado, contendo em si todas as delícias e bom para todos os gostos. Este alimento revelava a doçura que tendes para com os vossos filhos, adaptava se ao gosto de quem o comia e acomodava se ao desejo de cada um.
Não pôde mandar fazer nada mais salutar. Este sacramento é fruto da árvore da vida e quem o recebe com fé sincera e devota jamais provará a morte. É árvore da vida para quem a alcançar; feliz o homem que a possuir. O que Me come viverá por Mim.
Não pôde mandar fazer nada mais apetecível. Este sacramento é fonte de amor e de união. Ora a maior prova de amor é dar se a si mesmo em alimento. Diziam os homens do meu acampamento: Quem nos dará a sua carne para nos saciarmos? É como se dissesse: Amei-os tanto a eles e eles a Mim que Eu ansiava por estar no seu interior e eles ansiavam por Me receberem, de modo que se incorporassem em Mim como membros do meu Corpo. Era impossível um modo de união mais íntimo e natural entre Mim e eles.
Também não podia mandar fazer nada de mais semelhante à vida eterna. Pois a permanência da vida eterna vem de Deus, que, com a sua doçura, Se infunde a Si mesmo nos bem aventurados. Este sacramento é a mais perfeita aproximação da vida eterna, porque esta consiste em saborear a doçura de Deus que Se comunica a Si mesmo e aos bem aventurados.

... porque o reino de Deus está no meio de vós

       "Os fariseus perguntaram a Jesus quando viria o reino de Deus e Ele respondeu-lhes, dizendo: «O reino de Deus não vem de maneira visível, nem se dirá: ‘Está aqui ou ali’; porque o reino de Deus está no meio de vós». Depois disse aos seus discípulos: «Dias virão em que desejareis ver um dia do Filho do homem e não o vereis. Hão-de dizer-vos: ‘Está ali’, ou ‘Está aqui’. Não queirais ir nem os sigais" (Lc 17, 20-25).
       A pergunta feita a Jesus é reveladora de uma inquietação também nossa. Vivemos, com o horizonte da nossa morte mas também com o fim do mundo. Profecias apocalíticas, de ontem e de hoje, fazem-nos pensar, quando não nos atemorizam. A resposta de Jesus é de confiança, apelando à serenidade. Não vos inqueteis. Não vos alarmeis, Eu venci o mundo. E continua: o reino de Deus é, antes de mais, interior, espiritual. Não ocupa lugar. Não está for da humanidade. O reino de Deus está no meio de nós, vem com a conversão, vem com a intimidade com Deus. A chegada do reino de Deus não será catastrófica, mas a revelação da misericórdia de Deus e da Sua justiça paternal. Em nenhum lado Jesus sugere temor, mas confiança, ainda que haja um juízo benevolente de Deus. Mas se cabe a Deus não temos que nos preocupar. Ele é Pai. A nossa preocupação há de ser viver bem, fazer as coisas bem feitas, agir com honestidade e justiça, promover a paz e a conciliação. Se fizermos a nossa parte, ainda que os nossos pecados, não temos que viver assustados. Há lugar para nós. Em Casa de Meu Pai há muitas moradas...

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou

       Indo Jesus a caminho de Jerusalém, passava entre a Samaria e a Galileia. Ao entrar numa povoação, vieram ao seu encontro dez leprosos. Conservando-se a distância, disseram em alta voz: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós». Ao vê-los, Jesus disse-lhes: «Ide mostrar-vos aos sacerdotes». E sucedeu que no caminho ficaram limpos da lepra. Um deles, ao ver-se curado, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, e prostrou-se de rosto por terra aos pés de Jesus para Lhe agradecer. Era um samaritano. Jesus, tomando a palavra, disse: «Não foram dez os que ficaram curados? Onde estão os outros nove? Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?». E disse ao homem: «Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou» (Lc 17, 11-19).
       Amiúde se verifica que Jesus interrompe o caminho para prestar atenção a quem Lhe suplica. Certamente que a fama de Jesus se tinha espalhado ao ponto de não passar despercebido nas diversas povoações, pessoas que chegavam e pessoas que partiam e que partilhavam informações sobre o que sucedia nas suas terras ou em outras povoações onde tinham passado.
       Se as pessoas se aproximam expondo-se e sujeitando-se à recriminação e até, neste caso, a serem apedrejadas, é porque as notícias que lhes tinham chegado sobre Jesus eram de esperança, sabendo que Ele não deixaria de ter uma palavra amiga ou um gesto curativo. É o que acontece com estes 10 leprosos.
       Sublinhe-se também a delicadeza de Jesus para com os sacerdotes do Templo, no respeito pela Lei de Moisés. Habitualmente os textos evangélicos mostram Jesus a contestar a Lei, ou melhor, as interpretações abusivas da Lei. Neste pormenor se vê como Jesus não põe em causa a Lei quando esta está ao serviço da pessoa.
       Outro aspeto bem vincado no Evangelho é a falta de gratidão. Jesus cura. Sem contrapartidas. Em todo o caso, o que se espera de quem é agraciado pelas bênçãos de Deus é que tenha uma atitude de louvor e de glória para com Deus... A verdadeira cura leva à mudança de vida...

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Recinto de Nossa Senhora da Conceição | 2018

       Domingo (e dia) seguinte à celebração da Festa da Natividade de Nossa Senhora, 9 de setembro, a quinta edição da Peregrinação ao Recinto de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Tabuaço, Madrinha dos Bombeiros Voluntários. Procissão a partir da Igreja Matriz até ao recinto, oração do rosário, Eucaristia no recinto, regresso da Procissão à Igreja Matriz, oração do Angelus.
       Créditos: Paróquia de Tabuaço - Raquel Assis; José Luís Longa (vista aérea).

Somos inúteis servos: fizemos o que devíamos fazer

       Disse o Senhor: «Quem de vós, tendo um servo a lavrar ou a guardar gado, lhe dirá quando ele volta do campo: ‘Vem depressa sentar-te à mesa’? Não lhe dirá antes: ‘Prepara-me o jantar e cinge-te para me servires, até que eu tenha comido e bebido. Depois comerás e beberás tu’. Terá de agradecer ao servo por lhe ter feito o que mandou? Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos inúteis servos: fizemos o que devíamos fazer’» (Lc 17, 7-10).
       O caminho de Jesus é exigente, mas compensador, vivido na caridade sem limites. O serviço ao semelhante, tratando-o como irmão, na proximidade de um abraço, na leveza de uma palavra, no afago do coração, no sorriso da alma, é um projeto de vida, é a postura de Jesus, permanentemente. Ontem, Ele lembrava-nos de perdoar sempre, de nos conciliarmos uns com os outros mesmo tendo motivos para o conflito e a divisão. Hoje, claramente, fala-nos no serviço aos outros com alegria e generosidade.
       A referência é Ele, que veio não para ser servido mas para servir e dar a vida pela humanidade.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

São Josafat, Bispo e Mártir

Nota biográfica:
        Nasceu na Ucrânia, cerca do ano 1580, de pais ortodoxos. Abraçou a fé católica e entrou na Ordem de São Basílio. Ordenado sacerdote e eleito bispo de Polock, dedicou-se com grande empenho à causa da unidade da Igreja, pelo que foi perseguido pelos seus inimigos e morreu mártir em 1623.

Oração de Colecta:
       Intensificai, Senhor, na vossa Igreja a acção do Espírito Santo, que levou o bispo São Josafat a dar a vida pelo seu povo, e concedei-nos, por sua intercessão, que, fortificados pelo mesmo Espírito, não hesitemos em dar a vida pelos nossos irmãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Da encíclica Ecclesiam Dei do papa Pio XI

Derramou o seu sangue pela unidade da Igreja

Sabemos que a Igreja de Deus, constituída por sua admirável providência para ser na plenitude dos tempos uma família imensa que englobe todo o género humano, se distingue por disposição divina, entre outras características singulares, pela sua unidade ecuménica.
Cristo Senhor não Se limitou a encomendar apenas aos Apóstolos a missão que Ele próprio recebera do Pai, ao dizer: Foi-Me dado todo o poder no céu e na terra; ide e fazei discípulos de todos os povos. Quis também que o colégio apostólico fosse especialmente uno, e ligado por um vínculo estreitíssimo e duplo: um interior, a saber, a mesma fé e caridade, que foi derramada pelo Espírito Santo nos nossos corações; e outro exterior, pelo governo de um sobre os demais, por ter conferido o primado apostólico a Pedro, como princípio permanente e fundamento visível da unidade. Para que esta unidade e harmonia permanecessem para sempre, Deus providentíssimo consagrou-a ao mesmo tempo com o selo da santidade e do martírio.
Esta grande honra coube ao arcebispo de Polock, São Josafat, de rito eslavo oriental, que com razão reconhecemos como glória e sustentáculo esplendoroso dos eslavos orientais. Nenhum outro ilustrou mais o nome deles e contribuiu mais para a sua salvação do que este seu pastor e apóstolo, especialmente ao derramar o seu sangue pela unidade da santa Igreja. Além disso, sentindo-se movido por uma inspiração celeste, compreendeu que podia contribuir muito para restabelecer a santa unidade, se mantivesse dentro da unidade universal o rito oriental eslavo e a ordem monástica de São Basílio.
Preocupado, entretanto, principalmente com a união dos seus compatriotas à Cátedra de Pedro, procurava por toda a parte quantos argumentos pudessem promovê-la ou confirmá-la, sobretudo consultando os livros litúrgicos que os Orientais e os próprios dissidentes costumavam usar por prescrição dos Santos Padres. Utilizando tão diligente preparação, começou a trabalhar pela unidade ao mesmo tempo com tal firmeza e brandura e também com tanto fruto que os próprios adversários lhe chamaram «conquistador de almas».

sábado, 10 de novembro de 2018

Domingo XXXII do Tempo Comum - ano B - 11.11.2018

São Leão Magno, Papa e Doutor da Igreja

Nota biográfica:
       Nasceu na Toscana e no ano 440 foi elevado à Cátedra de Pedro, cargo que exerceu como verdadeiro pastor e pai das almas. Trabalhou intensamente pela integridade da fé, defendeu com ardor a unidade da Igreja, empenhou se por todos os meios possíveis em evitar as incursões dos bárbaros ou mitigar os seus efeitos. Por toda esta actividade extraordinária mereceu com toda a justiça ser apelidado «Magno». Morreu no ano 461.
Oração de colecta:
       Senhor, que, ao fundar a vossa Igreja sobre a pedra inabalável dos Apóstolos, prometestes que as forças do mal jamais prevaleceriam contra ela, fazei que, por intercessão de São Leão Magno, o povo cristão permaneça firme na vossa verdade e goze sempre da verdadeira paz. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
São Leão Magno (Papa Leão I) no encontro com Átila, convencendo-o a não invadir a Europa Ocidental. Pintura de Rafael.
Dos sermões do papa Leão Magno (grande):

O serviço especial do nosso ministério

Toda a Igreja de Deus está organizada em diversas ordens, de modo que a integridade do corpo sagrado subsiste na diversidade dos seus membros. Apesar disso, como diz o Apóstolo, somos um só em Cristo Jesus. A diversidade de funções não é de modo algum causa de divisão entre os membros, já que todos, por mais humilde que seja a sua função, estão unidos à cabeça. Na unidade da fé e do Batismo, formamos uma comunidade indissolúvel, na qual todos têm a mesma dignidade, segundo a palavra sagrada do apóstolo São Pedro: Também vós, como pedras vivas, entrai na construção deste templo espiritual, para constituirdes um sacerdócio santo, destinado a oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo; e ainda: Vós sois geração escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo resgatado.
Todos os que renasceram em Cristo obtiveram, pelo sinal da cruz, a dignidade real e, pela unção do Espírito Santo, receberam a consagração sacerdotal. Por isso, não obstante o serviço especial do nosso ministério, todos os cristãos foram revestidos de um carisma espiritual que os torna membros desta família de reis e deste povo de sacerdotes. Não será, na verdade, função régia o facto de uma alma, submetida a Deus, governar o seu corpo? E não será função sacerdotal consagrar ao Senhor uma consciência pura e oferecer no altar do coração a hóstia imaculada da nossa piedade? Pela graça de Deus, estas prerrogativas são comuns a todos. Mas é digno e justo que vos alegreis no dia da nossa eleição como se se tratasse de vossa própria honra, para que em todo o corpo da Igreja se celebre um único sacramento do sacerdócio. Ao derramar se o unguento da consagração, este sacramento derramou se certamente com mais abundância nos membros superiores, mas desceu também, e não escassamente, até aos inferiores.
Se a participação neste dom nos traz, com toda a razão, tão grande alegria, mais verdadeiro e excelente será o motivo do nosso júbilo, caríssimos irmãos, se não vos detiverdes a considerar a nossa humilde pessoa. Pelo contrário, será muito mais útil e digno dirigir a atenção do nosso espírito para a contemplação da glória do bem aventurado apóstolo Pedro e dedicar especialmente este dia à veneração daquele que foi inundado de bênçãos tão copiosamente pela própria fonte de todos os carismas, de tal modo que, tendo recebido muitas graças exclusivas à sua pessoa, nada se comunica aos sucessores sem a sua intervenção. O Verbo encarnado já habitava no meio de nós; Cristo já Se tinha entregado totalmente para a redenção do género humano."

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Dedicação da Basílica de Latrão - Sé do Papa

       Segundo uma tradição que remonta ao século XII, celebra-se neste dia o aniversário da dedicação da basílica de Latrão, construída pelo imperador Constantino. Inicialmente foi uma festa exclusivamente da cidade de Roma; mais tarde, estendeu-se à Igreja de rito romano, com o fim de honrar a basílica que é chamada «a igreja mãe de todas as igrejas da Urbe e do Orbe» (da cidade e do mundo) e como sinal de amor e unidade para com a Cátedra de Pedro que, como escreveu S. Inácio de Antioquia, «preside à assembleia universal da caridade». (Texto do Secretariado Nacional da Liturgia).
       É nesta Basílica, de São João de Latrão, que o Bispo de Roma, e nessa condição, Papa, tem a sua sede episcopal.

     "Vós sois edifício de Deus. Segundo a graça de Deus que me foi dada, eu, como sábio arquitecto, coloquei o alicerce e outro levanta o edifício. Veja cada um como constrói: ninguém pode colocar outro alicerce além do que está posto, que é Jesus Cristo. Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é santo e vós sois esse templo" (1 Cor 3, 9c-11.16-17).

       Jesus Cristo apresenta-Se no templo de Jerusalém como o verdadeiro TEMPLO.
       "Destruí este templo e em três dias o levantarei"... Jesus, porém fala do templo de seu corpo (cf. Jo 2, 13-22). O texto de São Paulo aos Coríntios assume esta dimensão, também nós, incorporados em Cristo, somos templo do Espírito Santo. Neste sentido, a missão do cristão dignificar o seu corpo com as suas atitudes e acções.

Oração de coleta:
       Senhor, que edificais o templo da vossa glória com pedras vivas e escolhidas, derramai sobre a Igreja os dons do Espírito Santo, para que o vosso povo cresça cada vez mais na fé, esperança e caridade, até se transformar na Jerusalém celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Este homem acolhe os pecadores e come com eles

        Os publicanos e os pecadores aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem. Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: «Este homem acolhe os pecadores e come com eles». Jesus disse-lhes então a seguinte parábola: «Quem de vós, que possua cem ovelhas e tenha perdido uma delas, não deixa as outras noventa e nove no deserto, para ir à procura da que anda perdida, até a encontrar? Quando a encontra, põe-na alegremente aos ombros e, ao chegar a casa, chama os amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida’. Eu vos digo: Assim haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se arrependa, do que por noventa e nove justos, que não precisam de arrependimento. Ou então, qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e tendo perdido uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente a moeda até a encontrar? Quando a encontra, chama as amigas e vizinhas e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida’. Eu vos digo: Assim haverá alegria entre os Anjos de Deus por um só pecador que se arrependa» (Lc 15, 1-10).
       A postura de Jesus é de inclusão, de promoção, de acolhimento, em relação a todas as pessoas mas privilegiando as que vivem na rua, que estão abandonadas ao seu sofrimento, que estão excluidas social e religiosamente, as mulheres, as crianças, os doentes, leprosos, coxos, cegos, surdos, mudos, publicanos, estrangeiros.
       Jesus não Se apresenta a partir do palácio - símbolo do poder político, económico, social - nem a partir do tempo - símbolo do "poder" religioso, mas a partir da rua, das estradas, caminhos e vielas, a partir das margens, onde pulsa a vida em sofrimento. Todos são filhos. Como os pais, a atenção recai sobre quem está doente, perdido, desencantado, sem esperança. Se numa família um dos filhos está doente, a atenção redobra sobre esse filho. Não significa menos amor aos outros. Mas é necessário recuperar aquele. Jesus ama sem medida a todos, traz em plenitude o amor do Pai. Porém, e como seria de esperar, privilegia os que quer recuperar, incluir, a quem quer devolver a dignidade de filhos de Deus.
       Ele vem para os pecadores. Vem para curar. Vem para ajuntar os que andam dispersos, cansados e abatidos. E como é grande a alegria por cada pessoa que recobra a vida, a saúde, a esperança, a alegria de viver.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

São Nuno de Santa Maria, religioso

Nota biográfica:
       "Nuno Álvares Pereira, fundador da Casa de Bragança, nasceu em Santarém (Portugal) a 24 de junho de 1360. Como Condestável do reino de Portugal, foi militar invencível; mas, vencendo se a si mesmo, pediu a admissão, como irmão leigo, na Ordem do Carmelo. Tinha uma admirável piedade e confiança para com a Santíssima Virgem Maria. Sentia grande satisfação em pedir esmolas pelas portas, desempenhar os ofícios mais humildes na casa de Deus, e mostrou sempre grande compaixão e liberalidade para com os pobres. Morreu no domingo da Ressurreição do ano 1431 (1 de abril)".
       Foi canonizado (reconhecido como Santo para a Igreja) no dia 26 de abril deste ano de 2009, na praça de São Pedro, no Vaticano.
Oração de coleta:
       Senhor nosso Deus, que destes ao bem-aventurado Nuno de Santa Maria a graça de combater o bom combate e o tornastes exímio vencedor de si mesmo, concedei aos vossos servos que, dominando como ele as seduções do mundo, com ele vivam para sempre na pátria celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

BENTO XVI na homilia de Canonização:

"Sabei que o Senhor me fez maravilhas. Ele me ouve, quando eu o chamo" (Sl 4, 4). Estas palavras do Salmo Responsorial exprimem o segredo da vida do bem-aventurado Nuno de Santa Maria, herói e santo de Portugal. Os setenta anos da sua vida situam-se na segunda metade do século XIV e primeira do século XV, que viram aquela nação consolidar a sua independência de Castela e estender-se depois pelos Oceanos – não sem um desígnio particular de Deus – abrindo novas rotas que haviam de propiciar a chegada do Evangelho de Cristo até aos confins da terra. São Nuno sente-se instrumento deste desígnio superior e alistado na militia Christi, ou seja, no serviço de testemunho que cada cristão é chamado a dar no mundo. Características dele são uma intensa vida de oração e absoluta confiança no auxílio divino. Embora fosse um óptimo militar e um grande chefe, nunca deixou os dotes pessoais sobreporem-se à acção suprema que vem de Deus. São Nuno esforçava-se por não pôr obstáculos à acção de Deus na sua vida, imitando Nossa Senhora, de Quem era devotíssimo e a Quem atribuía publicamente as suas vitórias. No ocaso da sua vida, retirou-se para o Convento do Carmo por ele mandado construir. Sinto-me feliz por apontar à Igreja inteira esta figura exemplar nomeadamente pela presença duma vida de fé e oração em contextos aparentemente pouco favoráveis à mesma, sendo a prova de que em qualquer situação, mesmo de carácter militar e bélico, é possível actuar e realizar os valores e princípios da vida cristã, sobretudo se esta é colocada ao serviço do bem comum e da glória de Deus.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

...serás feliz por eles não terem com que retribuir-te

        Disse Jesus a um dos principais fariseus, que O tinha convidado para uma refeição: «Quando ofereceres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos nem os teus irmãos, nem os teus parentes nem os teus vizinhos ricos, não seja que eles por sua vez te convidem e assim serás retribuído. Mas quando ofereceres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos; e serás feliz por eles não terem com que retribuir-te: ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos» (Lc 14, 12-14).
        A recomendação de Jesus para hoje aposta, e uma vez mais, na radicalidade própria do Evangelho. Os almoços e jantares sociais podem ser oportunidade de aproximação e de enriquecimento humano, estreitando laços. Mas por vezes não passam de momentos de adulação, à espera da paga igual ou superior. Também aqui a afirmação "não há almoços grátis" tem algum sentido, quando o convite visa uma compensação posterior ou outro convite, ou alguma coisa em troca.
       Jesus desafia à partilha com os que têm mais necessidade, os mais frágeis e os mais pobres. Dar sem esperar nada em troca que não seja a alegria por ajudar alguém a ser um pouco mais feliz e a viver mais dignamente. Na linha do que escutávamos ontem no evangelho, não devemos fazer as coisas apenas para sermos vistos pelos outros, mas pelo bem em si mesmo, pela certeza de que concretizámos a nossa identidade cristã.
       À mesa de Jesus todos têm lugar...