quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Não sejais motivo de escândalo

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Quem vos der a beber um copo de água, por serdes de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa. Se alguém escandalizar algum destes pequeninos que crêem em Mim, melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós movidas por um jumento e o lançassem ao mar. Se a tua mão é para ti ocasião de pecado, corta-a; porque é melhor entrar mutilado na vida do que ter as duas mãos e ir para a Geena, para esse fogo que não se apaga. E se o teu pé é para ti ocasião de pecado, corta-o; porque é melhor entrar coxo na vida do que ter os dois pés e ser lançado na Geena. E se um dos teus olhos é para ti ocasião de pecado, deita-o fora; porque é melhor entrar no reino de Deus só com um dos olhos do que ter os dois olhos e ser lançado na Geena, onde o verme não morre e o fogo não se apaga». Na verdade, todos serão salgados com fogo. O sal é coisa boa; mas se ele perder o sabor, com que haveis de temperá-lo? Tende sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros» (Mc 9, 41-50).
       Em primeiro lugar, a certeza: ninguém ficará sem recompensa por fazer o bem, mesmo que seja um copo de água dado em nome de Jesus.
       Por outro lado, nada de escandalizar, com palavras e obras, os que nos rodeiam, especialmente as pessoas mais simples. Quanto maior for o nosso esclarecimento e a nossa responsabilidade, maior há-de ser o nosso compromisso com os outros, com a verdade, com o bem, com Jesus Cristo.
       No mundo a nossa postura deverá ser a de Jesus Cristo, no mundo mas sem sermos do mundo. Deveremos ser como o sal na comida, temperar, dar sabor e sentido ao mundo actual e contribuir positivamente para a sua transformação.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Quem não é contra nós é por nós

       João disse a Jesus: «Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impe-dir-lho, porque ele não anda connosco». Jesus respondeu: «Não o proibais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim. Quem não é contra nós é por nós» (Mc 9, 38-40).
       O ciúme e a inveja, a partir de uma certa dose destroem, matam, são um empecilho para o bem, para a caridade. Os discípulos encontram alguém que em nome de Jesus faz o que eles fazem, anuncia Jesus e realiza prodígios. Logo, os discípulos, sentindo-se invadidos, procuram impedi-lo por ele não estar, não e não fazer parte do GRUPO. O argumento não é que esse homem estivesse a fazer mal, mas simplesmente porque não faz parte do grupo.
       À primeira vista sentem-se ameaçados no seu posto, como se o bem que outros fazem pudesse diminuir ou desfocar o bem que eles podem fazer. Por outro lado, bem visível, ciosidade grupal, quem está fora racha lenha, não deve ter acesso à mesma glória. Também as fronteiras de Jesus são mais largas, ou melhor, as fronteiras são também ponto de encontro e não de divisão. Se ele não está contra, então já começou a estar a favor, já está a caminho. Por outras palavras, é possível que outros, outros grupos, possam fazer o bem e manifestarem o poder de Deus.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Quem quiser ser o primeiro será o último de todos

       Jesus e os seus discípulos caminhavam através da Galileia, mas Ele não queria que ninguém o soubesse; porque ensinava os discípulos, dizendo-lhes: «O Filho do homem vai ser entregue às mãos dos homens e eles vão matá-l’O; mas Ele, três dias depois de morto, ressuscitará». Os discípulos não compreendiam aquelas palavras e tinham medo de O interrogar. Quando chegaram a Cafarnaum e já estavam em casa, Jesus perguntou-lhes: «Que discutíeis no caminho?». Eles ficaram calados, porque tinham discutido uns com os outros sobre qual deles era o maior. Então, Jesus sentou-Se, chamou os Doze e disse-lhes: «Quem quiser ser o primeiro será o último de todos e o servo de todos». E, tomando uma criança, colocou-a no meio deles, abraçou-a e disse-lhes: «Quem receber uma destas crianças em meu nome é a Mim que recebe; e quem Me receber não Me recebe a Mim, mas Àquele que Me enviou» (Mc 9, 30-37).
        A sensibilidade de Jesus é evidente no trato com os discípulos. Eles discutem. Jesus não intervém de imediato. Ou os chama à parte para falar com eles, ou lhes explicar alguma situação. Do mesmo modo os discípulos não perguntam a torto e direito, perguntam quando chegam a casa, ou quando estão a sós com Jesus. É mais uma lição interessante, num aspeto muito concreto da vida, para os pais e para os filhos, para os professores e para os alunos, sobretudo quando há necessidade de "repreender".
       Já estavam em casa quando Jesus os questiona. Depois de ouvirem Jesus a revelar tempos futuros de perseguição e morte, os discípulos ficam apreensivos e ansiosos com o que se vai passar, e procuram saber que lugar/papel ocupará cada um nessa ocasião. Estão ainda numa perspetiva muito incipiente, de disputa de lugares, de poder, de chefia. Jesus assenta-lhes o estômago: o maior é o que estiver a servir mais o seu semelhante.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Domingo VII do Tempo Comum - ano C - 24/02/2019

São Policarpo, Bispo e Mártir

Nota Histórica
       Policarpo foi discípulo dos Apóstolos e bispo de Esmirna, e deu hospedagem a Inácio de Antioquia; partiu para Roma a fim de tratar com o papa Aniceto a questão da festa da Páscoa. Sofreu o martírio cerca do ano 155, queimado vivo no estádio da cidade.
Oração de Colecta:
       Deus e Senhor de toda a criação, que quisestes contar entre o número dos mártires o bispo São Policarpo, concedei-nos, por sua intercessão, que, tomando parte com ele na paixão de Cristo, ressuscitemos para a vida eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Segunda leitura da Carta da Igreja de Esmirna sobre o martírio de São Policarpo
(Cap. 12, 2-15, 2: Funk 1, 297-299) (Sec. II)

Como um sacrifício abundante e agradável

Quando ficou pronta a fogueira, Policarpo desfez-se de todas as vestes, desapertou o cinto e quis-se descalçar sozinho: antes nunca o fazia, porque todos os fiéis se precipitavam a ajudá-lo, a ver qual o tocava primeiro; na verdade, mesmo antes do martírio, ele era tratado com grande respeito por causa da santidade da sua vida.
Logo o rodearam com todos os materiais preparados para a fogueira. Quando o quiseram pregar ao poste, ele disse: «Deixem-me assim; Aquele que me concedeu a graça de morrer no fogo, também me concederá que permaneça imóvel no meio dele, mesmo sem a caução dos vossos cravos». Então não o pregaram, mas limitaram-se a amarrá-lo.
Com as mãos atrás das costas e amarrado, era como um carneiro escolhido de entre um grande rebanho para o sacrifício, um holocausto agradável preparado para Deus. Levantou os olhos ao céu e disse:
«Senhor Deus omnipotente, Pai do vosso amado e bendito Filho Jesus Cristo, por meio do qual Vos conhecemos, Deus dos Anjos, das Potestades, de toda a criação e de todos os justos que vivem na vossa presença, eu Vos bendigo porque Vos dignastes, neste dia e nesta hora, incluir-me no número dos vossos mártires, fazer-me tomar parte no cálice do vosso Ungido e, pelo Espírito Santo, alcançar a ressurreição na vida eterna, na incorruptibilidade da alma e do corpo; no meio dos vossos mártires Vos peço que eu seja hoje recebido na vossa presença como sacrifício abundante e agradável, tal como Vós o tínheis preparado e mo destes a conhecer, e agora o realizais, ó Deus verdadeiro e sem falsidade.
Por todas as coisas Vos louvo, Vos bendigo, Vos glorifico por meio do eterno e celeste Pontífice, Jesus Cristo, vosso amado Filho. Por Ele seja dada toda a glória a Vós, em união com Ele e com o Espírito Santo, agora e nos séculos que hão-de vir. Amen
».
Depois de ter dito «Amen» e terminado a prece, os verdugos acenderam o fogo.
Levantou-se uma grande labareda; e então nós vimos o milagre – aqueles a quem foi concedido contemplá-lo, porque fomos guardados para anunciar aos outros as coisas que aconteceram –: o fogo tomou a forma de uma abóbada, como a vela de um navio enfunada pelo vento, e rodeou o corpo do mártir; e este estava posto no meio, não como carne que é queimada, mas como um pão que coze, ou como ouro e prata incandescente na fornalha. E sentíamos um odor de tal suavidade que parecia que se estava queimando incenso ou outro perfume precioso.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Cadeira de São Pedro, Apóstolo

Nota Histórica:
       A festa da Cadeira de São Pedro era já celebrada neste dia em Roma no século IV, para significar a unidade da Igreja, fundada sobre o Príncipe dos Apóstolos.
       Jesus perguntou: "E vós, quem dizeis que Eu sou?".
       Então, Simão Pedro tomou a palavra e disse: "Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo".
       Jesus respondeu-lhe: "Feliz de ti, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim meu Pai que está nos Céus. Também Eu te digo: Tu és Pedro; sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus" (Mt 16, 13-19).

       A celebração de hoje concentra-se à volta de São Pedro. É a parte pelo todo, a cadeira pelo Apóstolo. A "Cadeira" simboliza o ensinamento, a cátedra. Quem nela se senta, tem autoridade sobre os outros discípulos, o poder de confirmar na fé e de dar razões da esperança cristã.

BENTO XVI SOBRE A CADEIRA/CÁTEDRA

       "A «cátedra» é a cadeira reservada ao Bispo, da qual deriva o nome «catedral», atribuído à igreja em que, precisamente, o Bispo preside à liturgia e ensina ao povo. A Cátedra de São Pedro, representada na abside da Basílica do Vaticano por uma escultura monumental de Bernini, é símbolo da missão especial de Pedro e dos seus sucessores de apascentar o rebanho de Cristo mantendo-o unido na fé e na caridade. Já no início do século II santo Inácio de Antioquia atribuía à Igreja que está em Roma um primado singular, saudando-a na sua carta aos Romanos, como aquela que «preside na caridade». Esta tarefa especial de serviço deriva para a Comunidade romana e para o seu Bispo do facto de que nesta Cidade derramaram o seu sangue os Apóstolos Pedro e Paulo, além de numerosos outros Mártires. Assim, voltamos ao testemunho do sangue e da caridade. Portanto, a Cátedra de Pedro é sim sinal de autoridade, mas de Cristo, fundamentada na fé e no amor".
(Papa Bento XVI, Solenidade da Cátedra de São Pedro, Domingo, 19 de fevereiro de 2012)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

E vós, quem dizeis que Eu sou?

       Jesus fez-lhes esta pergunta: «Quem dizem os homens que Eu sou?». Eles responderam: «Uns dizem João Baptista; outros, Elias; e outros, um dos profetas». Jesus então perguntou-lhes: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Pedro tomou a palavra e respondeu: «Tu és o Messias». Ordenou-lhes então severamente que não falassem d’Ele a ninguém. Depois, começou a ensinar-lhes que o Filho do homem tinha de sofrer muito, de ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas; de ser morto e ressuscitar três dias depois. E Jesus dizia-lhes claramente estas coisas. Então, Pedro tomou-O à parte e começou a contestá-l’O. Mas Jesus, voltando-Se e olhando para os discípulos, repreendeu Pedro, dizendo: «Vai-te, Satanás, porque não compreendes as coisas de Deus, mas só as dos homens» (Mc 8, 27-33).
        O episódio do Evangelho desta quinta-feira diz-nos que a nossa relação com Jesus Cristo não é de mero conhecimento. Não basta saber muitas coisas sobre Jesus, mas saber quem é para nós, que implicações tem na nossa vida, como pode modificar as nossas opções?
       Diz-se, por exemplo, que ninguém conhece tão bem a Deus como o Diabo e nem por isso ele é crente ou seguidor da verdade que vem de Deus. Por outras palavras, o conhecer é importante, mas quando nos envolve e compromete com o seguimento.
       Este episódio, bem nosso conhecido, mostra por um lado como a opinião pública diverge das nossas opções concretas. É certo que não faz mal saber o que nos rodeiam e até o pensam de nós, mas não deve ser isso a decidir a nossa vida, mas a nossa convicção profunda, em que devem contar sobretudo a comunhão daqueles que nos são mais próximos. Jesus mostra aos seus discípulos que o importante é a adesão pessoal...

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Santos Francisco e Jacinta Marto


Nota Biográfica:
       Francisco Marto nasceu em Aljustrel, Fátima, no dia 11 de Junho de 1908, e sua irmã Jacinta Marto nasceu na mesma localidade, no dia 11 de Março de 1910. Na sua humilde família aprenderam a conhecer e louvar a Deus e a Virgem Maria. Em 1916 viram três vezes um Anjo e em 1917 seis vezes a Santíssima Virgem que os exortavam a rezar e a fazer penitência pela remissão dos pecados, para obter a conversão dos pecadores e a paz para o mundo. Ambos quiseram imediatamente responder com todas as suas forças a estas exortações. Inflamados cada vez mais no amor a Deus e às almas, tinham uma só aspiração: rezar e sofrer de acordo com os pedidos do Anjo e da Virgem Maria. Francisco faleceu no dia 4 de Abril de 1919 e Jacinta no dia 20 de Fevereiro de 1920. O papa João Paulo II deslocou-se a Fátima no dia 13 de Maio de 2000 para beatificar as duas primeiras crianças não mártires.
       A 13 de maio de 2017, centenário das Aparições, o Papa Francisco, em Fátima, canonizou os Pastorinhos.

Oração:
       Deus de infinita bondade, que amais a inocência e exaltais os humildes, concedei, pela intercessão da Imaculada Mãe do vosso Filho, que, à imitação dos bem-aventurados Francisco e Jacinta, Vos sirvamos na simplicidade de coração, para podermos entrar no reino dos Céus. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Da Homilia de João Paulo II, na Missa da Beatificação de Francisco e Jacinta Marto no dia 13 de Maio 2000, em Fátima

Os pequeninos privilegiados do Pai

Eu te bendigo, ó Pai, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelastes aos pequeninos. Com estas palavras, Jesus louva os desígnios do Pai celeste: Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do Teu agrado. Quiseste abrir o Reino aos pequeninos. Por desígnio divino, veio do céu a esta terra, à procura dos pequeninos privilegiados do Pai, uma mulher revestida com o Sol. Fala-lhes com voz e coração de Mãe: convida-os a oferecerem-se como vítimas de reparação, oferecendo-se ela para os conduzir, seguros, até Deus. Foi então que das suas mãos maternais saiu uma luz que os penetrou intimamente, sentindo-se imersos em Deus como quando uma pessoa – explicam eles – se contempla num espelho. Mais tarde, Francisco, um dos três privilegiados, exclamava: nós estávamos a arder naquela luz que é Deus e não nos queimávamos. Como é Deus? Não se pode dizer. Isto sim que a gente não pode dizer. Deus: uma luz que arde mas não queima. A mesma sensação teve Moisés quando viu Deus na sarça ardente.
Ao beato Francisco, o que mais o impressionava e absorvia era Deus naquela luz imensa que penetrara no íntimo dos três. Na sua vida, dá-se uma transformação que poderíamos chamar radical; uma transformação certamente não comum em crianças da sua idade. Entrega-se a uma vida espiritual intensa que se traduz em oração assídua e fervorosa, chegando a uma verdadeira forma de união mística com o Senhor. Isto mesmo leva-o a uma progressiva purificação do espírito através da renúncia aos seus gostos e até às brincadeiras inocentes de criança. Suportou os grandes sofrimentos da doença que o levou à morte, sem nunca se lamentar. Grande era no pequeno Francisco, o desejo de reparar as ofensas dos pecadores, esforçando-se por ser bom e oferecendo sacrifícios e oração. E Jacinta sua irmã, quase dois anos mais nova que ele, vivia animada pelos mesmos sentimentos.
Na sua solicitude materna, a Santíssima Virgem veio a Fátima, pedir aos homens para não ofenderem mais a Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido. Dizia aos pastorinhos: Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver que se sacrifique e peça por elas.
A pequena Jacinta sentiu e viveu como própria esta aflição de Nossa Senhora, oferecendo-se heroicamente como vítima pelos pecadores. Um dia – já ela e Francisco tinham contraído a doença que os obrigava a estarem de cama – a Virgem Maria veio visitá-los a casa, como conta a pequenita: Nossa Senhora veio-nos ver e diz que vem buscar o Francisco muito em breve para o céu. E a mim perguntou-me se queria ainda converter mais pecadores. Disse-lhe que sim. E, ao aproximar-se o momento da partida do Francisco, Jacinta recomenda-lhe: Dá muitas saudades minhas a Nosso Senhor e a Nossa Senhora e diz-lhes que sofro tudo quanto Eles quiserem para converter os pecadores. Jacinta ficara tão impressionada com a visão do inferno, durante a aparição de treze de Julho, que nenhumas mortificação e penitência era demais para salvar os pecadores.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Fala assim porque não temos pão

       Os discípulos esqueceram-se de arranjar comida e só tinham consigo um pão no barco. Então Jesus recomendou-lhes: «Tende cuidado com o fermento dos fariseus e o fermento de Herodes». Eles discutiam entre si, dizendo: «Fala assim porque não temos pão». Mas Jesus ouviu-os e disse-lhes: «Porque estais a discutir que não tendes pão? Ainda não entendeis nem compreendeis? Tendes o coração endurecido? Tendes olhos e não vedes, ouvidos e não ouvis? Não vos lembrais quantos cestos de bocados recolhestes, quando Eu parti os cinco pães para as cinco mil pessoas?». Eles responderam: «Doze». «E quantos cestos de bocados recolhestes, quando reparti sete pães para as quatro mil pessoas?». Eles responderam: «Sete». Disse-lhes então Jesus: «Não entendeis ainda?» (Mc 8, 14-21).
       O alimento corporal é fundamental à sobrevivência da pessoa. O alimento espiritual é fundamental à vida em abundância, que Jesus vem revelar e na qual nos quer introduzir.
       Jesus, depois da multilicação dos pães, fala aos seus discípulos no cuidado que devem pôr na vivência da sua fé, mas não a resumirem apenas ao que é exterior, tradicional, ritualista, convidando-os a abrir-se à misericórdia de Deus, confiantes no Seu poder e no Seu amor.
       A religião não é somente para encher estômagos vazios, mas para dar sentido à existência e abrir o coração e a mente à transcendência de Deus. Confiar é essencial. Aquele que multiplica os pães, tem poder para nos dar a vida em abundância (cf. Jo 10,10).

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Tenho pena desta multidão...

       Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: «Tenho pena desta multidão; há já três dias que estão comigo e não têm que comer. Se os despedir sem alimento para suas casas, desfalecerão no caminho, porque alguns vieram de longe». Responderam-Lhe os discípulos: «Como se poderia saciá-los de pão, aqui num deserto?». Mas Jesus perguntou: «Quantos pães tendes?». Eles responderam: «Temos sete». Então Jesus ordenou à multidão que se sentasse no chão. Depois tomou os sete pães e, dando graças, partiu-os e deu-os aos discípulos, para que os distribuíssem, e eles distribuíram-nos à multidão. Tinham também alguns pequenos peixes. Jesus pronunciou sobre eles a bênção e disse que os distribuíssem também. Comeram e ficaram saciados. Dos bocados que sobraram encheram sete cestos (Mc 8, 1-10).
       Neste episódio da multiplicação dos pães vemos a sensibilidade de Jesus, a Sua compaixão pelas multidões; vemos o milagre da multiplicação ou da partilha, num e noutro caso Jesus conta com a colaboração dos seus discípulos, isto é, Deus conta com a nossa cooperação para agir no mundo; a multiplicação mostra que o alimento que nos vem de Jesus nos sacia e ainda sobeja para os demais, em Cristo Jesus há alimento em abundância... símbolo claro da Eucaristia, onde Se nos dá de novo, sempre, até à eternidade e nos alimento...
       No meio do deserto, onde não existe nada, é possível que o amor transforme o pouco em muito, e que os poucos pães e os poucos peixes, pela oração, pela generosidade e pela fé, se transformem em muito, em abundância. O que daria para alguns, dá agora para muitos, para todos...

Effatá - abre-te...

        Jesus deixou de novo a região de Tiro e, passando por Sidónia, veio para o mar da Galileia, atravessando o território da Decápole. Trouxeram-Lhe então um surdo que mal podia falar e suplicaram-Lhe que impusesse as mãos sobre ele. Jesus, afastando-Se com ele da multidão, meteu-lhe os dedos nos ouvidos e com saliva tocou-lhe a língua. Depois, erguendo os olhos ao Céu, suspirou e disse-lhe: «Effathá», que quer dizer «Abre-te». Imediatamente se abriram os ouvidos do homem, soltou-se-lhe a prisão da língua e começou a falar correctamente. Jesus recomendou que não contassem nada a ninguém. Mas, quanto mais lho recomendava, tanto mais intensamente eles o apregoavam. Cheios de assombro, diziam: «Tudo o que faz é admirável: faz que os surdos oiçam e que os mudos falem» (Mc 7, 31-37).
       “Ao fazer com que os surdos ouçam”, Jesus confirma que é o Messias que estava para vir. As palavras adquirem vida concreta nesta cura. Ele vem para nos libertar de todo o tipo de prisões. Com Ele, solta-se a língua, abrem-se os ouvidos, ressoa a palavra de Deus, circula vida nova.
       “Effatá”, relembremos, é o último dos ritos do Batismo, lembrando que a graça recebida nos há de permitir escutar a Palavra de Deus e professar a fé. A audição não apenas física, mas de coração. O que ouvimos e o que dizemos, como seguidores de Jesus, deve ser para louvor e glória de Deus. Se assim for, purificaremos o que ouvimos com a misericórdia de Deus, e diremos palavras que dimanem da caridade do Senhor.
       Expressão disso mesmo é o reconhecimento de Jesus, que se espalha entre as pessoas, em forma de testemunho, gratidão e de louvor: «Tudo o que faz é admirável: faz que os surdos oiçam e que os mudos falem».

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

TOMÁŠ HALÍK - DIANTE DE TI OS MEUS CAMINHOS

TOMÁŠ HALÍK (2018). Diante de Ti os meus caminhos. Prior Velho: Paulinas Editora. 384 páginas.
       Tomáš Halík nasceu a 1 de junho de 1948, em Praga, na Checoslováquia num ambiente e numa família ateia ou a-religiosa. Com efeito, os pais, batizados, pararam na Primeira Comunhão, e seguem aquilo que autor designa "humanismo secular". Batizam o filho, mas não têm mais ligações à Igreja. Por volta dos 18 anos, Halík encontra-se com a fé e, particularmente, com o cristianismo. Uma das leituras, que fazia parte da biblioteca do seu pai, que o ajudou no encontro com a fé, foi Cherston, com as suas dúvidas e questionamentos. O autor deixa-se provocar por tais interrogações, até que se vai aproximando da fé.
       Licenciou-se em Ciências Sociais e Humanas pela Faculdade de Filosofia da Universidade de Charles, em Praga e, clandestinamente, estudou teologia em Praga, tendo entretanto começado a frequentar a Igreja, a escutar os sermões, tornando-se acólito e sentindo a vocação ao sacerdócio, foi ordenado em Erfurt, em 1978. Mas terá que manter segredo deste facto.
       Durante o período comunista, considerado inimigo do regime, é impedido da docência universitária, o seu ambiente natural. Assume, então, a profissão de psicoterapeuta de toxicodependentes, situando-se na linha dos padres operários, pois não pode revelar a sua identidade eclesial. Em 1989, desafiado pelo Papa João Paulo II, tira um curso de pós-graduação na Universidade Pontifícia de Roma, Lateranense e outro na Faculdade Pontifícia de Teologia de Wroclaw, na Polónia..
       Trabalhou de perto com o futuro Presidente Václav Havel e, após 1989, tornou-se num dos seus conselheiros. Depois da queda do Comunismo, serviu como Secretário-geral da Conferência Episcopal da República Checa (1990-93).
       Hoje em dia, Halik é professor de sociologia na Universidade de Charles, em Praga (Departamento de Estudos Religiosos, Faculdade de Letras), pároco da Paróquia Académica e Presidente da Academia Cristã da República Checa. Desde 1989 tem proferido uma série de palestras em diversas universidades e comparecido em conferências internacionais na Europa, nos Estados Unidos da América, na Ásia, Austrália, Canadá e África do Sul.
       Os seus livros já foram publicados em várias línguas e diferentes países e recebeu diversos prémios literários nacionais e internacionais pelo diálogo intercultural e inter-religioso e pela defesa dos direitos humanos e pela liberdade espiritual. O seu livro “Paciência com Deus” recebeu o prémio do Melhor Livro Europeu de Teologia 2009/10 e, nos Estados Unidos da América, foi distinguido como “Livro do mês” em julho de 2010. Em 1992, o Papa João Paulo II nomeou-o conselheiro do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso e, em 2009, o Papa Bento XVI concedeu-lhe o título de Monsenhor – Prelado Honorário de Sua Santidade.
       Os leitores de Tomáš Halík já conhecem a forma entusiasta como escreve, melhor, como testemunha a fé no tempo atual, no contexto da Europa, mas muito da Checoslováquia e depois República Checa, de onde é natural, do ambiente comunista, para lá da cortina de ferro, da perseguição e silenciamento da Igreja e como a fé sobreviveu num contexto árido, ainda que o país pareça continuar a ser um dos mais "descrentes".
       Há muitas formas para se conhecer uma pessoa e o seu mundo, ou pelo menos, para fazer uma aproximação, já que a pessoa é sempre um mistério, o que diz, o que faz, além das abordagens feitas por terceiros. É sempre preferível, penso, ler o próprio, deixar que nos abra a sua casa e sobretudo a sua vida, a sua história, com os seus sonhos, projetos, desencantos e desencontros. É o que faz com esta obra, esta autobiografia. O autor percorre a história da sua vida, a família, o encontro com a fé e com a Igreja, a clandestinidade, sacerdote sem o poder revelar (quase) a ninguém. A sua mãe morreu sem o saber, muitos, tal como o seu Bispo, só o souberam muito mais tarde.
       Se viver num terreno árido no que à fé diz respeito, sob o domínio ideológico, social, cultural e político do comunismo, não foi fácil, pois havia sempre o risco de ser descoberto, ser denunciado, sujeito a interrogatório infindáveis, perseguido, encarcerado, a transição para a democracia revelou-se difícil e conturbada, até pela convivência entre os que se estiveram distantes em relação ao regime e os que colaboraram de perto, havendo sacerdotes nos dois lados da barricada. Foi necessário sarar feridas, mas também não se acomodar. O João Paulo II, o papa polaco, pela proximidade geográfica, mas sobretudo pela proximidade na luta contra o comunismo, foi uma referência, sancionando a democracia com uma visita histórica à Checoslováquia. O autor esteve com João Paulo II em diferentes ocasiões, nomeadamente para preparar a visita. João Paulo II, como vimos, desafiou-o a estudar numa das Universidades de Roma, para aprofundar os seus estudos teológicos, mas também para conhecer melhor a realidade mundial. A Universidade, com efeito, foi, tem sido, o seu mundo, como Professor. O seu sonho e o seu projeto de vida. Outro sonho foi viajar por todo o mundo. Impedido durante a regência comunista, logo após a democratização do país voltou a viajar para diversos países, entre os quais se conta Portugal.
       É um autor de pontes, acolhendo o cristianismo como paradoxo que enquadra a fé e a descrença, a Sexta-feira Santa e a Páscoa, relevando um diálogo vivo e honesto entre a fé e o ateísmo, a Igreja e a sociedade, a vivência religiosa e a cultura, apostando no ecumenismo e no diálogo inter-religioso. As dúvidas e os desencantos (desencontros) também existiram na sua caminhada de fé, mas optou por inseri-los na sua pertença à Igreja. O cristianismo abarca o dia e a noite, a luz e as trevas, a morte e a ressurreição. Os questionamentos ajudam a clarificar a fé, a aprofundar as razões da nossa esperança, fazem-nos retomar a busca por Deus, nunca nos deixando totalmente satisfeitos, mas procurando sempre, prosseguindo caminho, até à eternidade.
       Porquê esta autobiografia de Halík:
«Os meus leitores e ouvintes têm o direito de conhecer não só o contexto exterior, mas também o contexto interior da minha criação, não só o contexto da época e do meio social e cultural, mas também o contexto da minha história de vida, do meu drama da procura e do amadurecimento espiritual. Se quiserem, encontrarão aqui a chave para uma compreensão mais profunda daquilo que lhes tento comunicar nos meus livros e nas minhas palestras... 
Quem sou, na verdade? “A questão que me tornei para mim mesmo”, diz Santo Agostinho. Sim, o nosso eu, tal como o nosso Deus, deve ser para nós objeto de perguntas, dúvidas e buscas constantes. Também procuramos o nosso Eu e o nosso Deus através da narração da nossa história e de não escondermos a nossa emoção ao narrá-la. Apenas o coração que não deixou de se emocionar com o desassossego santo pode, no final, descansar no mar da paz divina»
Para ler outros trechos:

São Cirilo, monge, e São Metódio, bispo

Nota biográfica:
       Cirilo, natural de Salónica, recebeu uma excelente formação em Constantinopla. Juntamente com seu irmão, Metódio, dirigiu-se para a Morávia, a pregar a fé católica. Ambos prepararam os textos litúrgicos em língua eslava, escritos com letras que depois se chamaram «cirílicas». Chamados a Roma, ali morreu Cirilo a 14 de Fevereiro de 869. Metódio foi então ordenado bispo e partiu para a Panónia onde exerceu intensa atividade evangelizadora. Teve muito que sofrer por causa de pessoas invejosas, mas contou sempre com o apoio dos Pontífices Romanos. Morreu no dia 6 de Abril de 885 em Velehrad (Morávia).

»» Para saber mais, consulte a biografia e as lições de Bento XVI: AQUI.
Oração de colecta:
       Senhor nosso Deus, que iluminastes os povos eslavos por meio dos santos irmãos Cirilo e Metódio, abri os nossos corações aos ensinamentos da vossa palavra e fazei de nós um povo unânime na confissão da verdadeira fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Da Vida de Constantino em língua eslava

Fazei crescer a vossa Igreja e reuni a todos na unidade

Constantino Cirilo, fatigado pelos muitos trabalhos, caiu doente; e quando havia já muitos dias que suportava a doença, teve em certa ocasião uma visão de Deus e começou a cantar assim: «O meu espírito alegrou-se e o meu coração exultou, quando me disseram: Vamos para a casa do nosso Deus».
Depois envergou trajes de cerimónia e permaneceu assim todo aquele dia, cheio de alegria e dizendo: «A partir de agora não sou servo nem do imperador, nem de homem algum na terra, mas unicamente de Deus Omnipotente. Eu não existia, mas agora existo e existirei para sempre. Amen». No dia seguinte, vestiu o santo hábito monástico e, juntando luz à luz, impôs-se o nome de Cirilo. E permaneceu assim cinquenta dias.
Ao chegar a hora de receber o repouso e de emigrar para as habitações eternas, ergueu as mãos para Deus e rezou, chorando e dizendo:
«Senhor meu Deus, que criastes todas as ordens de anjos e os espíritos incorpóreos, estendestes o céu e firmastes a terra e formastes do nada todas as coisas que existem, Vós que sempre atendeis aqueles que fazem a vossa vontade, Vos temem e observam os vossos preceitos, atendei a minha oração e conservai na fidelidade o vosso povo de quem me fizestes servo incompetente e indigno.
Livrai-o da malícia ímpia e pagã dos que blasfemam contra Vós; fazei crescer a vossa Igreja e reuni a todos na unidade. Ao povo escolhido tornai-o concorde na fé verdadeira e na recta confissão e inspirai aos seus corações a palavra da vossa doutrina: porque é dom vosso que nos tenhais escolhido para pregar o Evangelho do vosso Ungido, incitando-nos a praticar boas obras e a fazer o que é do vosso agrado. Aqueles que me destes, eu Vo-los devolvo, porque são vossos; governai-os com a vossa mão direita e protegei-os à sombra das vossas asas, para que todos louvem e glorifiquem o vosso nome, Pai e Filho e Espírito Santo. Amen».
Depois de ter beijado a todos com o ósculo santo, disse: «Bendito seja Deus, que não nos entregou aos dentes dos nossos adversários, mas rompeu as suas redes e nos libertou do mal que tramavam contra nós». E assim adormeceu no Senhor, com a idade de quarenta e dois anos.
O Papa ordenou que todos os gregos que estavam em Roma, juntamente com os romanos, se reunissem, acendessem velas e cantassem as suas exéquias, e que lhe fossem dadas honras funerárias não inferiores às que seriam tributadas ao próprio Papa; e assim se fez.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

O que sai do homem é que o torna impuro

       Jesus chamou de novo para junto de Si a multidão e disse-lhes: «Escutai-Me e procurai compreender. Não há nada fora do homem que ao entrar nele o possa tornar impuro. O que sai do homem é que o torna impuro. Se alguém tem ouvidos para ouvir, oiça». Quando Jesus, ao deixar a multidão, entrou em casa, os discípulos perguntaram-Lhe o sentido da parábola. Ele respondeu-lhes: «Vós também não entendestes? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não pode torná-lo impuro, porque não entra no coração, mas no ventre, e depois vai parar à fossa?». Assim, Jesus declarava puros todos os alimentos. E continuou: «O que sai do homem é que o torna impuro; porque do interior dos homens é que saem as más intenções: imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições, injustiças, fraudes, devassidão, inveja, difamação, orgulho, insensatez. Todos estes vícios saem do interior do homem e são eles que o tornam impuro» (Mc 7, 14-23).
        O texto do Evangelho de hoje é muito esclarecedor para quem olha para o mundo como lugar de condenação. Sublinhe-se que nos evangelhos, recorrentemente, se coloca a salvação em oposição ao mundo, mas não o mundo físico, sobretudo, como mundo do mal. Mas os evangelhos também esclarecem que os discípulos de Jesus Cristo estão no mundo e é no mundo que são chamados à salvação e ao compromisso, é ao mundo que Deus vem em Pessoa.
       Por outro lado, Jesus deixa claro que o mal é sobretudo interior, como o bem ou a felicidade, brota do íntimo da pessoa. As realidades materiais são objetivas, estão fora, existem, a visão sobre elas depende da pessoa, da sua educação, cultura, dos seus valores e referências, da sua disposição, da sua idiossincrasia.
       Na cultura judaica compreende-se melhor a intervenção de Jesus. Havia alimentos que eram considerados impuros, tornando impuro que os comesse. Neste concreto, Jesus diz claramente que os alimentos têm a mesma carga moral, ou melhor, não têm qualquer conotação negativa ou positiva, pode fazer melhor ou pior, mas em si mesmos não são bons ou maus,moralmente falando. Diz Jesus que todo o alimento entra no ventre, não no coração, e só o que entra no coração, na mente, é que poderia ter uma valoração moral.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

A Palavra de Deus e as tradições...

       Reuniu-se à volta de Jesus um grupo de fariseus e alguns escribas que tinham vindo de Jerusalém. Viram que alguns dos discípulos de Jesus comiam com as mãos impuras, isto é, sem as lavar. – Na verdade, os fariseus e os judeus em geral só comem depois de lavar cuidadosamente as mãos, conforme a tradição dos antigos. Ao voltarem da praça pública, não comem sem antes se terem lavado. E seguem muitos outros costumes a que se prenderam por tradição, como lavar os copos, os jarros e as vasilhas de cobre –. Os fariseus e os escribas perguntaram a Jesus: «Porque não seguem os teus discípulos a tradição dos antigos, e comem sem lavar as mãos?». Jesus respondeu-lhes: «Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. É vão o culto que Me prestam, e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos’. Vós deixais de lado o mandamento de Deus, para vos prenderdes à tradição dos homens». Jesus acrescentou:  «Sabeis muito bem desprezar o mandamento de Deus, para observar a vossa tradição. Porque Moisés disse: ‘Honra teu pai e tua mãe’; e ainda: ‘Quem amaldiçoar o seu pai ou a sua mãe deve morrer’. Mas vós dizeis que se alguém tiver bens para ajudar os seus pais necessitados, mas declarar esses bens como oferta sagrada, nesse caso fica dispensado de ajudar o pai ou a mãe. Deste modo anulais a palavra de Deus com a tradição que transmitis. E fazeis muitas coisas deste género» (Mc 7, 1-13).
       No diálogo/confronto com os fariseus, Jesus coloca a prioridade na conversão interior, na prática da caridade, na justiça, na generosidade para com o semelhante. Os fariseus interrogam Jesus pelo facto dos seus discípulos não lavarem as mãos antes da refeição. Tratava-se não apenas de higiene, mas de uma tradição religiosa. Jesus não perde a oportunidade para nos recentrar no essencial. As tradições podem ser e são importantes na medida em que nos aproximam dos outros e não podem servir de desculpa ou de justificação para não ajudarmos os outros. Pelo contrário, as tradições só são defensáveis se contribuem para a prática do bem.
       Dests modo, Jesus dá prioridade ao tratamento afável com o semelhante, ainda que algum costume não seja rigorosamente cumprido...

Nossa Senhora de Lurdes

Nota Histórica:
       Em 1858 a Imaculada Virgem Maria apareceu a Bernarda Soubirous na gruta de Massabielle, perto de Lourdes (França). Por intermédio desta humilde menina, Maria chamou os pecadores à conversão e despertou na Igreja um intenso movimento de oração e caridade, sobretudo em benefício dos doentes e dos pobres.

Oração de Colecta:
       Vinde em auxílio da nossa fraqueza, Senhor de misericórdia, e concedei que, celebrando a memória da Imaculada Mãe de Deus, sejamos purificados dos nossos pecados. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
(De uma carta de Santa Maria Bernarda Soubirous ao P. Gondrand, ano 1861)

A Senhora me falou

Um dia em que fui à margem do Gave apanhar lenha com outras duas meninas, ouvi um rumor. Voltei-me para o lado do prado e reparei que não havia a menor agitação no arvoredo. Então levantei a cabeça e olhei para a gruta. Vi uma Senhora vestida de branco: tinha um vestido branco e uma faixa azul à cintura e uma rosa amarela em cada pé, da cor do rosário que trazia.
Ao ver isto, esfreguei os olhos, julgando que me enganava. Meti a mão na algibeira e encontrei o meu rosário. Quis também fazer o sinal da cruz, mas não consegui levar a mão à testa. Quando, porém, aquela Senhora fez o sinal da cruz, tentei fazê-lo também; a mão tremia-me, mas consegui. Comecei então a rezar o rosário: a Senhora ia passando as contas do seu rosário, mas não movia os lábios. Quando acabei o rosário, a visão desvaneceu-se.
Perguntei às outras duas pequenas se tinham visto alguma coisa e elas responderam que não. Queriam que lhes dissesse o que era, e eu então disse-lhes que tinha visto uma Senhora vestida de branco, mas não sabia quem era, e pedi-lhes que não falassem disso a ninguém. Então elas aconselharam-me a não voltar mais àquele lugar; mas eu disse-lhes que não. Ali voltei no Domingo pela segunda vez, porque me senti interiormente chamada...
Só à terceira vez a Senhora me falou. Perguntou-me se queria ir ali durante quinze dias e eu disse-lhe que sim.
Mandou-me dizer aos sacerdotes que fizessem ali uma capela, e depois mandou-me ir beber à fonte. Como não vi nenhuma fonte, fui beber ao Gave. Ela disse-me que não era ali e fez-me sinal com o dedo, indicando-me o lugar onde estava a fonte. Dirigi-me para lá, mas só vi um pouco de água suja; quis encher a mão para beber, mas não consegui nada. Comecei a escavar e daí a pouco já podia tirar um pouco de água. Deitei-a fora por três vezes, mas à quarta já a pude beber. Em seguida a visão desvaneceu-se e eu fui-me embora.
Durante quinze dias voltei lá, e a Senhora apareceu-me todos os dias, excepto uma segunda-feira e uma sexta-feira. Repetiu-me várias vezes que dissesse aos sacerdotes para fazerem ali uma capela. Mandava-me ir lavar à fonte e dizia-me que rezasse pela conversão dos pecadores. Várias vezes lhe perguntei quem era, mas respondia-me apenas com um leve sorriso. Finalmente, erguendo os braços e levantando os olhos ao céu, disse-me que era a Imaculada Conceição.
Durante esses quinze dias, revelou-me três segredos que me proibiu de dizer fosse a quem fosse. Fui fiel até ao presente.

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Domingo V do Tempo Comum - ano C - 10/02/2019

Havia sempre tanta gente a chegar...

       "...os Apóstolos voltaram para junto de Jesus e contaram-Lhe tudo o que tinham feito e ensinado. Então Jesus disse-lhes: «Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco». De facto, havia sempre tanta gente a chegar e a partir que eles nem tinham tempo de comer. Partiram, então, de barco para um lugar isolado, sem mais ninguém. Vendo-os afastar-se, muitos perceberam para onde iam; e, de todas as cidades, acorreram a pé para aquele lugar e chegaram lá primeiro que eles. Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-Se de toda aquela gente, porque eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas" (Mc 6, 30-34).
       A liturgia da palavra continua a fornecer-nos textos belíssimos e verdadeiramente significativos.
       No Evangelho acompanhamos o regresso dos Apóstolos, depois do envio, em que se nota expressivamente a delicadeza de Jesus para com eles e para com as multidões que O procuram em toda a parte. Preocupa-se com o descanso dos discípulos. Logo depois compadece-se daquela multidão, a quem ensina muitas coisas. O ensino é parte essencial do ministério de Jesus. Significa também que a multidão não vinha apenas à procura de milagres mas de um sentido para as suas vidas.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

É um profeta como os antigos profetas...

       O rei Herodes ouviu falar de Jesus, pois a sua fama chegara a toda a parte e dizia-se: «João Baptista ressuscitou dos mortos; por isso ele tem o poder de fazer milagres». Outros diziam: «É Elias». Outros diziam ainda: «É um profeta como os antigos profetas». Mas Herodes, ao ouvir falar de tudo isto, dizia: «João, a quem mandei cortar a cabeça, ressuscitou»...
        ...Ela voltou apressadamente à presença do rei e fez-lhe este pedido: «Quero que me dês sem demora, num prato, a cabeça de João Baptista». O rei ficou consternado, mas por causa do juramento e dos convidados, não quis recusar o pedido. E mandou imediatamente um guarda, com ordem de trazer a cabeça de João. O guarda foi à cadeia, cortou a cabeça de João e trouxe-a num prato. A jovem recebeu-a e entregou-a à mãe. Quando os discípulos de João souberam a notícia, foram buscar o seu cadáver e deram-lhe sepultura (Mc 6, 14-29).
       A fama de Jesus espalha-se e, consequentemente, muitos se interrogam sobre a Sua identidade. Chega aos ouvidos de Herodes e também este se questiona sobre a figura do "suposto" Messias. Alguns sugerem que Ele é João Batista ressuscitado.
              A figura de Herodes, odiado pela população em geral, usa e abusa do poder que tem, e não se imiscui de aniquilar todos aqueles que aparentam ser ameaça pelas palavras que proferem ou pelo poder que almejam. João Batista é mais uma vítima, ainda que no caso a instigadora seja Herodíades, a mulher de Herodes..
       O Evangelho, narrando a morte de João Batista, mostra como por vezes a verdade pode provocar aqueles que vivem na mentira e na falsidade.
       A morte de João Baptista marca uma nova etapa na vida e missão de Jesus. O que poderia ser um sinal ameaçador, converte-se num motivo aglutinador na pregação de Jesus.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

As Cinco Chagas do Senhor

Nota histórica:
       O culto das Cinco Chagas do Senhor, isto é, as feridas que Cristo recebeu na cruz e manifestou aos Apóstolos depois da ressurreição, foi sempre uma devoção muito viva entre os portugueses, desde os começos da nacionalidade. São disso testemunho a literatura religiosa e a onomástica referente a pessoas e instituições. Os Lusíadas sintetizam (I, 7) o simbolismo que tradicionalmente relaciona as armas da bandeira nacional com as Chagas de Cristo. Assim, os Romanos Pontífices, a partir de Bento XIV, concederam para Portugal uma festa particular, que ultimamente veio a ser fixada neste dia.
Oração de colecta:
       Deus de infinita misericórdia, que por meio do vosso Filho Unigénito, pregado na cruz, quisestes salvar todos os homens, concedei-nos que, venerando na terra as suas santas Chagas, mereçamos gozar no Céu o fruto redentor do seu Sangue. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Leitura de Isaías:
       "Desprezado e repelido pelos homens, homem de dores, acostumado ao sofrimento, era como aquele de quem se desvia o rosto, pessoa desprezível e sem valor para nós. Ele suportou as nossas enfermidades e tomou sobre si as nossas dores. Mas nós víamos nele um homem castigado, ferido por Deus e humilhado. Ele foi trespassado por causa das nossas culpas e esmagado por causa das nossas iniquidades. Caiu sobre ele o castigo que nos salva: pelas suas chagas fomos curados. Todos nós, como ovelhas, andávamos errantes, cada qual seguia o seu caminho. E o Senhor fez cair sobre ele as faltas de todos nós. Maltratado, humilhou-se voluntariamente e não abriu a boca. Como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda ante aqueles que a tosquiam, ele não abriu a boca" (Is 53, 1-10).
São João Crisóstomo, bispo, sobre o Evangelho de São João

Cristo manifesta-Se com as suas chagas após a ressurreição

Se é pueril acreditar ao acaso e sem motivo, também é muito insensato querer examinar e inquirir tudo demasiadamente. E esta foi a sem-razão de Tomé. Perante a afirmação dos Apóstolos: Vimos o Senhor, recusa-se a acreditar: não porque descresse deles, mas porque julgava impossível o que afirmavam, isto é, a ressurreição de entre os mortos. Não disse: «Duvido do vosso testemunho», mas: Se não meter a minha mão no seu lado, não acreditarei.
Jesus aparece segunda vez e não espera que Tomé O interrogue, ou Lhe fale como aos discípulos. O Mestre antecipa-se aos seus desejos, fazendo-lhe compreender que estava presente quando falou daquele modo aos companheiros. Na censura que lhe faz serve-Se das mesmas palavras e ensina como deverá proceder para o futuro. Depois de dizer: Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; mete a tua mão no meu lado, acrescenta: Não sejas incrédulo, mas crente. Tomé duvidou por falta de fé. Ainda não tinham recebido o Espírito Santo. Mas isso não voltaria a acontecer; a partir de então manter-se-iam firmes na fé. Cristo, porém, não Se ficou nesta admoestação e insistiu novamente. Tendo o discípulo caído em si e exclamado: Meu Senhor e meu Deus, disse-lhe Jesus: Porque Me viste, acreditaste. Felizes os que, sem terem visto, acreditaram.
É próprio da fé crer no que não se vê. A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das que não se vêem. Com efeito, o divino Mestre chama felizes, não só os discípulos, mas também todos aqueles que no decurso dos tempos acreditarão n’Ele. Dirás talvez: Mas na verdade, os discípulos viram e creram. É certo; no entanto, não precisaram de ver para acreditarem. Sem quaisquer exigências, bastou-lhes ver o sudário para logo aceitarem o acto da ressurreição e acreditarem plenamente, antes mesmo de verem o corpo glorioso de Jesus. Portanto, se alguém disser: «Quem dera ter vivido no tempo de Jesus e contemplado os seus milagres», recorde as palavras: Felizes os que, sem terem visto, acreditaram.
E aqui surge uma pergunta: Como pôde o corpo incorruptível conservar as cicatrizes dos cravos e ser tocado por mão mortal? Não é caso para espanto, pois se trata de pura condescendência da parte de Cristo. O seu corpo era tão puro, subtil e livre de qualquer matéria, que podia entrar numa casa com as portas fechadas. Quis, porém, manifestar-Se deste modo, para que acreditassem na ressurreição e soubessem que era Ele mesmo que fora crucificado, e não outro, quem tinha ressuscitado. Por este motivo conserva, na ressurreição, os estigmas da cruz, e come na presença dos Apóstolos, circunstância esta que eles especialmente recordariam: Nós que comemos e bebemos com Ele. Quer dizer: Antes da paixão, ao vermos Jesus caminhando sobre as ondas, não considerávamos o seu corpo de natureza diferente da nossa; também agora, ao vê-l’O com as cicatrizes, após a ressurreição, devemos crer na sua incorruptibilidade.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

SS. PAULO MIKI e COMPANHEIROS, mártires

Nota biográfica:
       Paulo nasceu no Japão entre os anos 1564/1566. Admitido na Companhia de Jesus, pregou o Evangelho com grande fruto entre os seus concidadãos. Tendo-se tornado mais violenta a perseguição contra os católicos, foi preso com vinte e cinco companheiros. Depois de muito maltratados, foram conduzidos à cidade de Nagasáki, onde foram crucificados no dia 5 de Fevereiro de 1597.
Oração de coleta:
       Senhor nosso Deus, fortaleza de todos os Santos, que chamastes São Paulo Miki e seus companheiros à vida eterna através do martírio da cruz, concedei-nos, por sua intercessão, a graça de conservar até à morte a fé que professamos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Da História do martírio de São Paulo Miki e seus companheiros, escrita por um autor do tempo (Cap. 14, 109-110: Acta Sanctorum Fev. 1, 769) (Sec. XVI)

Sereis minhas testemunhas

Quando as cruzes foram levantadas, foi coisa admirável ver a constância de todos, à qual eram exortados pelo Padre Passos e pelo Padre Rodrigues. O Padre comissário permaneceu sempre de pé, sem se mexer e com os olhos fixos no céu. O Irmão Martinho cantava salmos de acção de graças à bondade divina e juntava-lhes o versículo Nas tuas mãos, Senhor. Também o irmão Francisco Branco dava graças a Deus com voz clara. O irmão Gonçalo recitava em voz alta o «Pai Nosso» e a «Ave Maria».
O nosso Irmão Paulo Miki, vendo-se elevado diante de todos a uma tribuna como nunca tivera, começou por afirmar aos circunstantes que era japonês e pertencia à Companhia de Jesus, que ia morrer por haver anunciado o Evangelho, e que dava graças a Deus por lhe conceder tão elevado benefício. E por fim disse estas palavras:
«Agora que cheguei a este ponto extremo da minha vida, nenhum de vós há de acreditar que eu queira esconder a verdade. Declaro-vos portanto que não há outro caminho para a salvação do que aquele que possuem os cristãos. E como este caminho me ensina a perdoar aos inimigos e a todos os que me ofenderam, eu livremente perdoo ao imperador e a todos os autores da minha morte e peço a todos que se baptizem».
Então, voltando os olhos para os companheiros, começou a animá-los. Nos rostos de todos transparecia uma grande alegria, mas Luís era aquele em que isso se via de modo mais claro: quando outro cristão o animou gritando que em breve estaria com ele no paraíso, fez com as mãos e todo o corpo um gesto tão cheio de contentamento que os olhos de todos os presentes se fixaram nele.
António estava ao lado de Luís, com os olhos fitos no céu. Depois de invocar o Santíssimo Nome de Jesus e de Maria, entoou o salmo "Louvai o Senhor, servos do Senhor", que tinha aprendido em Nagasaki no catecismo; é que no catecismo costumam ensinar alguns salmos às crianças.
Alguns repetiam com rosto sereno: «Jesus, Maria»; outros exortavam os presentes a levarem uma vida digna de cristãos; e por estas e outras acções semelhantes demonstravam que estavam prontos para a morte.
Então os quatro carrascos começaram a tirar as espadas daquelas bainhas que costumam usar os japoneses. Ao verem o seu aspecto terrível todos os fiéis gritaram «Jesus, Maria», e soltaram um grito de tristeza que chegou ao céu. E os carrascos, com dois golpes, em pouco tempo os mataram a todos.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Santa Águeda, Virgem e Mártir

Nota biográfica:
       Sofreu o martírio em Catânia (Sicília), provavelmente na perseguição de Décio. O seu culto propagou-se desde a antiguidade por toda a Igreja e o seu nome foi inserido no Cânon Romano.
Oração de coleta:
       Concedei-nos, Senhor os dons da vossa misericórdia, por intercessão de Santa Águeda, que soube agradar-Vos pela consagração da sua virgindade e pela coragem no seu martírio. Por Nosso Senhor.
São Metódio da Sicília, bispo, sobre Santa Águeda

Dom que nos foi concedido por Deus, fonte mesma da bondade

A comemoração do aniversário da santa mártir juntou-nos a todos neste lugar, como sabeis, para celebrar a luta gloriosa desta mártir antiga e ao mesmo tempo tão próxima que nos parece agora mesmo estar combatendo e vencendo através dos divinos milagres com os quais diariamente é coroada e ornada.
É uma virgem, porque nasceu do Verbo de Deus imortal (que também por mim sofreu a morte na carne) e Filho indiviso de Deus, como diz João, o teólogo: A quantos O receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
É uma virgem esta mulher que nos convidou para o sagrado banquete; é a mulher desposada com um único esposo, Cristo, para usar o mesmo simbolismo nupcial de que falava o apóstolo Paulo.
É uma virgem que pintava e enfeitava os olhos e os lábios com a luz da consciência e a cor do sangue do verdadeiro e divino Cordeiro; e pela meditação contínua trazia sempre em si a morte d’Aquele que tanto a amava.
Deste modo, a mística veste da sua confissão é um testemunho que fala por si mesmo a todas as gerações futuras, porque leva em si a marca indelével do Sangue de Cristo e o tesouro inexaurível da sua eloquência virginal.
Ela é uma imagem autêntica da bondade, porque sendo de Deus, vem da parte do seu Esposo a tornar-nos participantes daqueles bens de que o seu nome leva o valor e o sentido: Águeda [quer dizer «boa»] é um dom que nos foi concedido por Deus, a própria fonte da bondade.
Qual é a causa suprema de toda a bondade senão Aquele que é o sumo bem? Por isso, quem encontrará qualquer coisa que mereça, como Águeda, os nossos elogios e louvores?
Águeda, cuja bondade corresponde tão bem ao nome e à realidade; Águeda, que pela sua magnífica gesta leva consigo um nome glorioso, e no próprio nome mostra a gesta gloriosa que realizou; Águeda, que com o nome nos atrai, a fim de que todos venham ao seu encontro, e com o exemplo nos ensina, a fim de que todos se encaminhem sem demora para o verdadeiro bem, que é Deus somente.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Domingo IV do Tempo Comum - ano C - 03.02.2019

São João de Brito, presbítero e mártir

Nota biográfica:

       Nasceu em Lisboa (Portugal) no dia 1 de março de 1647, de família nobre. Com 9 anos entra para a Corte como pagem. Depois de uma piedosa adolescência, entrou na Companhia de Jesus, em 17 de dezembro de 1662, depois dos estudos na Universidade de Évora, é ordenado sacerdote em 1673. Nesse mesmo ano parte para a Índia (14 de março), desembarca em Goa a 14 de setembro. No ano de 1686 sofre o primeiro «martírio». Entretanto regressa a Portugal, onde chega em 8 de setembro de 1687. Três anos depois, a 8 de abril de 1690, parte de novo para a Índia, chegando a Goa a 2 de novembro.
       Numa carta de 20 de abril de 1692. “Não há perseguição que me possa roubar a alegria que sinto em pregar, mais uma vez, o Evangelho aos gentios. Nos últimos quatro meses tenho estado escondido numa floresta, vivendo debaixo de uma árvore com tigres e cobras. Até agora ainda não fui atacado...
       “Tal é a minha relação para o ano de 1682. Tudo se resume nisto: não temos suporte humano em que nos possamos apoiar, opõem-se-nos reis e príncipes, os poderosos e letrados fazem quanto podem para nos expulsar; e mesmo assim, graças a uma proteção especial de Deus Nosso Senhor, que nos mantém nesta terra, nós conseguimos difundir a Sua Santa Religião.”

       A 8 de janeiro de 1693 é preso, onde sofre vários tormentos.O seu julgamento decorreu a 28 de janeiro, mera formalidade, foi condenado à morte. Em Oriur foi morto por degolamento a 4 de fevereiro de 1693. Até ao último suspiro João de Brito foi sempre um exemplo de Fé cristã; ao caminhar tranquilamente para o local da execução ele continuava a viver o Evangelho, e ao enfrentar o carrasco estava certo de que “se alguém guardar a Minha palavra nunca mais verá a morte” (Jo 8,51).
       Viria a ser beatificado pelo Papa Pio IX, a 8 de abril de 1852 e canonizado pelo Papa Pio XII, a 22 de junho de 1947.

Cronologia:


1647 – Nascimento em Lisboa (1 de Março).
1656 – Com 9 anos entra na Corte como pagem.
1662 – Entrada no Noviciado da Companhia de Jesus (17 de dezembro).
1664 – Faz os votos no fim do Noviciado (25 de dezembro).
1665 – Estudos na Universidade de Évora.
1666 – Começa os estudos no Colégio das Artes, em Coimbra.
1673 – Ordenação sacerdotal.
1673 – Partida para a Índia (15 de março). Chegada a Goa (14 de setembro).
1674 – Inicia a ação missionária na missão do Maduré.
1686 – Primeiro «martírio».
1687 – Regresso a Portugal. Chega a Lisboa a 8 de setembro.
1690 – Parte novamente para a Índia (8 de abril). Chegada a Goa (2 de novembro).
1693 – Prisão e tormento (8 de janeiro).
1693 – Martírio em Oriur (4 de fevereiro).
1852 – Beatificação pelo Papa Pio IX (8 de abril).
1947 – Canonização pelo Papa Pio XII (22 de junho)

Oração:
        Senhor, que fortalecestes com invencível constância o mártir São João de Brito para pregar a fé entre os povos da Índia, concedei-nos, por seus méritos e intercessão, que, celebrando a memória do seu triunfo, imitemos os exemplos da sua fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo...

Pio XII, papa, no dia seguinte ao da canonizacão de João de Brito

Renunciou à vida do mundo

João de Brito, o benjamim da família, órfão de pai desde a mais tenra infância, foi educado na corte do sábio rei de Portugal D. João IV. No meio da alegria folgazã dos pajens seus companheiros, nunca deixou de reflectir na sua vida a bondosa imagem de um novo Estanislau: a sua modéstia, a sua piedade, a espontânea defesa da sua pureza angélica, tornaram-se alvo frequente de mofas e de outros tratamentos ainda piores, os quais, suportados com paciência inquebrantável, lhe deram ocasião para que o apelidassem, como presságio do seu fim heróico, «o mártir».
Não se julgue que fosse insensível ao que lhe feria o amor próprio; mas era de índole tão bondosa mesmo para com aqueles que não apreciavam a sua virtude, que à irrisão e ofensas dos companheiros correspondia sempre com um sorriso benévolo e suma afabilidade.
João, que desde o nascimento fora santificado pelo dom da graça divina, e depois saboreou como o Senhor é bom, passa pelo mundo como um raio de luz através das sombras da selva escura, cresce como lírio entre os espinhos, eleva-se para o céu e floresce, esquecendo tudo quanto o rodeia; estimulado pelos favores de Deus, alimenta em si uma adolescência vigorosa que, à imitação do Apóstolo, quando Aquele que o tinha destinado desde o seio materno quis chamá-lo para pregar o seu Filho entre os gentios, decididamente não consultou a carne e o sangue, e subtraiu-se à ternura materna, ao afecto do rei e à tranquilidade da sua terra natal.
Olhai para o jovem missionário, para o heroísmo da sua acção, que se dilata no meio dos povos infiéis: acção esplêndida, acção destemida, acção fecunda. Seria necessário não ter ideal algum no coração para não sentir o entusiasmo que suscita a narração da sua vida tão ardente, para não experimentar, com um sentimento de santa inveja, o desejo de participar em tão árduas canseiras evangélicas e de alcançar os seus merecimentos na medida das próprias forças.
Neste herói da santidade, movido por uma atividade sem tréguas nem descanso, não tardaria a sentir-se consumada a vida laboriosa do missionário, se não tivesse sobrevindo tão subitamente o martírio a impedir-lhe o trabalho ardoroso da pregação da fé e moral evangélica, interrompendo o curso da sua vida e da obra começada.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

O reino de Deus pode comparar-se...

        Disse Jesus à multidão: «O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Dorme e levanta-se, noite e dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como. A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga, por fim o trigo maduro na espiga. E quando o trigo o permite, logo se mete a foice, porque já chegou o tempo da colheita». Jesus dizia ainda: «A que havemos de comparar o reino de Deus? Em que parábola o havemos de apresentar? É como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há sobre a terra; mas, depois de semeado, começa a crescer e torna-se a maior de todas as plantas da horta, estendendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra» (Mc 4, 26-34).
        As parábolas são uma constante na pregação de Jesus. Partindo de situações concretas, da vida do dia a dia, Jesus torna mais clara a mensagem sobre o reino de Deus. Hoje compara o reino de Deus a um homem que lança a semente à terra e mesmo dormindo a semente vai crescendo até dar fruto, quase sem se perceber a ação do "semeador". A segunda parábola, do grão de mostarda, acentua que não é o tamanho ou o poder inicial da semente... mas a seiva no seu interior que de pequena semente a torna uma árvore frondosa.
       Deus sustenta o mundo em todo o tempo, mesmo quando as situações problemáticas parecem mostrar a ausência de Deus. Mesmo quando não se percebe a presença e o amor de Deus, Deus está, Deus faz-Se presente, Deus conta connosco. Por outro lado, não importa a pobreza inicial da nossa vida, mas o que poderemos vir a tornar-nos...