quinta-feira, 31 de maio de 2012

De Maria sabemos duas coisas: tem um amor e uma casa

       De Maria sabemos duas coisas: tem um amor e uma casa. Podemos prescindir de muitas coisas, mas não de uma casa nem de uma família. Podemos ser pobres de tudo; mas, para viver, precisamos de um amor ou, ainda mais, «muito amor para viver bem» (J. Maritaisn).
       ...
       A casa é o lugar onde o dono recebe o seu hóspede. Estar «na sua casa», recolhida em si, é também para Maria o modo mais adequado para receber o grande Hóspede.
       A casa é o lugar onde se faz unidade entre o que está dentro e o que está fora, através do acolhimento e da hospitalidade. O eu existe recolhendo-se e não dispersando-se. Maria começa por existir no Evangelho como recolhida em sua casa.

       O recolhimento é afastar-se das coisas de fora, para dar mais atenção a si mesmo e para demorar junto de alguém. A casa que recolhe liberta a atenção do coração da cena do mundo em ordem à proximidade, a uma familiaridade, a uma intimidade com alguém. Habitar a sua casa significa viver uma atenção liberta, que se abre a uma intimidade e a um acolhimento. De facto, Maria acolhe: o anjo, a Palavra, o Espírito, o filho.
       ... Atenta e acolhedora, a rapariga de Nazaré é virgem e será mãe.
       Recolhida e hospitaleira, com as duas características de cada casa, Maria será a casa de Deus.

ERMES RONCHI, As casas de Maria.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Nós somos católicos

Tantos “dias de” onde é possível – e preciso - reclamar a afirmação “Nós somos católicos” e exigir a presença, a participação, o compromisso!

       A mobilização virtual em torno de um slogan foi imediata: um vídeo espalhado pelas redes sociais, partilhado repetidamente e recomendado entre amigos fez de uma certeza – “Nós somos católicos” – uma sintonia global entre os que concretizam a experiência do cristianismo numa família, a da Igreja Católica.
       A afirmação é traduzida por muitas imagens, pela poesia, pela evocação do empreendedorismo de pessoas e organizações, a inovação humanizante em cada época na saúde, na educação, na assistência. Tudo à escala global e a cada passo comprovada pelas referências constantes, em ruas e cidades, a figuras maiores desta família.
       Em dois minutos, o filme percorre mais de 2000 mil anos de História, evoca grandes feitos e criações e provoca convergências espontâneas entre povos de qualquer canto do mundo para uma certeza: todos estamos unidos a uma Pessoa, Jesus Cristo.
       Diante de qualquer caos, é essa convicção que permite a permanência: a da Igreja e a de muitos nessa família. Existe entre todos um denominador comum que permite somar ou subtrair, acrescentar ou tirar, mas nunca dividir.
       A memória deste vídeo (reveja o vídeo no final do texto) que qualquer motor de pesquisa traz ao ecrã, acontece no contexto de iniciativas que, em todos os tempos e com particular incidência nestes dias, ocorre no nosso “jardim à beira mar plantado” e que reclamam, dos que pertencem a esta grande família, a afirmação clara e convicta de que “Nós somos católicos”.
       Abundam as oportunidades para o fazer, nas dioceses que se reorganizam ou nos projetos que inovam. Basta seguir as propostas que fazem convergir núcleos desta família para um “Dia da Diocese”, “Dia da Juventude”, “Dia da Família”, “Dia das Comunicações Sociais”… Tantos “dias de” onde é possível – e preciso - reclamar a afirmação “Nós somos católicos” e exigir a presença, a participação, o compromisso!
       Não menor é o desafio que recai sobre os promotores de qualquer convocatória. Num contexto social cruzado de eventos e convites é urgente a reformulação de propostas e a qualificação de todos os projetos, mesmo os que acontecem em família.
       Só dessa forma será possível dizer não apenas “Nós somos católicos”, mas acrescentar com confiança e a todas as pessoas “Bem-vindo à tua casa!”


terça-feira, 29 de maio de 2012

Homilia de Bento XVI no Pentecostes - 27 de maio

Queridos irmãos e irmãs!
       Sinto-me feliz por celebrar esta Santa Missa convosco, também animada hoje pelo Coro da Academia de Santa Cecília e pela Orquestra da Juventude – que agradeço -, na Solenidade de Pentecostes.

       Este mistério é o batismo da Igreja, é um evento que lhe tem dado, por assim dizer, a forma inicial e o impulso para a sua missão. E essa "forma" e este "empurrão" são sempre válidos, sempre atuais, e se renovam de uma maneira especial através das ações litúrgicas. Esta manhã quero destacar um aspecto essencial do mistério de Pentecostes, que nos nossos dias mantém toda a sua importância. Pentecostes é a festa da unidade, da compreensão e da comunhão humana. Todos podemos constatar como no nosso mundo, ainda que estejamos sempre mais próximos uns dos outros com o desenvolvimento dos meios de comunicação, e as distâncias geográficas parecerem desaparecer, a compreensão e a comunhão entre as pessoas é, muitas vezes superficial e difícil. Permanecem desequilíbrios que muitas vezes levam a conflitos; o diálogo entre as gerações torna-se difícil e as vezes prevalece a contraposição; assistimos a fatos quotidianos que nos fazem pensar que os homens estão se tornando mais agressivos e mais conflituosos; entender-se parece algo muito trabalhoso e prefere-se permanecer no próprio ego, nos próprios interesses. Nesta situação, podemos encontrar realmente e viver aquela unidade da qual temos necessidade?

       A narração de Pentecostes nos Atos dos Apóstolos, que ouvimos na primeira leitura (cf. At 2,1-11), contém no fundo de uma das últimas grandes alegorias que encontramos no início do Antigo Testamento: a antiga história da construção da Torre de Babel (cf. Gn 11, 1-9). Mas o que é Babel? É a descrição de um reino em que os homens acumularam tanto poder ao ponto de não fazerem mais referência a um Deus distante e de serem tão fortes ao ponto de construírem sozinhos uma estrada que levasse até o céu para abrir as portas e colocar-se no lugar de Deus. Mas é precisamente nesta situação que ocorre algo estranho e especial. Enquanto os homens estavam trabalhando juntos para construir a torre, de repente, perceberam que estavam construindo um contra o outro. Enquanto tentavam ser como Deus, corriam o perigo de não serem nem sequer homens, porque tinham perdido um elemento fundamental do ser pessoa humana: a capacidade de entender-se, de compreender-se, e de trabalhar juntos.
       Esta história bíblica tem a sua verdade perene; podemos vê-la ao longo da história, mas também em nosso mundo. Com o avanço da ciência e da tecnologia temos chegado ao poder de dominar as forças da natureza, de manipular os elementos, de fabricar seres vivos, chegando até mesmo quase ao ser humano. Nesta situação, orar a Deus parece algo ultrapassado, inútil, porque nós mesmos podemos construir e realizar tudo o que quisermos. Mas não nos damos conta de que estamos revivendo a mesma experiência de Babel. É verdade, multiplicamos as nossas possibilidades de comunicação, de ter informações, de transmitir notícias, mas podemos dizer que cresceu a capacidade de compreender-nos ou talvez, paradoxalmente, nos compreendemos cada vez menos? Entre os homens não parece serpentear talvez um sentimento de desconfiança, de suspeita, de medo um do outro, até se tornar até mesmo perigoso um para o outro? Retornemos agora à pergunta inicial: pode existir realmente unidade, concórdia? E como?

       Encontramos a resposta na Sagrada Escritura: A unidade só pode existir com o dom do Espírito de Deus, que nos dará um coração novo e uma lingua nova, uma nova capacidade de comunicar. E é isso o que ocorreu no dia de Pentecostes. Naquela manhã, cinqüenta dias depois da Páscoa, um forte vento soprou sobre Jerusalém e a chama do Espírito Santo desceu sobre os discípulos reunidos, pousou sobre cada um deles e acendeu neles o fogo divino, um fogo de amor capaz de transformar. O medo desapareceu, o coração sentiu uma nova força, as línguas se soltaram e começaram a falar com franqueza, de modo que todos pudessem entender o anúncio de Jesus Cristo morto e ressuscitado. Em Pentecostes, onde havia divisão e desconfiança, nasceram a unidade e o entendimento. Mas olhemos para o Evangelho de hoje, no qual Jesus afirma: " Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade” (Jo 16, 13). Aqui, Jesus, falando do Espírito Santo, nos explica o que é a Igreja e como essa deva viver para ser ela mesma, para ser o lugar da unidade e da comunhão na Verdade; nos diz que agir como cristãos significa não estar fechados no próprio “eu”, mas orientar-se para o todo; significa acolher em si mesmo a toda a Igreja ou, ainda melhor, deixar interiormente que ela nos acolha. Então, quando eu falo, penso, ajo como cristão, não o faço fechando-me no meu eu, mas o faço sempre no todo e a partir do todo: assim o Espírito Santo, Espírito de unidade e de verdade, pode continuar a ressoar nos nossos corações e nas mentes dos homens e empurrá-los a encontrar-se e acolher-se mutuamente. O Espírito, justamente porque age assim, nos introduz em toda a verdade, que é Jesus, nos orienta no aprofundá-la, no compreendê-la: nós não crescemos no conhecimento fechando-nos no nosso eu, mas somente tornando-nos capazes de escutar e de compartilhar, somente no “nós” da Igreja, com uma atitude de profunda humildade interior. E assim torna-se mais claro porque Babel é Babel e Pentecostes é Pentecostes. Onde os homens querem fazer-se Deus, só podem chegar fazer-se um contra o outro. Onde se colocam na verdade do Senhor, abrem-se à ação do seu Espírito que lhes sustenta e lhes une.

       O contraste entre Babel e Pentecostes ecoa também na segunda leitura, onde o Apóstolo diz: "Digo, pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne.” (Gl 5,16). São Paulo nos explica que a nossa vida pessoal está marcada por um conflito interior, por uma divisão, entre os impulsos que provém da carne e aqueles que provém do Espírito; e não podemos seguir a todos. Não podemos, de fato, ser ao mesmo tempo egoístas e generosas, seguir a tendência a dominar os outros e provar a alegria do serviço desinteressado. Devemos sempre escolher qual impulso seguir e o possamos fazer de modo autêntico somente com a ajuda do Espírito de Cristo. São Paulo elenca – como escutamos – as obras da carne, são os pecados de egoísmo e de violência, como inimizade, discórdia, inveja, discórdias; são pensamentos e ações que não fazem viver de modo verdadeiramente humano e cristão, no amor. É uma direção que leva a perder a própria vida. Em vez disso, o Espírito Santo nos guia para as alturas de Deus, porque podemos viver já nesta terra o germe de vida divina que está em nós. Afirma, de fato, São Paulo: "O fruto do Espírito é amor, alegria, paz" (Gal 5,22). E percebe-se que o Apóstolo usa o plural para descrever as obras da carne, que provocam a dispersão do ser humano, enquanto usa o singular para definir a ação do Espírito, fala de “fruto”, como na dispersão de Babel opõe-se à unidade de Pentecostes. Caros amigos, devemos viver segundo o Espírito de unidade e de verdade, e por isso devemos orar para que o Espírito nos ilumine e nos guie para vencer o encanto de seguir nossas verdades, e a acolher a verdade de Cristo transmitida na Igreja. A narração lucana de Pentecostes nos diz que Jesus antes de subir ao céu pediu aos Apóstolos para permanecerem juntos e se preparassem para receber o dom do Espírito Santo. E eles se uniram em oração com Maria no Cenáculo à espera do evento prometido (cf. At 1,14). Recolhida com Maria, como no seu nascimento, a Igreja também hoje reza: "Veni Sancte Spiritus! - Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor ". Ámen.

A santidade é a normalidade do bem...

       O que salva o mundo é a santidade: ela dá flexibilidade à dureza, torna uno o dividido, dá liberdade ao aprisionado, põe esperança nos corações abatidos, esconde o pão no regaço dos famintos, abraça-se à dor dos que choram e dança, com outros, a sua alegria. A santidade é um sulco invisível, mas torna tudo nítido em seu redor. A santidade é anónima e sem alarde. A santidade não é heróica: expressa-se no pequeno, no quotidiano, no usual. O pecado é a banalidade do mal. A santidade é a normalidade do bem.

Pe. José Tolentino de Mendonça, Pai-nosso que estais na terra.

Sede santos, porque EU sou santo

       É essa mensagem que agora vos anunciam aqueles que, movidos pelo Espírito Santo enviado do Céu, vos pregam o Evangelho, o qual os próprios Anjos desejam contemplar. Por isso, tende o vosso espírito alerta e sede vigilantes; ponde toda a vossa esperança na graça que vos será concedida, quando Jesus Cristo Se manifestar. Como filhos obedientes, não vos conformeis com os desejos de outrora, quando vivíeis na ignorância. Mas, à semelhança do Deus santo que vos chamou, sede santos, vós também, em todas as vossas acções, como está escrito: «Sede santos, porque Eu sou santo». (1 Pedro 1, 10-16).
       O caminho da perfeição é uma constante na nossa vida. Ou deve sê-lo. A referência é o próprio Deus. Não devemos desistir, conformarmo-nos ao tempo presente, seguindo o rasto da moda, da corrente, do que é mais fácil e conveniente, mas em tudo deveremos, como seguidores/imitadores de Jesus Cristo, viver na peugada do Evangelho da caridade. A santidade, como nos relembra o Concílio Vaticano II, é uma vocação universal, isto é, todo o cristão é chamado a identificar-se na santidade com Jesus Cristo.
       O alerta é uma constante, estar vigilantes, pondo toda a nossa esperança em Jesus Cristo, para que em todas as situações e circunstâncias O vejamos e O sigamos...

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Irmãos: Jacob e Isaú - Génesis 32

       À medida que regressava a Canaã, Jacob ficou preocupado. Ele não era de modo algum popular entre os parentes que agora deixava para trás. À sua frente encontrava-se o país onde Esaú vivia… o irmão que tinha jurado matá-lo. “Lembrai-Vos da Vossa promessa – rezou a Deus –, salvai-me do meu irmão.” 
       Embora rezasse com determinação, não se sentia confiante. “Talvez consiga cair nas suas graças oferecendo-lhe presentes” – pensou ele. “Farei uma seleção de entre os animais dos meus rebanhos. Então, poderei enviar os meus servos à frente com os animais para ver se Esaú se compadece.”
       Nessa noite, um homem chegou e lutou com Jacob. Ambos lutaram sem parar – mas o forasteiro não conseguia vencer. Assim que a alvorada começou a romper, o forasteiro dirigiu-se ao seu opositor. 
       “Irei dar-vos um novo nome. Lutastes com Deus e com os homens e conseguistes vencer. O vosso nome será Israel: aquele que luta com Deus.”
       No crepúsculo, Jacob teve a certeza que o forasteiro não podia ser outro senão Deus.
       Então o sol subiu no céu. Jacob viu Esaú a aproximar-se com os seus guerreiros. Jacob sentiu arrepios de medo. Com a boca seca, começou a dar ordens: “Rápido, os servos e seus filhos devem ir primeiro, depois Lia e os seus filhos, depois Raquel e por fim, José. Quando o encontrares, curvai-vos: curvai-vos muito, mesmo muito.”
       Jacob liderou a comitiva. Esaú avistou-o. Primeiro parou… depois correu na direção do seu irmão e abraçou-o. “Ora então aqui estás” – gritou calorosamente.
       “Finalmente encontrei-te. Quem são estas pessoas? É a tua família? Que surpresa! Então, o que significava todo aquele desfile de animais que acabei de ver?”
       “São presentes para ti, irmão.” – respondeu Jacob, de forma pouco percetível.
       “Eu não preciso disso – riu Esaú –, sou suficientemente rico.”
       No final, Esaú acabou por aceitar os presentes apenas para agradar a Jacob. O passado ficou esquecido. Jacob e Esaú voltaram a ser irmãos.

Mónica Aleixo, in Boletim Voz Jovem, maio 2012.

Jacob e os seus filhos - Génesis 30, 1-43

       Jacob trabalhou para Labão durante muitos anos. Durante esse tempo, Lia deu-lhe seis filhos. Como era então costume, ele teve também filhos das escravas das suas mulheres: dois da escrava de Lia e dois da escrava de Raquel.
       Durante muito tempo, Raquel não teve filhos. Até que por fim teve um filho. Ela chamou-lhe José.
       O nascimento assinalou um ponto de viragem para Jacob. Ele foi procurar Labão. “Servi-vos bem” – disse ele. “Agora gostaria de levar a minha família e regressar ao país onde nasci.”
       “Hmm” – disse Labão. “Suponho que te devo deixar ir. O que te devo pagar para saldar as nossas contas?”
       “Oh, eu pensei numa proposta simples” – disse Jacob. “Ajudei a aumentar os vossos rebanhos de ovelhas e cabras. Quando eu partir, deixa-me levar aquelas que forem pretas ou malhadas.”
       Labão deu uma gargalhada. “De acordo” – disse ele.
       Ambos os homens entendiam da criação de ovelhas e de cabras. Agora o acordo estava assente e levaria a melhor quem fosse mais esperto. Para consternação de Labão, Jacob havia delineado a forma exata como acasalar os carneiros e as ovelhas, os bodes e as cabras. Labão e os seus filhos foram ficando furiosos: na medida exata em que Jacob acumulava enormes rebanhos, os seus iam diminuindo.
       A questão transformou-se numa enorme discussão familiar. Após muito amargor, Labão e Jacob concordaram em seguir caminhos separados.

Mónica Aleixo, in Boletim Voz Jovem, abril 2012.

Enganado - Gn 29, 15-30

       Jacob acordou na manhã seguinte junto da sua nova esposa. A luz da manhã brilhava por entre as cortinas. Ele virou-se para olhar para ela. O que viu fê-lo gritar de raiva. Vestiu à pressa as suas roupas e tempestuosamente partiu para encontrar Labão. “Onde está a Raquel?” – gritou. “Eu trabalhei sete anos para casar com ela. Trouxeste-me a irmã dela! Seu enganador sem escrúpulos.”
       Labão não pareceu minimamente surpreendido com a explosão, nem muito preocupado. Fez sinal aos seus criados para continuarem com os seus deveres: como pai da noiva, era seu dever oferecer à comunidade celebrações que durassem uma semana e não ia desapontá-la. Depois voltou-se para Jacob com um sorriso calmo.
       “Costume local, meu rapaz” – disse ele. “É preciso respeitar estas coisas. A Lia é a mais velha. Temos de cumprir a tradição de ser ela a casar primeiro.”
       “Mas a Lia é tão feia…”
       “Acalma-te, meu rapaz. Todos dizem que a minha filha mais velha tem olhos ternos. Aguarda até que terminem os dias de banquete. Nessa altura terás também a Raquel.”
       Labão fez uma pequena pausa para beber um pouco da sua bebida: “Claro que terás de trabalhar depois mais sete anos, para concluir o acordo de forma adequada, mas pelo menos terás a Raquel.”
       Jacob ficou sem margem para negociar. Atirou um olhar furioso ao seu tio, mas Labão, simplesmente, voltou-lhe as costas e regressou aos festejos do dia.
         Jacob observou-o furioso, mas em silêncio. “Muito bem” – disse por fim.

Mónica Aleixo, in Boletim Voz Jovem, março 2012.

Profissão de Fé 2012

       Solenidade do Pentecostes, oportunidade de celebrar mais um festa da catequese, desta feita, a Profissão de Fé. Com efeito, nos últimos anos, e para sublinhar o carácter solene do Pentecostes, temos aproveitado a ocasião para uma das festas da catequese a que continua a dar-se um relevo muito peculiar. Este ano, curiosamente, duas festas da catequese, em Pentecostes, a do Credo, na Missa vespertina, e da Profissão de Fé, na Missa dominical.
       Ficam algumas das imagens:


Para ver outras fotos visitar no perfil da Paróquia de Tabuaço:

Renascemos pela ressurreição de Jesus Cristo

       Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, na sua grande misericórdia, nos fez renascer, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos, para uma esperança viva, para uma herança que não se corrompe, nem se mancha, nem desaparece. Esta herança está reservada nos Céus para vós, que pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé, para a salvação que se vai revelar nos últimos tempos. Isto vos enche de alegria, embora vos seja preciso ainda, por pouco tempo, passar por diversas provações, para que a prova a que é submetida a vossa fé – muito mais preciosa que o ouro perecível, que se prova pelo fogo – seja digna de louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo Se manifestar. Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, acreditais n’Ele. E isto é para vós fonte de uma alegria inefável e gloriosa, porque conseguis o fim da vossa fé: a salvação das vossas almas (1 Pedro 1, 3-9).
       Jesus olhou para ele com simpatia e respondeu: «Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me». Ao ouvir estas palavras, o homem ficou abatido e retirou-se pesaroso, porque era muito rico. Então Jesus, olhando à sua volta, disse aos discípulos: «Como será difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus!». Os discípulos ficaram admirados com estas palavras. Mas Jesus afirmou-lhes de novo: «Meus filhos, como é difícil entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus». Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem pode então salvar-se?». Fitando neles os olhos, Jesus respondeu: «Aos homens é impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é possível» (Mc 10, 17-27).
 
       Retomamos o TEMPO COMUM, depois do tempo pascal.
       Dois textos muito significativos para hoje, segunda-feira da VIII Semana do Tempo Comum. Na primeira Leitura, tirada da Epístola de São Pedro, fala-se da Salvação que Cristo adquiriu para nós. Renascemos na Sua ressurreição. No entanto, as provações do tempo presente são inivitáveis, mas não uma fatalidade, é um processo de maturação.
       No Evangelho, encontramos o encontro e o diálogo entre Jesus e o jovem rico, que embora bem intencionado ainda não está preparado para um seguimento mais radical. Os muitos bens materiais que possui não o deixam arriscar uma vida nova.

domingo, 27 de maio de 2012

Festa do Credo 2012

       À grande solenidade do Pentecostes, juntámos, na paróquia de Nossa Senhora da Conceição, as festas da catequese do Credo e da Profissão de fé. A Festa do Credo, na Missa vespertina, e a da Profissão de Fé, na Dominical.
       Mais uma vez, com gestos simples e significativas, a expressividade da fé cristã, centrada na Santíssima Trindade, vivida em Igreja. Aqui ficam algumas imagens:

Para ver outras fotos visitar no perfil da Paróquia de Tabuaço:

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Editorial Voz Jovem - maio 2012

       A comunidade de Jerusalém é modelar, ainda hoje, ou sobretudo hoje, para as comunidades cristãs. “Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fração do pão e às orações… Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum… Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração” (Atos 2, 42-47).
       A descrição dá-nos uma ideia da vivacidade dos crentes e das relações solidárias e fraternas entre todos. Funcionam a um só coração, voltados para Jesus Cristo e para a Sua postura de amor, de entrega, de inclusão.
       A partir desta descrição, nestes meses de maio e de junho, mas solidificando o que deve ser sempre a comunidade dos cristãos, sublinhamos três realidades essenciais na vivência da nossa fé e no compromisso com os outros.
       A oração é o ponto de partida e de chegada da nossa fé. Há de ser o nosso alimento. O paradigma é Jesus Cristo. Sempre que se aproximam ocasiões decisivas, Ele afasta-Se para rezar, para escutar a Deus, Seu e nosso Pai. Este afastamento é físico mas não espiritual, pois pela oração tornamo-nos mais próximos uns dos outros. Se todos estamos unidos a Deus nem a realidade espácio-temporal inibe a nossa cumplicidade, a nossa comunhão.
       Por outro lado, há de ser na oração que descobrimos a alegria de sermos cristãos, filhos amados de Deus, abrindo a nossa mente e o nosso coração para acolhermos o Espírito Santo na força da Sua luz e da Sua graça santificante.
       Como fácil se conclui, a oração não nos isola, não nos desliga do mundo das pessoas. Ao invés, a oração une-nos mais radicalmente aos outros e ao mundo. A oração reenvia-nos na missão de testemunharmos a todos e em toda a parte o amor de Deus que experimentamos em nossas vidas, ainda que em momentos de sofrimento, de solidão e de doença, tenhamos mais dificuldade em expressar a alegria e a confiança no Deus da Vida e do Amor, do Encontro e da Festa. 
       Em Jesus, Deus faz-nos para sempre partícipes da Sua vida. Somos filhos no Filho. Somos herdeiros da vida eterna. Somos raça de Deus, portamos em nós as marcas do amor divino. No código de barras, que é cada um de nós, pode ler-se a pertença a Deus, a nossa origem, o nosso chão seguro, a casa do nosso conforto, da nossa confiança. É o amor maior. Somos habitação de Deus. Jesus, o rosto do Pai, e nós, o rosto de Cristo, que nos mostra os sinais da Sua paixão, as marcas do amor que nos devota. O amor que O leva a estender os braços na Cruz, é o mesmo Amor que se desprende da Cruz e nos abraça, terna e longamente. Da Sua à nossa Ressurreição. Até à eternidade.
       Se cada um é filho de Deus, somos todos irmãos. Comunidade. Família. Não são já os laços de sangue que nos identificam com os outros, mas os laços do amor de Deus em nós. A oração provoca-nos para a missão, com o fito de estreitarmos a comunhão entre todos, coração a coração, como repetidamente nos diz o nosso Bispo.
       Não bastam espaços físicos de encontro, é imperioso que nos encontremos nos sentimentos, nas emoções, nas alegrias e nas tristezas, fazendo da Igreja casa de todos e fazendo com que em cada casa brilhe a luz do Evangelho e da fé em Cristo Jesus. Como no princípio, na comunidade de Jerusalém, bata em nós o coração de Jesus.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Um estranho perto de minha casa

       Um velho camponês observava, descontente, um jovem que construía uma cabana perto do seu arrozal.
       - Pergunto-me de onde veio - disse à mulher, nessa mesma noite. - Não é daqui da terra. A julgar pelas roupas, é originário das montanhas. Que vem fazer para aqui? Isto não me agrada nada. Isto não me agrada mesmo nada...
       - Porque não vais cumprimentá-lo amanhã? - Aconselhou a mulher.
       - Dá-lhe as boas vindas. De certeza que não conhece ninguém por estes lados.
       - Nem penses nisso - ripostou o camponês. - Não sabes que os habitantes das montanhas são todos uns ladrões? Ignoremo-lo; com sorte, talvez até se vá embora.
       Todos os dias, o camponês trabalhava no arrozal. Com a água pela barriga das pernas, arrancava as ervas daninhas e punha-as num balde. Uma manhã, descobriu que o balde não estava no sítio do costume.
       - Eu sabia. - Vociferava, enquanto levantava a cama e espreitava por detrás do armário. - Eu sabia. O homem roubou-me. Roubou o meu balde!
       A mulher perguntou-lhe:
       - Quem te roubou o balde?
       - Ora quem! - Sussurrou o homem - O montanhês!
       - Ninguém te roubou nada - assegurou a mulher. - Sabes muito bem que passas a vida a perder tudo. Procura bem o balde e acabarás por encontrá-lo!
       Mas o camponês não lhe deu ouvidos. Saiu de casa à socapa e foi espiar o vizinho. O jovem estrangeiro cuidava tranquilamente das suas tarefas, mas o camponês achou que ele tinha um ar suspeito.
       - Não há dúvida - disse para consigo, semicerrando os olhos enquanto observava o montanhês. - Tem ar de ladrão de baldes, anda como um ladrão de baldes: é um ladrão de baldes!
       - Bom-dia, vizinho - saudou-o o jovem, ao aperceber-se de que o camponês o espreitava por detrás de uma árvore.
       O velho fugiu a correr. Quando chegou junto da mulher, disse-lhe, esbaforido:
       - Estás a ver, até me cumprimenta para que não desconfie dele. É mesmo arrogante! Desafia-me! Ri-se de mim!
       O camponês barricou-se em casa com a mulher, as dez galinhas e os três porcos.
       - Meu pobre amigo - disse-lhe a mulher, abrindo a porta. - Perdeste mesmo a cabeça!
       - Mas - gemeu o camponês - Agora que tem o meu balde, vai querer tudo o que eu tenho. E ainda não te disse tudo - acrescentou o homem, batendo os dentes. - Quando não são ladrões, os montanheses são assassinos!
       A mulher encolheu os ombros e foi dedicar-se às tarefas do dia.
       Ao cair da tarde, o camponês saiu de casa para beber água do poço. E o que viu ele, pousado no parapeito do poço? O seu balde! Lembrava-se agora que tinha ido buscar água para dar de beber aos animais. Tinha-se esquecido completamente de pôr o balde no lugar.
       - Mas - repetia para si mesmo, envergonhado - O montanhês tinha mesmo ar de ladrão...

Johanna Marin Coles & Lydia Maria Marin Ross. O balde. Retirado de Caminhos de Encontro, Manual de EMRC, 5.º Ano

Procissão das Velas 2012

       Uma das tradições bem entranhadas nas comunidades católicas portuguesas, a Procissão das Velas, numa ligação muito espiritual ao Santuário de Nossa Senhora da Fátima. Imagens da celebração nas paróquias de Santa Eufémia, Pinheiros; Nossa Senhora da Conceição, Tabuaço, e São João Batista, Távora. Magnífico cântico da Irmã franciscana hospitaleira Maria Amélia da Costa.

terça-feira, 22 de maio de 2012

A Lua cheia... sem comentários a acrescentar...

       A LUA cheia elevou-se gloriosamente sobre a cidade, e todos os cães do sítio começaram a ladrar à lua.
       Só um cão não ladrou, e disse aos outros com voz grave:
       - Não acordeis o silêncio do seu sono, não puxeis a lua para a terra com os vossos latidos.
       Então todos os cães deixaram de ladrar e permaneceram em terrível silêncio.
       Mas o cão que tinha falado continuou a ladrar, reclamando silêncio, durante toda a noite.

in "O povo de Rio Tinto", ano 34, n.º 291

O Urso e a Panela

       Certa vez, um urso faminto perambulava pela floresta em busca de alimento.
       A época era de escassez, porém, seu faro aguçado sentiu o cheiro de comida e o conduziu a um acampamento de caçadores. Ao chegar lá, o urso, percebendo que o acampamento estava vazio, foi até a fogueira, ardendo em brasas, e dela tirou um panelão de comida.
       Quando a tina já estava fora da fogueira, o urso a abraçou com toda sua força e enfiou a cabeça dentro dela, devorando tudo. Enquanto abraçava a panela, começou a perceber algo lhe atingindo.
        Na verdade, era o calor da tina... Ele estava sendo queimado nas patas, no peito e por onde mais a panela encostava. O urso nunca havia experimentado aquela sensação e, então, interpretou as queimaduras pelo seu corpo como uma coisa que queria lhe tirar a comida. Começou a urrar muito alto. E, quanto mais alto rugia, mais apertava a panela quente contra seu imenso corpo. Quanto mais a tina quente lhe queimava, mais ele apertava contra o seu corpo e mais alto ainda rugia.
       Quando os caçadores chegaram ao acampamento, encontraram o urso recostado a uma árvore próxima à fogueira, segurando a tina de comida. O urso tinha tantas queimaduras que o fizeram grudar na panela e, seu imenso corpo, mesmo morto, ainda mantinha a expressão de estar rugindo.
       Quando terminei de ouvir esta história, percebi que, em nossa vida, por muitas vezes, abraçamos certas coisas que julgamos ser importantes. Algumas delas nos fazem gemer de dor, nos queimam por fora e por dentro, e mesmo assim, ainda as julgamos importantes. Temos medo de abandoná-las e esse medo nos coloca numa situação de sofrimento, de desespero. Apertamos essas coisas contra nossos corações e terminamos derrotados por algo que tanto protegemos, acreditamos e defendemos.
        Para que tudo dê certo em sua vida, é necessário reconhecer, em certos momentos, que nem sempre o que parece ser o melhor vai lhe dar condições de prosseguir, de ser feliz. Tenha a coragem e a visão que o urso não teve.
       Solte a panela! 
Autor desconhecido, in Nova Civilização

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Milagre da Esperança - vida de Van Thuan

LEITURAS:
André Nguyen van Chau, O milagre da esperança. Prisioneiro político, profeta da paz. Vida de Francisco Xavier Nguyen Van Thuan. Paulinas. Prior Velho 2006.
       A vida do Cardeal Van Thuan é uma história que se cruza com o sofrimento da sua família e da sua pátria. Natural do Vietname, a sua família vivia nas orlas do poder, mas rápido passou a ser perseguida. Um dos tios, Diem, é desafiado por diversas vezes para assumir o poder, como primeiro-ministro, que exerce como um serviço à sua pátria. Mas logo será morto, como outros familiares de Van Thuan.
       Viveu 13 anos em cativeiro. Bispo, mas impedido de exercer. Nomeado para Bispo Coadjutor de Saigão, com direito à sucessão, é impedido de assumir, até ao fim da vida. Prisioneiro, primeiro, e depois exilado, ainda que com a nuance que podia voltar ao Vietname. O regime comunista tudo fez para o silenciar, para o esquecer, para que as pessoas o esquecessem. Mesmo depois de o libertarem aconselham-no a tirar férias no Vaticano, a trabalhar na Santa Sé, de modo a não assumir nenhum cargo na hierarquia da Igreja vietnamita.
       Por onde passou deixou um raio de esperança, de fé, de confiança em Deus. Esta obra, em jeito de biografia, narra a sua vida, a história que o levaria ao sacerdócio e ao episcopado, os sofrimentos a que esteve sujeito no cativeiro, até se tornar Presidente do Concelho Pontifício para Justiça e Paz, e depois feito Cardeal por Papa João Paulo II.
       Nasceu em 17 de abril de 1928 e viria a falecer em 16 de setembro de 2002. Partilhamos as palavras de João Paulo II no seu funeral:
"Nos últimos dias, quando já não conseguia falar, fixava o olhar no crucifixo que tinha diante de si. Rezava em silêncio, enquanto consumava o seu último sacrifício, coroando uma vida marcada pela heróica configuração com Cristo na cruz.
Agora que o Senhor o pôs à prova, como «ouro no cadinho», e o aceitou como «oferta queimada em sacrifício» podemos afirmar com toda a verdade que «a sua esperança estava cheia de imortalidade» (cf. Sb 3, 4-5). estava cheia de Cristo, vida e ressurreição de todos os que confiam nele.
Tal como a sua vida, a morte do Cardeal Van Thuan também foi, de facto, um verdadeiro testemunho de esperança. Possa o seu legado espiritual, como a sua esperança, ser «cheio de imortalidade».
Ele deixa-nos, mas o seu exemplo permanece. A fé garante-nos que ele não morreu: apenas entrouu no dia eterno, aquele dia que não conhece ocaso".
Veja a recomendação do livro: Cinco pães e dois peixes, obra prima do Cardeal Van Thuan, AQUI.

domingo, 20 de maio de 2012

XXVII Jornada Diocesana da Juventude

       Realizou-se, em 19 de maio, a XXVII Jornada Diocesana da Juventude, em São João da Pesqueira, em São Salvador do Mundo. Esteve um bom grupo de jovens do Arciprestado de Tabuaço, de Barcos, Tabuaço, Távora, Balsa, Valença do Douro. Ficam algumas fotos:

»»» A próxima JORNADA DIOCESANA DA JUVENTUDE vai ser no Arciprestado de Tabuaço... A Cruz e o Ícone de Nossa Senhora, símbolos importantes nas Jornadas Mundiais da Juventude, e também ao nível diocesano.. 

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Mensagem de D. António para a Jornada da Juventude


PERMANECEI NO MEU AMOR

        1. Vale sempre a pena começar por receber, com particular atenção e carinho, o retrato da Igreja-mãe de Jerusalém, tal como nos chega pela paleta de tintas do Autor do Livro dos Atos dos Apóstolos:
Eram perseverantes no ensino dos Apóstolos e na comunhão, na fração do pão e na oração. […] Todos os que acreditavam estavam no mesmo lugar e tinham tudo em comum. […] Todos os dias frequentavam juntos o Templo, e partiam o pão em cada casa, tomando o alimento com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus e tendo graça junto de todo o povo. E o Senhor acrescentava em cada dia o número dos que estavam a ser salvo  (Atos 2,42.44.46-47). 
       Trata-se de uma visita guiada à primeira Catedral da Igreja nascente – mas com ramificações em todas as casas, em todos os corações –, bem assente em quatro colunas: o ensino dos Apóstolos (1), a comunhão fraterna (2), a fração do pão (3) e a oração (4). Com a boca cheia de louvor, os olhos de graça, as mãos de paz e de pão, as entranhas de misericórdia, a comunidade bela crescia, crescia, crescia. Não admira. Era uma comunidade jovem, leve e bela, tão jovem, leve e bela, que as pessoas lutavam para entrar nela!

       2. É uma comunidade fecunda e feliz, que cuida de si, da sua imagem, e que sorri sempre, que dá testemunho da sua bela identidade, sem peias nem vergonha, num mundo hostil e agressivo. Testemunho diz-se em alemão Zeugnis, e testemunhar diz-se zeugnen. Mas zeugnen significa também gerar. Então, testemunhar é gerar novos filhos e filhas, fazer nascer com o nosso testemunho e a dádiva da nossa vida novas vidas cheias de Cristo, novas teias de esperança.

       3. É urgente saber aproveitar todas as oportunidades, mas também saber provocá-las, e lançar mão de capacidades e aptidões, mas também saber cultivá-las, para oferecer o Evangelho a este mundo. Neste domínio, vós, queridos jovens, quando devidamente preparados e estimulados, pareceis particularmente aptos para criar relações de simpatia e de acolhimento, de modo a saberdes dar o Evangelho juntamente com a vossa própria vida (o vosso tempo, a vossa saúde, a vossa energia, a vossa alegria), estabelecendo relações significativas, não só́ com as pessoas que frequentam a Igreja, mas também com as que estão «à porta», no caminho ou na estrada. Neste sentido, vós, jovens, podeis tornar-vos nos mais eficazes evangelizadores dos jovens, mas também dos adultos e idosos, dado o vosso interesse pelos outros e por tudo o que é novo. Foi, neste sentido, que ouvistes palavras de estímulo do Papa Bento XVI: «Jovens amigos […], testemunhai a alegria desta sua [de Jesus Cristo] presença forte e suave, a todos, a começar pelos da vossa idade. Dizei-lhes que é belo ser amigo de Jesus e que vale a pena segui-l’O» (Homilia da Santa Missa, Terreiro do Paço, Lisboa, 11 de Maio de 2010).

       4. Comunidade jovem, leve e bela, jovens da nossa Diocese de Lamego. Tecei telas belas, novas teias (e não peias), embelezai o mundo, entretecei- o de amor. Dai a vida por ele, dai-lhe vida. Reuni as vossas energias, construı́ sinergias, trazei mais mãos, mais corações, rezai e lutai sempre por um mundo novo, mais justo e mais fraterno, carregado de muito mais esperança.

       5. Queridos jovens, abraçai o estilo de vida de Jesus, vosso amigo, preparai e formai grupos de evangelização, formai uma verdadeira rede de evangelização, que, no coração da nossa Diocese e do mundo, sinta a alegria de levar o Evangelho a todos os sectores da vida, desde a família, à escola, ao trabalho, aos tempos livres, à solidão, à dor. Eu conto convosco. Cristo conta convosco.

+ António Couto, Bispo de Lamego 

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Mensagem do SDPJ para a XXVII Jornada da Juventude

       Hoje, como ontem, Cristo continua com a mesma juventude animar a Juventude. Isto porque Jesus nunca deixou de ser jovem. Morreu bastante novo e porque ressuscitou poucos dias depois, não teve sequer tempo de envelhecer. Portanto, a Sua presença no meio de nós está para sempre emoldurada pela jovialidade eterna. É tocado por esta certeza e pela experiência feliz do encontro com o Ressuscitado que São Paulo nos diz agora a nós: Alegrai‐vos sempre no Senhor! Alegrai‐vos! (Ef 4, 4).
       Quando todos os discursos se revestem de desespero e de angústia; quando todos os visionários anunciam crises e desilusões e quando o sol da esperança parece ter estacionado no longínquo poente, não é hora de amainar as velas para nos entregarmos ao sabor da corrente. Antes pelo contrário, é o momento oportuno e o tempo favorável para espalhar nos campos férteis do coração humano a semente perfumada do amor. Pois, é quando o mundo menos merece, que mais precisa de ser amado. Esta atitude será́ sempre a nossa resposta ao insistente convite de Jesus: Permanecei no meu amor (Jo 15, 9). 
       É este mesmo compromisso que queremos assumir em mais uma Jornada Diocesana da Juventude. Através das mais diversas atividades que fomos fazendo como grupo, como paróquia ou como diocese, ao longo do ano pastoral – preparação remota - e, particularmente, com este conjunto de três catequeses, da Mensagem do Papa Bento XVI e da Mensagem do nosso Bispo - preparação próxima -, queremos no próximo dia 19 de Maio, cimentar o nosso Sim á colaboração alegre com Jesus Cristo, na criação de uma Humanidade mais amante de Deus, porque mais amada pelos Homens.

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quinta-feira, 17 de maio de 2012

Mensagem de Bento XVI para a JMJ 2012 (7)

Testemunhas da alegria
       Queridos amigos, para concluir gostaria de vos exortar a ser missionários da alegria. Não se pode ser felizes se os outros não o são: por conseguinte, a alegria deve ser partilhada. Ide contar aos outros jovens a vossa alegria por ter encontrado aquele tesouro precioso que é o próprio Jesus. Não podemos ter para nós a alegria da fé: para que ela possa permanecer connosco, devemos transmiti-la. São João afirma: «Aquilo que ouvimos e vimos, nós vo-lo anunciamos, para que também vós entreis em comunhão connosco... Escrevo-vos estas coisas, para que a nossa alegria seja plena» (1 Jo 1, 3-4).
       Por vezes é apresentada uma imagem do Cristianismo como de uma proposta de vida que oprime a nossa liberdade, que vai contra o nosso desejo de felicidade e de alegria. Mas isto não corresponde à verdade! Os cristãos são homens e mulheres verdadeiramente felizes porque sabem que nunca estão sozinhos, mas que são amparados sempre pelas mãos de Deus! Compete sobretudo a vós, jovens discípulos de Cristo, mostrar ao mundo que a fé confere uma felicidade e uma alegria verdadeira, plena e duradoura. E se o modo de viver dos cristãos por vezes parece cansado e entediado, sede os primeiros a testemunhar o rosto jubiloso e feliz da fé. O Evangelho é a «boa nova» que Deus nos ama e que cada um de nós é importante para Ele. Mostrai ao mundo que é precisamente assim!
       Sede pois missionários entusiastas da nova evangelização! Levai a quantos sofrem, a quantos estão em busca, a alegria que Jesus quer doar. Levai-a às vossas famílias, às vossas escolas e universidades, aos vossos lugares de trabalho e aos vossos grupos de amigos, onde quer que vivais. Vereis que ela é contagiosa. E recebereis o cêntuplo: a alegria da salvação para vós próprios, a alegria de ver a Misericórdia de Deus agir nos corações. No dia do vosso encontro definitivo com o Senhor, Ele poderá dizer-vos: «Servo bom e fiel, participa da alegria do teu senhor!» (Mt 25, 21).
       A Virgem Maria vos acompanhe neste caminho. Ela acolheu o Senhor dentro de si e anunciou-o com um cântico de louvor e de alegria, o Magnificat: «A minha alma glorifica ao Senhor e o meu espírito exulta em Deus, meu salvador» (Lc 1, 46-47). Maria respondeu plenamente ao amor de Deus dedicando a sua vida a Ele num serviço humilde e total. É chamada «causa da nossa alegria» porque nos deu Jesus. Ela introduzir-vos-á naquela alegria que ninguém vos poderá tirar!

Vaticano, 15 de Março de 2012.
BENEDICTUS PP. XVI

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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Mensagem de Bento XVI para a JMJ 2012 (6)

A alegria nas provas (provações)
       Mas no final, poderia permanecer no nosso coração a pergunta se é possível verdadeiramente viver na alegria também no meio das muitas provas da vida, especialmente das mais dolorosas e misteriosas, e se deveras seguir o Senhor, ter confiança n'Ele dá sempre felicidade. A resposta pode ser-nos dada por algumas experiências de jovens como vós que encontraram precisamente em Cristo a luz capaz de dar força e esperança, também face às situações mais difíceis. O beato Pier Giorgio Frassati (1901-1925) experimentou tantas provas na sua existência, mesmo se breve, entre as quais uma, relativa à sua vida sentimental, que o tinha ferido de modo profundo. Precisamente nesta situação, escrevia à irmã: «Tu perguntas-me se estou feliz; e como não poderia sê-lo? Enquanto a fé me der força estarei sempre alegre! Cada católico só pode sentir alegria... A finalidade para a qual fomos criados indica-nos o caminho semeado mesmo se com muitos espinhos, mas não um caminho triste: ele é alegria também através dos sofrimentos» (Carta à irmã Luciana, Turim, 14 de Fevereiro de 1925). E o beato João Paulo II, apresentando-o como modelo, dele dizia: «era um jovem de uma alegria arrebatadora, uma alegria que superava tantas dificuldades da sua vida» (Discurso aos jovens, Turim, 13 de abril de 1980).
       Mais próxima de nós, a jovem Chiara Badano (1971-1990), recentemente beatificada, experimentou como o sofrimento pode ser transfigurado pelo amor e ser misteriosamente habitado pela alegria. Com 18 anos, num momento no qual o cancro a fazia sofrer particularmente, Chiara rezou ao Espírito Santo, intercedendo pelos jovens do seu Movimento. Além da própria cura, tinha pedido a Deus que iluminasse com o seu Espírito todos aqueles jovens, que lhes desse a sabedoria e a luz: «Foi precisamente um momento de Deus: sofria muito fisicamente, mas a alma cantava» (Carta a Chiara Lubich, Sassello, 20 de Dezembro de 1989). A chave da sua paz e da sua alegria era a total confiança no Senhor e a aceitação também da doença como expressão misteriosa da sua vontade para o seu bem e para o bem de todos. Repetia com frequência: «Se tu o queres, Jesus, também eu o quero».
       São dois simples testemunhos entre muitos outros que mostram como o cristão autêntico nunca está desesperado e triste, mesmo perante as provas mais duras, e mostram que a alegria cristã não é uma fuga da realidade, mas uma força sobrenatural para enfrentar e viver as dificuldades quotidianas. Sabemos que Cristo crucificado e ressuscitado está connosco, é o amigo sempre fiel. Quando participamos dos seus sofrimentos, participamos também da sua glória. Com Ele e n'Ele, o sofrimento transforma-se em amor. E nisto encontra-se a alegria (cf. Cl 1, 24).

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terça-feira, 15 de maio de 2012

SILÊNCIO E PALAVRA: caminho de evangelização

Mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2012

(para obter a Mensagem em PDF, clique sobre as imagens)

       Amados irmãos e irmãs,
       Ao aproximar-se o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2012, desejo partilhar convosco algumas reflexões sobre um aspeto do processo humano da comunicação que, apesar de ser muito importante, às vezes fica esquecido, sendo hoje particularmente necessário lembrá-lo. Trata-se da relação entre silêncio e palavra: dois momentos da comunicação que se devem equilibrar, alternar e integrar entre si para se obter um diálogo autêntico e uma união profunda entre as pessoas. Quando palavra e silêncio se excluem mutuamente, a comunicação deteriora-se, porque provoca um certo aturdimento ou, no caso contrário, cria um clima de indiferença; quando, porém se integram reciprocamente, a comunicação ganha valor e significado.

       O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo. No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos. Calando, permite-se à outra pessoa que fale e se exprima a si mesma, e permite-nos a nós não ficarmos presos, por falta da adequada confrontação, às nossas palavras e ideias. Deste modo abre-se um espaço de escuta recíproca e torna-se possível uma relação humana mais plena. É no silêncio, por exemplo, que se identificam os momentos mais autênticos da comunicação entre aqueles que se amam: o gesto, a expressão do rosto, o corpo enquanto sinais que manifestam a pessoa. No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento, que encontram, precisamente nele, uma forma particularmente intensa de expressão. Por isso, do silêncio, deriva uma comunicação ainda mais exigente, que faz apelo à sensibilidade e àquela capacidade de escuta que frequentemente revela a medida e a natureza dos laços. Quando as mensagens e a informação são abundantes, torna-se essencial o silêncio para discernir o que é importante daquilo que é inútil ou acessório. Uma reflexão profunda ajuda-nos a descobrir a relação existente entre acontecimentos que, à primeira vista, pareciam não ter ligação entre si, a avaliar e analisar as mensagens; e isto faz com que se possam compartilhar opiniões ponderadas e pertinentes, gerando um conhecimento comum autêntico. Por isso é necessário criar um ambiente propício, quase uma espécie de «ecossistema» capaz de equilibrar silêncio, palavra, imagens e sons.

       Grande parte da dinâmica atual da comunicação é feita por perguntas à procura de respostas. Os motores de pesquisa e as redes sociais são o ponto de partida da comunicação para muitas pessoas, que procuram conselhos, sugestões, informações, respostas. Nos nossos dias, a Rede vai-se tornando cada vez mais o lugar das perguntas e das respostas; mais, o homem de hoje vê-se, frequentemente, bombardeado por respostas a questões que nunca se pôs e a necessidades que não sente. O silêncio é precioso para favorecer o necessário discernimento entre os inúmeros estímulos e as muitas respostas que recebemos, justamente para identificar e focalizar as perguntas verdadeiramente importantes. Entretanto, neste mundo complexo e diversificado da comunicação, aflora a preocupação de muitos pelas questões últimas da existência humana: Quem sou eu? Que posso saber? Que devo fazer? Que posso esperar? É importante acolher as pessoas que se põem estas questões, criando a possibilidade de um diálogo profundo, feito não só de palavra e confrontação, mas também de convite à reflexão e ao silêncio, que às vezes pode ser mais eloquente do que uma resposta apressada, permitindo a quem se interroga descer até ao mais fundo de si mesmo e abrir-se para aquele caminho de resposta que Deus inscreveu no coração do homem.

       No fundo, este fluxo incessante de perguntas manifesta a inquietação do ser humano, sempre à procura de verdades, pequenas ou grandes, que deem sentido e esperança à existência. O homem não se pode contentar com uma simples e tolerante troca de céticas opiniões e experiências de vida: todos somos perscrutadores da verdade e compartilhamos este profundo anseio, sobretudo neste nosso tempo em que, «quando as pessoas trocam informações, estão já a partilhar-se a si mesmas, a sua visão do mundo, as suas esperanças, os seus ideais» (Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2011).
       Devemos olhar com interesse para as várias formas de sítios, aplicações e redes sociais que possam ajudar o homem atual não só a viver momentos de reflexão e de busca verdadeira, mas também a encontrar espaços de silêncio, ocasiões de oração, meditação ou partilha da Palavra de Deus. Na sua essencialidade, breves mensagens – muitas vezes limitadas a um só versículo bíblico – podem exprimir pensamentos profundos, se cada um não descuidar o cultivo da sua própria interioridade. Não há que surpreender-se se, nas diversas tradições religiosas, a solidão e o silêncio constituem espaços privilegiados para ajudar as pessoas a encontrar-se a si mesmas e àquela Verdade que dá sentido a todas as coisas. O Deus da revelação bíblica fala também sem palavras: «Como mostra a cruz de Cristo, Deus fala também por meio do seu silêncio. O silêncio de Deus, a experiência da distância do Omnipotente e Pai é etapa decisiva no caminho terreno do Filho de Deus, Palavra Encarnada. (...) O silêncio de Deus prolonga as suas palavras anteriores. Nestes momentos obscuros, Ele fala no mistério do seu silêncio» (Exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini, 30 de setembro de 2010, n.º 21). No silêncio da Cruz, fala a eloquência do amor de Deus vivido até ao dom supremo. Depois da morte de Cristo, a terra permanece em silêncio e, no Sábado Santo – quando «o Rei dorme (…), e Deus adormeceu segundo a carne e despertou os que dormiam há séculos» (cfr Ofício de Leitura, de Sábado Santo) –, ressoa a voz de Deus cheia de amor pela humanidade.

       Se Deus fala ao homem mesmo no silêncio, também o homem descobre no silêncio a possibilidade de falar com Deus e de Deus. «Temos necessidade daquele silêncio que se torna contemplação, que nos faz entrar no silêncio de Deus e assim chegar ao ponto onde nasce a Palavra, a Palavra redentora» (Homilia durante a concelebração eucarística com os membros da Comissão Teológica Internacional, 6 de outubro de 2006). Quando falamos da grandeza de Deus, a nossa linguagem revela-se sempre inadequada e, deste modo, abre-se o espaço da contemplação silenciosa. Desta contemplação nasce, em toda a sua força interior, a urgência da missão, a necessidade imperiosa de «anunciar o que vimos e ouvimos», a fim de que todos estejam em comunhão com Deus (cf. 1 Jo 1, 3). A contemplação silenciosa faz-nos mergulhar na fonte do Amor, que nos guia ao encontro do nosso próximo, para sentirmos o seu sofrimento e lhe oferecermos a luz de Cristo, a sua Mensagem de vida, o seu dom de amor total que salva.

       Depois, na contemplação silenciosa, surge ainda mais forte aquela Palavra eterna pela qual o mundo foi feito, e identifica-se aquele desígnio de salvação que Deus realiza, por palavras e gestos, em toda a história da humanidade. Como recorda o Concílio Vaticano II, a Revelação divina realiza-se por meio de «ações e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal modo que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido» (Constituição dogmática Dei Verbum, 2). E tal desígnio de salvação culmina na pessoa de Jesus de Nazaré, mediador e plenitude da toda a Revelação. Foi Ele que nos deu a conhecer o verdadeiro Rosto de Deus Pai e, com a sua Cruz e Ressurreição, nos fez passar da escravidão do pecado e da morte para a liberdade dos filhos de Deus. A questão fundamental sobre o sentido do homem encontra a resposta capaz de pacificar a inquietação do coração humano no Mistério de Cristo. É deste Mistério que nasce a missão da Igreja, e é este Mistério que impele os cristãos a tornarem-se anunciadores de esperança e salvação, testemunhas daquele amor que promove a dignidade do homem e constrói a justiça e a paz.

       Palavra e silêncio. Educar-se em comunicação quer dizer aprender a escutar, a contemplar, para além de falar; e isto é particularmente importante paras os agentes da evangelização: silêncio e palavra são ambos elementos essenciais e integrantes da ação comunicativa da Igreja para um renovado anúncio de Jesus Cristo no mundo contemporâneo. A Maria, cujo silêncio «escuta e faz florescer a Palavra» (Oração pela Ágora dos Jovens Italianos em Loreto, 1-2 de setembro de 2007), confio toda a obra de evangelização que a Igreja realiza através dos meios de comunicação social.

Vaticano, 24 de janeiro – dia de São Francisco de Sales – de 2012.
BENEDICTUS PP XVI

Mensagem de Bento XVI para a JMJ 2012 (5)

A alegria da conversão
       Queridos amigos, para viver a verdadeira alegria é necessário também identificar as tentações que a afastam. A cultura actual com frequência induz a procurar metas, realizações e prazeres imediatos, favorecendo mais a inconstância do que a perseverança na fadiga e a fidelidade aos compromissos. As mensagens que recebeis incentivam a entrar na lógica do consumo, expondo felicidades artificiais. A experiência ensina que o ter não coincide com a alegria: há tantas pessoas que, mesmo possuindo bens materiais em abundância, com frequência sentem-se afligidas pelo desespero, pela tristeza e sentem um vazio na vida. Para permanecer na alegria, somos chamados a viver no amor e na verdade, a viver em Deus.
       E a vontade de Deus é que sejamos felizes. Por isso nos deu indicações concretas para o nosso caminho: os Mandamentos. Se os seguirmos, encontramos o caminho da vida e da felicidade. Mesmo se à primeira vista podem parecer um conjunto de proibições, quase um impedimento à liberdade, se os meditarmos mais atentamente, à luz da Mensagem de Cristo, eles são um conjunto de regras de vida essenciais e preciosas que levam a uma existência feliz, realizada segundo o projecto de Deus. Ao contrário, quantas vezes verificamos que construir ignorando Deus e a sua vontade causa desilusão, tristeza, sentido de derrota. A experiência do pecado como rejeição a segui-lo, como ofensa à sua amizade, obscurece o nosso coração.
       Mas se por vezes o caminho cristão não é fácil e o compromisso de fidelidade ao amor do Senhor encontra obstáculos ou regista quedas, Deus, na sua misericórdia, não nos abandona, mas oferece-nos sempre a possibilidade de voltar para Ele, de nos reconciliar com Ele, de experimentar a alegria do seu amor que perdoa e acolhe de novo. 
       Queridos jovens, recorrei com frequência ao Sacramento da Penitência e da Reconciliação! Ele é o Sacramento da alegria reencontrada. Pedi ao Espírito Santo a luz para saber reconhecer os vossos pecados e a capacidade de pedir perdão a Deus aproximando-vos deste sacramento com constância, serenidade e confiança. O Senhor abrir-vos-á sempre os seus braços, purificar-vos-á e far-vos-á entrar na sua alegria: haverá jubilo no céu até por um só pecador que se converte (cf. Lc 15, 7).

Para ler a mensagem completa »» MENSAGEM DE BENTO XVI para a JMJ 2012