terça-feira, 30 de abril de 2013

A amizade é guardada pelo silêncio

       "Na amizade estamos uns com os outros e somos uns para os outros, mantendo porém a exterioridade: os amigos não se diluem, não se justapõem, nem se substituem. A amizade é uma forma de expsição ao outro, mas uma exposição que não quebra a reserva, que não invade a solidão. A amizade não só guarda silêncio, mas ela é guardada pelo silêncio...
       "Não há amizade senão onde a distância se conserva. Simone Weil explica-o assim: «A amizade é o milagre pelo qual o ser humano aceita olhar a distância, e sem se aproximar, o próprio ser que lhe é necessário como alimento. É a força de espírito que Eva não teve; e, contudo, ela não tinha necessidade do fruto. Se ela tivesse tido fome no momento que olhava o fruto, e se, apesar disso, tivesse permanecido indefinidamente a olhá-lo sem dar um passo na sua direção, teria realizado um milagre análogo ao da perfeita amizade"

in TOLENTINO MENDONÇA. Nenhum Caminho será Longo.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Editorial Voz Jovem - abril 2013

Sempre soube que a Barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas d'Ele (do Senhor)

       Desde o dia 11 de fevereiro, quando Bento XVI anunciou a Sua renúncia como Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, que o seu gesto e as suas palavras suscitaram um olhar diferente, para alguns sinal de fraqueza e debilidade, para muitos, onde me incluo, sinal maior da sua humildade e sentido de serviço e fidelidade a Jesus Cristo e à Igreja.
       Em foco com o novo Papa, a HUMILDADE, preconceituosamente pouco sublinhada em Bento XVI. Para muitos, também para mim, essa é precisamente a grande CARTA que Bento XVI escreveu à Igreja e ao mundo. A sua vida é um hino de fé, de alegria, de despojamento, de amor ao Evangelho e à humanidade. Da Baviera para Roma a pedido de João Paulo II. Em duas ocasiões distintas solicitou a dispensa para se dedicar mais à oração e à reflexão teológica. Carregou com João Paulo II a responsabilidade de guiar a Igreja.
       Com a morte do Papa, em 2 de abril de 2005, Joseph Ratzinger estava certo que regressaria finalmente à sua terra natal para descansar, rezar, meditar, escrever, ainda e sempre ao serviço da Palavra de Deus. Mas a eleição de um novo Papa fê-lo ficar retido para sempre na cidade eterna, 8 anos como Papa, de 19 de abril de 2005 a 28 de fevereiro de 2013, e agora remetido à oração, na obediência ao novo Papa Francisco.
       Nascido em família humilde, para Roma levou pouco mais que uma mala de cartão. Não se lhe conhecem outros bens que não sejam os livros, mesmo e apesar do esplendor em que está envolto o Papa, com a riqueza (também material) da Igreja, na bela Basília de São Pedro, na cidade museológica do Vaticano, procurando mostrar a beleza e a riqueza (espiritual) da Palavra de Deus e de Jesus, o Bom Pastor.
       Quando foi eleito, um dos pensamentos, como interpelação a Deus: como é que me fazes uma coisa destas? Sentiu como se tivesse uma guilhotina sobre a Sua cabeça.
       Tenho refletido muito na atitude de Bento XVI. Não há comparação, na Igreja, na sociedade, na política, na cultura, e por mais razões que se encontrem, a HUMILDADE e o SERVIÇO presidem ao seu pedido. No limite das suas forças físicas entendeu que a melhor forma de seguir Jesus e servir a Igreja era permitir que outro com mais vitalidade pudesse levar mais longe o Evangelho de Jesus Cristo. Nos dias que passam não é fácil entender que alguém, tão exposto, se remeta ao completo silêncio. “Cristo que era de condição divina não Se valeu da Sua igualdade com Deus…” Bem poderia ser o lema de Bento XVI, esvaziando-se de Si para que Cristo estivesse mais visível e mais próximo das pessoas deste tempo.
       No brasão episcopal e papal, um dos elementos bem vincados é a figura de um urso, com um fardo sobre o dorso.
       O primeiro Bispo de Frisinga, São Corbiniano, viajava em cavalo para Roma; ao atravessar uma floresta foi atacado por um urso, que lhe devorou o cavalo. O santo homem fez com que o URSO o acompanhasse e levasse a carga até Roma.
        Bento XVI ter-se-á sentido como um urso que carrega a responsabilidade como Pastor, e como Urso torna-se obediente, disponível para transportar a Palavra de Deus e testemunhar Jesus Cristo.
“Sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas do Senhor. E o Senhor não a deixa afundar; é Ele que a conduz, certamente também por meio dos homens que escolheu, porque assim quis…”
 

domingo, 28 de abril de 2013

Festa do CREDO - 5.º ano de catequese

       No ANO DA FÉ que vivemos o CREDO é essencial para valorizar as nossas raízes, o que nos caracteriza como comunidade crente, cristã, católica. No itinerário catequético,  o Credo sublinha-se no 5.º e 6.º anos, com a Festa do Credo e com a Profissão da Fé. Não é apenas uma fórmula, deve ser, antes, um compromisso que nos faz partir da mesma fonte: DEUS, que é Pai, Filho e Espírito Santo, cuja experiência se inicia, aprofunda e sustenta na comunidade crente, a Igreja.
       Durante a celebração da Eucaristia, foi precisamente colocado em evidência o Credo, no ornamentos, nas palavras, nos gestos. Ficam algumas imagens sugestivas desta bonita festa:
Para mais fotos desta festa e das Festas da Catequese,
visitar a página da Paróquia de Tabuaço no facebook.

sábado, 27 de abril de 2013

5.º Domingo da Páscoa - ano C - 28 de abril de 2013

       1 – As últimas palavras e desejos de uma pessoa são para realizar. O evangelho que hoje nos é proposto faz-nos regressar atrás para logo nos devolver à atualidade, em tensão para o futuro. Durante a Última Ceia, ou a primeira de um tempo novo, com Jesus Cristo ao centro da Mesa e da refeição, “quando Judas saiu do cenáculo, disse Jesus aos seus discípulos: «Meus filhos, é por pouco tempo que ainda estou convosco. Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros».
       Aproximam-se os últimos momentos da história temporal de Jesus. Senta-se à volta de uma refeição familiar, revivendo a tradição pascal dos judeus. Está com quem quer estar, os seus amigos mais próximos, os apóstolos e certamente algumas mulheres que O servem e O seguem. O ambiente vai-se adensando. Um dos discípulos já se levantou da mesa e abandonou a casa, ainda que eles não saibam razões.
       O semblante de Jesus está sereno, com um olhar firme, profundo, penetrante. Olha em volta, para os discípulos, olhos nos olhos. Percebe-se que alguma coisa está para vir. Jesus quer que os seus discípulos fiquem tranquilos, confiantes, pois nada do que acontecer escapará à vontade, à glorificação de Deus. É preciso vigilância, cuidado para não deixar que o coração se feche e enegreça. Ele estará no meio deles, mas de uma forma nova.
       2 – Quando alguém está a morrer, sabendo o próprio e os familiares e amigos mais íntimos, procura-se minorar a sua dor, o seu sofrimento, dando atenção a todas as palavras proferidas e a todos os desejos formulados. Não apenas em relação àqueles que estão no corredor da morte, nos EUA, mas a qualquer pessoa que se estime.
        Quando a pessoa morre, procurar-se-á concretizar os seus desejos. Pode ter deixado um testamento, por escrito, ou transmitido por palavras as suas vontades últimas. (As promessas não podem comprometer terceiros). Quanto possível não se deixará de atender a quem partiu se em vida isso não foi possível. Acontece mesmo que algumas pessoas ficam preocupadas excessivamente por não conseguir, por não terem forças ou meios suficientes, para concretizar essa vontade.
       Depois da morte de Jesus, e sucessiva aparição do Ressuscitado, os discípulos vão procurar as palavras mais importantes e significativas de Jesus, bem como os seus feitos. Estas palavras finais são essenciais no Testamento de Jesus: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Como é que Jesus nos amou? Deu a vida por nós. A referência é Ele – como EU vos fiz fazei vós também uns aos outros. Lavei-vos os pés para vos servir de exemplo. O discípulo não é maior que o Mestre. O Mestre veio para servir e dar a vida por todos. Os discípulos deverão sintonizar na frequência de Jesus, dando a vida, amando, servindo. Só dessa forma nos reconhecerão como Seus discípulos.
       Deus toma-nos a dianteira, no amor, na entrega. Dá-nos o Seu Filho. Agora é tempo de vivermos ao Seu jeito, seguindo os seus passos. Disse, por estes dias, o Papa Francisco: “nós seremos julgados por Deus sobre a caridade, sobre como nós O teremos amado nos nossos irmãos, especialmente os mais débeis e necessitados”.
       A marca do cristão é AMAR. Só desta forma seremos verdadeiramente discípulos de Jesus e n'Ele irmãos uns dos outros.
       3 – O que é preciso para nos tornarmos discípulos de Jesus?
       Responde Jesus de forma categórica: se vos amardes uns aos outros. O compromisso com os outros a partir do amor sem medida e cuja referência, fundamento e conteúdo é Jesus no Seu jeito de amar servindo e dando a vida.
       O Papa Francisco, na primeira Eucaristia como Papa, celebrada na capela Sistina com os Cardeais, apontava três atitudes essenciais:
  • CAMINHAR. Caminhar sempre, na presença do Senhor, à luz do Senhor…
  • EDIFICAR. Edificar a Igreja, a Esposa de Cristo, sobre aquela pedra angular que é o próprio Senhor.
  • CONFESSAR. Podemos caminhar o que quisermos, podemos edificar um monte de coisas, mas se não confessarmos Jesus Cristo… tornar-nos-emos uma ONG sócio caritativa, mas não a Igreja, Esposa do Senhor.
       Foi precisamente isto que entenderem os seguidores de Jesus. O livro dos Atos dos Apóstolos mostra-nos a alegria do anúncio, e os padecimentos em nome de Jesus Cristo e por causa do Seu Evangelho de amor.
“Paulo e Barnabé voltaram a Listra, a Icónio e a Antioquia. Iam fortalecendo as almas dos discípulos e exortavam-nos a permanecerem firmes na fé, «porque – diziam eles – temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no reino de Deus». Estabeleceram anciãos em cada Igreja, depois de terem feito orações acompanhadas de jejum, e encomendaram-nos ao Senhor, em quem tinham acreditado. Atravessaram então a Pisídia e chegaram à Panfília; depois, anunciaram a palavra em Perga e desceram até Atalia. De lá embarcaram para Antioquia, de onde tinham partido, confiados na graça de Deus, para a obra que acabavam de realizar. À chegada, convocaram a Igreja, contaram tudo o que Deus fizera com eles e como abrira aos gentios a porta da fé”.
       As tribulações fazem parte do anúncio. Anuncia-se a Ressurreição mas também Cristo crucificado. Sobrevém o ADN dos cristãos: alegria, esperança e testemunho. Alegria por seguir e anunciar Jesus, testemunhando maravilhas que Deus opera pelas suas palavras e pelos seus gestos.
       4 – A raiz da nossa fé é Jesus. É Ele que vem, que constrói, que edifica em nós através do Seu Espírito de Amor. Ele fará em nós coisas novas, criará os novos Céus e nova Terra onde habitaremos como irmãos, apesar dos sofrimentos e dos sinais diabólicos que persistem em destruir, dividir, em silêncios comprometidos com as injustiças sociais, violência sobre os mais débeis, corrupção que corrói e mina as democracias.
       Tem-nos acompanhado, neste tempo de Páscoa, o texto da REVELAÇÃO, o Apocalipse de São João, com as suas visões sobre a Igreja, sobre o tempo presente, sobre a PRESENÇA de Deus no meio do Seu povo. Escutemos pausadamente esta descrição, com a mesma fé do apóstolo:
“Eu, João, vi um novo céu e uma nova terra, porque o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do Céu, da presença de Deus, bela como noiva adornada para o seu esposo. Do trono ouvi uma voz forte que dizia: «Eis a morada de Deus com os homens. Deus habitará com os homens: eles serão o seu povo e o próprio Deus, no meio deles, será o seu Deus. Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; nunca mais haverá morte nem luto, nem gemidos nem dor, porque o mundo antigo desapareceu». Disse então Aquele que estava sentado no trono: «Vou renovar todas as coisas».
       Perante os sofrimentos dos tempos atuais, das perseguições sem fim à vista, das calúnias, o autor do Apocalipse comunica esperança fundada em Deus, pois o próprio Deus habitará com os homens, enxugará todas as nossas lágrimas. Esta certeza nos mobilize para sermos instrumentos da nova Jerusalém, para que Deus seja TUDO em todos. 

Textos para a Eucaristia (ano C): Atos 14,21b-27 ; Ap 21,1-5a; Jo 13,31-33a.34-35.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Amizade - O silêncio é um vínculo que une

"Os amigos podem estar juntos em silêncio. Entre os conhecidos é um embaraço, sentimos imediatamente a necessidade de fazer conversa, de ocupar o espaço em branco da comunicação: ficar em silêncio traz-nos incómodo. Com os amigos o silêncio nada tem de embaraçoso. O silêncio é um vínculo que une"
"... Se assumirmos que a amizade é estar em companhia, mesmo sem falar, então o exercício da oração aprofunda-se, toca outros níveis, abre-nos a outras dimensões do ser. Não é preciso falar. Basta a consolação de estar um ao lado do outro. Amigo é alguém cuja simples presença traz alegria, independentemente do que faça ou diga".

in TOLENTINO MENDONÇA. Nenhum Caminho será Longo.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

A ganância do padeiro... e outros

Funcionamento do sistémica económico por Adam Smith...

       "Devemos o nosso pão fresco não ao altruísmo do padeiro, mas à sua ganância. É graças à ambição do ganho, que os bens de que precisamos chegam às prateleiras dos supermercados. . Esse dado é, de resto, comummente aceite. O facto que hoje se coloca, sempre com maior urgência, é, porém, de outra natureza. Claro que não perde validade a justa expectativa de que a atividade laboral produza o seu lucro, mas o que se coloca às nossas sociedades é a questão da sua capacidade para resolver, ainda que de modo não completamente perfeito, os desequilíbrios que elas próprias geram e que ameaçam a sua preservação... A difícil situação atual mostra-nos, sem margem para hesitações, como se tornou urgente e vital introduzir alternativas de fundo num campo que é económico e financeiros, mas também é humano e civilizacional..."

in TOLENTINO MENDONÇA. Nenhum Caminho será Longo.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

O amigo do seu amigo não faz o mundo melhor

"Quem é pai do seu filho está disponível para estender e praticar a paternidade sempre que for necessário, acolhendo, escutando, amparando. Quem é amigo só do seu amigo não torna propriamente o mundo melhor. A amizade não pode confundir-se com uma associação egoísta de interesses... A verdadeira amizade transfigura e amplia a nossa humanidade, dá-nos competências afetivas, estimula-nos a abrir o círculo, a fazer mais, a ser melhor. A amizade inspira-nos a demonstrarmos, inclusive, a lógica da inimizade, como desafia Jesus: «Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos persegue»

in TOLENTINO MENDONÇA. Nenhum Caminho será Longo.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Amizade - a aceitação positiva do limite

       "A amizade é a aceitação positiva do limite. Chega um momento em que vais para tua casa e eu para a minha e isso não representa nenhum drama. Pelo contrário, sabemos que nos havemos de reencontrar; não nos vendo, não nos perdemos de vista; que o essencial permanece intacto na distância. Pensar assim a nossa relação com Deus enche-nos de serenidade e de alegria; há um sopro interior que nos assiste; a nossa oração ganha uma respiração que parte realmente de nós em vez de desenvolver-se num plano de pura abstração. Pois infelizmente grande parte da nossa oração não tem alma nem corpo, não tem sangue e verdade, não tem barro e espírito. No fundo, persistimos numa imagem de Deus que exige de nós sacrifícios, quando o Deus de Jesus Cristo quer a vida justa, plena, levada à sua alegria...

       "Na amizade, aceitamos do outro o que ele nos dá ou pode dar, e fazemos disso um ponto de partida alegre. A ansiedade de querer saber tudo, de esventrar, de escrutinar é projeção de uma vontade de domínio, desejo de poder. A amizade é um passar. Deus passa a sua beleza diante de Moisés e Moisés vê uma parte, que é aquilo que pode ver. Se vivêssemos assim a nossa experiência espiritual, ela seria mais pacificada, mais adulta e certamente mais fecunda. temos de abrir as mãos, deixar que Deus passe..."

in TOLENTINO MENDONÇA. Nenhum Caminho será Longo.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

A imperfeição humaniza-nos

       "Levamos tanto tempo até perder mania das coisas perfeitas, das pessoas perfeitas, e curarmo-nos do impulso que nos exila no aparente conforto das idealizações, ou finalmente vencermos o vício de sobrepor à realidade um cortejo de confortáveis (mas falsas) imagens! «É preciso ir além da perfeição»...
       "Abraçar a imperfeição é aceitar a amizade como uma história em aberto, que conta ativamente connosco. Na imperfeição é sempre possível começar e recomeçar. A imperfeição permite-nos compreender a singularidade, a diversidade, o real impacto da passagem do tempo em cada um... a imperfeição humaniza-nos. Acolhê-la é uma condição necessária na amizade, e na maturação pessoal que nos cabe fazer..."

       "Todos somos feridos, opacos, inacabados. Cada um de nós traz dentro de si uma quantidade irrazoável de sonhos sufocados, de pontas desacertadas, de palavras que nunca chegaram a ser ditas, de uma violência interior, mais difusa ou concentrada. Mesmo a nossa felicidade vem misturada com a memória de infelicidades que ainda nos ardem, mesmo que as calemos. Somos verdadeiros, porém, quando tomamos consciência disso e quando o partilhamos na confiança de uma amizade. Os mecanismos de autodefesa e de culpabilização só nos isolam mais. E a santidade, há de explicar Jesus a Pedro, não é a impecabilidade, mas este movimento profundo em nós de nos voltarmos para um outro, para o Todo-Outro, e deixarmo-nos atravessar por uma experiência de reconhecimento e misericórdia como na penumbra da catedral o vitral se deixa atravessar pelo luz. O nosso pedido deve, por isso. ser: «Aproxima-te de mim, porque sou um homem pecador» atrevendo-nos a essa forma necessária e rara de audácia que é a humildade"

in TOLENTINO MENDONÇA. Nenhum Caminho será Longo.

domingo, 21 de abril de 2013

Festa da Palavra / Entrega da Bíblia 2013

       O tempo de Páscoa, para a paróquia de Tabuaço, acolhe as diferentes festas da catequese. Sábado, 20 de abril, Festa da Palavra/Entrega da Bíblia, para os meninos e meninas do 4.º ano da catequese. Durante a celebração da Eucaristia a acentuação da Bíblia e da Palavra de Deus como alimento dos cristãos. Algumas fotos deste momento de festa, de oração, de reflexão.
Para mais fotos desta festa e das Festas da Catequese
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Vigília Vocacional, na Semana das Vocações

       14 a 21 de abril, 50.º Semana de Oração pelas Vocações. O papa Paulo VI instituiu o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, com o intuito de promover as vocações sacerdotais e religiosas, a partir da Diocese de Roma, alargando a sensibilização a toda a Igreja.
       Por proposta do Departamento da Pastoral Vocacional da Diocese de Lamego, realizou-no na sexta-feira, 19 de abril, a Vigília Vocacional. Nos últimos anos, os responsáveis diocesanos têm procurado que esta vigília de oração se realize no arcipretado/zona pastoral onde se realiza a Jornada Diocesana da Juventude. Esta realizar-se-á daqui a um mês, nos dias 17 e 18 de maio, no Santuário de Santa Maria do Sabroso, na paróquia de Santa Maria de Barcos.
       A Vigília de Oração foi presidida por D. António Couto, Bispo de Lamego, com a presença do Seminário Maior de Lamego, seminaristas e equipa formadora, das religiosas que trabalham na cidade, e de sacerdotes destes Arciprestado, com pessoas das comunidades paroquiais de Tabuaço, Távora, Barcos, Valença do Douro, Chavães, Arcos, Pinheiros, Carrazedo, Sendim, Vale de Figueira...
       A Igreja Paroquial de Tabuaço encheu-se para rezar pelas Vocações sacerdotais, religiosas, laicais, com orações, salmos, cânticos, com leituras bíblicas, com exposição e bênção do Santíssimo. 
       Durante a Homilia, partindo do Evangelho de São Marcos, que narra o chamamento dos Apóstolos, o Senhor Bispo sublinhou a urgência de procurar coisas belas, deixar-se chamar por Jesus, só Ele diz verdadeiramente o meu, o nosso, nome, num convite a "estar com Ele", viver com Ele, e só depois o envio, para levar a Boa Nova, a alegria da salvação a outros. Quando chamados, os apóstolos não pedem tempo para pensar, deixam de imediato o que estão a fazer e seguem Jesus, com desprendimento, com alegria. São os primeiros malucos, trocam a vida que têm pelo seguimento, pela cruz, por Jesus. Hoje, Jesus chama por nós, pelo nosso nome para irradiarmos o Seu Evangelho em casa, na família, entre os amigos. É necessário que a Igreja vá ao encontro das pessoas, saia portas e penetre no mundo. Um dos convites bem vincados por D. António foi a descoberta da beleza de Jesus e do Evangelho. Por vezes andamos atolados no lodo, no lixo, no estrume, à margem da beleza, da vida autêntica que Jesus nos dá. Ele faz-nos discípulos, apóstolos, enviados. No Génesis Deus fez. Deus disse: faça-se e tudo foi feito. Agora é Cristo que re-cria. Faz os 12 apóstolos. Nova Criação.
       Algumas imagens ilustrativas da celebração:








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sábado, 20 de abril de 2013

Domingo IV da Páscoa - ano C - 21 de abril de 2013

        1 – No 4.º domingo da Páscoa, as leituras fazem-nos olhar para Deus como o Bom Pastor. É Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Vocação significa chamamento. Somos chamados a seguir Jesus, indo no Seu encalço, deixando-nos conduzir por Ele, como ovelhas pelo Pastor.
       Vale a pena reler as palavras de Bento XVI, na última Audiência Geral como Papa, quando falava da Igreja e do ministério petrino, “sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas do Senhor. E o Senhor não a deixa afundar; é Ele que a conduz, certamente também por meio dos homens que escolheu, porque assim quis. Esta foi e é uma certeza que nada pode ofuscar. E é por isso que, hoje, o meu coração transborda de gratidão a Deus, porque nunca deixou faltar a toda a Igreja e também a mim a sua consolação, a sua luz, o seu amor”. 
       Jesus traz-nos a ternura do Pai, que nos ama com amor de Mãe. O Céu fica mais perto, fica ao alcance das nossas mãos e do nosso coração. Reflitamos no convite feito por Bento XVI:
“Queria convidar todos a renovarem a confiança firme no Senhor, a entregarem-se como crianças nos braços de Deus, seguros de que aqueles braços nos sustentam sempre e nos permitem caminhar todos os dias, mesmo no cansaço. Queria que cada um se sentisse amado por aquele Deus que entregou o seu Filho por nós e nos mostrou o seu amor sem limites. Queria que cada um sentisse a alegria de ser cristão”. 
       Nas palavras simples e sábias de Bento XVI ressoa a certeza, que vem da fé e é testemunhada pela palavra de Deus, que o próprio Deus será o pastor de Israel. Esclarece Ezequiel: Eu próprio irei em busca das minhas ovelhas, Eu próprio cuidarei do meu rebanho”. Ou como reza o salmista, “O Senhor é meu pastor: nada me falta” (Sl 22).
       A missão do Pastor é reunir, congregar, ajuntar todo o rebanho. Diz-nos Jesus: «As minhas ovelhas escutam a minha voz. Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Eu dou-lhes a vida eterna e nunca hão de perecer e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que Mas deu, é maior do que todos e ninguém pode arrebatar nada da mão do Pai. Eu e o Pai somos um só». 
       Ele entranha-se no MEIO, entre as ovelhas, para que haja um só rebanho e um só Pastor.
       2 – Na Mensagem para o 50.º Dia Mundial da Oração pelas Vocações, Bento XVI sublinha que “o fundamento seguro de toda a esperança está aqui: Deus nunca nos deixa sozinhos e permanece fiel à palavra dada”. Desde sempre. Deus cria-nos por amor. Somos Sua imagem e semelhança, na capacidade de amar e ser amados e na dinâmica dialógica do amor que gera vida. Ao longo dos tempos, Deus manifesta a Sua presença, pelos juízes, pelos profetas, pelos guias que coloca à frente do Seu povo. Muitas vezes, o rebanho dispersa, as ovelhas seguem por atalhos desviantes, por ruas e vielas sem saída. Quantas pessoas se colocam à margem e contra membros da mesma família e da mesma comunidade!
       Aquele povo, tal a sua dispersão e conflitualidade, mais parece um emaranhado de ovelhas sem pastor. É também assim que Jesus olha para a humanidade e, em concreto, para os judeus, para as multidões que se apresentam como ovelhas sem pastor, famintas, sequiosas de orientação, e perante as quais Jesus renova o pastoreio divino, ensinando muitas coisas, ilustrando um caminho de regresso à Casa do Pai.
       A comunidade cristã é, neste sentido, entendida como o REBANHO do Senhor Jesus. Ele está no MEIO. Quando alguém se transvia e dispersa o reconhecimento do outro como irmão fica em risco. Tomé não reconhece o testemunho dos irmãos, pois não está na comunidade. Pedro precisa de seguir o discípulo predileto para voltar a reconhecer o Senhor. Só quando o Senhor está no centro, e nos inserimos na comunidade, entre irmãos, só nesse momento somos verdadeiramente Seus discípulos. É inadiável colocar Jesus no meio, no CENTRO, é Ele que nos centrípeta, que nos aproxima e atrai para o centro, para Si. Para que Ele seja TUDO em todos.

       3 – No Apocalipse, São João, na sua visão, mostra o desenlace do AMOR de Deus. Jesus atrai a Si toda a humanidade dispersa pelo pecado, pela violência, pelo egoísmo. No Seu sangue, oferenda a favor de todos, fomos/somos remidos, incluídos na VIDA da graça.
“Eu, João, vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro, vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão. Um dos Anciãos tomou a palavra para me dizer: «Estes são os que vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro... Aquele que está sentado no trono abrigá-los-á na sua tenda. Nunca mais terão fome nem sede, nem o sol ou o vento ardente cairão sobre eles. O Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água viva. E Deus enxugará todas as lágrimas dos seus olhos». 
       Entrelaçam-se duas imagens fortíssimas. Jesus é o CORDEIRO que se torna PASTOR. É o Cordeiro imolado, VIDA dada por muitos. É o Cordeiro que está no meio para ser Pastor. Sob a Sua tenda nos acolhemos e nos alimentamos até à eternidade. Vamos de toda a parte. Vêm de todo o mundo. É um colorido, uma multidão multicor, imensa, incontável. A salvação que Cristo nos dá não tem peso nem medida. A medida é o amor, a dádiva sem fim, a inserção na própria vida de Deus. Ele desce para a terra, pisa o mesmo chão, para nos atrair e elevar para Deus.

       4 – Jesus Cristo vai connosco. Caminha entre nós. Mas agora somos nós que O mostramos pela palavra e pela vida. Morreu, ressuscitou, apareceu aos apóstolos e discípulos, subiu para o Pai, e na vastidão de Deus está ainda mais VIVO e mais PRESENTE à humanidade; já não limitado às coordenadas do tempo e do espaço, faz chegar o CÉU a todo o mundo.
       Os discípulos entendem a sua vocação, como seguimento do Mestre e anúncio do Reino de Deus. Por momentos ainda se puseram a olhar para as nuvens à espera de uma inspiração mais divina, mais estrondosa, mais espetacular. Do Céu veio a resposta: que fazeis aí especados? O Senhor está no meio de vós, ide anunciai o Evangelho a toda a criatura.
       Paulo e Barnabé mantêm a rede de ligação a Jesus e aos Apóstolos, levando cada vez mais longe o Evangelho. Nem sempre compreendidos, e por vezes escorraçados da cidade, partem para outras terras, e por outros caminhos.
“Muitos judeus e prosélitos piedosos seguiram Paulo e Barnabé... Ao verem a multidão, os judeus encheram-se de inveja e responderam com blasfémias. Corajosamente, Paulo e Barnabé declararam: «Era a vós que devia ser anunciada primeiro a palavra de Deus. Uma vez, porém, que a rejeitais e não vos julgais dignos da vida eterna, voltamo-nos para os gentios, pois assim nos mandou o Senhor: ‘Fiz de ti a luz das nações, para levares a salvação até aos confins da terra’». Ao ouvirem estas palavras, os gentios encheram-se de alegria e glorificavam a palavra do Senhor... Mas os judeus desencadearam uma perseguição contra Paulo e Barnabé e expulsaram-nos do seu território...” 
       A evangelização irradia a partir de Jerusalém. Com as perseguições vai-se centrifugando para o mundo inteiro. Israel é a LUZ das nações que não pode encerrar-se na delimitação de um território ou de um grupo de privilegiados. Já experimentaram tapar a luz com as mãos? Ou deixamos de a ver, ou se apaga ou tende a escapulir por entre os dedos? É o entendimento de Paulo e Barnabé. Chamados para partir, ir de casa em casa e fazer Casa em todo o mundo.


Textos para a Eucaristia (ano C): Atos 13, 14.43-52; Ap 7, 9.14b-17; Jo 10, 27-30.

Bento XVI - O Senhor chama-me a «subir ao monte»

"Amados irmãos e irmãs, sinto de modo particular dirigida a mim esta Palavra de Deus, neste momento da minha vida. Obrigado! O Senhor chama-me a «subir ao monte», a dedicar-me ainda mais à oração e à meditação. Mas isto não significa abandonar a Igreja, aliás, se Deus me pede isto é precisamente para que eu possa continuar a servi-la com a mesma dedicação e com o mesmo amor com que procurei fazê-lo até agora, mas de uma forma mais adequada à minha idade e às minhas forças. Invoquemos a intercessão da Virgem Maria: Ela ajude todos nós a seguir sempre o Senhor Jesus, na oração e na caridade activa".
Depois do Angelus
       Queridos peregrinos de língua portuguesa que viestes rezar comigo o Angelus: obrigado pela vossa e todas as manifestações de afeto e solidariedade, em particular pelas orações com que me estais acompanhando nestes dias. Que o bom Deus vos cumule de todas as bênçãos.

Último ANGELUS de Bento XVI, 24 de março de 2013: AQUI

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Bento XVI - a vivência do Concílio Vaticano II

       "É assim que a Igreja cresce: juntamente com Pedro, confessando Cristo, seguindo Cristo. E façamo-lo sempre. Eu estou muito agradecido pela vossa oração, que pude sentir – como disse quarta-feira – quase fisicamente. Embora agora me retire, na oração continuo sempre unido a todos vós e tenho a certeza de que também vós estareis unidos a mim, apesar de permanecer oculto para o mundo.
       Devido às condições da minha idade, não pude preparar, para hoje, um grande e verdadeiro discurso, como alguém poderia esperar; eu pensava mais numa breve conversa sobre o Concílio Vaticano II, tal como eu o vi..."
Vaticano II, sobre a Liturgia:
       "Eu diria que havia diversas: sobretudo o Mistério Pascal como centro do ser cristão e, consequentemente, da vida cristã, do ano, do tempo cristão, expresso no tempo pascal e no domingo que é sempre o dia da Ressurreição. Sempre de novo começamos o nosso tempo com a Ressurreição, o encontro com o Ressuscitado, e, do encontro com o Ressuscitado, saímos para o mundo. Neste sentido, é uma pena que hoje o domingo se tenha transformado em fim de semana, quando na verdade é o primeiro dia, é o início. Interiormente devemos ter isto presente: é o início, o início da Criação, é o início da recriação na Igreja, encontro com o Criador e com Cristo Ressuscitado. Também este duplo conteúdo do domingo é importante: é o primeiro dia, isto é, a festa da criação, o nosso fundamento continua a ser a Criação, acreditamos em Deus Criador; e encontro com o Ressuscitado, que renova a Criação; o seu verdadeiro objectivo é criar um mundo que seja resposta ao amor de Deus"

Vaticano II, sobre a Igreja:
       "Nós somos a Igreja, a Igreja não é uma estrutura; nós, os próprios cristãos juntos, todos nós somos o Corpo vivo da Igreja. Naturalmente isto é válido no sentido que o nós, o verdadeiro «nós» dos crentes, juntamente com o «Eu» de Cristo é a Igreja; cada um de nós, não «um nós», um grupo que se declara Igreja. Isso não! Este «nós somos Igreja» exige precisamente a minha inserção no grande «nós» dos crentes de todos os tempos e lugares. Assim temos a primeira ideia: completar a eclesiologia de modo teológico, mas continuando também de modo estrutural, ou seja, ao lado da sucessão de Pedro, da sua função única, definir melhor também a função dos Bispos, do Corpo Episcopal. E, para fazer isso, encontrou-se a palavra «colegialidade», muito discutida, com discussões acesas, diria mesmo, um pouco exageradas. Mas era a palavra – talvez houvesse ainda outra, mas esta servia – para exprimir que os Bispos, juntos, são a continuação dos Doze, do Corpo dos Apóstolos. Dissemos: só um Bispo, o de Roma, é sucessor de um determinado apóstolo, de Pedro. Todos os outros tornam-se sucessores dos Apóstolos, entrando no Corpo que continua o Corpo dos Apóstolos. Precisamente assim o Corpo dos Bispos, o colégio, é a continuação do Corpo dos Doze, e deste modo se vê a sua necessidade, a sua função, os seus direitos e deveres. A muitos aparecia como uma luta pelo poder, e talvez algum tenha pensado também ao seu poder, mas substancialmente não se tratava de poder, mas da complementaridade dos factores e do completamento do Corpo da Igreja com os Bispos, sucessores dos Apóstolos, como pedra angular; e cada um deles, unido a este grande Corpo, é pedra angular da Igreja".
Vaticano II, sobre a Revelação:
       "Ainda mais conflituoso era o problema da Revelação. Tratava-se da relação entre Escritura e Tradição, e aqui apareciam sobretudo os exegetas interessados numa maior liberdade; sentiam-se um pouco – digamos – em situação de inferioridade relativamente aos protestantes, que faziam as grandes descobertas, enquanto os católicos se viam um pouco como «deficientes» pela necessidade de se submeter ao Magistério. Por conseguinte, aqui estava em jogo uma luta também muito concreta: Que liberdade têm os exegetas? Como se pode ler bem a Escritura? Que quer dizer Tradição? Era uma batalha pluridimensional que não posso mostrar agora; o importante é que a Escritura é de certeza a Palavra de Deus, e a Igreja está sob a Escritura, obedece à Palavra de Deus, não está acima da Escritura. E, no entanto, a Escritura só é Escritura porque existe a Igreja viva, o seu sujeito vivo; sem o sujeito vivo da Igreja, a Bíblia é apenas um livro que abre, se abre para diferentes interpretações sem dar uma derradeira clareza...

Vaticano II, sobre o ecumenismo e a liberdade religiosa:
       O horizonte da segunda parte do Concílio é muito mais vasto. Apresentava-se, com grande urgência, o tema: O mundo de hoje, a época moderna, e a Igreja; e, relacionado com o mesmo, os temas da responsabilidade pela construção deste mundo, da sociedade, a responsabilidade pelo futuro deste mundo e esperança escatológica, a responsabilidade ética do cristão, onde poderá encontrar os seus guias; e, depois, a liberdade religiosa, o progresso e a relação com as outras religiões. Nesta altura, participam realmente na discussão todas as latitudes presentes no Concílio; não só a América, os Estados Unidos…, com um grande interesse pela liberdade religiosa. No terceiro período, estes disseram ao Papa: Não podemos voltar para casa sem levar, na nossa bagagem, uma declaração sobre a liberdade religiosa votada pelo Concílio. Todavia o Papa, com firmeza e decisão, teve a paciência de levar o texto para o quarto período, a fim de encontrar uma maturação e um consenso suficientemente completos entre os Padres do Concílio. Como dizia, jogaram um papel forte no Concílio não só os norte-americanos, mas também a América Latina, bem conhecedora da miséria do povo, de um continente católico, e da responsabilidade da fé pela situação daquela gente. E de igual modo a África, a Ásia, que viram a necessidade do diálogo inter-religioso; despontaram problemas que nós, alemães, – é justo que o diga – no início não tínhamos visto. Não posso agora descrever tudo isto. O grande documento «Gaudium et spes» analisou muito bem os problemas da escatologia cristã e progresso do mundo, da responsabilidade pela sociedade de amanhã e responsabilidade do cristão face à eternidade, tendo assim também renovado a ética cristã, os fundamentos. Mas inesperadamente – digamos – cresceu, ao lado deste grande documento, outro documento que dava resposta, de forma mais sintética e concreta, aos desafios do tempo: a «Nostra aetate». Desde o início, estavam presentes os nossos amigos judeus, que nos disseram a nós, alemães, sobretudo, mas não só a nós, que depois dos tristes acontecimentos deste século nazista, da década nazista, a Igreja Católica deve dizer uma palavra sobre o Antigo Testamento, sobre o povo judeu. Diziam: embora seja claro que a Igreja não é responsável pelo Shoah, todavia uma grande parte daqueles que cometeram tais crimes eram cristãos; devemos aprofundar e renovar a consciência cristã, mesmo sabendo bem que os verdadeiros crentes sempre resistiram contra essas coisas. Tornava-se assim claro que a relação com o mundo do antigo Povo de Deus devia ser objecto de reflexão. É compreensível também que os países árabes – os Bispos dos países árabes – não tivessem ficado felizes com esta possibilidade: temiam em certa medida uma glorificação do Estado de Israel, que naturalmente não queriam. E disseram: Uma indicação verdadeiramente teológica sobre o povo judeu é boa, é necessária, mas, se falardes disso, falai também do Islão; só assim se restabelecerá o equilíbrio; também o Islão é um grande desafio, e a Igreja deve esclarecer igualmente a sua relação com o Islão. Eis uma realidade que então nós quase não compreendemos: um pouco, sim, mas não muito. Hoje sabemos como era necessário!"
O verdadeiro Concílio:
       "Agora quero acrescentar ainda um terceiro ponto: havia o Concílio dos Padres – o verdadeiro Concílio – mas havia também o Concílio dos meios de comunicação, que era quase um Concílio aparte. E o mundo captou o Concílio através deles, através dos mass-media. Portanto o Concílio, que chegou de forma imediata e eficiente ao povo, foi o dos meios de comunicação, não o dos Padres. E enquanto o Concílio dos Padres se realizava no âmbito da fé, era um Concílio da fé que faz apelo ao intellectus, que procura compreender-se e procura entender os sinais de Deus naquele momento, que procura responder ao desafio de Deus naquele momento e encontrar, na Palavra de Deus, a palavra para o presente e o futuro, enquanto todo o Concílio – como disse – se movia no âmbito da fé, como fides quaerens intellectum, o Concílio dos jornalistas, naturalmente, não se realizou no âmbito da fé, mas dentro das categorias dos meios de comunicação actuais, isto é, fora da fé, com uma hermenêutica diferente. Era uma hermenêuticos política: para os mass-media, o Concílio era uma luta política, uma luta de poder entre diversas correntes da Igreja".

no Encontro de Bento XVI com o clero de Roma, 14 de fevereiro de 2013: AQUI

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Bento XVI - O deserto: lugar do silêncio e da pobreza

       "Anima-me e ilumina-me a certeza de que a Igreja é de Cristo, o Qual não lhe deixará jamais faltar a sua orientação e a sua solicitude. Agradeço a todos pelo amor e pela oração com que me tendes acompanhado. Obrigado! Nestes dias, não fáceis para mim, senti quase fisicamente a força da oração que me proporciona o amor da Igreja, a vossa oração. Continuai a rezar por mim, pela Igreja, pelo futuro Papa. O Senhor vos guiará".
       "Antes de tudo o deserto, onde Jesus se retira, é o lugar do silêncio, da pobreza, onde o homem permanece desprovido das ajudas materiais e se encontra diante dos pedidos fundamentais da existência, é impelido a ir ao essencial e, precisamente por isso, é-lhe mais fácil encontrar Deus. Mas o deserto é inclusive o lugar da morte, pois onde não há água também não há vida, e é o lugar da solidão, onde o homem sente mais intensa a tentação. Jesus vai ao deserto, e ali padece a tentação de deixar o caminho indicado pelo Pai para seguir outras veredas, mais fáceis e mundanas (cf. Lc 4, 1-13)".

Que lugar tem Deus na minha vida?
       "Superar as tentações de submeter Deus a nós mesmos e aos nossos interesses, ou de o pôr num canto, e converter-se à justa ordem de prioridades, reservar a Deus o primeiro lugar, é um caminho que cada cristão deve percorrer sempre de novo. «Converter-se», um convite que ouviremos muitas vezes na Quaresma, significa seguir Jesus de modo que o seu Evangelho seja guia concreta da vida; quer dizer deixar que Deus nos transforme, deixar de pensar que nós somos os únicos construtores da nossa existência; significa reconhecer que somos criaturas, que dependemos de Deus, do seu amor, e que só «perdendo» a nossa vida nele podemos ganhá-la. Isto exige que façamos as nossas escolhas à luz da Palavra de Deus. Hoje não podemos continuar a ser cristãos como uma simples consequência do facto de vivermos numa sociedade que tem raízes cristãs: até quem nasce de uma família cristã e é educado religiosamente deve, todos os dias, renovar a escolha de ser cristão, ou seja, reservar a Deus o primeiro lugar, diante das tentações que uma cultura secularizada lhe propõe continuamente, diante do juízo crítico de muitos contemporâneos".

Audiência Geral de Bento XVI, 13 de fevereiro de 2013: AQUI

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Semana de Oração pelas Vocações

Mensagem de Bento XVI para o 50º Dia Mundial de Oração pelas Vocações
21 de Abril de 2013 - 4.º Domingo de Páscoa

As vocações sinal da esperança fundada na fé


Amados irmãos e irmãs!
       No quinquagésimo Dia Mundial de Oração pelas Vocações que será celebrado no IV Domingo de Páscoa, 21 de Abril de 2013, desejo convidar-vos a reflectir sobre o tema «As vocações sinal da esperança fundada na fé», que bem se integra no contexto do Ano da Fé e no cinquentenário da abertura do Concílio Ecuménico Vaticano II. Decorria o período da Assembleia conciliar quando o Servo de Deus Paulo VI instituiu este Dia de unânime invocação a Deus Pai para que continue a enviar operários para a sua Igreja (cf. Mt 9,38). «O problema do número suficiente de sacerdotes – sublinhava então o Sumo Pontífice– interpela todos os fiéis, não só porque disso depende o futuro da sociedade cristã, mas também porque este problema é o indicador concreto e inexorável da vitalidade de fé e amor de cada comunidade paroquial e diocesana, e o testemunho da saúde moral das famílias cristãs. Onde desabrocham numerosas as vocações para o estado eclesiástico e religioso, vive-se generosamente segundo o Evangelho» (Paulo VI, Radiomensagem, 11 de Abril de 1964).
       Nestas cinco décadas, as várias comunidades eclesiais dispersas pelo mundo inteiro têm-se espiritualmente unido todos os anos, no IV Domingo de Páscoa, para implorar de Deus o dom de santas vocações e propor de novo à reflexão de todos a urgência da resposta à chamada divina. Na realidade, este significativo encontro anual tem favorecido fortemente o empenho por se consolidar sempre mais, no centro da espiritualidade, da acção pastoral e da oração dos fiéis, a importância das vocações para o sacerdócio e a vida consagrada.
       A esperança é expectativa de algo de positivo para o futuro, mas que deve ao mesmo tempo sustentar o nosso presente, marcado frequentemente por dissabores e insucessos. Onde está fundada a nossa esperança? Olhando a história do povo de Israel narrada no Antigo Testamento, vemos aparecer constantemente, mesmo nos momentos de maior dificuldade como o exílio, um elemento que os profetas de modo particular não cessam de recordar: a memória das promessas feitas por Deus aos Patriarcas; memória essa que requer a imitação do comportamento exemplar de Abraão, o qual – como sublinha o Apóstolo Paulo – «foi com uma esperança, para além do que se podia esperar, que ele acreditou e assim se tornou pai de muitos povos, conforme o que tinha sido dito: Assim será a tua descendência» (Rm 4,18). Então, uma verdade consoladora e instrutiva que emerge de toda a história da salvação é a fidelidade de Deus à aliança, com a qual Se comprometeu e que renovou sempre que o homem a rompeu pela infidelidade, pelo pecado, desde o tempo do dilúvio (cf. Gn 8,21-22) até ao êxodo e ao caminho no deserto (cf. Dt 9,7); fidelidade de Deus que foi até ao ponto de selar anova e eterna aliança com o homem por meio do sangue de seu Filho, morto e ressuscitado para a nossa salvação.
       Em todos os momentos, sobretudo nos mais difíceis, é sempre a fidelidade do Senhor – verdadeira força motriz da história da salvação–que faz vibrar os corações dos homens e mulheres e os confirma na esperança de chegar um dia à «Terra Prometida». O fundamento seguro de toda a esperança está aqui: Deus nunca nos deixa sozinhos e permanece fiel à palavra dada. Por este motivo, em toda a situação, seja ela feliz ou desfavorável, podemos manter uma esperança firme, rezando como salmista: «Só em Deus descansa a minha alma, d'Ele vem a minha esperança» (Sl62/61,6). Portanto ter esperança equivale a confiar no Deus fiel, que mantém as promessas da aliança. Por isso, a fé e a esperança estão intimamente unidas. A esperança «é, de facto, uma palavra central da fé bíblica, a ponto de, em várias passagens, ser possível intercambiar os termos “fé” e “esperança”. Assim, a Carta aos Hebreus liga estreitamente a “plenitude da fé” (10,22) com a “imutável profissão da esperança” (10,23). De igual modo, quando a Primeira Carta de Pedro exorta os cristãos a estarem sempre prontos a responder a propósito do logos – o sentido e a razão – da sua esperança (3,15), “esperança” equivale a “fé”» (Enc. Spe salvi, 2).
       Amados irmãos e irmãs, em que consiste a fidelidade de Deus à qual podemos confiar-nos com firme esperança? Consiste no seu amor. Ele, que é Pai, derrama o seu amor no mais íntimo de nós mesmos, através do Espírito Santo (cf.Rm 5,5).E é precisamente este amor, manifestado plenamente em Jesus Cristo, que interpela a nossa existência, pedindo a cada qual uma resposta a propósito do que quer fazer da sua vida e quanto está disposto a apostar para a realizar plenamente. Por vezes o amor de Deus segue percursos surpreendentes, mas sempre alcança a quantos se deixam encontrar. Assim a esperança nutre-se desta certeza: «Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4,16). E este amor exigente e profundo, que vai além da superficialidade, infunde-nos coragem, dá-nos esperança no caminho da vida e no futuro, faz-nos ter confiança em nós mesmos, na história e nos outros. Apraz-me repetir, de modo particular a vós jovens, estas palavras: «Que seria da vossa vida, sem este amor? Deus cuida do homem desde a criação até ao fim dos tempos, quando completar o seu desígnio de salvação. No Senhor ressuscitado, temos a certeza da nossa esperança» (Discurso aos jovens da diocese de São Marino-Montefeltro, 19 de Junho de 2011).
        Também hoje, como aconteceu durante a sua vida terrena, Jesus, o Ressuscitado, passa pelas estradas da nossa vida e vê-nos imersos nas nossas actividades, com os nossos desejos e necessidades. É precisamente no nosso dia-a-dia que Ele continua a dirigir-nos a sua palavra; chama-nos a realizar a nossa vida com Ele, o único capaz de saciar a nossa sede de esperança. Vivente na comunidade de discípulos que é a Igreja, Ele chama também hoje a segui-Lo. E este apelo pode chegar em qualquer momento. Jesus repete também hoje: «Vem e segue-Me!» (Mc10,21). Para acolher este convite, é preciso deixar de escolher por si mesmo o próprio caminho. Segui-Lo significa entranhar a própria vontade na vontade de Jesus, dar-Lhe verdadeiramente a precedência, antepô-Lo a tudo o que faz parte da nossa vida :família, trabalho, interesses pessoais, nós mesmos. Significa entregar-Lhe a própria vida, viver com Ele em profunda intimidade, por Ele entrar em comunhão com o Pai no Espírito Santo e, consequentemente, com os irmãos e irmãs. Esta comunhão de vida com Jesus é o «lugar» privilegiado onde se pode experimentara esperança e onde a vida será livre e plena.
       As vocações sacerdotais e religiosas nascem da experiência do encontro pessoal com Cristo, do diálogo sincero e familiar com Ele, para entrar na sua vontade. Por isso, é necessário crescer na experiência de fé, entendida como profunda relação com Jesus, como escuta interior da sua voz que ressoa dentro de nós. Este itinerário, que torna uma pessoa capaz de acolher a chamada de Deus, é possível no âmbito de comunidades cristãs que vivem uma intensa atmosfera de fé, um generoso testemunho de adesão ao Evangelho, uma paixão missionária que induza a pessoa à doação total de si mesma pelo Reino de Deus, alimentada pela recepção dos sacramentos, especialmente a Eucaristia, e por uma fervorosa vida de oração. Esta «deve, por um lado, ser muito pessoal, um confronto do meu eu com Deus, com o Deus vivo; mas, por outro, deve ser incessantemente guiada e iluminada pelas grandes orações da Igreja e dos santos, pela oração litúrgica, na qual o Senhor nos ensina continuamente a rezar de modo justo» (Enc. Spe salvi, 34).
       A oração constante e profunda faz crescer a fé da comunidade cristã, na certeza sempre renovada de que Deus nunca abandona o seu povoe que o sustenta suscitando vocações especiais, para o sacerdócio e para a vida consagrada, que sejam sinais de esperança para o mundo. Na realidade, os presbíteros e os religiosos são chamados a entregar-se de forma incondicional ao Povo de Deus, num serviço de amor ao Evangelho e à Igreja, num serviço àquela esperança firme que só a abertura ao horizonte de Deus pode gerar.
       Assim eles, com o testemunho da sua fé e com o seu fervor apostólico, podem transmitir, em particular às novas gerações, o ardente desejo de responder generosa e prontamente a Cristo, que chama a segui-Lo mais de perto. Quando um discípulo de Jesus acolhe a chamada divina para se dedicar ao ministério sacerdotal ou à vida consagrada, manifesta-se um dos frutos mais maduros da comunidade cristã, que ajuda a olhar com particular confiança e esperança para o futuro da Igreja e o seu empenho de evangelização. Na verdade, sempre terá necessidade de novos trabalhadores para a pregação do Evangelho, a celebração da Eucaristia, o sacramento da Reconciliação.
       Por isso, oxalá não faltem sacerdotes zelosos que saibam estar ao lado dos jovens como «companheiros de viagem», para os ajudarem, no caminho por vezes tortuoso e obscuro da vida, a reconhecer Cristo, Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6); para lhes proporem com coragem evangélica a beleza do serviço a Deus, à comunidade cristã, aos irmãos. Não faltem sacerdotes que mostrem a fecundidade de um compromisso entusiasmante, que confere um sentido de plenitude à própria existência, porque fundado sobre a fé n'Aquele que nos amou primeiro (cf. 1 Jo 4,19).
       Do mesmo modo, desejo que os jovens, no meio de tantas propostas superficiais e efémeras, saibam cultivar a atracção pelos valores, as metas altas, as opções radicais por um serviço aos outros seguindo os passos de Jesus. Amados jovens, não tenhais medo de O seguir e de percorrer os caminhos exigentes e corajosos da caridade e do compromisso generoso. Sereis felizes por servir, sereis testemunhas daquela alegria que o mundo não pode dar, sereis chamas vivas de um amor infinito e eterno, aprendereis a «dar a razão da vossa esperança» (1 Ped 3,15).

Vaticano, 6 de Outubro 2012.
PAPA BENTO XVI