terça-feira, 30 de setembro de 2014

Dia da Igreja Diocesana | 27 de setembro | Fotos

D. António Couto | Carta Pastoral | ano pastoral 2014-2015

domingo, 28 de setembro de 2014

D. António Couto | Carta Pastoral | 2014-2015

IDE E CONSTRUÍ COM MAIS AMOR A FAMÍLIA DE DEUS


«Os filhos são um dom de Deus»
(Salmo 127,3)
«Toda a paternidade, como todo o dom perfeito, vêm do Alto, descem do Pai das Luzes»
(Tiago 1,17; cf. Efésios 3,15).
«Sois membros da família de Deus»
(Efésios 2,19)

O amor fontal de Deus-Pai

1. «Deus é amor» (1 João 4,8 e 16) e «amou-nos primeiro» (1 João 4,19), e «nós amamos, porque Deus nos amou primeiro» (1 João 4,19). Então, o amor que está aqui, o amor que está aí, o amor que está em mim, o amor que está em ti, o amor que está em nós, «vem de Deus» (1 João 4,7), e «quem ama nasceu de Deus» (1 João 4,7). Deus amou-nos primeiro, ama-nos e continua a amar-nos sempre primeiro com amor-perfeito (êgapêménos: part. perf. pass. de agapáô), isto é, amor preveniente, fiel, consequente, permanente (1 Tessalonicenses 1,4; Colossenses 3,12). Ama-nos a nós, que estamos aqui, e foi assim que nós começámos a amar. Se não tivéssemos sido amados primeiro, e não tivéssemos recebido o testemunho do amor, não teríamos começado a amar, e nem sequer estaríamos aqui, porque «quem não ama, permanece na morte» (1 João 3,14), sendo então a morte, não o termo da vida, mas aquilo que impede de amar, e, portanto, de nascer!

2. Portanto, se «quem ama nasceu de Deus» (1 João 4,7), o amor que há em nós é remissivo, remete para outrem, remete para a origem. O que é a origem? A origem é o que está antes do começo, a quem a Bíblia e uma parte da humanidade chamam Deus, e nós, cristãos, por imagem, chamamos «Pai». Nova genealogia do amor: o Pai ama o Filho (João 3,35; 5,20), e ama também o mundo (João 3,16), a ponto de enviar o seu Filho ao mundo para lhe manifestar esse amor (João 3,16; 1 João 4,9-10). Só o semelhante conhece o semelhante, e lhe pode comunicar o seu amor. O Pai ama e conhece o Filho Unigénito, e comunica-lhe o seu amor. Como o Pai ama e conhece o Filho Unigénito, também o Filho Unigénito ama e conhece o Pai (Mateus 11,27), e o pode revelar os seus discípulos fiéis (João 15,9), tendo, para tanto, de descer ao nosso nível, fazendo-se homem verdadeiro, semelhante a nós (Filipenses 2,7; Hebreus 2,17). Na verdade, comunica-nos o amor do Pai, e dá-nos a conhecer tudo o que ouviu do Pai (João 15,15). E nós somos convidados a entrar nesse divino colóquio, a acolher esse amor desmesurado, e a passar a amar dessa maneira, como fomos e somos amados (João 13,34; 15,12).

3. Assim, o amor que está em nós, ou em que estamos nós, o amor entre marido e esposa, entre pais e filhos, entre amigos, entre nós, não provém nem de uns nem de outros. Nem sequer de si mesmo. O amor não é meu nem é teu. O amor não é nosso. O amor é dado. Claro. Se «quem ama nasceu de Deus», não é nossa a patente do amor, e temos mesmo de ser extremamente cuidadosos quando pretendemos ajuizar acerca do amor que há nos outros. A antiga equação nivelada: «Ama o próximo como a ti mesmo» (Levítico 19,18), é plenificada e subvertida pela equação paradoxal: «como Eu vos amei» (João 13,34; 15,12). Mesmo aqueles que desconhecem a fonte do amor, é dela que o recebem. Neste sentido, em que a fé se une à razão, não é o casal que faz o amor; é o amor que faz o casal. Do mesmo modo que não é o casal que faz os filhos; é o amor que os faz. São um dom de Deus (Salmo 127,3). Atravessa-nos um calafrio quando nos apercebemos que a humanidade transmite, de idade em idade, de pais para filhos, algo de eterno. Amor eterno, tão terrivelmente ameaçado de idade em idade!


4. É esse amor eterno, primeiro e derradeiro, verdadeiro, que nos faz nascer como irmãos. O lugar que, de forma mais imediata, nos mostra a fraternidade, é a família. E é verdade que, numa família, os filhos, não deixando de ser diferentes na ordem do nascimento, da saúde, da inteligência, temperamento, sucesso, são iguais. E são iguais, não obstante as suas acentuadas diferenças. São iguais, não em função do que são ou do que têm ou do que fazem, mas em função daquilo que lhes é dado e feito. Em função do amor que os precede, o amor dos seus pais, e, em primeira ou última instância, o amor fontal de «Deus-Pai» (Ad gentes, n.º 2), pois nós somos também, diz o Apóstolo, filhos de Deus (1 João 3,2), filhos no Filho (Romanos 8,17.29), membros da família de Deus (Efésios 2,19). É esse amor primeiro que nos torna livres e iguais, logo irmãos. A fraternidade é o lugar em que cada um vale, não por aquilo que é, por aquilo que tem ou por aquilo que faz, mas por aquilo que lhe é feito, antes e independentemente daquilo que deseja, pensa, projeta e realiza, e em que o seu ser é ser numa relação de amor incondicionada, que não é posta por ele, mas em que ele é posto. A verdadeira fraternidade ensina-nos que a nossa consciência não é a autoconsciência daquilo que fazemos, mas a hétero-consciência daquilo que nos é feito e que nós somos sempre chamados a reconhecer e a cantar com renovada alegria, como Maria: «O Todo-poderoso fez em mim grandes coisas» (Lucas 1,49).


O limiar do mistério em cada nascimento

5. Ó abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! (Romanos 11,33). Ó abismo do amor de Deus! Caríssimos pais e mães, os filhos que gerais e que vedes nascer, são, antes de mais, vossos ou são de Deus? Dir-me-eis: este filho é nosso, fomos nós que o geramos, fui eu que o dei à luz, nasceu neste dia, tenho aqui a cédula de nascimento. E eu pergunto ainda: sim, mas porquê esse, e não outro? É aqui, amigos, que entra o para além da química e da biologia, entenda-se, o para além de nós. É aqui, amigos, que entramos no limiar do mistério, na beleza incandescente do santuário, onde o fogo arde por dentro e não por fora. É aqui que paramos ajoelhados e comovidos à beira do inefável e caímos nos braços da ternura de um amor maior, novo, paternal, maternal, que nenhuma pesquisa biológica ou química explicará jamais. Todo o nascimento traz consigo um imenso mistério. Sim, porquê este filho, e não outro? Porquê este, com esta maneira de ser, este boletim de saúde, este grau de inteligência, estas aptidões, esta sensibilidade própria? Sim, outra vez, porquê este filho, e não outro, com outra maneira de ser, outro boletim de saúde, outro grau de inteligência, outras aptidões? Fica patente e latente, evidente, que, para nascer um bebé, não basta gerá-lo e dá-lo à luz. Quando nasce um filho, é também Deus que bate à nossa porta, é também Deus que entra em nossa casa, é também Deus que se senta à nossa mesa, é também Deus que nos visita. Há outra paternidade, a de Deus, por detrás da nossa vulgar paternidade, participação da verdadeira paternidade de Deus. Na verdade, «toda a paternidade, como todo o dom perfeito, vêm do Alto, descem do Pai das Luzes» (Tiago 1,17; cf. Efésios 3,15).


Membros de uma nova família

6. Há, portanto, também uma nova familiaridade. A partir de Deus. Na verdade, no comportamento Misericordioso de Jesus transparece uma nova familiaridade, que assenta a sua fundação muito para além dos meros laços biológicos e anagráficos das nossas famílias. Prestemos atenção ao luminoso dizer de Jesus no caixilho literário de Marcos:
«E vem a mãe dele e os irmãos dele, e, ficando fora, enviaram quem o chamasse. E estava sentada à volta dele a multidão, quando lhe dizem: “Eis que a tua mãe e os teus irmãos e as tuas irmãs estão lá fora e procuram-te”. E respondendo-lhes, diz: “Quem é a minha mãe e os meus irmãos?”. E tendo olhado à volta, para os que estavam sentados em círculo ao seu redor, diz: “Eis a minha mãe e os meus irmãos. Na verdade, aquele que faz a vontade de Deus, este é meu irmão e irmã e mãe”» (Marcos 3,31-35).
Ensinamento espantoso de Jesus que põe em causa a validade de uma maternidade e fraternidade meramente biológicas, fundadas sobre os direitos do sangue [«a tua mãe e os teus irmãos e as tuas irmãs… procuram-te»], para afirmar uma nova familiaridade aberta pelo horizonte novo do éschaton, do último, do primeiro e último, do novíssimo: «aquele que faz a vontade de Deus, este é meu irmão e irmã e mãe». No novo horizonte da vontade do Pai, não se deixa de ser mãe, irmão ou irmã. Não são, porém, esses laços familiares que nos dão direito a amar e a ser amados, mas o termos sido encontrados pelo Amor, que agora somos chamados a testemunhar. «Vós sois testemunhas (mártyres) destas coisas», diz Jesus (Lucas 24,49). Sermos designados por Jesus testemunhas das coisas de Jesus é sermos chamados a envolver-nos de tal modo na história e na vida de Jesus, a ponto de a fazermos nossa, para a transmitir aos outros, não com discursos inflamados ou esgotados, mas com a vida! Sim, aquela história e aquela vida são a nossa história e a nossa vida. Sentir cada criança como filho, cada mulher como mãe e todo o semelhante como irmão ou irmã não é simples retórica, mas a transcrição verbal do novo real compreensível à luz do projeto Criador, Primeiro e Último, em que o mundo aparece como uma única casa e os seus habitantes como uma só família. Nascerá então o mais belo relato. Sim, o relato re-lata, isto é, põe em relação, une, reúne, enlaça, entrelaça. E re-lata, isto é, põe em relação, une, reúne, enlaça, entrelaça duplamente: primeiro, porque faz uma re-lação dos acontecimentos, unindo-os para formar um belo colar; segundo, porque põe em relação o narrador e o narratário. Sim, quando eu e tu e ele e ela, nós todos, relatarmos a mesma história, e não histórias diferentes, nesse dia luminoso e bendito começamos a nascer como irmãos, não pelo sangue, mas pela liberdade. Sim, só o relato nos pode aproximar tanto, fazendo-nos, não apenas estar juntos, mas nascer juntos, como irmãos. Portanto, irmãos e amigos, deixai que grite bem alto aos vossos ouvidos: mais amor, mais família, mais oração, mais missão, mais formação. Mais. Mais. Mais.


O sentido da vida recebida e dada

7. Na origem dos nossos termos «matrimónio» e «património» está o «dom» como «munus», como bem sublinha e explica o famoso linguista francês Émile Benveniste, seguido por Eugenia Scabini e Ondina Greco, no domínio da psicologia social. Munus faz parte de uma rede de conceitos relacionais, que obriga a uma «restituição». Quem não entra neste jogo do munus diz-se immunus, «imune». E voltam as perguntas contundentes: quem recebe a vida, como e a quem a restitui? Salta à vista que não podemos «restituir» a vida a quem no-la deu. Há, neste domínio, uma assimetria originária nas relações familiares. Verificada esta impossibilidade de «restituir» a vida a quem no-la deu, poderíamos pensar em «restituir» em termos análogos: então, o filho poderia, por exemplo, responder ao dom da vida recebida, tomando a seu cargo e cuidado os pais enfraquecidos e velhinhos. Mas este não é o único modo de «restituição» nem o mais significativo. O equivalente simbólico mais próximo é «restituir» em termos generativos (generativo e generoso têm a mesma etimologia), dando, por sua vez, a vida e assumindo a responsabilidade de pôr no mundo uma nova geração. Dar a vida e tomar a seu cuidado uma nova geração é mesmo o modo mais apropriado de «restituir» à geração precedente. Situação paradoxal: respondemos ao débito que nos liga à geração anterior com um crédito em relação à geração seguinte. E os avós têm muito a ganhar com os netos, e estes com aqueles. Todos sabemos. Da família humana à grande família de Deus, passando pela família religiosa. Também por isso, a Bíblia é um livro de nascimentos e de transmissão: da vida e da fé e da graça. Vamo-nos hoje apercebendo de que o mundo em que estamos tem muitas dificuldades em transmitir a vida e a fé e a graça, a cháris, o carisma, que envolve a nossa vida pessoal e da nossa família humana, mas também a vida da Igreja, família de Deus, e das diferentes famílias religiosas. Talvez por isso, nos voltemos tanto para trás, e se fale tanto em voltar às origens, refundar. Mas o caminho a empreender não passará mais por gerar novos filhos na vida e na fé e no carisma? Parece-me que é esta a tarefa que todos temos pela frente, em casa, na Igreja, família de Deus, e nas famílias religiosas.


Missão: «restituição» para a frente

8. Impõe-se, portanto, não a preservação, a conservação, a autoconservação, mas a missão, que é a verdadeira «restituição» a Deus e aos irmãos. Já atrás nos ocupámos a verificar, em termos familiares, a impossibilidade de «restituir» a vida a quem no-la deu. O Salmista também se pergunta no que a Deus diz respeito: «Como «restituirei» ao Senhor por todos os seus benefícios que Ele me deu?» (Salmo 116,12). Sim, como «restituirei» ao Senhor o amor que há em mim? Como «restituiremos» ao Senhor o amor que há em nós? O Salmista responde: «O cálice da salvação erguerei, e o Nome do Senhor invocarei. Os meus votos ao Senhor cumprirei, diante de todo o seu povo» (Salmo 116,13-14). Sim, o Salmista sabe bem que não pode «restituir» diretamente a Deus, mas sabe também que pode sempre agradecer a Deus (restituição análoga), e, passando de mão em mão, em fraterna comunhão, o cálice da salvação, anunciar a todos que Deus atua em favor do seu povo, faz em nós grandes coisas, sendo este anúncio ação de evangelização ou generosa «restituição» generativa. É assim que, de forma empenhada, generosa e apaixonada, como testemunha S. Paulo, se vão gerando (1 Coríntios 4,15; Filémon 10) e dando à luz novos filhos (Gálatas 4,19).

9. Amados irmãos e irmãs, não nos é permitido, nesta encruzilhada da história, ficar quietos, desanimados, tristes e calados. Ou simplesmente entretidos, ensonados e descomprometidos, como crianças sentadas nas praças, que não ouvem, não ligam, não respondem (Mateus 11,16-17; Lucas 7,31-32). Para esta tarefa imensa da transmissão da fé e do amor e da vida verdadeira, vida em grande, todos estamos convocados. Ninguém se pode excluir, ou ficar simplesmente a assistir. São sempre necessários e bem-vindos mais corações, mais mentes, mais entranhas, mais braços, mais mãos, mais pés, mais irmãos. Uma Igreja renovada multiplica as pessoas que realizam serviços e acrescenta os ministérios. A nossa vida humana e cristã tem de permanecer ligada à alta tensão da corrente do Amor que vem de Deus. E temos de ser testemunhas fortes e credíveis de tanto e tão grande Por isso e para isso, podemos aprender a rezar a vida com o orante do Salmo 78:
«As coisas que nós ouvimos e conhecemos,
o que nos contaram os nossos pais,
não o esconderemos aos seus filhos,
contá-lo-emos à geração seguinte:
os louvores do Senhor e o seu poder,
e as suas maravilhas que Ele fez.
Ele firmou o seu testemunho em Jacob,
e a sua instrução pôs em Israel.
E ordenou aos nossos pais,
que os dessem a conhecer aos seus filhos,
para que o saibam as gerações seguintes,
os filhos que iriam nascer. 
Que se levantem e os contem aos seus filhos,
para que ponham em Deus a sua confiança,
não se esqueçam das obras do Senhor,
e guardem os seus mandamentos» (Salmo 78,3-7).
Amados irmãos e irmãs, há coisas que não podemos mais dizer sentados, que é como quem diz, assim-assim, de qualquer maneira ou de uma maneira qualquer. O Amor de Deus, que enche a nossa vida, tem de ser dito com a vida levantada, com um dizer grande, transbordante, contagiante e transformante, com razão, emoção, afeto e paixão. Retomo o dizer do orante e transmissor da fé: «Que se levantem e os contem aos seus filhos» (Salmo 78,6). Ou, de outra maneira: «Uma geração enaltece à outra as tuas obras» (Salmo 145,4). Ou como Maria: «A minha alma engrandece o Senhor» (Lucas 1,47).


Todos-para-todos

10. Para esta tarefa imensa da transmissão da fé e do amor e da vida verdadeira, vida em grande, convoco todos os diocesanos da nossa Diocese de Lamego: sacerdotes, diáconos, consagrados, consagradas, fiéis leigos, pais, mães, avôs, avós, famílias, jovens, crianças, catequistas, acólitos, leitores, agentes envolvidos na pastoral, membros dos movimentos de apostolado. A todos peço a graça de promoverem mais encontros de oração, reflexão, formação, partilha e amizade. Mais. Mais. Mais. A todos peço a dádiva de uma mão de mais amor às famílias desconstruídas e a todos os irmãos e irmãs que experimentam dificuldades e tristezas. Mais. Mais. Mais. A todos peço que experimentemos a alegria de sairmos mais de nós ao encontro de todos, para juntos celebrarmos o grande amor que Deus tem por nós e sentirmos a beleza da sua família toda reunida. Que cada um de nós sinta como sua primeira riqueza e dignidade a de ser filho de Deus. E para todos imploro de Deus a sua bênção, e de Maria a sua proteção carinhosa e maternal.
Santa Maria de um amor maior,
do tamanho do Menino que levas ao colo,
diante de ti me ajoelho e esmolo
a graça de um lar unido ao teu redor. 
Protege, Senhora, as nossas famílias,
todos os casais, os filhos e os pais,
e enche de alegria, mais e mais e mais,
todos os seus dias, manhãs, tardes, noites e vigílias. 
Vela, Senhora, por cada criança,
por cada mãe, por cada pai, por cada irmão,
a todos os velhinhos, Senhora, dá a mão,
e deixa em cada rosto um afago de esperança.

Lamego, 27 de setembro de 2014, Dia da Igreja Diocesana

+ António, vosso bispo e irmão

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sábado, 27 de setembro de 2014

XXVI Domingo do tempo Comum - ano A - 28 de setembro

       1 – Deus chama. Chama-nos. Sempre. A qualquer hora da nossa vida. A todas as horas. Não desiste. Nunca desiste de nós. Não desiste de nos procurar. Não desiste do ser humano. Nunca. Procura-nos. Vem ao nosso encontro. Não. Não apenas vem ao nosso encontro. Faz-Se um de nós. Assume-nos. Por inteiro. Como inteiro é o Seu amor por nós. Em Jesus Cristo, Deus entra na história. Torna-Se carne da nossa carne, osso dos nossos ossos.
"Ele, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte, e morte de cruz".
       Poderíamos pensar que vinha apenas para os que O conheciam há mais tempo. Ou para um grupo de iluminados. Ou que viria para os puros, os sãos, os santos. Mas não. Não. Deus vem para todos. Primeiramente, Deus vem para os pequeninos, para os pecadores, para os excluídos, para os que têm pouco ou nada têm. Presunção e água benta cada um toma a que quer. Mas é a presunção que nos afasta de Deus. Se nos colocamos acima dos outros, corremos o risco, o sério risco, de perdermos Deus de vista. E porquê? Porque Ele está e encontra-Se sobretudo nos mais desvalidos. Ele escondeu-Se e continua escondido no ser humano, até naquele que nós odiamos ou contra quem temos razões de sobra para odiar.
       A benevolência de Jesus só esbate com a hipocrisia, a incoerência, a duplicidade.
       A misericórdia que Jesus mostra não enjeita ninguém. Se O queremos ver é junto dos excluídos. Onde está a escumalha da sociedade ou as pessoas que não contam – leprosos, coxos, cegos, publicanos, mulheres de má vida, pecadores públicos, estrangeiros, crianças, mulheres, viúvas, pobres – aí O encontramos. Não tem telefone. Nem caixa de correio. É aí que O encontramos, onde ninguém vai em segurança, onde ninguém vai sem se incomodar. Obviamente que podemos encontrá-l'O em nossa casa, no nosso coração. A condição social, económica, cultural, religiosa, não é entrave para Jesus. Centurião, oficial do exército romano. Simão, um fariseu bem na vida. Nicodemos, ilustre doutor da Lei. Ele está onde é mais preciso. Jesus está onde O querem e onde O deixam estar. A prioridade não exclui ninguém. A prioridade de Jesus são os pobres. Na hora de cuidar, de prestar atenção, de Se misturar, é com eles que Ele Se quer. E nós?
       2 – Segunda parábola de Jesus tendo como pano de fundo a vinha.
       Lá está a multidão. Na primeira fila, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo. Os que sabem mais. Os que (aparentemente) sabem tudo e que têm o poder em mãos: «Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Foi ter com o primeiro e disse-lhe: ‘Filho, vai hoje trabalhar na vinha’. Mas ele respondeu-lhe: ‘Não quero’. Depois, porém, arrependeu-se e foi. O homem dirigiu-se ao segundo filho e falou-lhe do mesmo modo. Ele respondeu: ‘Eu vou, Senhor’. Mas de facto não foi. Qual dos dois fez a vontade ao pai?». Prontamente Lhe respondem, convictos e resolutamente: «O primeiro».
       Cumpre a vontade do Pai não aquele que Lhe diz sim com os lábios, negando-O com a vida, mas todo aquele que, mesmo errando, procura corrigir o seu caminho, ajuda os outros, insiste no bem, na verdade, aproximando-se da justiça, é exigente consigo e tolerante com os outros, não se coloca acima, e solidariamente estende as mãos, o coração e a vida para os outros.
       E logo Jesus acrescenta, para o caso de haver dúvidas: «Em verdade vos digo: Os publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o reino de Deus. João Baptista veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas os publicanos e as mulheres de má vida acreditaram. E vós, que bem o vistes, não vos arrependestes, acreditando nele».
       Lá voltamos nós! Não importa a origem, a condição social, ou até a religião, não importa a riqueza ou a pobreza, não importa se somos cidadãos nativos ou estrangeiros, homens ou mulheres, não importa como chegamos aqui. Então o que importa? Um coração disposto a segui-l'O. Eis que o Mestre está a chamar! Como Lhe respondemos? Vamos dizendo sim, conforme o vento? Ou tentamos cada dia estarmos mais parecidos com Ele?

       3 – Por mais que a nossa mente esteja esclarecida e sábio seja o nosso coração, a grandeza do amor de Deus supera-nos. Vai além de todos os cálculos que possamos fazer. Como poderemos entender que Ele seja como o dono da vinha, que paga a todos dando TUDO a todos. Os últimos recebem nada menos que o próprio Deus, o seu reino de Amor.
       Através de Ezequiel, diz-nos o Senhor: «Vós dizeis: ‘A maneira de proceder do Senhor não é justa’. Escutai, casa de Israel: Será a minha maneira de proceder que não é justa? Não será antes o vosso modo de proceder que é injusto?».
       Nunca nos passará pela cabeça a imensidão e alcance da bondade e da misericórdia de Deus. A nossa concepção de justiça limita-nos na capacidade de sermos compassivos.
       Na dúvida, quando andarmos perdidos, quando nos assaltar o medo, voltemos o nosso coração, o nosso olhar, a nossa vida para Deus:
"Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos, ensinai-me as vossas veredas. Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me, porque Vós sois Deus, meu Salvador: em vós espero sempre. Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias e das vossas graças que são eternas. Não recordeis as minhas faltas e os pecados da minha juventude. Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência, por causa da vossa bondade, Senhor".
       Deixemo-nos guiar por Ele, pelo Seu amor infinito. Ele não nos faltará.
       4 – Seguir Jesus, trabalhar na vinha do Senhor, implica, antes de mais, a identificação com Ele – "Para mim viver é Cristo". O Apóstolo Paulo, como escutávamos na semana passada, di-lo claramente, sublinhando que essa identificação o atrai para a eternidade, para a glória de Deus, junto de Jesus, mas, simultaneamente, o compromete com a Sua vinha, anunciando o Evangelho.
       Hoje, na mesma carta aos Filipenses, o Apóstolo fala-nos como Jesus nos precede, identificando-Se connosco. Ele que era de condição divina, fez-Se servo por nossa causa. Agora é tempo de nós nos identificarmos com Ele, procurando em tudo ser fiéis aos Seus ensinamentos.
       Trabalhar na vinha do Senhor. Seguir os Seus caminhos. Viver os Seus mandamentos. Alimentar-nos da Sua vida. Acolher a Sua vontade. Procurarmos ser como Ele. Significa também, inevitavelmente, procurarmos a unidade, a comunhão com todos. Se estamos ligados a Cristo, teremos de estar ligados aos irmãos de Cristo, que nossos irmãos são. Como uma fiada de luzes em série, como nas luzes de Natal, falha uma, todas falham, ou falham daí para a frente.
       Escutemos atentamente o Apóstolo:
"Se há em Cristo alguma consolação, algum conforto na caridade, se existe alguma comunhão no Espírito, alguns sentimentos de ternura e misericórdia, então completai a minha alegria, tendo entre vós os mesmos sentimentos e a mesma caridade, numa só alma e num só coração. Não façais nada por rivalidade nem por vanglória; mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós mesmos, sem olhar cada um aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos outros. Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus".
Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia: Ez 18, 25-28; Sl 24 (25); Filip 2, 1-11; Mt 21, 28-32.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

D. ANTÓNIO COUTO | Os desafios da Nova Evangelização

D. ANTÓNIO COUTO (2014). Os desafios da Nova Evangelização. Lisboa: Paulus Editora. 128 páginas.
       A Voz de Lamego, na edição de 16 de setembro apresentou como sugestão de leitura este novo livro de D. António Couto, Bispo de Lamego. Seguimos a sugestão de imediato e na primeira oportunidade adquirimos mais este título, na certeza de ser uma leitura agradável, acessível, profunda, poética, com muitas informações e sobretudo numa dinâmica formativa.
       D. António Couto é, reconhecida e meritoriamente, um dos Bispos portugueses que mais contribui para a reflexão teológica e bíblica. O seu blogue MESA DE PALAVRAS, através do qual disponibiliza todas as semanas pistas que ajudam a refletir a palavra de Deus de cada Domingo e/ou dia santo é visitada por várias centenas de pessoas, para lerem, meditarem, e para melhor preparar e viver a liturgia da Palavra.
"Este novo livro reúne textos de antes do Sínodo e de depois do Sínodo, sendo que os que foram apresentados no Sínodo foram naturalmente produzidos antes do Sínodo. Dedicamos ainda um capítulo à Exortação Apostólica Evangelii Gaudium e, num último apartado, juntamos texros diversos e ocasionais, todos relacionados com a missão de evangelizar".
       Lembramos que D. António Couto, juntamente com D. Manuel Clemente, participou na XIII Assembleia-Geral do Sínodo dos Bispos, reunido com a preocupação de refletir "A nova evangelização para a transmissão da fé cristã", e que teve lugar em Roma, entre os dias 7 e 28 de outubro de 2012, sob pontificado do papa Bento XVI. Nessa ocasião iniciou-se também o ANO DA FÉ. A intervenção proferida por D. António Couto na aula sinodal é um dos textos disponibilizados, bem como texto resumido para a Comunicação Social, e um texto, mais desenvolvido, como preparação para o Sínodo.
       Aquando da realização do Sínodo, D. António Couto era o Presidente da Comissão Episcopal "Missão e Nova Evangelização".
       Vejamos o índice:
Introdução
ANTES E DURANTE O SÍNODO
Fidelidade renovada I
Fidelidade renovada II
Fidelidade renovada III
DEPOIS DO SÍNODO
Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã
EVANGELII GAUDIUM
O amor verdadeiro está lá sempre primeiro
TEXTOS DIVERSOS
Amor primeiro
O amor é a alma da missão
Todas as Igrejas para o mundo inteiro
Portugal, vive a missão, rasga horizontes!
Missão: testemunho e serviço
Igreja de Portugal, é tempo de renascer!
Como o Pai me enviou também Eu vos mando ir (Jo 20,21)
Voltar o ímpeto missionário das primeiras comunidades cristãs
Uma Igreja missionária, terna, pobre e para os pobres
Leigo e missionário
Jovem e missionário
Indo, fazei discípulos, dai a vida
Anunciar o Evangelho é uma necessidade que se me impõe
       É uma apanhado de textos riquíssimo sobre o compromisso cristão de transparecer Jesus Cristo. Através destes textos percebem-se alguns dos temas mais caros a D. António Couto, bem como um estilo próprio de dizer e de escrever, de contar e provocar, numa linguagem poética, mas de fácil compreensão. Quando nos deparamos com "peritos" a primeira reação poder-nos-á colocar de pé atrás, pensando que o "perito" escreve para peritos. Mas começando a escutar, ou a ler, logo chegamos à conclusão que quanto mais perito mais simples e envolvente.
       A necessidade de Nova Evangelização é, antes de mais, necessidade de conversão a Jesus. As estruturas e os métodos são importantes, mas imprescindível é mesmo a conversão, a oração, a escuta da Palavra de Deus.
       A melhor forma de evangelizar é ser transparência do amor de Deus, visualizado em Jesus Cristo. Portanto: testemunhar a própria fé. Evangelizar de forma personalizada, isto é, pessoa a pessoa, coração a coração. Um cristão, convertido, convicto, que vive na família e na sociedade, de maneira cristã, alegre, evangeliza outro cristão. Os dois "convertem" outros dois; os quatro outros quatro e exponencialmente se evangeliza. Ser missionário não é uma opção do cristão, ou uma segunda vocação, mas é a sua identidade, todo o cristão é missionário, ou discípulo missionário. Os destinatários? Todas as nações, o mundo inteiro. É uma tarefa sem limite de tempo ou de espaço.

       A intervenção de D. António no Sínodo dos Bispos: Fidelidade Renovada : AQUI. e que integra este livro agora sugerido.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

D. António Couto na Romaria de Penedono | PEREGRINAR

DIOCESE DE LAMEGO | Dia da Igreja Diocesana | 27/09

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Padres para servir | Voz de Lamego | 23 de setembro

Não leveis nada para o caminho

       Jesus chamou os doze Apóstolos e deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demónios e para curarem todas as doenças. Depois enviou-os a proclamar o reino de Deus e a curar os enfermos. E disse-lhes: «Não leveis nada para o caminho: nem cajado, nem alforge, nem pão, nem dinheiro, e não leveis duas túnicas. Quando entrardes em alguma casa, ficai nela até partirdes dali. Se alguns não vos receberem, ao sair dessa cidade, sacudi o pó dos vossos pés, como testemunho contra eles». Os Apóstolos partiram e foram de terra em terra a anunciar a boa nova e a realizar curas por toda a parte (Lc 9, 1-6). 
       Jesus chama os discípulos para os enviar. Por outras palavras, começam por ser discípulos, tornam-se apóstolos. Ou ainda, como discípulos são também apóstolos e como apóstolos são discípulos. Aprende-se e vive-se para testemunhar a boa nova. Quanto mais testemunha a fidelidade a Jesus Cristo mais se vive e aprende.
       A primeira condição é acolher o chamamento de Jesus. Viver com Ele. Aprender d'Ele, fazer a experiência da intimidade de Jesus com o Pai, pelo Espírito Santo. Neste propósito somos sempre aprendizes de Jesus, alunos, discípulos.
       O chamamento, e o seguimento, contudo, não são para autocomprazimento pessoal, mas terão que florescer no anúncio da palavra de Deus, na proclação do Reino de Deus. O discípulo de Jesus sabe que não está num redoma de vidro, protegido contra tudo. O discípulo de Jesus vai ao encontro de outros possíveis discípulos, levar a paz e a esperança, comunicar a vida nova e o amor...
       As palavras de Jesus, de envio, pressupõem uma grande confiança em Deus. Ele proverá às nossas necessidades. O próprio Espírito faralár por nós. Somos envolvidos nesta confiança em Deus...

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Paróquia de Pinheiros | Boletim Paroquial Santa Eufémia

       Quarta edição do Boletim Santa Eufémia, da Paróquia de Pinheiros. Sendo anual, o Boletim procura avivar a memória do último ano, cujo celebração mais mobilizadora é a Festa da Padroeira, Santa Eufémia. Mas nem só desta festa é feio o boletim, também outras vivências, celebrações, como os 500 anos do Foral, a Festa do Emigrante, a Páscoa.
       Como se pode verificar, o boletim é feito sobretudo de imagens, escolhidas entre muitas outras, que mostram um pouco desta comunidade e as suas vivências, com um ou outro texto.

Catequese de Bento XVI sobre o santo Padre Pio

Queridos irmãos e irmãs,

No centro da minha peregrinação a este lugar, onde tudo fala da vida e da santidade de Padre Pio de Pietrelcina, tenho a alegria de celebrar para vós e convosco a Eucaristia, mistério que constitui o âmago de toda a sua existência: a origem da sua vocação, a força do seu testemunho e a consagração do seu sacrifício. Saúdo com grande afecto todos vós, aqui reunidos em grande número, e quantos se encontram unidos a nós mediante a rádio e a televisão. Em primeiro lugar, saúdo o Arcebispo Domenico Umberto D'Ambrosio que, depois de anos de serviço fiel a esta Comunidade diocesana, se prepara para assumir o governo da Arquidiocese de Lecce. Agradeço-lhe cordialmente também porque se fez intérprete dos vossos sentimentos. Saúdo os demais Bispos concelebrantes. Dirijo uma saudação especial aos Frades Capuchinhos, juntamente com o Ministro-Geral, Frei Mauro Jöhri, o Definitório Geral, o Ministro Provincial, o Padre Guardião do Convento, o Reitor do Santuário e a Confraria Capuchinha de San Giovanni Rotondo. Além disso, saúdo com reconhecimento aqueles que oferecem a sua contribuição ao serviço do Santuário e das obras adjacentes; saúdo as Autoridades civis e militares; saúdo os sacerdotes, os diáconos, os outros religiosos e religiosas, bem como todos os fiéis. Dirijo um pensamento afectuoso a quantos se encontram na Casa "Alívio do Sofrimento", às pessoas sozinhas e a todos os habitantes desta vossa cidade.


Há pouco ouvimos o Evangelho da tempestade acalmada, que foi acompanhado de um texto breve mas incisivo do Livro de Job, em que Deus se revela como o Senhor do mar. Jesus ameaça o vento e ordena ao mar que se acalme, interpelando-o como se ele se identificasse com o poder diabólico. Com efeito, segundo o que nos dizem a primeira Leitura e o Salmo 106 [107], na Bíblia o mar é cosiderado um elemento ameaçador, caótico e potencialmente destruidor, que somente Deus, o Criador, pode dominar, governar e acalmar.

Porém, existe uma outra força uma força positiva que move o mundo, capaz de transformar e renovar as criaturas: a força do "amor de Cristo", (2 Cor 5, 14) – como a define São Paulo na Segunda Carta aos Coríntios –: portanto, não essencialmente uma força cósmica, mas sim divina, transcendente. Age também no cosmos mas, em si mesmo, o amor de Cristo é um "outro" poder, e esta sua alteridade transcendente, o Senhor manifestou-a na sua Páscoa, na "santidade" do "caminho" por Ele escolhido para nos libertar do domínio do mal, como tinha acontecido no êxodo do Egipto, quando fez sair os judeus através das águas do Mar Vermelho. "Ó Deus – exclama o salmista – santos são os vossos caminhos... Sobre o mar foi o vosso caminho / e a vossa senda, no meio da águas caudalosas" (Sl 77 [76], 14.20). No mistério pascal, Jesus passou através do abismo da morte, porque Deus assim quis renovar o universo: mediante a morte e a ressurreição do seu Filho, "morto por todos", para que todos possam viver "para Aquele que, por eles, morreu e ressuscitou" (2 Cor 5, 16), e não vivam unicamente para si mesmos.

O gesto solene de acalmar o mar tempestuoso é claramente um sinal do senhorio de Cristo sobre os poderes negativos e leva a pensar na sua divindade: "Quem é Este – interrogaram-se admirados e cheios de terror os discípulos – a Quem até o vento e o mar obedecem?" (Mc 4, 41). A sua fé ainda não é sólida, mas está a formar-se; é um misto de medo e de confiança; o abandono confiante de Jesus ao Pai é, ao contrário, total e puro. Por isso, por este poder do amor, Ele pode adormecer durante a tempestade, completamente seguro nos braços de Deus. No entanto, virá o momento em que também Jesus sentirá medo e angústia: quando chegar a sua hora, Ele sentirá sobre si mesmo todo o peso dos pecados da humanidade, como uma onda alta que está prestes a cair sobre Ele. Esta, sim, será uma tempestade terrível, não cósmica, mas espiritual. Será o derradeiro e extremo assalto do mal contra o Filho de Deus.

Todavia, nessa hora Jesus não duvidou do poder de Deus Pai e da sua proximidade, embora tenha tido que experimentar plenamente a distância do ódio em relação ao amor, da mentira em relação à verdade e do pecado em relação à graça. Experimentou este drama em si mesmo de maneira dilacerante, especialmente no Getsémani, antes de ser preso, e depois durante toda a paixão, até à morte na cruz. Nessa hora Jesus, por um lado, foi um só com o Pai, abandonando-se plenamente a Ele; por outro, enquanto solidário com os pecadores, foi por assim dizer separado e sentiu-se como que abandonado por Ele.

Alguns Santos viveram intensa e pessoalmente esta experiência de Jesus. Padre Pio de Pietrelcina foi um deles. Um homem simples, de origens humildes, "arrebatado por Cristo" (Fl 3, 12) como escreve de si mesmo o Apóstolo Paulo para dele fazer um instrumento eleito do poder perene da sua Cruz: poder de amor pelas almas, de perdão e de reconciliação, de paternidade espiritual e de solidariedade efectiva para com aqueles que sofrem. Os estigmas, que o marcaram no corpo, uniram-no intimamente ao Crucificado-Ressuscitado. Seguidor autêntico de São Francisco de Assis, fez sua, a exemplo do Pobrezinho, a experiência do Apóstolo Paulo, como ele mesmo descreve nas suas Cartas: "Estou crucificado com Cristo! Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim" (Gl 2, 19-20); ou então: "Em nós age a morte, e em vós a vida" (2 Cor 4, 11). Isto não significa alienação, perda da personalidade: Deus nunca anula o humano, mas transforma-o com o seu Espírito e orienta-o para o serviço do seu desígnio de salvação. Padre Pio conservou os seus dons naturais e até o seu próprio temperamento, mas ofereceu tudo a Deus, que pôde servir-se disto livremente para prolongar a obra de Cristo: anunciar o Evangelho, perdoar os pecados e curar os doentes no corpo e no espírito.

Como aconteceu com Jesus, a verdadeira luta, o combate radical, Padre Pio teve que enfrentá-los não contra inimigos terrenos, mas sim contra o espírito do mal (cf. Ef 6, 12). As maiores "tempestades" que o ameaçavam eram os assaltos do diabo, dos quais se defendia com "a armadura de Deus", com "o escudo da fé" e com "a espada do Espírito, que é a palavra de Deus" (Ef 6, 11.16.17). Permanecendo unido a Jesus, ele teve sempre em vista a profundidade do drama humano, e para isto se entregou e ofereceu os seus numerosos sofrimentos, e soube dedicar-se à cura e ao alívio dos doentes, sinal privilegiado da misericórdia de Deus, do seu Reino que há-de vir, aliás, que já se encontra no mundo, da vitória do amor e da vida sobre o pecado e a morte. Guiar as almas e aliviar os sofrimentos: assim se pode resumir a missão de São Pio de Pietrelcina, como pôde dizer dele também o Servo de Deus, Papa Paulo VI: "Era um homem de oração e de sofrimento" (Aos Frades Capitulares Capuchinhos, 20 de Fevereiro de 1971).

Estimados amigos, Frades Menores Capuchinhos, membros dos grupos de oração e todos os fiéis de San Giovanni Rotondo, vós sois os herdeiros de Padre Pio e a herança que ele vos deixou é a santidade. Numa das suas cartas, ele escreve: "Parece que Jesus não tem outra preocupação, a não ser a santificação da vossa alma" (Epist. II, pág. 155). Esta era sempre a sua primeira solicitude, o seu anseio sacerdotal e paterno: que as pessoas voltassem para Deus, que pudessem experimentar a sua misericórdia e, interiormente renovadas, redescobrissem a beleza e a alegria de ser cristãos, de viver em comunhão com Jesus, de pertencer à sua Igreja e de praticar o Evangelho. Padre Pio atraía para o caminho da santidade com o seu testemunho pessoal, indicando com o exemplo a "senda" que para ela conduz: a oração e a caridade.

Antes de tudo, a oração. Como todos os grandes homens de Deus, Padre Pio tornou-se ele mesmo oração, alma e corpo. Os seus dias eram um rosário vivo, ou seja, uma contínua meditação e assimilação dos mistérios de Cristo em união espiritual com a Virgem Maria. Assim se explica a singular coexistência, nele, de dons sobrenaturais e de consistência humana. E tudo tinha o seu ápice na celebração da Santa Missa: ali ele unia-se plenamente ao Senhor morto e ressuscitado. Da oração, como de uma fonte sempre viva, jorrava a caridade. O amor que ele trazia no coração e transmitia aos outros era repleto de ternura, sempre atento às situações concretas das pessoas e das famílias. De modo especial pelos doentes e pelos sofredores, nutria a predilecção do Coração de Cristo, e precisamente dela adquiriu origem e forma o projecto de uma grande obra dedicada ao "alívio do sofrimento". Não se pode compreender, nem interpretar adequadamente tal instituição, se a mesma for separada do seu manancial inspirador, que é a caridade evangélica, animada por sua vez pela oração.

Caríssimos, tudo isto é proposto de novo hoje por Padre Pio à nossa nossa atenção. Os riscos do activismo e da secularização estão sempre presentes; por isso, esta minha visita tem também a finalidade de vos confirmar na fidelidade à missão herdada do vosso amadíssimo Padre. Muitos de vós, religiosos, religiosas e leigos, estais tão ocupados com as numerosas incumbências exigidas pelo serviço aos peregrinos, ou então aos enfermos no hospital, que correis o risco de descuidar aquilo que é verdadeiramente necessário: ouvir Cristo, para cumprir a vontade de Deus. Quando vos dais conta de que estais próximos de correr este perigo, olhai para Padre Pio: para o seu exemplo, os seus sofrimentos; e invocai a sua intercessão, a fim de que vos obtenha do Senhor a luz e a força de que tendes necessidade para dar continuidade à sua própria missão, imbuída de amor a Deus e de caridade fraterna. E do Céu, que ele continue a exercer a maravilhosa paternidade espiritual que o caracterizou durante a sua existência terrena; continue a acompanhar os seus confrades, os seus filhos espirituais e toda a obra por ele encetada. Juntamente com São Francisco e com Nossa Senhora, que ele amou em grande medida e fez amar neste mundo, vele sobre todos e vos proteja sempre. E então, também nas tempestades que se podem elevar repentinamente, podereis experimentar o sopro do Espírito Santo que é mais forte que todo o vento contrário e que impele a barca da Igreja e cada um de nós. Eis por que motivo devemos viver sempre na serenidade e cultivar no coração a alegria, dando graças ao Senhor: "O seu amor é para sempre" (Salmo responsorial).

Amém!

domingo, 21 de setembro de 2014

VOZ de LAMEGO | fotos das notícias | 16 de setembro


sábado, 20 de setembro de 2014

XXV Domingo do Tempo Comum - ano A - 21 de setembro

       1 – Jesus diz aos que O contestam por curar ao sábado: Meu Pai trabalha em todo o tempo, e Eu também trabalho (cf. Jo 5, 17). Nunca é inútil ou inoportuno o tempo usado para o bem, para trabalhar na vinha do Senhor. São sempre horas. Não há dias próprios para não fazer nada, para cruzar os braços. Em todo o tempo, é tempo para servir, para amar, para se dar a favor dos outros.
       No caso de hoje, Jesus compara o Reino dos Céus a um proprietário que sai muito cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha, ajustando com eles um denário por dia.
«Saiu a meia-manhã, viu outros que estavam na praça ociosos e disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha e dar-vos-ei o que for justo’. E eles foram. Voltou a sair, por volta do meio-dia e pelas três horas da tarde, e fez o mesmo. Saindo ao cair da tarde, encontrou ainda outros que estavam parados e disse-lhes: ‘Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?’. Eles responderam-lhe: ‘Ninguém nos contratou’. Ele disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha’»
       Assim é Deus para connosco, para com todos. A toda hora nos convoca para a missão. Por que nos encostamos? Por que achamos que não temos nada para dar a favor dos outros? Por que deixamos que os outros façam tudo? Por que nos resignamos diante das dificuldades que encontramos pela frente?
       Aquele proprietário não sai à procura de indiferentes, de acomodados da vida, dos que estão sem fazer nada, para lhes dar esmola, ou os ajudar a ficar onde estão. Nada disso. Se podem trabalhar, então é necessário que trabalhem pelo seu sustento, fazendo pela sua vida, seguindo-o para a vinha.
       Bem sabemos que há muitas pessoas que querem trabalhar e não podem, pela idade, pela doença, por que têm de tomar conta de alguém, ou não têm quem os ajude, quem os chame para trabalhar. Outros, porém, preferem que lhes caia do Céu. Na vinha do Senhor, todos podemos trabalhar, alguns pela oração, outros pela oração e pela caridade; no trabalho honesto e no voluntariado.
       2 – «Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos».
       No final do dia, o dono da vinha manda pagar o salário, a começar pelos últimos que chegaram para trabalhar. A cada um é pago um denário, aos das primeiras horas e aos que chegaram ao entardecer. Os que tralharam todo o dia julgam que receberão mais do que os outros, ainda que o ajustado tivesse sido um denário. Recebem o mesmo. Não compreendem. Murmuram, pois suportaram o peso do dia e o calor, ao passo que os que chegaram por último recebem a mesma importância.
       Eis a resposta do dono da vinha:
«‘Amigo, em nada te prejudico. Não foi um denário que ajustaste comigo? Leva o que é teu e segue o teu caminho. Eu quero dar a este último tanto como a ti. Não me será permitido fazer o que quero do que é meu? Ou serão maus os teus olhos porque eu sou bom?’. Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos».
       A lógica de Deus é muito diferente da nossa lógica. No tempo atual, como aqueles trabalhadores das primeiras horas, dificilmente entenderíamos que fosse pago o mesmo a quem trabalhou 8 horas ou a quem trabalhou só uma hora. Ainda que haja quem ganhe fortunas por não fazer nada e quem se mate a trabalhar por rendimentos que mal dão para sobreviver.
       Na economia de mercado, pelo mesmo trabalho, com qualificações iguais, o mesmo ordenado. Pode atender-se à produtividade: quanto mais produzires mais ganharás, promovendo o mérito. Há, porém, ainda a questão do género, as mulheres pelo mesmo trabalho ganham menos.
        O dono da vinha, Deus, está acima dos calculismos. Não avalia pela produtividade, ou pelo tempo despendido, avalia o coração, a conversão, a disponibilidade.
       Seguindo o Mestre dos Mestres, na opção referencial pelos mais pobres, em conformidade com a vivência das comunidades cristãs das origens, a Doutrina Social da Igreja (DSI) propõe uma descriminação positiva, preconizando uma justiça social solidária. Exemplo: duas pessoas fazem o mesmo trabalho. Ordenado igual, como ponto de partida, ajustando-se em conformidade com a família que tem para sustentar. Não é igual ganhar € 500,00 e viver sozinho, ou € 500,00 e ter 3, 4 ou 5 pessoas que dependem daquele vencimento. Claro que cada caso é um caso.
       Na comunidade cristã, posto tudo em comum, distribuíam conforme as necessidades, para que ninguém passasse necessidade e nenhuma família passasse privações. Já assim era na recolha do maná, cada família deveria recolher o necessário para os de casa, sem levar a mais. Do mesmo modo, por ocasião da Páscoa, a família escolhia um cordeiro de acordo com os seus membros. Se a família fosse pouco numerosa, para o tamanho do cordeiro, deveria dividi-lo por outra família que não tivesse possibilidades de matar um cordeiro, para que ninguém deixasse de comemorar a Páscoa com dignidade, à volta da mesa, recordando as maravilhas operadas por Deus a favor de todo o povo.
       Não se trata de colocar em causa a sustentabilidade de empresas ou do Estado, mas promover uma redistribuição da riqueza mais justa, para que todos vivam acima do limiar da pobreza, com dignidade, e com a contribuição de todos. Quem pode trabalhar deve trabalhar. Um dia poderá não ter possibilidade de o fazer. Irá então precisar da benevolência dos outros. Há que trabalhar hoje e ser benevolente para os que não tem o necessário para viver dignamente, e não tem forma de prover às suas necessidades.
       3 – A lógica de Deus é diferente da lógica de mercado. Todos estamos habilitados à salvação de Deus. Todos estamos no mesmo barco. Se alguém não rema é mais difícil para os outros! A Sua misericórdia é infinita, sem medida. Deus, como uma Mãe, não se dá em parte, reservando algo. Não. Deus dá-Se por inteiro, como o testemunha Jesus na Cruz. Até à última gota de sangue.
       Como não recordar as parábolas de São Lucas, no capítulo 15. Um exemplo por demais luminoso a parábola do Pai misericordioso (ou do Filho Pródigo). O seu amor é tão intenso que respeita as escolhas do filho e não o recrimina quando este abandona a casa. Quando regressa, o Pai não ajusta contas, abraça-o e faz-lhe uma festa, devolve-lhe o essencial, a dignidade de filho. Os olhos do mais velho não aceitam, não compreendem. Como é possível? A resposta daquele Pai, e de Deus, é que tudo o que é do Pai é do Filho. Deus é TUDO para TODOS. Não é divisível. O amor autêntico não é divisível. O amor é um todo, e para sempre, eterno. As parábolas seguintes são semelhantes, há mais alegria no Céu por um só pecador que se arrependa do que por 99 justos que não precisam de arrependimento. O pastor sai do redil à procura da ovelha perdida, deixando as 99 ovelhas protegidas no aprisco. Ou aquela mulher que perdendo uma dracma se "esquece" das outras 9. Quando encontra a dracma perdida faz uma festa com as amigas, gastando, talvez, mais do que aquilo que recuperou. Mas também aqui a dimensão afetiva e espiritual é mais importante que o valor material.
       Para a Mãe, para os pais, o filho que está em casa merece tudo. O filho que saiu sem dar notícias, merece a mesma predileção, mas como bem sabemos, o coração dos pais andará sempre sobressaltado. O regresso dá lugar à alegria, ao conforto, e agradece-se a Deus pelo reencontro de toda a família.
       "O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade. O Senhor é bom para com todos e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas" (salmo). Deus dá-nos tudo, sempre. O que é necessário: reconhecermo-nos pecadores, arrepender-nos de tudo o que transtorna a nossa relação com Ele e com o outros, empenharmo-nos na Sua vinha.
       «Deixe o ímpio o seu caminho e o homem perverso os seus pensamentos. Converta-se ao Senhor, que terá compaixão dele, ao nosso Deus, que é generoso em perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos, nem os vossos caminhos são os meus – oráculo do Senhor –. Tanto quanto o céu está acima da terra, assim os meus caminhos estão acima dos vossos e acima dos vossos estão os meus pensamentos» (primeira leitura). Não nos preocupemos com a bondade de Deus para com todos, até para com os maus, preocupemo-nos em andar nos caminhos do Senhor.
       Somos daqueles que ouvem a voz do dono da vinha e se levantam para ir para a vinha? Ou continuamos ociosos, sem nada para fazer, não querendo fazer nada pelos outros? Ainda ninguém nos chamou? Ou ainda não nos dispusemos?
       No reino de Deus há lugar para todos. Quantos mais levarmos connosco, melhor! Se excluímos alguém neste mundo, como poderemos ir para o mesmo coração do Pai, para a mesma habitação eterna?
       4 – O apóstolo, na segunda leitura, coloca à comunidade um dilema: morrer para estar junto de Jesus ou viver trabalhando para que outros possam converter-se a Jesus.
“Cristo será glorificado no meu corpo, quer eu viva quer eu morra. Porque, para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. Mas, se viver neste corpo mortal me permite um trabalho útil, não sei o que escolher. Sinto-me constrangido por este dilema: desejaria partir e estar com Cristo, que seria muito melhor; mas é mais necessário para vós que eu permaneça neste corpo mortal. Procurai somente viver de maneira digna do Evangelho de Cristo”.
       Trabalhar sem desfalecer na vinha do Senhor. Por nós. Pelos outros. Por todos. Para Deus.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano A): Is 55, 6-9; Sl 144 (145); Filip 1, 20c-24.27a; Mt 20, 1-16a.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Papa Francisco - O MISTÉRIO DA IGREJA - Catequeses

PAPA FRANCISCO (2014). O mistério da Igreja. Catequeses do primeiro ano de pontificado. Lisboa: Paulus Editora. 120 páginas.
       Neste livro, as catequeses do Papa Francisco, nas Audiências Gerais das Quarta-feiras, durante o primeiro ano de pontificado, à excepção da última, referente ao tempo do Advento. A 13 de março de 2013, o Cardeal Jorge Mario Bergoglio aparecia à varanda do Palácio Apostólico como Papa Francisco, em pleno Ano da Fé, instituído e iniciado por Bento XVI, pelo que as catequeses seguem a linha escolhida pelo Predecessor, mormente a reflexão dos diversos artigos do Credo.
       A continuidade não é apenas na temática, mas na acessibilidade da mensagem, simples, direta, numa linguagem de fácil compreensão, com imagens para ilustrar o que se está a dizer, ainda que cada Papa deixe transparecer o seu estilo mais pessoal.
       As catequese são dividas em 4 partes.


  • PARTE I - NÃO DEIXES QUE TE ROUBEM A ESPERANÇA
  1. Semana Santa, tempo de graça do Senhor
  2. As mulheres, as primeiras testemunhas da ressurreição
  3. Cristo Ressuscitado, a Esperança que não engana
  4. Subiu aos Céus, está sentado à direita de Deus Pai
  5. O fim dos tempos
  6. São José Operário e início do mês mariano
  7. O Espírito Santo, fonte inesgotável de vida
  8. O Espírito de Verdade
  • PARTE II - O MISTÉRIO DA IGREJA
  1. Sintamos a alegria de evangelizar
  2. A Igreja, família de Deus
  3. Igreja, Povo de Deus
  4. Igreja, Corpo de Cristo
  5. Igreja, Templo do Espírito
  6. As colunas da Igreja
  7. Igreja, nossa Mãe
  8. O Rosto da Igreja-Mãe
  • PARTE III - CREIO NA IGREJA
  1. Igreja Una
  2. Igreja Santa
  3. Igreja Católica
  4. Igreja Apostólica
  5. Maria, imagem e modelo da Igreja
  • PARTE IV - A FÉ PROFESSADA
  1. Creio na comunhão dos santos
  2. A comunhão nas coisas sagradas
  3. Professo um só batismo
  4. Para a remissão dos pecados
  5. Creio na ressurreição da carne
  6. Ressuscitaremos com Cristo
  7. Creio na vida eterna
       Vamos ouvindo e lendo uma frase, uma expressão, um tema desenvolvido pelo Papa Francisco.
       Mas como em muitas situações, ler integralmente a mensagem, ou escutar na íntegra a intervenção não é o mesmo que ler ou escutar uma passagem, isolada do seu contexto e muitas vezes utilizada abusivamente para ilustrar outros argumentos. Vale sempre a pena ler todo o texto, pelo que assim deixamos este convite. São reflexões breves, de fácil leitura, quase nos sentimos na assembleia com quem o Papa Francisco interage.

       Também poderá aceder aos textos a partir da página do Vaticano: AQUI.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

D. António Couto | novo livro | Nova Evangelização

Colégio de Arciprestes e novo Ano Pastoral

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Festa e Romaria de Santa EUFÉMIA de Pinheiros - fotos

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

NOVENA DE SANTA EUFÉMIA | nono dia | 15 de setembro

domingo, 14 de setembro de 2014

NOVENA DE SANTA EUFÉMIA | oitavo dia | 14 de setembro

sábado, 13 de setembro de 2014

Quadras em honra de SANTA EUFÉMIA de PINHEIROS

NOVENA DE SANTA EUFÉMIA | sétimo dia | 13 de setembro

Liturgia: os Cânticos na celebração da Eucaristia

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

NOVENA DE SANTA EUFÉMIA | sexto dia | 12 de setembro

Santa Eufémia de Calcedónia | Santa Eufémia de Pinheiros

Novena de SANTA EUFÉMIA | segundo dia | 8 de setembro


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

BENTO XVI - A Oração Cristã

BENTO XVI (2012). A Oração Cristã. Braga: Editorial Franciscana. 128 páginas.
       Ao longo do ano de 2011, o papa Bento XVI dedicou as catequeses das Audiências Gerais, das quartas-feiras, à oração: "Depois das catequeses sobres os Padres da Igreja, sobre os grandes teólogos da Idade Média, sobre as grandes mulheres, escolhemos um tema muito querido a todos nós: é o tema da oração, de modo específico da cristã, ou seja, a prece que Jesus nos ensinou e que a Igreja continua a ensinar-nos. Com efeito, é em Jesus que o homem se torna capaz de se aproximar de Deus com a profundidade e a intimidade da relação da paternidade e filiação... é preciso aprender a rezar, quase adquirindo esta arte sempre de novo; mesmo aqueles que são muito avançados na vida espiritual sentem a necessidade de se pôr na escola de Jesus para aprender a rezar autenticamente".
       A Sagrada Escritura exemplifica como os grandes líderes são também homens orantes: Abraão, Jacob, Moisés, David, Jesus Cristo. Sem esquecer a Mãe de Jesus. Com efeito, a oração de Jesus reassume o Fiat de Maria. Conhecer o Pai, implica identificar-Se com Ele, fazer a Sua vontade.
  • As diferentes catequeses:
  • A oração dos Antigos
  • Oração e sentido religioso
  • A intercessão de Abraão por Sodoma
  • Luta noturna e encontro com Deus (Jacob-Israel)
  • A intercessão de Moisés pelo povo
  • Profetas e orações em confronto
  • O povo de Deus que reza: os Salmos
  • A meditação
  • Arte e Oração
  • "Levanta-te, Senhor, e salva-me!" Salmo 3
  • "Meu Deus, Meu Deus, por que Me abandonaste?" Salmo 22 (21)
  • "O Senhor é meu Pastor, nada me faltará" Salmo 23
  • "Grandes coisas fez por mim o Senhor" Salmo 126
  • O "Grande Hallel" Salmo 136 (135)
  • O grande cântico da Lei. Salmo 119 (118)
  • O Rei Messias. Salmo 110 (109)
  • A oração atravessa toda a vida de Jesus
  • A jóia do Hino de Júbilo
  • A oração diante da ação benéfica e curadora de Deus.

       Em cada uma das catequeses, o papa Bento XVI faz-nos sentir próximos de Jesus, mostrando nas diversas formas de oração, como elas nos podem identificar com Jesus. Por sua vez, Jesus é o grande oração, cuja oração nunca é interrompida, aproximando-O das pessoas. A oração mostra a intimidade com o Pai e a força que n'Ele se manifesta. É uma oração curativa. Nos momentos mais importantes e significativos da vida de Jesus, a oração estende-se pela noite.
       Jesus ensina-nos a rezar, para que a vontade do Pai se realize em nós e através de nós.
Bento XVI, de forma simples e didática convoca-nos à oração: dos salmos, leitura e meditação da Palavra de Deus, nomeadamente dos Evangelhos, meditação > ruminação. Como em outros momentos, o recurso a exemplos, no diálogo com a contemporaneidade, mas fazendo memória da cultura, da arte, da civilização.

Novena de SANTA EUFÉMIA | primeiro dia | 7 de setembro


sábado, 6 de setembro de 2014

XXIII Domingo do Tempo Comum - ano A - 7 de setembro

       1 – "Antes quebrar que torcer". Este popular provérbio, de origem desconhecida, usado numa das cartas de Sá de Miranda (1481-1558), tem, como outras máximas, um sentido positivo e um sentido negativo. Pode revelar uma teimosia inútil e infantil, recolhendo-se na própria ignorância, na inabalável certeza de se ser dono da verdade, numa ambição desmedida e egoísta que tem em conta apenas as próprias ideias e interesses. Por outro lado, poderá significar a força de vontade perante as adversidades e contratempos. Não desistir da vida. Não desistir de procurar uma vida melhor, com justiça e verdade, lutando pelos próprios direitos e pelos direitos dos outros. Ir à procura de soluções e de respostas sem baixar os braços e mesmo no meio da intempérie ser capaz de ver o sol para lá das nuvens.
       A mentalidade atual inclina-se perigosamente para um sentido negativo: a nossa vida sem os outros. Quando os outros não estão por nós, há que colocar um travão. O muro de Berlim caiu, mas levantaram-se muitos outros muros, como o de Jerusalém, muitas barreiras culturais, religiosas, políticas, sexistas, ideológicas, que nos afastam e fazem que em vez de irmãos sejamos efetivamente inimigos.
       Nas relações pessoais, familiares, na relação patrão-empregado (e vice-versa), num grupo ou associação, quando chegam as primeiras arrelias vai cada um para seu lado. Obviamente que não é de hoje. Ao longo da história da humanidade e, concretamente, na vida da Igreja, essas cisões acontecerem, pese embora os esforços em sentido contrário.
       Jesus Cristo convida-nos a um sentido positivo, inclusivo, acentuando a caridade e o perdão. Devemos combater o pecado, mas procurar, sempre, salvar o pecador, pois este é Filho de Deus. Certo será que como os pais, Deus tudo fará para reconciliar todos os que andam desavindos. E com Ele também nós temos esta tarefa.
       2 – Vejamos o texto do Evangelho:
«Se o teu irmão te ofender, vai ter com ele e repreende-o a sós. Se te escutar, terás ganho o teu irmão. Se não te escutar, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão fique resolvida pela palavra de duas ou três testemunhas. Mas se ele não lhes der ouvidos, comunica o caso à Igreja; e se também não der ouvidos à Igreja, considera-o como um pagão ou um publicano… Digo-vos ainda: Se dois de vós se unirem na terra para pedirem qualquer coisa, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos Céus. Na verdade, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles».
       Desistimos de muitas coisas, por preguiça ou por cansaço. Desistimos facilmente das pessoas. Chateiam-nos? Então que sigam outro caminho. Nós seguiremos tranquilamente o nosso caminho, procurando que os espinhos não manchem a harmonia da nossa vida. Como se isso fosse possível! Com efeito, as pedras que encontramos no caminho podem ajudar-nos a ir mais longe, a subir mais alto, se as utilizarmos como degraus e não como tropeço. “Se encontrares um caminho sem obstáculos, provavelmente não leva a nenhum lugar” (Frank A. Clark).
       A REDENÇÃO só é possível pela CARIDADE traduzível e concretizável no PERDÃO.
       Não se pode desistir do outro só porque nos ofendeu, ou porque não vamos com a sua cara. Não é cristão. Ser cristão é seguir as pegadas de Jesus, o seu jeito de DIZER e de FAZER. As Sua palavras são autoritárias pois realizam o que prometem. Brotam do coração. São a Sua vida. Os seus gestos trazem a autenticidade do Seu amor por nós. Há de ir tão longe quanto possível. Até à última gota de sangue. Mesmo nos momentos finais, de angústia, Ele tem o discernimento e a força para perdoar – Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem –; a grandeza para nos confiar Maria por Mãe, e a benevolência para nos entregar com Ele ao Pai.
       Perdoar não é esquecer o mal feito, é aceitar o outro com as suas fragilidades e reconhecer que também nós somos barro e, mesmo que não seja intencional, podemos magoar os outros.
       Há que esgotar todas as possibilidades de reconciliação, na certeza que a rutura ainda que seja entre duas pessoas envolve toda a comunidade, pois destrói o tecido que nos une a todos como irmãos.
       Quando dois ou três se reunirem em nome de Jesus, Ele estará no meio deles. A Oração torna-nos irmãos, une-nos a Deus. Em Deus somos irmãos. A oração dispõe-nos ao perdão, deixando-nos transformar pelo amor, autorizando que Deus nos resgate de toda a divisão, de todo o mal.
       3 – Somos RESPONSÁVEIS PELOS OUTROS no bem e no mal (Ezequiel):

Eis o que diz o Senhor: «Filho do homem, coloquei-te como sentinela na casa de Israel. Quando ouvires a palavra da minha boca, deves avisá-los da minha parte. Sempre que Eu disser ao ímpio: ‘Ímpio, hás de morrer’, e tu não falares ao ímpio para o afastar do seu caminho, o ímpio morrerá por causa da sua iniquidade, mas Eu pedir-te-ei contas da sua morte. Se tu, porém, avisares o ímpio, para que se converta do seu caminho, e ele não se converter, morrerá nos seus pecados, mas tu salvarás a tua vida».
       Se Jesus refere a necessidade de não desistir da pessoa que nos ofendeu, também Ezequiel visualiza a responsabilidade que temos para com aquele que se transviou dos caminhos do Senhor. Deus pedir-nos-á conta se lavamos as mãos, como Pilatos. Já no Génesis, Deus, bom e compassivo, perdoa e resgata Caim, mas responsabiliza-o pela morte do irmão.

       Quando Deus pergunta a Caim pelo irmão Abel, a contra pergunta é sintomática: «Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?» (Gn 4, 9). Quantas vezes também nós fizemos ou fazemos esta pergunta? Serei responsável pelas asneiras dos outros? Terei que pagar pelos seus pecados? Se ele está no erro, por que é que me hei de estar a chatear?
       As palavras de Deus são inequívocas: pedir-te-ei contas! A nossa missão não é obrigar o outro, mas mostrar, em palavras e com a vida, o caminho que leva à felicidade, ao bem, a Deus.

       4 – A nossa responsabilidade pelos outros deriva da CARIDADE que nos vem de Jesus. Seguindo-O, a nossa vida terá que se caracterizar pela compaixão, misericórdia, perdão, pela procura da justiça e da verdade, pelo compromisso com a dignidade de cada pessoa. Sou responsável pelo meu irmão, especialmente pelo irmão desprotegido, desventurado.
       Vejamos a belíssima página de São Paulo:
Não devais a ninguém coisa alguma, a não ser o amor de uns para com os outros, pois, quem ama o próximo, cumpre a lei. De facto, os mandamentos que dizem: «Não cometerás adultério, não matarás, não furtarás, não cobiçarás», e todos os outros mandamentos, resumem-se nestas palavras: «Amarás ao próximo como a ti mesmo». A caridade não faz mal ao próximo. A caridade é o pleno cumprimento da lei.
       Que mais acrescentar? Caridade. Caridade. Caridade. Como bem resumiu Santo Agostinho: Ama e faz o que quiseres. O amor aperfeiçoa todas as leis que abençoam e protegem.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano A): Ez 33, 7-9; Sl 94 (95); Rom 13, 8-10; Mt 18, 15-20.