A terceira Carta Encíclica de Bento XVI empresta o título a este blogue. A Caridade na Verdade. Agora permanecem a fé, a esperança e a caridade, mas só esta entra na eternidade com Deus. Espaço pastoral de Tabuaço, Távora, Pinheiros e Carrazedo, de portas abertas para a Igreja e para o mundo...
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
terça-feira, 23 de fevereiro de 2021
Markus Zusak - A Rapariga que Roubava Livros
MARKUS ZUSAK (2020). A Rapariga que Roubava Livros. Barcarena: Editorial Presença. 468 páginas.
Este é um daqueles romances intemporais. Está incluído no Plano Nacional de Leitura, recomendado para alunos do 9.º Ano. Liesel Meminger é uma adolescente, com nove anos, é adotada por uma família, cujos filhos já saíram de casa. Hans e Rosa recebem-na, inicialmente com alguma frieza, sobretudo a "mãe adotiva". Pouco a pouco "enche" a casa com a sua alegria, espontaneidade.
Quem leu "O Rapaz com o Pijama às Riscas", vai gostar também de ler esta história. Sobressai na personagem principal, Liesel, a inocência, despreocupada e despreconceituosa, que não compreende como há pessoas que são maltratadas, expulsas de suas casas, e remetidas para trabalhos forçados em campos de concentração, só por serem judias.
Logo nos início, a "nova" família recebe em sua casa um judeu, Max, filho de um ex-companheiro de Hans, que foi morto na Primeira Guerra Mundial, e de quem Hans herdou o acordeão. Procuram escondê-lo e mantê-lo vivo, até ao dia em que Hans decide ajudar um judeu que se deslocava com uma multidão de judeus em direção a um campo de concentração. Max sai de casa e esconde-se, mas mais tarde será avistado no grupo de judeus que são encaminhados para o campo de concentração. Liesel consegue aproximar-se e falar com ele, até ser agredida pelos soldados.
Liesel aprende a ler com o pai (adotivo) e forma uma pareceria com Rud, da mesma idade, para roubarem maças, batatas e o que calha, mas ela torna-se exímia a roubar livros. Rouba um de cada vez, porque não precisa de mais. Vai lendo para Max, enquanto este também lhe escreve um livro a partir das folhas do livro de Hitler, Mein Kampf, pintando as folhas de branco para reescrever nelas. Quando parte, deixa-lhe um segundo livro. Nos ataques aéreos, Liesel lê para os que se refugiam numa cave, ao fundo dessa rua, a Rua Himmel, numa cave para o qual se deslocam as diferentes famílias.
Também ela empreenderá a escrita de um livro, a partir de um livro em branco, oferecido pela mulher do Presidente da Câmara, a quem ela roubava livros. Ela começa, então, a escrever o seu próprio livro. Todos dos dias procura escrever muitas páginas, refugiando-se na cave de sua casa. Um raid aéreo, inesperado, sem aviso, destrói a povoação, a rua desaparece. Liesel tinha adormecido na cave, com o livro agarrado ao peito. Quando a retiram dos escombros é assim que a encontram. O livro tem precisamente o título: "A Rapariga que roubava livros".
É a morte que vê o livro e que no-lo dá a conhecer. Com efeito, o narrador omnipresente é a Morte, que tem alguns encontros com Liesel, o primeiro dos quais por ocasião da morte do seu irmão. A Morte tem uma grande atividade durante a Segunda Guerra Mundial, em que passa a ação.
Este é um livro que mostra a inocência e a bondade, que persiste também nas pessoas adultas, como o "pai" de Liesel, Hans, que não adere ao partido e que ajuda um judeu na rua e ajuda, acolhendo Max em casa. A inocência de Liesel e Rud que não compreendem como se pode discriminar uma pessoa por ser judia ou por ser negro. No livro vislumbra-se também a arbitrariedade de Hitler e do nazismo, que hoje parece ter novos adeptos.
Markus Zusak, nasceu em 1975, na Austrália. Cresceu a ouvir histórias sobre a II Grande Guerra, sob a perspetiva da Alemanha, o país natal da sua mãe. Este livro tornou-se um sucesso editorial, traduzido em várias línguas, vendendo milhares de exemplares. Foi adaptado a filme. Para quem não gosta muito de ler, vejo o filme, bem realizado, faz-nos visualizar o argumento do livro de uma forma cativante e comovente. Para quem gostar de ler, estas quatrocentas e muitas páginas parecem uma centena, quer-se devorar rapidamente a trama. Depois da leitura, o filme é a cereja no cimo do bolo.
domingo, 21 de fevereiro de 2021
sábado, 13 de fevereiro de 2021
sábado, 6 de fevereiro de 2021
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021
JOACHIM FEST - No bunker de Hitler
JOACHIM FEST (2019). No bunker de Hitler. Os últimos dias do terceiro Reich. Lisboa: Guerra & Paz. 200 páginas.
Longe da vista longe do coração. A Segunda Guerra Mundial acabou em 1945, deixando um rasto de destruição, violência e morte, em grande escala. Mais de 6 milhões de judeus foram mortos e muitos outros feitos prisioneiros e escravizados, tratados como lixo. Um dos objetivos era eliminar os judeus, mais do que construir um império político e cultural. O holocausto continua a ser uma nódoa negra na civilização moderna. O nazismo, nacional-socialismo, cuja figura de proa foi Hitler, entre 1939 e 1945, tinha como lema construir uma raça pura, um (novo) império, eliminando todos os judeus, todos os que pudessem ser um obstáculo aos propósitos deste megalómano projeto imperial, subjugar e destruir as potências europeias e outras que se entrepusessem.
A esta distância... muitos não presenciaram, muitos procuraram esquecer, outros procuraram diluir os acontecimentos e há quem os negue abertamente! Esta é mais uma obra que reaviva a memória e nos obriga a refletir sobre o pior da humanidade, para que não repitamos os erros do passado. O autor, Joachim Fest, aprofunda os propósitos, procurando narrar os últimos dias de Hitler e apaniguados mais próximos, remetidos ao bunker, construído para esse efeito, para se protegerem caso houvesse ataques ou invasão de Berlim. No final, o autor constata que o distanciamento destes acontecimentos tem gerado mais simpatia pelo nazismo e pela figura de Hitler, o que é muito triste e lamentável. O autor mostra claramente que Hitler não tinha um projeto de um mundo novo, diferente, criando uma civilização mais nobre. Quer no momento de conquista e de sucesso, quer nos momentos de derrotas e fuga, o propósito é destruir e aniquilar, pessoas e bens, obras culturais e religiosas. Primeiro, a eliminação dos judeus e, depois, todos os que se opusessem à conquista. Quando se pressente o fim, as ordens, contraditórias, entre gritarias, Hitler procura que os alemães sejam também aniquilados. Se um é derrotado, então todo o país deve ser destruído e todos os que estiverem na mira das armas e dos canhões. É a estratégia da terra queimada, levado ao extremos, destruir não apenas para evitar as pilhagens dos conquistadores, ou lhes facilitar a vida, mas aniquilar os vencidos, para que os aliados, mormente os comunistas, não possam exibir vitória.
Joachim Fest (1926-2006), o autor, era jornalista e historiador alemão,
e um dos maiores especialistas mundiais do nazismo. Filho de pai católico e
antinazi, foi expulso do liceu em Berlim por ter feito caricaturas de Hitler.
Embora tenha servido no exército, não se filiou na Juventude Hitleriana.
Estudou Direito, História, Sociologia e História da Arte. O seu primeiro livro,
O Rosto do Terceiro Reich (1963), uma série de retratos de chefes políticos
nazis, trouxe-lhe o reconhecimento público. Em 1973, publicou uma extensa
biografia de Hitler, que ficou para a posteridade como obra fundamental.
"Pode ainda ir-se mais longe e chegar à conclusão de que Hitler, em toda a sua vida, não foi mais do que o ambicioso cabecilha de um bando de rua, inspirado em maquiavelismos atrevidos, com quem nenhum dos políticos complicados e circunspectos do cenário europeu podia competir. Foi exatamente esta completa falta de escrúpulos nos meios e nos fins que o ajudou durante algum tempo a conseguir os seus sensacionais êxitos. Como o chefe de uma quadrilha de bandidos, não tinha mais intenções senão aquelas de matar e roubar. De qualquer modo, o crescente conflito maldoso que iniciou contra quase todo o mundo não tinha, como constataram com assombro os seus generais e mais tarde todos os seus observadores, nenhum objetivo razoavelmente definido. Em fevereiro de 1941, ainda imaginando o final da campanha contra a União Soviética no Outono seguinte e preocupado com o iminente período de paz, pediu a Jodl para «elaborar um estudo» sobre a invasão do Afeganistão e da Índia" (p 149).
"Todas as tentativas que foram feitas para lhe atribuir um papel específico em relação à época ficaram-se por esforços vazios que chegaram a lado nenhum. O que arrastou, entusiasmou e fascinou a maioria das pessoas foi unicamente a pessoa de Hitler, por mais inquietante que isto possa parecer a muitos. A força indomável que o comandou a vida inteira foi a máxima pré-civilizacional da lei do mais forte. Só ela explica na sua totalidade aquilo que ele fazia passar como a sua concepção do mundo.
Do lema darwinista geral saíram uma série de ideias, adquiridas cedo e mantidas rigidamente, cuja finalidade era subjugar, escravizar e levar a cabo uma «reconversão racial» que no final sempre deixava para trás «terra queimada». Nunca e em nenhum lugar, nem sequer quando no início os seus exércitos eram saudados como libertadores, Hitler permitiu que houvesse dúvidas de que ele tinha chegado como inimigo e que a sua intenção era ficar ali na qualidade de inimigo. Quase todos os grandes conquistadores anteriores a ele de que há memória na história procuravam, no decurso da sua dominação, fazer surgir nos conquistados a dúvida, se a resistência contra o intruso seria um direito superior ou unicamente a tentativa de barrar o caminho do futuro. Contra Hitler, todos os inimigos tinham esse direito. O seu programa, já muito cedo por ele proclamado, era a «formulação de uma declaração de guerra. . . contra uma concepção do mundo existente» (pág 180).
"Sempre que se investiga com maior rigor o legado de Hitler, daquilo que fez e disse, ressalta o tom profundamente niilista que dominava a totalidade das suas ideias. Quase exatamente três anos antes da sua morte no bunker de Berlim, tinha dito aos seus companheiros de mesa no quartel-general do Führer para dedicarem toda a sua energia à vitória; não podiam deixar escapar essa grande oportunidade. Com uma expressão desdenhosa, acrescentou ainda que «se tinha de ter sempre em conta que, no caso de uma derrota, estava tudo de qualquer maneira perdido». Ele sabia que tinha destruído as pontes que o ligavam ao mundo. Mas convertia em mérito pessoal os choques inesquecíveis que tinha causado. As possíveis consequências não o preocupavam" (p 184).
John Boyne - O RAPAZ DO PIJAMA ÀS RISCAS
JOHN BOYNE (2020). O rapaz do pijama às riscas. Alfragide: Edições Asa. 176 páginas.
Na verdade, Bruno e Shmuel têm a inocência e a ingenuidade das crianças. Vivem no mundo dos adultos, onde predominam os preconceitos, os muros, onde se acentuam as divisões e as diferenças, o egoísmo e o poder, a prepotência e a arbitrariedade de quem decide o destino dos povos e das pessoas.
É "uma história de inocência num mundo de ignorância".
A amizade entre um rapaz alemão, cujo pai é, entretanto, nomeado pelo Fúria (Führer) como comandante de Aucho-Vil (Auschwitz), obrigando a família a mudar-se para uma casa fora do campo de concentração. Bruno, como a irmã, de 12 anos e que ainda vive no mundo das bonecas, na passagem da infância para a adolescência, deixa a casa de cinco andares, deixa os amigos, e vai para um lugar em que não têm amigos, nem crianças da sua idade.
A espreitar pela janela do seu quarto, Bruno descobre que há casas, mais ou menos iguais, e muitas pessoas, esquisitas, para lá da vedação. Não tendo muito que fazer, decide explorar até que descobre uma criança, Shmuel, da mesma idade, 9 anos, e que, por coincidência, nasceram no mesmo dia, mas que vivem realidades muito diferentes. Tornam-se amigos.
Todos os dias, Bruno sai de casa, levando, para o seu amigo, alguma comida. Do outro lado, um menino, como ele, mas vestido de pijama, sujo, magro. Para Bruno, Shmuel é uma criança com quem quer brincar, não é judeu e nem é inimigo, como os adultos querem fazer crer.
Pelo meio, Shmuel vai a casa de Bruno, para lavar copos, pois tem os dedos pequenos, e aí se constata a perversidade do mundo dos adultos. Bruno perante a ameaça de um soldado nega a amizade com Shmuel, que reatará quando foi ao seu encontro, no lugar habitual, separados por uma vedação de arame-farpado e eletrificado.
Chega o dia de Bruno, a irmã e a mãe, voltarem para casa, pois aquele não é um ambiente saudável. Bruno e Shmuel combinam encontrar-se no dia seguinte, fazendo algo de diferente, escavarem por debaixo da rede e Bruno passar para o outro lado, para ajudar Shmuel a encontrar o pai, que desapareceu no campo, e para ver como é o campo por dentro, iludido pelo que viu nos filmes da propaganda nazi. Vestido com um pijama igual ao de Shmuel e dos outros "habitantes" do campo, Bruno confunde-se facilmente com eles e com eles será levado para o crematório.
Bruno e Shmuel esbatem as fronteiras religiosas, políticas e raciais. É um livro que integra o Plano Nacional de Leitura e é recomendado para o 3.º ciclo do ensino básico, destinado a leitura autónoma. O livro foi originalmente publicado no Reino Unido, em 2006 e encontra-se traduzido em 32 línguas. Em 2008, foi a vez de passar a filme.
John Boyne nasceu em Dublin, em 1971. Estudou no Trinity College, em Dublin, e na Universidade de East Anglia, em Norwich. Foi escritor-residente da Universidade de East Anglia para a área da Escrita Criativa e trabalhou durante vários anos como livreiro. Dedica-se actualmente à escrita a tempo inteiro. Publicou já quatro romances para adultos e um para jovens, tendo este último (O Rapaz do Pijama às Riscas) conhecido enorme sucesso em todo o mundo. Vive em Dublin.