"É de um olhar que eu preciso.
Cale-se, não fale, não anuncie tempestades...
Tire-me daí, doutor.
Faça cumprir a promessa de criança sem mácula.
O meu ventre foi papel e lápis,
o meu amor, inspiração de artista,
a minha juventude a certeza de que, se houvesse nuvens,
todas seriam brancas, diáfanas como vestidos de noiva.
Perceba, doutor, eu sou a terra,
e de quem mim nasça, canta no coro da igreja,
loura e sem pecado, louvores ao criador
que, de tão perfeito, em gestos precisos, sem hesitações,
desenha às crianças futuros sem trevas.
É de um olhar que eu preciso, doutor...
Nuno Lobo Antunes, Sinto Muito.
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