"A morte é um despojamento, por isso se vive com angústia. Estamos agarrados à vida e não queremos ir, temos medo. E não há imaginação do além que nos liberte disso. Até o mais crente sente que o estão a despojar, que tem de abandonar parte da sua existência, da sua história. São sensações intransferíveis. Talvez aqueles que estiveram em coma tenham percebido alguma coisa. Nos Evangelhos, o próprio Jesus, antes da oração no Monte das Oliveiras, diz que a sua alma sente angústias de morte. Tem medo do que O espera, está escrito. Segundo os relatos evangélicos, morre recitando o salmo XXI: «Deus meu, Deus meu, porque me abandonaste». Disso ninguém se salva. Eu confio na misericórdia de Deus, que é benévolo. Digamos que não é uma angústia com anestesia, mas com capacidade para a suportar.
Skorka:
"É muito angustiante saber que o tempo é limitado, e mais ainda não saber onde reside o limite. É terrível pensar que a nossa existência é um absurdo da natureza e nada mais, que tudo termina inexoravelmente na morte. Desta forma, a vida não teria sentido, nem os valores nem a justiça... Seria um pensamento extremo. Restam duas possibilidades: para aquele que não quer abordar o tema de Deus, a natureza humana tem um sentido intrínseco, a mensagem de bondade, de justiça, passa de geração em geração, e nós, que temos fé em Deus, evidentemente acreditamos que uma centelha de Dele está em nós e que a morte não é mais do que uma mudança numa situação.
Bergoglio:
"... Caminhar é uma responsabilidade criativa no sentido de cumprir com o mandamento divino: crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. Os primeiros cristãos associavam a imagem da morte à da esperança e usavam a âncora como símbolo. Então, a esperança era a âncora que mantínhamos cravada na margem, e com a corda íamo-nos agarrando para avançar, sem nos desviarmos. A salvação reside na esperança, que se nos irá revelar plenamente, mas, entretanto, mantemo-nos agarramos à corda e fazemos o que achamos que temos de fazer. São Paulo diz-nos «Em esperança, estamos salvos»...
É a esperança que estrutura todo o nosso caminho. O perigo é apaixonarmo-nos pelo caminho e perdermos a meta de vista, e outro perigo é o quietisno: ficar a olhar a meta e não fazer nada pelo caminho...
in JORGE BERGOGLIO e ABRAHAM SKORKA, Sobre o Céu e a Terra.
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