sábado, 8 de junho de 2013

X Domingo do Tempo Comum - ano C - 9 de junho

       1 – A vida cristã nasce da Páscoa de Jesus Cristo. Sem ressurreição tudo se encerraria nos limites do tempo e da história, e se diluiria no desgaste da memória, ainda que sobrevivessem algumas ideias interessantes. Jesus não passaria de mais um revolucionário. A história seria outra. Quando Jesus morreu, os discípulos entraram em rota de dispersão, escondendo-se. Alguns puseram em caminho contrário, afastando-se de Jerusalém. Jesus está morto, logo há que seguir por outra via, reiniciar um caminho próprio, diferente. Se Jesus não está não faz sentido continuarem sem Ele.
       Jesus ressuscita e tudo se altera. Ele está no MEIO deles, no meio de nós. É Ele que suporta a comunidade. Qual Mãe que mantém os filhos e o marido à volta da mesa, procurando que os filhos se sintam amados pelo pai, se sintam irmãos, e que o marido não seja brusco com alguma das fragilidades dos filhos. É dessa forma que Jesus, pelo Espírito Santo, une, congrega, constitui a Igreja, a comunidade dos filhos e filhas de Deus, Seu e nosso Pai.
       Ele vem para restaurar, para nos devolver a uma vida em plenitude, em comunhão com Deus, para darmos Deus uns aos outros. “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10). E continua Jesus: “não lestes o que Deus disse: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob? Não dos mortos, mas dos vivos é que Ele é Deus!» (Mt 22, 31-32, cf. Mc 12, 26-27), “Eu sou a Ressurreição e a Vida” (Jo 11, 25). Muitos anos depois, santo Ireneu deixou-nos esta máxima: “a glória de Deus é o homem vivo...”
       2 – DOMINGO é o Dia do Senhor, Dia da Ressurreição, em que se celebra a Eucaristia, o mistério maior da nossa fé, a morte e a ressurreição de Jesus, até que Ele venha (de novo).
       Destarte, o FIM da nossa vida não é a morte, a limitação, a insuficiência, o nosso FIM está no PRINCÍPIO: em DEUS. Só Ele é o alfa e o ómega, Ele é um Deus de vivos e que quer a nossa felicidade, a nossa vida.
       Hoje a liturgia da Palavra traz-nos dois sinais extraordinários dados pelo grande profeta de Israel, Elias, e pelo Profeta, por excelência, Jesus Cristo.
       Elias experimenta a benevolência de Deus, que não o abandona, na sua peregrinação, na fuga aos perseguidores, e fá-lo através de uma pobre viúva, com um grande coração. Nada tem além de um pedaço de farinha e uma almotolia de azeite e depois, juntamente com o seu único filho, esperará pela morte. Confia no mensageiro de Deus e não mais lhe faltará nem o pão nem o azeite. Mas um dia... “caiu doente o filho da viúva de Sarepta e a enfermidade foi tão grave que ele morreu. Então a mãe disse a Elias: «Que tens tu a ver comigo, homem de Deus? Vieste a minha casa lembrar-me os meus pecados e causar a morte do meu filho?». Elias respondeu-lhe: «Dá-me o teu filho». Depois invocou o Senhor, dizendo: «Senhor, meu Deus, quereis ser também rigoroso para com esta viúva, que me hospeda em sua casa, a ponto de fazerdes morrer o seu filho?... Senhor, meu Deus, fazei que a alma deste menino volte a entrar nele». O Senhor escutou a voz de Elias”.
       Como não ver nas palavras desta viúva o nosso queixume?! Somos cumpridores, rezamos, não fazemos mal a ninguém, ajudamos toda a gente que precisa, vamos à Missa, damos esmola. De repente, alguma coisa não corre bem, uma doença, um negócio que correu mal, a morte de um familiar, a falta de um trabalho condizente, um boato que se levantou... Como é possível que Deus me faça uma coisa destas? Logo a mim. Porém, Deus não deixará de nos responder, como à viúva de Sarepta, ou como a Job, mostrando que Deus está acima das nossas concepções, não podemos encerrar o mistério de Deus sob a nossa razão.
       3 – No Evangelho, emerge a compaixão de Jesus. A Sua missão é dar-nos VIDA. As doenças, o mal, o sofrimento, a dor, a traição, a solidão, a deficiência, opõem-se à vida, à perfeição, à felicidade. Por um lado a certeza: a perfeição só é possível em Deus, só Deus é Deus. A felicidade é um caminho e não um fim em si mesmo. Por outro lado, a constatação do amor à vida. Tudo o que contradiz a vida merece repúdio e gera sofrimento. Jesus experimenta o sofrimento e a angústia diante da morte. Lázaro morre e Jesus chora. No horto das oliveiras, sabe que vai morrer e sua sangue. Tal é o sofrimento. E assim no alto da cruz também, acabando por Se entregar confiante nas mãos do Pai.
       Além disso, e isto é muito importante, os senãos da vida ajudam-nos a relativizar os momentos negativos da nossa vida. Somos falíveis. Frágeis. Não somos Deus. Erramos. Podemos e devemos ajudar a transformar o mundo, mas não tenhamos a ilusão de mudar o mundo inteiro. Só Deus o pode mudar. Nós podemos deixar que Deus mude o meu, o nosso, coração. É, ainda, um convite à humildade. Isto facilita muito a nossa vida. Tomarmos consciência da nossa fragilidade e da nossa finitude, para que quando advierem as contrariedades não nos deixem frustrados ao ponto de perdermos completamente o pé e cairmos em depressão.
       Jesus traz-nos o puro amor e os sinais que nos deixa revelam a vontade de Deus a nosso respeito, mesmo tendo nós que passar pelo sofrimento e pela morte, Ele quer que vivamos, quer a nossa felicidade, o nosso bem. Por conseguinte, estamos destinados à vida eterna, à plenitude. Vejamos o texto de São Lucas:
“Dirigia-Se Jesus para uma cidade chamada Naim; iam com Ele os seus discípulos e uma grande multidão. Quando chegou à porta da cidade, levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva. Vinha com ela muita gente da cidade. Ao vê-la, o Senhor compadeceu-Se dela e disse-lhe: «Não chores». Jesus aproximou-Se e tocou no caixão; e os que o transportavam pararam. Disse Jesus: «Jovem, Eu te ordeno: levanta-te». O morto sentou-se e começou a falar; e Jesus entregou-o à sua mãe. Todos se encheram de temor e davam glória a Deus, dizendo: «Apareceu no meio de nós um grande profeta; Deus visitou o seu povo».

       4 – A presença do Profeta, Deus no meio de nós, faz-nos levantar, caminhar, professar, testemunhar a vida nova recebida d'Ele. Também a nós nos ordena a ressurreição. Se ressuscitamos em Jesus, não podemos ficar deitados, sentados, com os braços cruzados. Pelo batismo somos enxertados em Jesus, na Sua ressurreição, vivemos ressuscitados n'Ele. Iluminados. Guiados pelo bem, pela glória de Deus. Ressuscitamos com Ele, vivamos como ressuscitados. Por isso é que é tão difícil anunciar o Evangelho se todos os dias nos apresentarmos com cara de enterro. Temos uma chão seguro, Jesus, que veio, dando-Se por nós. Mas não é aqui a eternidade, estamos a peregrinar. O FIM virá depois. Ele acompanha-nos no nosso caminhar.
       Como exemplo, as plantas que atravessam o verão e o inverno, a primavera e o outono, mais verdejantes, mais secas, floridas, com frutos. Mas a vida está lá o tempo todo, a seiva, a raiz. A planta alimenta-se da raiz, da ligação à terra, ao mundo. Assim nós nos devemos alimentar da ressurreição, de Jesus, para que nem no inverno percamos a ligação a Deus, nem desanimemos nas adversidades.
       O apóstolo São Paulo faz chegar a nós o testemunho inabalável do encontro com Jesus Ressuscitado. A partir de então, o apóstolo nunca mais deixa de DIZER Jesus, de LEVAR a Boa Nova a toda a parte. Está certo que cumpre um desígnio divino. Não o faz por si mesmo, é Cristo quem o chama, quem o envia.
“O Evangelho anunciado por mim não é de inspiração humana, porque não o recebi ou aprendi de nenhum homem, mas por uma revelação de Jesus Cristo. Certamente ouvistes falar do meu proceder outrora no judaísmo e como perseguia terrivelmente a Igreja de Deus e procurava destrui-la”.
       Não cessemos também nós de DIZER Jesus, de COMUNICAR a vida em Deus, de mostrar que o amor é mais forte que a morte e que todo o sofrimento.


Textos para a Eucaristia (ano C): 1 Reis 17, 17-24; Gal 1, 11-19; Lc 7, 11-17.

Sem comentários:

Enviar um comentário