Escutar é também a capacidade de partilhar perguntas e de procurar, de fazer o caminho juntos, de nos distanciarmos de todo o complexo de omnipotência para nos unirmos no trabalho comum que se faz peregrinação, pertença, povo. Nem sempre é fácil escutar. Às vezes é mais cómodo fingir-se surdo, pôr os phones para não ouvir ninguém. Com facilidade trocamos o escutar pelo email, o SMS ou o chat, e assim privamos a escuta da realidade de rostos, olhares e abraços. Podemos também pré-selecionar a escuta e escutar alguns, logicamente os que nos convêm. Nunca faltam nos nossos ambientes eclesiais aduladores que nos dirão exatamente o que queremos escutar. Escutar é atender, querer entender, valorizar, respeitar, saudar a opinião alheia… Há que tomar medidas para escutar bem, para que todos possam falar, para que se tenha em conta o que cada um quer dizer. Há — no escutar — algo de martírio, um pouco de morrer ao mesmo tempo que recria o gesto sagrado do Êxodo: Tira as sandálias, anda com cuidado, não atropeles. Cala-te, é terra sagrada; há alguém que tem uma coisa para te dizer! É um dom que se deve pedir e treinar.
Escutar para amar, escutar para dialogar e responder; «escutar e pôr em prática a Palavra de Deus», dirá Ele noutras ocasiões para falar sobre o chamamento e a resposta ao amor de Deus. Escutar e comover-se será a sua atitude permanente perante o que sofre. Não há possibilidade de amor a Deus e ao próximo sem esta primeira atitude: escutar.
in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir.
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