Pátria marinheira e andarilha, forçosamente assim pela exiguidade da terra, forçosamente assim pela mundialização do mercado, estou realmente em crer que a nossa diáspora é, em boa parte, o nosso futuro. Com as diferenças de hoje, pela potencialidade das comunicações de todo o género. Quase podermos partir ficando e ficar partindo, mas temos portos em todo o lado, nos cinco milhões que somos fora. O que noutros tempos foi forçoso, ganha agora outra força potencialmente criativa.
O melhor que tempos para o futuro é tanta humanidade acumulada. E este é um futuro onde os outros também cabem, como nós caberemos com os outros, com aquela lucidez que só o tempo apura. Também para a Europa fita o mundo com os olhos portugueses, de mar a mar.
Sabedoria é saber de experiência feita, ou experiência decantada, assimilada e transformada em vida. Requer um tempo que não é logo dinheiro, assim como induz um conjunto de qualidades e virtudes que não estão hoje em alta: prudência, ponderação, memória histórica, considerações humanistas em geral...
Sabedoria que requer tempo, muito tempo, para assimilar a experiência, dando-lhe consistência realmente humana, porque refletida, livre e responsável. Perspetiva esta que alterará profundamente o esquema comum de crescimento - plenitude - decadência para o itinerário oposto de ignorância - aprendizagem - sabedoria...
Portugal culturalmente é uma teima, como geograficamente é uma praia, feita cais de partir e chegar, chegar e partir...
... o ficar e o partir se equacionam agora de modo muitíssimo diferente do que ainda há poucos anos nos caraterizava em geral. Mentalmente, ficámos marcados com os êxitos (alguns) e os traumas (muitos) das emigrações forçadas para o Brasil de Oitocentos ou para a França e Alemanha de há meio século e depois....
Cultura, como aquilo que sabemos antes de aprender tudo o mais e continuamos a saber depois de esquecermos tudo o resto.
in D. Manuel CLEMENTE, O tempo pede uma Nova Evangelização.
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