BENTO XVI. Aprender a Acreditar. Paulus Editora. Lisboa 2012. 98 páginas.
Envolvido na reflexão do papa Bento XVI, que há dias atrás propusemos para leitura – a Alegria da Fé – escolhemos outra obra para ler e que nos permite continuar a saborear a forma leve, acessível, contagiante da escrita/reflexão do Papa ancião. Homilias, discursos, cartas, mensagens, coligidos de forma sistemática por Giuliano Vigini, numa temática concreta, desta feita “Aprender a Acreditar”, título que integra uma coleção da Paulus Editora, “Introdução à Fé”, encorpando a compreensão do Ano da Fé, convocado por Bento XVI e que será concluído pelo Papa Francisco.
Segundo Vigini, no prefácio a esta obra, “porque estamos num tempo de esquecimento de Deus, o Ano da Fé é como «a cidade levantada num monte» para o qual Bento XVI nos convida a subir. Daquele lugar, afastamo-nos com a imaginação e o coração desde os confins deste pequeno muno ancorado no presente; vamos subindo e observamos o espaço na direção dos horizontes sem confins da realidade futura, onde a luz ilumina de esperança a atualidade do homem. Inicia, por, ou retoma, a viagem à procura de Deus, com o propósito de O encontrar ou de O reencontrar, ou seja, de estabelecer com Ele uma relação pessoa que entre mais em profundidade no espaço e no testemunho da vida. Aprender a acreditar é um convite, uma exortação, um empenhamento”.
Quatro capítulos cujos títulos são elucidativos: 1) A inquietação do coração; 2) O caminho da Procura; 3) Porque é difícil crer; 4) As respostas da Fé.
O ponto de partida é a inquietação, partindo da humildade do coração. Nesta perspetiva, a inquietação dos jovens com tanta vida pela frente. Papel preponderante é a Esperança, não apenas em nós ou nas coisas materiais ou no tempo presente. À medida que realizamos as nossas aspirações, outras maiores vão surgindo, e a alma, nas palavras de Santo Agostinho, um dos santos prediletos de Bento XVI, conjuntamente com São José e São Bento (nomes de batismo e de pontificado, respetivamente), a nossa alma anda inquieta enquanto não repousar em Deus, a Esperança maior, a grande esperança, que não é aniquilada com a morte.
A procura é contínua. Ajuda a reflexão de Santo Agostinho. Procurar, encontrar, voltar a procurar. Trata-se da conversão permanente, estamos a caminho. Por outro lado, procuramos Deus, mas também Deus nos procura, vem ao nosso encontro, em Jesus Cristo, caminha connosco. O Deus que Jesus nos mostra não é o da filosofia, distante, mas é Amor, próximo. Coração que ama. Sentindo-nos amados respondemos com amor. Daí também a perspetiva da caridade, sabendo que existem situações em que primeiro amamos, servimos, e só depois anunciamos Deus. Mas se Deus é amor, então ao amarmos já estamos a comunicar Deus.
Um dos aspetos amplamente refletidos por Bento XVI, e de que dá nota esta recolha de textos, a dialética entre fé e razão. O mundo atual, e sobretudo o Ocidente, endeusou a ciência em contraponto com a fé. Bento XVI, em diversas ocasiões, afirma claramente a riqueza da fé, a fé como LUZ e não como obscuratimos, e como a fé e a razão se conjugam, se ajudam e mutuamente se purifica. A ciência leva ao desenvolvimento, mas falta-se a ética, que vem da fé, e da razão.
A fé é dom, acolhido, rezado, celebrado. É uma luz na escuridão, uma Luz que irradia de Jesus e que se enriquece em Igreja, em comunidade. Sobretudo na quarta parte vislumbra-se a reflexão que está amplamente difundida na primeira Carta Encíclica do Papa Francisco, A Luz da Fé, preparada, num primeiro esboço, pelo próprio papa Bento XVI e cujas intuições aparecem na largueza das suas meditações, assumida por inteiro pelo atual Papa que lhe deu o seu cunho, aqui e além.
Mais um belíssimo texto para ler. Não é preciso muito tempo. É necessário começar a ler e deixar-se conduzir pela fluidez do discurso. Vai poder enriquecer o seu vocabulário espiritual, humano.
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