“Quando o Homem quiser, é Natal”. O poema de Manuel Sérgio acentua o desejo que se deverá tornar um compromisso permanente de fazer o Natal acontecer. Olhando para esta quadra natalícia, acentuam-se gestos de solidariedade, de partilha, de preocupação pelos outros. Coloca-se em evidência a família e, mesmo aqueles que a não têm encontram momentos de acolhimento, de aconchego e de proximidade que por momentos debela o isolamento, a solidão a falta de abrigo e/ou condições condignas da condição humana.
A amostra destes dias deveria estender-se ao longo de todo o ano, todos os dias, multiplicando os gestos individuais e institucionais que tornariam por certo a sociedade mais saudável e fraterna, mais cristã, mais natalícia. O Natal não seria só um dia, como expressa uma canção que se escuta em algumas Eucaristia, se cada um de nós fosse José, ou fosse Maria e todas as famílias como a de Nazaré.
Contudo, vêm-me à lembrança palavras significativas de João César das Neves: O Natal é quando Deus quiser. Ou seja, o nascimento de Jesus é uma dádiva divina. Pura iniciativa de Deus, que Se oferece, que vem habitar connosco, na nossa história, no hoje das nossas vidas.
Festejamos o nascimento de Jesus, a eternidade no tempo, o divino no humano, o encontro alegre de Deus com os homens. Isto é, Deus faz-Se um de nós, criatura humana para da humana debilidade nos elevar, pelo amor, à condição divina. É esta a interpelação: sermos cada dia mais parecidos com Deus (cf. Mt 5, 48), já que fomos criados à Sua imagem e semelhança (cf. Gen 1, 26-27).
Oportunidade de refletir sobre o essencial da nossa fé cristã, colocando-nos de modo peculiar aos pés da Virgem Maria. Ela é paradigma do ser e viver cristãos. Acolhe Jesus no seu ventre, no seu coração e na sua vida. Ela é mãe porque dá à luz Jesus Cristo. Mas também o é porque procura fazer a vontade de Deus. Anunciaram-lhe: «Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-te.» Mas Ele respondeu-lhes: «Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 8, 20-21). Alguém grita: «Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram!» E de novo a resposta de Jesus: «Felizes, antes, os que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 11, 27-28).
Ela é Mãe de Jesus, é Mãe da Igreja e é Mãe nossa.
A sua vida identifica-se com a nossa, todos os dias, entre as lutas, os esforços e os sacrifícios, as alegrias e as esperanças.
Contemplamo-la junto à Cruz (Jo 19-25-27), diante do terrífico e da angústia, a ver o seu Filho ser levado à morte e a não poder fazer nada, sabendo que não pode trocar a sua vida pela d’Ele. Quanto sofrimento? Que mãe deixaria morrer o seu filho? Quanta alegria no anúncio do Anjo, no nascimento de Jesus, no seu crescimento e nas primeiras descobertas e aprendizagens? Mas quanta ansiedade diante das incertezas, das ameaças e difamações contra o Filho, o escárnio, a loucura, a caminhada para o Calvário, a morte ignominiosa da Cruz?
Agora é Natal, ainda que a LUZ venha da Páscoa de Jesus, Vida Nova, vida em plenitude.
Deus quer que haja NATAL, dá-nos o Seu Filho. Pode nascer em nós. Voltando ao início, quando o homem quiser poderá ser Natal, porque primeiro Deus quis que houvesse Natal, Deus quis fazer-Se um de nós. Deus quer fazer em nós a Sua morada.
Maria, pelo Seu Sim, mostra-nos como contribuir para que o Natal aconteça. Uma resposta atualizada depois da anunciação, na visita à Sua prima Santa Isabel, nas Bodas de Caná, na Cruz, no início da comunidade cristã.
Cabe-nos, HOJE, a cada um e às nossas famílias, acolher a vontade de Deus, para que tudo se faça segundo a Sua palavra (cf. Lc 1,38).
Santo NATAL cristão, com Jesus, Maria e José, com a nossa família e as nossas comunidades, para que o Verbo de Deus ilumine toda a casa, toda a nossa vida.
(base do texto publicado no Jornal da Diocese de Lamego:
Voz de Lamego - 24 de dezembro de 2013)
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