JOAQUIM PEREA. Otra Iglesia es posible. Eclesiologia práctica para cristianos laicos. Edições HOAC. Madrid 2011. 3.ª edição. 336 páginas.
O título deste livro não é uma pergunta, mas uma afirmação: é possível outra Igreja, isto é, que a Igreja sofra renovação, conversão, novos compromissos eclesiais. É possível uma nova evangelização, com novos métodos e novo ardor, com uma linguagem mais acessível, que resulte do testemunho, do compromisso concreto e efetivo com as pessoas que nos rodeiam.
Formulado como pergunta, esta afirmação surge muitas vezes numa perspetiva de contestação, de oposição, de substituição de uma por outra Igreja. Não é o caso presente, até porque o autor é um sacerdote com experiência pastoral e empenhado em comunicar a beleza do Evangelho e a presença contagiante de Jesus.
Partindo da realidade, a verificação que a renovação conciliar muitas vezes não passou de uma mera cartilha de intenções. O Vaticano II foi uma oportunidade para a Igreja, mas as consequências práticas não seguiram os desejos formulados pelos documentos, alguns dos quais terão restringido o que vinha a ser a sensibilidade pré-conciliar.
Um dos elementos fundamentais foi a concepção da Igreja como Povo de Deus, Corpo de Cristo, acentuando-se a eclesiologia da comunhão, em que serviços e ministérios adquirem novo vigor, surgindo uma maior corresponsabilidade entre todos os membros da Igreja. A pirâmide que sustentava a definição da Igreja, com o clero no topo e os leigos na base, quase como meros espectadores, é alterada para uma fundamentação batismal. Há um POVO ao qual todos pertencemos pelo Batismo, participando na tríplice função de Cristo: sacerdote, profeta e rei. Os ministros ordenados fazem parte do Povo Deus, não estão por cima mas ao serviço.
Na prática, muitas situações continuam como antes. Dum lado os que mandam, do outro os que obedecem. Por outro lado, embora o apelo à corresponsabilidade, à participação, à sinodalidade seja evidente, não tem concretização no ordenamento prático e jurídico da Igreja.
A nossa Diocese de Lamego tem no plano pastoral para este ano a criação de Conselhos Pastorais Paroquiais, Arciprestais e Diocesano, perspetivando uma maior participação dos leigos, cuja legitimidade vem da condição de batizados. Sem ser democracia, a Igreja há de buscar formas mais democráticas para viver a fé, testemunhar a esperança, anunciar o Evangelho. Não se procuram maiorias quantitativas, mas a unanimidade de fé em Cristo Jesus. Instrumentos de participação e de corresponsabilidade, e sobretudo com o ensejo de uma Igreja mais sinodal, em que há lugar para os ministros ordenados, sem desprimor da missão laical.
Também para esta reflexão é muito útil esta leitura. Trata do lugar da Paróquia e da Igreja local, das comunidades eclesiais, enxertadas na comunidade paroquial. Trata da catolicidade da Igreja na paróquia e na Diocese. Avança com propostas. Situa-nos no tempo, na cultura, na realidade dos nossos dias, onde a Igreja é dispensável ou onde se lhe concede um espaço ao lado de outras associações. Uma Igreja sem privilégios que tem de testemunhar a fé, a esperança e a caridade. Igreja pobre e dos pobres. Fala da coordenação do trabalho pastoral, das unidades pastorais, do repensar o papel das paróquias, como comunidades a evangelizar, não para destruir mas para englobar na pastoral da evangelização...
O autor sublinha que a sensibilidade pré-conciliar aponta para uma reflexão aprofundada sobre a "Opção preferencial pelos pobres", acentuado por exemplo pelos padres operários, em França, dando lugar, durante do Concílio, à reflexão sobre a Igreja e a sua abertura ao mundo, relegando-se para segundo plano a reflexão e o compromisso com os pobres. Sublinha também o autor que só o episcopado latino-americano, onde se incluía o atual Papa, refletiu a opção pelos pobres, uma Igreja pobre para os pobres, produzindo documentos e efetivando práticas.
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