É uma expressão que ouvimos amiúde em relação a um médico, a um professor ou diretor de turma, a um presidente de Câmara, a um sacerdote, a um funcionário público, denotando desconfiança prévia sobre alguém que deveria ser afável. A ideia inicial: uma pessoa “naquela posição” há estar “cheio de nove horas”, “deve ter o rei na barriga”. Resultará de alguma experiência negativa, própria ou partilhada por outros; ou uma expectativa reduzida.
Há dias ouvi esta confidência em relação a outros, mas também já a ouvi referida a mim. E, no caso mais pessoal, sempre admira. A consciência do que somos nem sempre corresponde àquilo que os outros veem ou àquilo que efetivamente somos para os outros. "O senhor Padre HOJE está muito simpático". Por vezes é apenas, e só, a diferença entre o contacto e o não contacto, e no contacto as pessoas são naturalmente diferentes, positiva ou negativamente.
O bom Papa João XXIII, canonizado no passado domingo, no "Diário da Alma", confessa que muito do que é – a bondade, a paciência, a humildade, a boa disposição – lhe vem da maneira de ser e não do esforço que tenha de fazer, ainda que procure melhorar. Tenho para mim, no que concerne à boa disposição, que esta me é conatural, pelo que sempre me surpreende a surpresa de alguém com a minha boa disposição.
Conclusões: pressuposição que o sacerdote ou o professor, ou um funcionário, não são habitualmente simpáticos, e cuja "seriedade" deixa os outros de pé atrás; ou é um mero preconceito que tem a ver com o não contacto pessoal; ou ainda, uma constatação concreta, e infeliz, de má vontade, mau atendimento, distanciamento.
Como cristãos, seguindo Jesus Cristo, o traço da nossa postura há levar-nos a ser simpáticos, agradáveis com todos e concretamente com os que estão situação mais frágil, não para que mudem de opinião a nosso respeito, mas porque decorre da nossa condição humana e que se acentua com o nosso compromisso cristão. Agirmos ao jeito de Jesus Cristo, em prol do outro, oferecer a vida pelos outros. Ser simpático não significa apenas um olhar ou presença sorridente, ainda que possa ser um começo. Simpático e compaixão, seguindo o significado original, implica "sofrer com", colocar-se no lugar do outro, procurando responder às suas necessidades, sem esperar nada em troca, ainda que qualquer relação, entre pessoas ou de Deus para connosco, como sublinha Bento XVI, seja expectável uma resposta.
publicado na Voz de Lamego, n.º 4262, de 29 de abril de 2014.
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