"Tudo o que é dito na Bíblia da ecclesia vale para a Maria, e vice-versa: o que a Igreja é e deve ser, é por ela aprendido na contemplação de Maria. Esta é o seu espelho, a verdadeira medida da sua natureza, porque existe à medida de Cristo e de Deus, 'habitada' por Ele. E para que existiria a Igreja senão para ser habitação de Deus no mundo? Deus não age com coisas abstratas. Ele é Pessoa, e a Igreja é pessoa. Quanto mais nós e cada um de nós nos tornarmos pessoa, pessoa no sentido da inabitação de Deus em nós, Filha de Sião, tanto mais seremos um e tanto mais seremos Igreja, e tanto mais a Igreja será ela própria" (p 64).
"Ela vive de tal maneira que é permeável a Deus, habitável por Ele. Ela vive de tal maneira que se torna um lugar para Deus. Ela vive ao ritmo da dimensão comunitária da história santa de tal forma que não nos aparece bela o estreito e mesquinho 'eu' de um indivíduo isolado, mas sim o todo do verdadeiro Israel" p 65
"Deus não dá menos do que Ele próprio. O dom de Deus é Deus, que, enquanto Espírito Santo, é comunhão connosco. 'És cheia de graça' - isso significa portanto também que Maria é uma pessoa totalmente aberta, que se dilatou totalmente, que se entregou audaciosa e ilimitadamente, sem temor quanto ao seu próprio destino, nas mãos de Deus. Significa que vive inteiramente a partir da relação com Deus e no interior dessa relação. Maria é uma pessoa à escuta e em oração, cujo sentido e cuja alma estão despertos para múltiplos apelos sussurrados pelo Deus vivo. É um ser orante, totalmente tenso para Deus e, por isso, um ser amante com a amplitude e a generosidade do verdadeiro amor, mas também com a sua capacidade infalível de discernimento e com disponibilidade para o sofrimento que existe no amor" (p 67).
"Engrandecer o Senhor - isso significa não se engrandecer a si próprio, ao seu próprio nome, ao seu próprio 'eu', ampliar-se e reivindicar um lugar, mas dar-lhe espaço a Ele para que se torne presente no mundo. Quer dizer: tornarmo-nos mais verdadeiramente o que somos, não uma monada fechada que só se representa a si própria, mas imagem de Deus. Significa libertarmo-nos do pó e da fuligem que torna a imagem opaca e a recobre, e tornarmo-nos verdadeiramente pessoas, inteiramente referidas a Deus" (p 73).
"Só nela a imagem da cruz se cumpre inteiramente, porque é a cruz assumida, a cruz partilhada no amor que nos permite, na sua compaixão maternal, experimentar a compaixão de Deus. Assim, a dor da mãe é dor pascal que já agora opera a abertura da transformação da morte à presença salvífica do amor" (p 77).
"Maria é a Igreja viva. Sobre Ela desce o Espírito Santo e assim se torna no novo Templo. José, o justo, é tornado gerente dos mistérios de Deus, como pai de família e protetor do santuário que constituem a Esposa e o Verbo nela" (p 86).
in RATZINGER e VON BALTASHAR. Maria, primeira Igreja: AQUI.
Sem comentários:
Enviar um comentário