TOMÁŠ HALÍK (2015). O Meu é Deus é um Deus ferido. Prior Velho: Paulinas Editora. 240 páginas.
Ao olhar para escaparate, no caso concreto da livraria religiosa da Diocese de Lamego, Gráfica de Lamego, este foi um título/livro que não me despertou atenção. Peguei nele para o desviar de outros. É certo e sabido que o conteúdo é o mais importante, mas o aspeto abre o apetite e pela capa nem o título li direito, pensando que era um livro clássico, pesado. A recomendação veio do meu pároco, Pe. Adriano Cardoso, Pároco de Penude, dizendo que era um autor muito bom, criativo, que ia além dos conceitos habituais e que valia a pena ler.
Permitiu-me desta forma conhecer um autor que me era estranho. É possível que já tivesse lido alguma citação mas nunca me despertou a atenção. Natural de Praga, na República Checa, foi temperado pela perseguição do regime à Igreja Católica, vivendo na clandestinidade, foi ordenado sacerdote em 1978, tornando-se um dos assessores mais próximos do Cardeal Tomášek, figura emblemática da «Igreja do Silêncio». Com o fim do comunismo, tornou-se conselheiro do presidente Václav Havel e, posteriormente secretário-geral da Conferência Episcopal Checa.
Em Portugal, há pelo menos mais dois títulos publicados pela mesma editora, Paciência com Deus. Oportunidade para um encontro (2013), e A noite do confessor. A fé cristã numa era de incerteza (2014).
«O Meu Deus é um Deus ferido» trata do testemunho eloquente do encontro de Jesus com Tomé, cuja incredulidade nos leva a procurar as razões da nossa esperança, não dando a fé como adquirida, mas como procura constante, entre certezas e dúvidas, entre "provas" (testemunhos) e sofrimentos. Tomé é convidado a tocar Jesus, a tocar nas Suas chagas. Se a Maria Madalena Jesus diz "Não Me toques", isto é, não Me detenhas, a Tomé, Jesus diz: vem, vê, toca as minhas chagas. A fé não pode fixar o corpo biológico de Jesus, não tem provas tangíveis, mas deve tocar as feridas de Jesus nos corpos, nas vidas das pessoas.
Sublime também a confissão de Tomé. No diálogo de Jesus com Pilatos, sobrevêm a identidade do homem: Ecce Homo, eis o Homem. Em Tomé, a confissão de fé em Deus: Eis Deus - Meu Senhor e Meu Deus.
Ninguém vai ao Pai senão pelo Filho. Mas o Filho de Deus deixa-Se ver nas feridas e em todos os feridos deste mundo. Se tocarmos as feridas, a chagas do mundo, das pessoas deste tempo - o que fizerdes ao mais pequeno dos irmãos a Mim o fazeis - então podemos tocar Deus. Já não será uma abstração filosófica, mas um encontro real.
Bem-aventurados os que acreditam sem terem visto. A última das Bem-aventuranças. "Só o «não-ver», honesta e humildemente reconhecido e aceite, abre espaço à fé. A fé é proposto persistir neste não-ver. Ela deve velar, até ao fim, para que o o espaço do «não-visível» permaneça vazio e, todavia, simultaneamente aberto - como o sacrário do Sábado Santo, na hora da adoração das chagas do corpo e do coração de Cristo. Para esta tarefa verdadeiramente nada fácil, a fé necessita ainda da esperança e do amor".
Saliente-se ainda a ponte que faz o sacerdote-teólogo checo entre a vivência ocidental e oriental da fé, entre ortodoxos e católicos e destes com os protestantes, pontes ecuménicas e diálogo interreligioso, com os judeus, com os muçulmanos, mas também com as religiões orientais.
Recendamos a leitura da recensão feita pelo
sobre este livro e sobre o autor: AQUI.
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