terça-feira, 30 de janeiro de 2018

A tua fé te salvou...

       Chegou, então, um dos chefes da sinagoga, de nome Jairo, e, ao vê-lo, prostrou-se a seus pés e suplicou instantemente: «A minha filha está a morrer; vem impor-lhe as mãos para que se salve e viva.» Jesus partiu com ele, seguido por numerosa multidão, que o apertava.
       Certa mulher, vítima de um fluxo de sangue havia doze anos, que sofrera muito nas mãos de muitos médicos e gastara todos os seus bens sem encontrar nenhum alívio, antes piorava cada vez mais,tendo ouvido falar de Jesus, veio por entre a multidão e tocou-lhe, por detrás, nas vestes, pois dizia: «Se ao menos tocar nem que seja as suas vestes, ficarei curada.» De facto, no mesmo instante se estancou o fluxo de sangue, e sentiu no corpo que estava curada do seu mal. Disse-lhe Ele: «Filha, a tua fé salvou-te; vai em paz e sê curada do teu mal.»
       Ainda Ele estava a falar, quando, da casa do chefe da sinagoga, vieram dizer: «A tua filha morreu; de que serve agora incomodares o Mestre?» Mas Jesus, que surpreendera as palavras proferidas, disse ao chefe da sinagoga: «Não tenhas receio; crê somente.» ... Ao chegar a casa do chefe da sinagoga, encontrou grande alvoroço e gente a chorar e a gritar. Entrando, disse-lhes: «Porquê todo este alarido e tantas lamentações? A menina não morreu, está a dormir.» Mas faziam troça dele. Jesus pôs fora aquela gente e, levando consigo apenas o pai, a mãe da menina e os que vinham com Ele, entrou onde ela jazia.Tomando-lhe a mão, disse: «Talitha qûm!», isto é, «Menina, sou Eu que te digo: levanta-te!» (Mc 5, 21-43).

       O início do Evangelho de São Marcos, que temos vindo a escutar, é repleto de acontecimentos que nos mostram, inequivocamente, que Jesus é o Messias, o Ungido do Senhor, o verdadeiro Filho de Deus. O anúncio do Evangelho aos pobres, as curas, os exorcismos, o perdão dos pecados...
       Hoje, de novo, vemos como Jesus intervém a favor dos mais fragilizados e desprotegidos. A mulher que há muito perdera a esperança de ser curada mas cuja fé, ao ouvir falar de Jesus, se engrandeceu, encorajando-a a ir ter com Ele. Com o seu exemploe também nós somos convidados a ir ter com Jesus, a ouviu a Sua voz, a deixar que a Sua força fortaleça e revigore a nossa fragilidade.
       Assim também com o exemplo de Jairo, não temamos ir ao encontro do Senhor. Ele atenderá a nossa súplica. Sempre.
       Cada gesto de Jesus revela a Sua compaixão por nós, pela humanidade. Obviamente, como facilmente se compreende, Jesus não revolve todos os problemas, mas, com a Sua postura e ação, mostra como Deus está do nosso lado e nos apoia. A mãe e o pai não sofrem as dores do filho, mas o estarem ao lado conta muito mais que todos os medicamentos...

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Espírito impuro, sai desse homem...

       Naquele tempo, Jesus e os seus discípulos chegaram ao outro lado do mar, à região dos gerasenos. Logo que Ele desembarcou, saiu ao seu encontro, dos túmulos onde morava, um homem possesso de um espírito impuro. Já ninguém conseguia prendê-lo, nem sequer com correntes, pois estivera preso muitas vezes com grilhões e cadeias e ele despedaçava os grilhões e quebrava as cadeias. Ninguém era capaz de dominá-lo. Andava sempre, de dia e de noite, entre os túmulos e pelos montes, a gritar e a ferir-se com pedras. Ao ver Jesus de longe, correu a prostrar-se diante d’Ele e disse, clamando em alta voz: «Que tens a ver comigo, Jesus, Filho de Deus Altíssimo? Conjuro-Te, por Deus, que não me atormentes». Porque Jesus dizia-lhe: «Espírito impuro, sai desse homem». E perguntou-lhe: «Qual é o teu nome?». Ele respondeu: «O meu nome é ‘Legião’, porque somos muitos». E suplicava instantemente que não os expulsasse daquela região. Ora, ali junto do monte, andava a pastar uma grande vara de porcos. Os espíritos impuros pediram a Jesus: «Manda-nos para os porcos e entraremos neles». Jesus consentiu. Então os espíritos impuros saíram do homem e entraram nos porcos. A vara, que era de cerca de dois mil, lançou-se ao mar, do precipício abaixo, e os porcos afogaram-se. Os guardadores fugiram e levaram a notícia à cidade e aos campos; e, de lá, vieram ver o que tinha acontecido. Ao chegarem junto de Jesus, viram, sentado e em perfeito juízo, o possesso que tinha tido a legião; e ficaram cheios de medo. Os que tinham visto narraram o que havia acontecido ao possesso e o que se passara com os porcos. Então pediram a Jesus que Se retirasse do seu território. Quando Ele ia a subir para o barco, o homem que tinha sido possesso pediu-Lhe que o deixasse ir com Ele. Jesus não lho permitiu, mas disse-lhe: «Vai para casa, para junto dos teus, conta-lhes tudo o que o Senhor te fez e como teve compaixão de ti». Então ele foi-se embora e começou a apregoar na Decápole o que Jesus tinha feito por ele. E todos ficavam admirados (Mc 5, 1-20).
        Jesus encontra-se com um possesso. Nesta como em outras ocasiões, Jesus procura ser resposta e salvação para aqueles que buscam uma vida nova. Este possesso vive atormentado há vários anos. Tentou (ou tentaram) tudo. Nada resultou. Com efeito, o poder de Deus é maior e surpreende-nos a Sua presença amorosa. Há problemas que nos cabe solucionar. Há realidades que só com a graça de Deus podemos compreender e acolher.
       Por outro lado, o encontro com Jesus provoca conversão. Vendo-se curado, o homem anteriormente possesso vai ter com Jesus para O seguir. Jesus envia-o para casa para aí testemunhar o que lhe aconteceu. Para se ser missionário, anunciador do Evangelho, não é necessário sair de casa, do seu trabalho, do local em que vive. Em toda a parte os discípulos de Jesus Cristo devem transparecê-l'O e testemunhar o Seu amor.

No torbilhão do mar, a calmaria em Jesus

      Ao cair da tarde, Jesus disse aos seus discípulos: «Passemos à outra margem do lago». Eles deixaram a multidão e levaram Jesus consigo na barca em que estava sentado. Iam com Ele outras embarcações. Desencadeou-se, então, um grande turbilhão de vento, e as ondas arrojavam-se contra o barco, de forma que este já estava quase cheio de água. Jesus, à popa, dormia sobre uma almofada. Acordaram-no e disseram-lhe: «Mestre, não te importas que pereçamos?» Ele, despertando, falou imperiosamente ao vento e disse ao mar: «Cala-te, acalma-te!» O vento serenou e fez-se grande calma. Depois disse-lhes: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» E sentiram um grande temor e diziam uns aos outros: «Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?» (Mc 4, 35-41).
       Na agitação do tempo e da História, ontem como hoje, temos Alguém em Quem colocar a nossa esperança, em Jesus Cristo. Ele guia-nos e segura-nos, pela mão, para não cairmos, para não nos afundarmos nos mares revoltos. Ele é o Senhor do dia e da noite, tem poder sobre todo o Universo, por Ele tudo foi criado... A soberania de Deus é a certeza que a dignidade da pessoa está assegurada mas também a protecção deste mundo em que vivemos.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Tudo será perdoado aos filhos dos homens...

       Os escribas que tinham descido de Jerusalém diziam: «Está possesso de Belzebu», e ainda: «É pelo chefe dos demónios que Ele expulsa os demónios». Mas Jesus chamou-os e começou a falar-lhes em parábolas: «Como pode Satanás expulsar Satanás? Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode aguentar-se. E se uma casa estiver dividida contra si mesma, essa casa não pode aguentar-se. Portanto, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não pode subsistir: está perdido. Ninguém pode entrar em casa de um homem forte e roubar-lhe os bens, sem primeiro o amarrar: só então poderá saquear a casa. Em verdade vos digo: Tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e blasfémias que tiverem proferido; mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão: será réu de pecado eterno». Referia-Se aos que diziam: «Está possesso dum espírito impuro» (Mc 3, 22-30).
        Nesta disputa com os fariseus e doutores da lei, Jesus salienta como a Salvação veio até à humanidade, até à história e que Deus é na Sua essência um Deus de misericórdia. Por outro lado, o evangelho evidencia como Jesus cumpre com as promessas de Deus ao seu povo, n'Ele Se manifesta o poder de Deus.

São Sebastião - Testemunha fiel de Cristo

       Celebrámos, neste dia 20 de janeiro, na nossa Diocese de Lamego, a solenidade do Padroeiro principal, mártir São Sebastião, o bom soldado de Cristo. O patrono escolhido deverá ser uma referência que inspire a viver o Evangelho na identificação com Jesus Cristo, morto e ressuscitado.
       Quando uma terra e/ou uma comunidade escolhe um patrono isso deve-se ao seu carisma e à vontade de seguir a sua determinação e o exemplo da sua vida. Os santos mártires ganharam uma enorme projeção nas comunidades cristãs dos primeiros séculos e pelos séculos seguintes.
       É nesta perspetiva que São Sebastião, Santa Eufémia, Santa Inês, Santa Luzia, São Vicente, diácono, Santa Bárbara, se impõem por todo o mundo cristão, pelo testemunho de fidelidade ao Evangelho, a Jesus Cristo, arriscando a própria vida. Foi também uma forma de catequizar as comunidades, pregar através de exemplos concretos.
       A vida de São Sebastião, naquilo que a tradição assimilou e transmitiu, é um exemplo como a fé ajuda a ultrapassar os obstáculos da vida e como o cristão se pode santificar nas mais diversas profissões e/ou ocupações. Mais forte que tudo é o amor a Deus.
       Descendente de uma família nobre, terá nascido em Narbona, sul de França, em meados do século III. Segundo a maioria dos estudiosos, os seus pais eram de Milão, onde cresceu até se mudar para Roma. Mas também há quem defenda que o pai era natural de Narbona e Sebastião tenha nascido em Milão.
       Em nome da religião enveredou por uma carreira militar, para desse modo defender os cristãos que sofriam uma terrível perseguição. As suas qualidades são amplamente elogiadas: figura imponente, prudência, bondade, bravura, era estimado pela nobreza e respeitado por todos.
       De Milão, o jovem soldado deslocou-se para Roma, onde a perseguição era mais intensa e feroz, para testemunhar a fé e defender os cristãos.
       O imperador Diocleciano, reconhecendo nele a valentia e desconhecendo a sua religião, nomeou-o capitão general da Guarda Pretoriana. Animava os condenados para que se mantivessem firmes e fiéis a Jesus Cristo.
       Primeiro cai nas graças do imperador, logo a defesa da fé cristã e a intercessão pelos cristãos perseguidos desencadeiam a sua morte. Cada novo mártir que surgia tornava-se um alento e um desafio para Sebastião. Foi denunciado por Fabiano, então Governador Romano. Diocleciano acusou-o de ingratidão. Foi cravado por flechas, até o julgarem morto.
       A iconografia é muito plástica a seu respeito, inconfundível. São Sebastião é representado com o corpo pejado com várias setas, e surge preso a um tronco de árvore.
       Entretanto uma jovem, de nome Irene (santa Irene?) passou e verificou que ainda estava vivo. Levou-o para casa e curou-lhe as feridas. Ainda não completamente restabelecido, mas já com algumas forças e persistência voltou junto do imperador para defender os cristãos, condenando-lhe a impiedade e injustiça.
       Diocleciano mandou que fosse chicoteado até à morte e depois deitado à Cloaca Máxima, o lugar mais imundo de Roma. O corpo foi recuperado e sepultado nas catacumbas da Via Ápia. Faleceu a 20 de janeiro de 288, ou 300.
       Logo após o seu martírio começou a ser venerado como santo.
       Testemunhou a fé, com coragem e alegria, a partir da sua vida, como jovem soldado, cristão. Daqui se conclui que a santidade é possível em qualquer trabalho, em qualquer vocação, em qualquer compromisso humano.
       O tempo e o ambiente em que vivemos não é de perseguição declarada aos cristãos, mas a nossa tarefa não é mais fácil que a de São Sebastião. A sua fé confrontou-se com a perseguição, ajudando aqueles que estavam próximos de desanimar.
       Quantas vezes nos deixamos contagiar por um contexto, por valores e leis contrários à fé que professamos? Quantas oportunidades para nos afirmarmos cristãos? Quantas formas de perseguição aos valores que defendemos? Quantos cristãos precisam que os animemos na sua fé, na sua caminhada espiritual?!

       Vale a pena ler e meditar um texto de SANTO AMBRÓSIO sobre o Salmo 118, apresentando São Sebastião como testemunha fiel de Cristo, e que é hoje apresentado na Liturgia das Horas:

Testemunha fiel de Cristo

É necessário passar por muitas tribulações para entrar no reino de Deus. As muitas perseguições correspondem muitas provações: onde há muitas coroas de vitória tem de ter havido muitos combates. É bom para ti que haja muitos perseguidores, pois entre tantas perseguições mais facilmente encontrarás o modo de ser coroado.
Consideremos o exemplo do mártir Sebastião, que hoje celebramos.
Nasceu em Milão. Talvez o perseguidor já se tivesse afastado, ou talvez ainda não tivesse vindo a este lugar, ou seria mais condescendente. De qualquer modo, Sebastião compreendeu que aqui, ou não haveria luta, ou ela seria insignificante.
Partiu para Roma, onde grassavam severas perseguições por causa da fé; aí foi martirizado, isto é, aí foi coroado. Deste modo, ali onde tinha chegado como hóspede, encontrou a morada da imortalidade eterna. Se não houvesse mais que um perseguidor, talvez este mártir não tivesse sido coroado.
Mas o pior é que os perseguidores não são só aqueles que se veem: há também os que não se veem, e estes são muito mais numerosos.
Assim como um único rei perseguidor emitia muitos decretos de perseguição, e desse modo havia diversos perseguidores em cada uma das cidades ou das províncias, também o diabo envia muitos servos seus a mover perseguições, não apenas no exterior, mas dentro da alma de cada um.
Destas perseguições foi dito: Todos os que querem viver piedosamente em Cristo Jesus sofrem perseguição. E disse ‘todos’, não excluiu nenhum. Quem poderia na verdade ser excetuado, quando o próprio Senhor suportou os tormentos das perseguições?
Quantos há que, em segredo, todos os dias são mártires de Cristo e dão testemunho do Senhor Jesus! Conheceu esse martírio aquele apóstolo e testemunha fiel de Cristo, que disse: Esta é a nossa glória e o testemunho da nossa consciência.

FONTES:
J. H. BARROS DE OLIVEIRA (2003). Santos de todos os Tempos, Apelação: Paulus Editora
Publicado originalmente na página da Diocese de Lamego.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Escolheu doze, para andarem com Ele

       Jesus subiu a um monte. Chamou à sua presença aqueles que entendeu e eles aproximaram-se. Escolheu doze, para andarem com Ele e para os enviar a pregar, com poder de expulsar demónios. Escolheu estes doze: Simão, a quem pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão de Tiago, aos quais pôs o nome de Boanerges, isto é, «Filhos do trovão»; André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago de Alfeu, Tadeu, Simão o Cananeu e Judas Iscariotes, que depois O traiu (Mc 3, 13-19).
       O Evangelho de São Marcos envolve-nos no início da vida de pública de Jesus. Depois do Batismo, e das tentações do deserto, local ideal para o encontro com Deus mas também connosco, já que não há nada a que nos agarramos, não há seguranças, nada existe que nos distraia de Deus. Começa então a pregação. Cumpriu-se o tempo, o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e acreditai no Evangelho. Nesta enxurrada, Jesus chama os discípulos, para que a Mensagem chegue mais longe e perdure muito além da Sua existência biológica e terrena.
       Hoje o Evangelho fala-nos especificamente dos Apóstolos. De entre os discípulos, a necessidade de designar um número mais reduzido, para facilitar a comunicação, e para cimentar bem o Evangelho. Para se chegar ao todo é necessário particularizar, isto, se o Evangelho é para anunciar ao mundo inteiro, tem que começar por algum lado e por pessoas concretas.
       Os Doze não apenas ouvirão o que todos ouvem, mas ser-lhes-á explicado para que, por sua vez, o possam explicar a outros. E não apenas ao nível do discurso, mas como sabemos, muito ao nível do exemplo. Vão ver como Jesus vive, como diz o que diz e faz o que faz e a maneira de dizer e de fazer, para que um dia sejam eles a dizer e a fazer como Jesus. Dá-lhes o poder de expulsar os demónios e a missão de pregar o Evangelho.
       Também a nós Jesus nos chama. Que nível de intimidade queremos assumir com Ele? Estar informados do que Ele disse? E do que Ele fez? Ou saber de que forma podemos hoje dizer e fazer o que Ele disse e fez?

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Veio ter com Jesus uma grande multidão...

       Veio ter com Jesus uma grande multidão, por ouvir contar tudo o que Ele fazia. Disse então aos seus discípulos que Lhe preparassem uma barca, para que a multidão não O apertasse. Como tinha curado muita gente, todos os que sofriam de algum padecimento corriam para Ele, a fim de Lhe tocarem. Os espíritos impuros, quando viam Jesus, caíam a seus pés e gritavam: «Tu és o Filho de Deus». Ele, porém, proibia-lhes severamente que o dessem a conhecer (Mc 3, 7-12).
       Depois de algumas intervenções milagrosas e da pregação envolvente, Jesus é seguido por numerosa multidão em busca de um sentido novo. Nem todos terão a mesma motivação. Uns por curiosidade, outros à espera de verem milagres, outros a fim de obterem algum benefício próprio, outros porque não têm nada melhor para fazer, outros levados pelos amigos, outros por sentirem que em Jesus encontra a cura física e/ou espiritual.
       Não tenhamos preconceito de fazer parte desta multidão que corre atrás de Jesus. Pelo contrário, sintamo-nos confortáveis ao segui-l'O, ao procurá-l'O...

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Porque motivo os teus discípulos não jejuam?!

       «Por que motivo jejuam os discípulos de João e os fariseus e os teus discípulos não jejuam?». Respondeu-lhes Jesus: «Podem os companheiros do noivo jejuar, enquanto o noivo está com eles? Enquanto têm o noivo consigo, não podem jejuar. Dias virão em que o noivo lhes será tirado; nesses dias jejuarão. Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho, porque o remendo novo arranca parte do velho e o rasgão fica maior. E ninguém deita vinho novo em odres velhos, porque o vinho acaba por romper os odres e perdem-se o vinho e os odres. Para vinho novo, odres novos» (Mc 2, 18-22).
       Jesus relembra àqueles que murmuram que para tudo há tempo. Importa viver cada momento, com o máximo empenho. Deixar as preocupações do amanhã para amanhã, avançar em relação às dificuldades superadas do passado, não se fixando obsessivamente nos dias de ontem. Para apreciar com sabedoria e generosidade cada tempo, cada oportunidade, cada encontro. De contrário nada se vive com sentido. O tempo é novo, diz Jesus, há que aproveitar a presença de Deus no meio de nós.
       Dias virão em que não sentiremos a Sua presença, mas a recordação dos tempos felizes, podem servir de lenitivo e de desafio a uma nova procura de Deus. O evangelho levanta um pouco o véu do que irá acontecer com Jesus. Será morto. O noivo ser-lhes-á e ser-nos-á tirado. O jejum, então, será uma forma de nos dispormos a descobrir a presença de Deus, a presença de Jesus, vivo, no meio de nós. Nesses dias jejuaremos de tudo o que tolhe o nosso olhar, a nossa vida, e que nos faz desconfiar e viver inseguros.
       HOJE, aqui e agora, Jesus nos interpela a vivermos o melhor que sabemos e podemos. Com a intensidade, como se fosse uma final, evocando a realidade do futebol. O jogo de amahã ainda está para acontecer. O jogo de ontem, independentemente do resultado, já está. HOJE é novo jogo, entremos com todas as nossas energias, capacidades, talentos.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Senhor, se quiseres, podes curar-me

        Veio ter com Jesus um leproso. Prostrou-se de joelhos e suplicou-Lhe: «Se quiseres, podes curar-me». Jesus, compadecido, estendeu a mão, tocou-lhe e disse: «Quero: fica limpo». No mesmo instante o deixou a lepra e ele ficou limpo. Advertindo-o severamente, despediu-o com esta ordem: «Não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua cura o que Moisés ordenou, para lhes servir de testemunho». Ele, porém, logo que partiu, começou a apregoar e a divulgar o que acontecera, e assim, Jesus já não podia entrar abertamente em nenhuma cidade. Ficava fora, em lugares desertos, e vinham ter com Ele de toda a parte (Mc 1, 40-45).
       Da missão de Jesus fazem parte as palavras da pregação, o acolhimento de todos, preferencialmente daqueles que vivem à margem, na fronteira da vida, os gestos de cura, de libertação, de devolução da dignidade perdida.
       Antes de ir ter com Jesus, o leproso sente-se tocado, impelido por Jesus. Ouviu falar, criou esperança, sedimentou a fé numa vida nova, parte ao encontro d'Ele, na certeza que a sua prece será atendida: Se quiseres, podes curar-se. Despojado da sua vida- os leprosos eram tidos como pessoas odiosas, pecadoras, que viviam afastadas, não se podiam aproximar da aldeia, da cidade, com o risco de serem apedrejados. Este leproso ousa aproximar-se. Mais, ousa falar, pedir, colocar-se nas mãos de Jesus. Dos humildes é o reino de Deus. O desejo de cura poderia esbater com a exposição pública, e com a negação. Confia. Já ouviu falar de Jesus. Se quiseres... deixa nas mãos de Jesus, entrega-lhe a sua vida, confia!
       E nós como estamos de confiança em Deus? Também nos dispomos, na circunstância concreta da nossa vida atual, a confiar a nossa situação a Jesus. Eis, faça-se segundo a Tua santa vontade! Se quiseres, Senhor, podes curar-me. Do meu egoísmo, da inveja que sinto dos outros, do distanciamento que construo para não me comprometer! Cura-me dos meus medos, da incerteza, da dúvida, da desconfiança.
       O encontro com Jesus, há de levar-nos ao testemunho. Logo que partiu começou a dizer a toda a gente o que lhe tinha sucedido. E nós? Como estamos de encontro com Jesus? Que é que Ele suscita em nós? Sentimo-nos curados? Tocados pela Sua graça? Como está o nosso encontro com Jesus? Sentimo-nos libertos? Com que alegria testemunhamos a Sua presença em nós?

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Festa do Batismo do Senhor - 11 de janeiro de 2015

       1 – Os Céus são-nos abertos completamente em Jesus Cristo. Pelo nascimento, que ainda agora celebrámos. Pela Sua vida. A inteira vida de Jesus. Pela Sua paixão. Inteira paixão por nós, pela humanidade inteira. Os Céus estão escancarados pela Ressurreição de onde vem toda a LUZ, intensa, fulgurante, mais penetrante que a espada de dois gumes, é uma LUZ que chega ao mais profundo do nosso coração. A vastidão do Céu – na expressão feliz de Bento XVI – abarca o mundo inteiro.
       Hoje Jesus aproxima-Se de João para ser batizado e logo o Céu desce à terra e a voz do Pai ressoa nos nossos ouvidos, com ressonância indelével nosso coração: «Tu és o meu Filho muito amado, em Ti pus toda a minha complacência». Deus reconhece e faz ouvir o amor da Sua eleição. E nós estávamos lá, no Jordão e não podemos ignorar o que ouvimos. Mais tarde, a mesma voz, falará para nós e para nos dizer o que temos de fazer: Este é o Meu filho muito amado. Escutai-O (cf. Lc 9, 35).
       Logo ali, ao presenciarmos a cena e ao escutarmos Aquela voz que vem do alto, que vem do Céu, ficamos a saber que algo de novo começa a surgir, a manifestar-se. Vamos ver mais de perto. João já nos havia precavido: «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias. Eu batizo na água, mas Ele batizar-vos-á no Espírito Santo».
       E assim aconteceu. Jesus não se fez rogado e quando o tempo amadureceu, veio ter com João ao Jordão. E vimos que ao subir da água, os Céus se rasgaram e o Espírito desceu sobre Ele, e logo aquela voz nos deixou atordoados, sem saber o que dizer e o que fazer, sem saber o que sentir. És o meu Filho muito amado! Dirige-se a Jesus, mas n’Ele se dirige a cada um de nós.
       2 – O profeta Isaías, profeta do Advento, do Natal, da Quaresma, profeta da Paixão que nos traz Deus ao coração, apresenta mais uma bela página de incentivo, de confiança, de desafio. O Senhor Deus faz saber, através de Isaías, que o Seu Ungido está à porta:
«Eis o meu servo, a quem Eu protejo, o meu eleito, enlevo da minha alma. Sobre ele fiz repousar o meu espírito, para que leve a justiça às nações. Não gritará, nem levantará a voz, nem se fará ouvir nas praças; não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega: proclamará fielmente a justiça. Não desfalecerá nem desistirá, enquanto não estabelecer a justiça na terra, a doutrina que as ilhas longínquas esperam. Fui Eu, o Senhor, que te chamei segundo a justiça; tomei-te pela mão, formei-te e fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirares do cárcere os prisioneiros e da prisão os que habitam nas trevas».
       Página bela e intensa, pura filigrana, como diria o nosso Bispo D. António Couto, em que se visualiza a fonte do amor, o amor primeiro. Deus que nos precede, n'Ele a origem do amor, primeiro e verdadeiro, único e perfeito. Faz repousar o Seu Espírito no Filho que nos dá, a Luz que ofusca no instante inicial mas que logo purifica o nosso olhar. E quando olhamos a vida e os outros com o mesmo Olhar com que Deus nos ama, então ficamos mais próximos uns dos outros, reconhecemo-nos e acolhemo-nos irmãos e amamo-nos como Ele nos ama.
       A caracterização do Messias é visível e confirmada em Jesus. O testemunho dos Céus na hora do batismo é antecipado pelo Profeta. O Ungido não se imporá pelo poder, pela majestade, pela força ou pela violência, mas pela paz, pelo amor, pela persistência no caminho da justiça e do bem. É o Senhor que O modela como luz das nações, libertação dos oprimidos e dos que vivem nas trevas. Ele e nós que n'Ele somos acolhidos, reconhecidos e considerados irmãos. Ele é o Cordeiro que carrega e tira os pecados do mundo. Nós, com Ele, carregamo-nos uns aos outros para nos aliviarmos mutuamente dos fardos que por vezes pesam sobre cada um.
       3 – «O Senhor abençoará o seu povo na paz».
       Também a bela melodia do Salmo faz sinfonia com o Ungido do Senhor, que vem para amar, libertar, para dar a Vida por nós e nos salvar, nos guiar, nos elevar com Ele para junto do Pai. O Deus da Paz nos abençoe e proteja, nos conduza por águas calmas e que no caudal da vida, do tempo e da história, nos faça avançar com os outros, nunca contra eles, com mais amor para construirmos a Sua verdadeira família, que começamos aqui na terra, no tempo que Deus nos dá.

       4 – Depois de tantas vicissitudes, eis o imponente testemunho de São Pedro. A Luz das Nações, o Filho de Deus, revelou-Se em toda a plenitude na Morte e sobretudo na Ressurreição. Essa luz intensa e imensa invade agora o coração e a vida de Pedro e dos apóstolos e dos discípulos e de todos nós. A alegria sobrepõe-se ao medo; a luz afasta as trevas; o amor aproxima-nos esboroando egoísmos; a identificação com Aquele que dá a vida por nós, o Filho Amado do Deus Altíssimo, leva-nos a imitá-l'O, no perdão, no amor e na paz.
       Ponhamo-nos à escuta, no meio da multidão, como havia feito Jesus quando vai ter com João ao Jordão para por ele Se fazer batizar. Não passa à frente ou ao lado, mas está no MEIO do povo, com o Povo e com o Povo caminha até João. Para que a justiça se faça e se efetive a Sua identificação connosco, Ele faz o que nós fazemos, Ele vive connosco, para que depois nós aprendamos a viver como Ele e a fazer como Ele faz.
       No meio da multidão, Pedro toma a palavra, sem medo nem travo na voz, com olhar fundo e terno, e a voz bem colocada e audível, entoada, para que as palavras ecoem em nós. Pedro, aquele que antes, por medo e por vergonha, se tinha recusado a ser associado a Jesus, associa-se agora com todo o coração:
«Na verdade, eu reconheço que Deus não faz aceção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável. Ele enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio, porque Deus estava com Ele».
       O amor de Deus é para todos. Não escolhe nem idade, nem sexo, nem nacionalidade, não escolhe brancos ou pretos, homens ou mulheres, é para todos. Em Jesus todos somos irmãos. Um povo, uma nação cuja aliança se expande a todo o mundo. Deus não faz aceção de pessoas, como tantas vezes a nós nos acontece ou deixamos acontecer.
       5 – Depois do Batismo, e durante toda a vida, Jesus passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos. Deus estava com Ele. E Ele transparecia Deus, nas palavras, nos gestos, no olhar, nos prodígios realizados, nos silêncios, na oração, a caminhar, e em todos aqueles e aquelas que encontrava no Seu caminho, todos aqueles de quem se aproximava com ternura e compaixão.
       Deus está (sempre) connosco. Com e em Jesus somos batizados. E como passamos? Fazendo o bem? Curando todos os que à nossa volta estão oprimidos? Sentimo-nos ungidos e enviados? Preenchemos os nossos dias com a presença de Deus? O quê ou Quem transparecemos na nossa vida?

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano B): Is 42, 1-4. 6-7; Sl 28 (29); Atos 10, 34-38; Mc 1, 7-11.

sábado, 6 de janeiro de 2018

Eu batizo na água, Ele batizar-vos-á no Espírito Santo

       João começou a pregar, dizendo: «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias. Eu baptizo na água, mas Ele batizar-vos-á no Espírito Santo». Sucedeu que, naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi baptizado por João no rio Jordão. Ao subir da água, viu os céus rasgarem-se e o Espírito, como uma pomba, descer sobre Ele. E dos céus ouviu-se uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado, em Ti pus toda a minha complacência» (Mc 1, 7-11)
        O Evangelho de hoje envolve-nos na missão de João Baptista, conduzindo-nos até Jesus. Do anúncio de João faz parte orientar para o Messias que há de vir. Quando O encontra, aponta claramente para Ele. O Baptista é testemunha do que sucede com Jesus no batismo, os céus abrem-se e ouve-se a voz do Pai: Este é o meu Filho muito amado.
       Não se trata, sublinhe-se, de mero conhecimento da identidade de Jesus, trata-se de um desafio. Se Ele é o Filho de Deus nada nos deve desviar de O seguir...

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

São Basílio Magno e São Gregório Nazianzeno

Nota Histórica:
       Basílio nasceu em Cesareia de Capadócia no ano 330, de uma família cristã; homem de grande cultura e virtude, começou por viver vida eremítica, mas no ano 370 foi eleito bispo da sua cidade natal. Combateu os arianos; escreveu excelentes obras e sobretudo regras monásticas, pelas quais ainda hoje se regem muitos mosteiros do Oriente. Foi grande benfeitor dos pobres. Morreu em 379, no dia I de Janeiro.
       Gregório nasceu no mesmo ano que Basílio, perto de Nazianzo, e deslocou-se a várias terras por razões de estudo. Seguiu o seu amigo Basílio na vida eremítica, mas foi depois ordenado presbítero e bispo. No ano 381 foi eleito bispo de Constantinopla, mas devido a divisões existentes naquela Igreja, retirou-se para Nazianzo, onde morreu no dia 25 de Janeiro do ano 389 ou 390. Pela profundidade da sua doutrina e encanto da sua eloquência foi chamado «o teólogo».
(São Basílio , à esquerda; São Gregório Nazianzeno, à direita; ao centro,São Gregório de Nissa)

Oração de coleta:
       Senhor Deus, que iluminastes a vossa Igreja com os ensinamentos e exemplos de São Basílio e de São Gregório Nazianzeno, fazei que procuremos humildemente conhecer a vossa verdade e a vivamos fielmente na caridade. Por Nosso Senhor.
São Basílio Magno, bispo, sobre o Espírito Santo

O Senhor vivifica o seu corpo no Espírito

Diz-se homem espiritual aquele que já não vive segundo a carne mas sob a moção do Espírito de Deus, aquele que se chama filho de Deus e se tornou conforme à imagem do Filho de Deus. E assim como a capacidade de ver só se exerce em olhos saudáveis, também a acção do Espírito só se exerce na alma purificada.
Assim como a palavra, que está no nosso espírito, umas vezes permanece como simples pensamento do coração e outras vezes é proferida pelos nossos lábios, assim também o Espírito Santo, que habita em nós, umas vezes dá testemunho ao nosso espírito e exclama em nossos corações Abba, Pai, e outras vezes fala por meio de nós, conforme ao que foi dito: Não sois vós que falais, mas o Espírito do Pai que fala em vós.
Por outro lado, ao distribuir a todos os seus carismas, o Espírito é o todo que se encontra em cada uma das partes. Todos somos, com efeito, membros uns dos outros, embora com dons diferentes, segundo a graça que Deus nos concede.
Por isso, não podem os olhos dizer à mão: não precisamos de ti, ou a cabeça dizer aos pés: não preciso de vós. Ao contrário, todos os membros reunidos constituem o Corpo de Cristo na unidade do Espírito e prestam uns aos outros a necessária entreajuda, de acordo com os dons recebidos.
Foi Deus quem dispôs os membros no corpo, cada um deles conforme o seu beneplácito divino. Por sua vez, os membros são solidários uns para com os outros, em virtude do amor mútuo, nascido da sua comunhão no mesmo espírito vital. E assim, quando um membro sofre, todos sofrem com ele; quando um membro é honrado, todos tomam parte na sua alegria.
E assim como as partes estão no todo, também cada um de nós está no Espírito, pois todos nós, que formamos um só corpo, fomos baptizados num só Espírito.
E tal como o Pai se contempla no Filho, também o Filho se contempla no Espírito. Por isso, «adorar no Espírito» quer dizer que a operação do nosso espírito se realiza na luz da verdade, como se pode deduzir das palavras dirigidas à Samaritana. Como ela julgava que se devia adorar a Deus num lugar determinado, segundo o modo errado de pensar do seu povo, o Senhor instruiu-a, dizendo-lhe que Deus devia ser adorado em espírito e verdade, chamando Se deste modo a Si mesmo a verdade.
Nós falamos de uma adoração no Filho, como numa imagem de Deus Pai; também podemos falar de uma adoração no Espírito, uma vez que exprime em Si mesmo a divindade do Senhor.
Por conseguinte, falando com propriedade e congruência, devemos dizer que na iluminação do Espírito contemplamos o esplendor da glória de Deus. Por meio do sinal do Espírito somos conduzidos Àquele de quem o Espírito é sinal e selo autêntico.