sábado, 29 de setembro de 2018

Arcanjos São Miguel, São Gabriel, São Rafael

       Entre «os puros espíritos que também são denominados Anjos» (Credo do Povo de Deus), sobressaem três, que têm sido especialmente honrados, através do séculos e a Liturgia une na mesma celebração. Além das funções próprias de todos os Anjos, eles aparecem-nos, na Escritura Sagrada, incumbidos de missão especial.
  • São Miguel (= «Quem como Deus»?) é o príncipe dos Anjos, identificado, por vezes, como o Anjo do turíbulo de ouro de que fala o Apocalipse. É o Anjo dos supremos combates. É o melhor guia do cristão, na hora da viagem para a eternidade. É o protector da Igreja de Deus (Apoc. 12-19).
  • São Gabriel (= «Deus é a minha força») é o mensageiro da Incarnação (Dan. 9, 21-22). É o enviado das grandes embaixadas divinas: anuncia a Zacarias o nascimento do Precursor e revela a Maria o mistério da divina Maternidade. Pio XII, em 12 de Janeiro de 1951, declarou este Arcanjo patrono das telecomunicações.
  • São Rafael (= «Medicina de Deus») manifesta-se na Bíblia como diligente e eficaz protector duma família, que se debate para não sucumbir às provações. É conselheiro, companheiro de viagem, defensor e médico. Honrando os Anjos, cuja existência nos é abundantemente testemunhada pela Sagrada Escritura, nós exaltamos o poder de Deus, Criador do mundo visível e invisível.
Oração de colecta:
       Senhor Deus do universo, que estabeleceis com admirável providência as funções dos Anjos e dos homens, concedei, propício, que a nossa vida seja protegida na terra por aqueles que eternamente Vos assistem e servem no Céu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

E vós, quem dizeis que Eu sou?!

       Um dia, Jesus orava sozinho, estando com Ele apenas os discípulos. Então perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?». Eles responderam: «Uns, João Baptista; outros, que és Elias; e outros, que és um dos antigos profetas que ressuscitou». Disse-lhes Jesus: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Pedro tomou a palavra e respondeu: «És o Messias de Deus». Ele, porém, proibiu-lhes severamente de o dizerem fosse a quem fosse e acrescentou: «O Filho do homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas; tem de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia» (Lc 9, 18-22).
       O Evangelho para este dia traz-nos a pergunta de Jesus aos discípulos: quem dizeis vós que Eu sou? A primeira pergunta questiona sobretudo o conhecimento acerca de Jesus, isto é, como é que as pessoas estão a reagir ao Evangelho, à pregação da Boa Nova. A segunda, é mais importante, pergunta-nos quem significa Ele para nós, de que forma influencia a minha / a nossa vida? Esta última questão é mais pessoal, exige uma resposta também pessoal, de cada um, uma resposta não apenas verbal, mas vital. Respondemos com o que somos e com o que fazemos com a nossa vida.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

São Vicente de Paulo, presbítero

Nota biográfica:
       Nasceu na Aquitânia em 1581. Completados os estudos e ordenado sacerdote, exerceu o ministério paroquial em Paris. Fundou a Congregação da Missão, destinada à formação do clero e ao serviço dos pobres; com a ajuda de S. Luísa de Marillac instituiu também a Congregação das Filhas da Caridade. Morreu em Paris no ano 1660.
Oração de colecta:
       Senhor, Deus de bondade, que enriquecestes o presbítero São Vicente de Paulo com virtudes apostólicas para se entregar ao serviço dos pobres e à formação dos pastores do vosso povo, concedei-nos que, animados pelo mesmo espírito, amemos o que ele amou e pratiquemos o que ele ensinou. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
São Vicente de Paulo, presbítero

O serviço dos pobres deve ser preferido acima de tudo

A nossa atitude para com os pobres não se deve regular pela sua aparência externa nem sequer pelas suas qualidades interiores. Devemos considerá-los, antes de mais, à luz da fé. O Filho de Deus quis ser pobre e ser representado pelos pobres. Na sua paixão, quase perdeu o aspecto de homem; apareceu como um louco para os gentios e um escândalo para os judeus. Todavia, apresentou-Se a estes como evangelizador dos pobres: Enviou-Me para evangelizar os pobres. Também nós devemos ter os mesmos sentimentos de Cristo e imitar o que Ele fez: cuidar dos pobres, consolá-los, socorrê-los e recomendá-los.
Cristo quis nascer pobre, chamar para sua companhia discípulos pobres, servir os pobres e identificar se com os pobres, a ponto de dizer que o bem ou o mal feito a eles o tomaria como feito a Si mesmo. Deus ama os pobres, e por conseguinte ama também aqueles que os amam. Na verdade, quando alguém tem especial afecto a uma pessoa, estende também este afecto aos seus amigos e servos. Por isso temos razão para esperar que, por causa do nosso amor dos pobres, também nós seremos amados por Deus.
Quando os visitamos, procuremos compreender a sua pobreza e infelicidade para sofrer com eles e ter os sentimentos de que fala o Apóstolo, quando diz: Fiz-me tudo para todos. Esforcemo-nos por sentir profundamente as preocupações e misérias dos nossos semelhantes; peçamos a Deus que nos dê o espírito de misericórdia e compaixão e que conserve sempre em nossos corações estes sentimentos.
O serviço dos pobres deve ser preferido a todos os outros e deve ser prestado sem demora. Se durante o tempo de oração, tiverdes de levar um medicamento ou qualquer auxílio a um pobre, ide tranquilamente, oferecendo a Deus essa boa obra como prolongamento da oração. E não tenhais nenhum escrúpulo ou remorso de consciência se, para prestar serviço aos pobres, tivestes de deixar a oração. De facto não se trata de deixar a Deus, se é por amor de Deus que deixamos a oração: servir um pobre é também servir a Deus.
A caridade é a máxima norma, e tudo deve tender para ela; é uma grande senhora: devemos cumprir o que ela manda. Renovemos, portanto, o nosso espírito de serviço aos pobres, principalmente para com os mais abandonados. Esses hão de ser os nossos senhores e protetores.
Sobre São Vicente de Paulo, neste blogue, aqui!

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

São Cosme e São Damião, Mártires

Nota biográfica:
       Cosme e Damião eram irmãos gémeos, médicos de profissão e santos na vocação da vida. Viveram no Oriente e, desde jovens, médicos competentes e dedicados. Com a conversão passaram a ser também missionários, à medicina associaram a confiança no poder da oração e a muitos levaram a saúde do corpo e da alma.
       Como tantos outros homens e mulheres, também Cosme e Damião foram vítimas da
perseguição de Diocleciano. Forma presos, pelo ano 300 da era cristã, sendo considerados inimigos dos deuses e acusados de usar feitiçarias e meios diabólicos para disfarçar as curas. Em resposta à acusação, a sua resposta é uma profissão de fé, clara e decidida: "Nós curamos as doenças, em nome de Jesus Cristo e pelo seu poder!"
       Quanto aos deuses, proclamados em nome do Imperador, e cuja a adoração os libertaria da prisão e da morte, eles respondiam com firmeza: "Teus deuses não têm poder algum, nós adoramos o Criador do céu e da terra!"
      Foram decapitados no ano de 303. São considerados os padroeiros dos farmacêuticos, médicos e das faculdades de medicina.

Oração depois da Comunhão:
       Conservai em nós, Senhor, este dom que recebemos da vossa bondade, ao celebrarmos a memória dos santos mártires Cosme e Damião e fazei que ele seja para nós fonte de salvação e de paz. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Santo Agostinho, bispo

É preciosa a morte dos mártires cujo preço foi a morte de Cristo

Diante de tão gloriosas heroicidades dos santos mártires, com que floresce a Igreja por toda a parte, verificamos com os nossos próprios olhos quanto é verdadeiro o que cantámos: É preciosa aos olhos do Senhor a morte dos seus fiéis; porque é preciosa aos nossos olhos e aos olhos d’Aquele por cujo nome se ofereceu.
Mas o preço destas mortes é a morte de um só. Quantas mortes terá resgatado a morte de um só, que, se não morresse, seria como o grão de trigo que não frutifica? Recordais as suas palavras, quando Se aproximava da paixão, isto é, quando Se aproximava da nossa redenção: Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, permanece só; mas se morrer, dá muito fruto.
Ele fez realmente na cruz um grande negócio. Aí foi aberta a bolsa que tinha o preço do nosso resgate: quando o seu lado foi aberto pela lança do soldado, dele saiu o preço do mundo inteiro. Foram resgatados os fiéis e os mártires; mas a fé dos mártires foi comprovada; o testemunho é o sangue derramado. Retribuíram o que tinha sido pago em seu favor, cumprindo o que diz São João: Assim como Cristo deu a sua vida por nós, também nós devemos dar a vida pelos irmãos. E noutro lugar diz se: Se te sentas a uma grande mesa, repara com atenção no que te servem, porque também tu deves preparar coisa igual.
Grande mesa é aquela em que os manjares são o próprio Senhor da mesa! Ninguém se dá a si mesmo aos convivas em alimento; isto fá-lo Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é quem convida, Ele é o alimento e a bebida. Compreenderam bem os mártires o que comeram e beberam, para retribuírem de igual modo.
Mas com que retribuiriam eles, se Aquele que foi o primeiro a pagar não lhes desse com que retribuir? Que retribuirei ao Senhor por tudo quanto me concedeu? Tomarei o cálice da salvação. Que cálice é este? É o cálice da paixão, amargo mas salutar, o cálice em que o doente recearia tocar, se o médico não bebesse primeiro. Ele próprio é este cálice; reconhecemos este cálice pelas palavras de Cristo, quando dizia: Pai, se é possível, afaste se de Mim este cálice. Do mesmo cálice disseram os mártires: Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor.
E não temes que para isso te faltem as forças? Não, responde o mártir, porque invocarei o nome do Senhor. Como poderiam os mártires vencer, se não vencesse nos mártires Aquele que disse: Alegrai-vos, porque Eu venci o mundo? O Senhor dos Céus dirigia o espírito e a palavra deles; por eles vencia o demónio na terra e coroava os mártires no Céu. Oh bem aventurados aqueles que assim beberam deste cálice! Terminaram as dores e receberam as honras.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Minha família? Aqueles que ouvem a palavra de Deus...

       Vieram ter com Jesus sua Mãe e seus irmãos, mas não podiam chegar junto d’Ele por causa da multidão. Então disseram-Lhe: «Tua Mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-Te». Mas Jesus respondeu-lhes: «Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 8, 19-21).
       Os laços de sangue certamente são demasiado importantes. No entanto, nem só de laços de sangue nos alimentamos. Por um lado, constatamos amiúde que os laços de sangue nem sempre são suficientes para garantirem a segurança das pessoas, a vivência pacífica e solidária, a proteção dos vários membros. E dessa forma acabamos por concluir que mais importante que as "amarras" da consanguinidade são os sentimentos, o amor, os afetos. O ideal é que os laços de sangue sejam fortalecidos pelos laços da caridade. Sabendo nós que é do amor que nascem (e devem nascer) as famílias.
       Por outro lado, a família de Jesus era um espaço de amor, de diálogo, de apoio mútuo, aberta aos vizinhos, e aos estrangeiros e pobres que passavam ali por Nazaré, e a quem davam alimento e guarida. Por conseguinte, quando lhe falam da família, sem menosprezar antes inspirado na original, Jesus alarga a concepção da família e as condições para lhe pertencermos: escutar a palavra de Deus e pô-la em prática.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Não há nada oculto que não se torne manifesto

       Disse Jesus à multidão: «Ninguém acende uma lâmpada para a cobrir com uma vasilha ou a colocar debaixo da cama, mas coloca-a num candelabro, para que os que entram vejam a luz. Não há nada oculto que não se torne manifesto, nem secreto que não seja conhecido à luz do dia. Portanto, tende cuidado com a maneira como ouvis. Pois àquele que tem, dar-se-á; mas àquele que não tem, até o que julga ter lhe será tirado» (Lc 8, 16-18).
        Jesus dá-nos um conselho importante: não desperdicemos os talentos que Deus nos dá. E quanto mais os pusermos a render mais eles valem para nós e para os outros. Se ficarmos com os talentos para nós, não servem para os outros mas também não nos são úteis a nós. Quanto mais nos dermos, mais receberemos. O dom, com efeito, só o é verdadeiramente na partilha.
       A imagem da luz... quando acesa serve para alumiar toda a casa e toda a vida. Não se esconde. Para isso deixava-se ficar apagada. O que fazemos está sempre visível para nós e para Deus, pelo que a constante não deverá ser o medo mas o compromisso para deixarmos Deus agir em nós e através de nós. É também um convite à coerência de vida, entre o que mostramos e o que somos, entre o que damos aos outros a ver e aquilo que brota do nosso coração, entre o que podemos esconder e o que revelamos.
       A luz da Fé guia-nos para a verdade, para o bem, para Deus, compromete-nos com os outros e com a transformação do mundo em que vivemos. A fé é é obscurantismo que nos afasta da realidade ou encobre deficiências de compreensão ou de justificações nas dificuldades da vida. Como sublinha Bento XVI, e que Francisco visualiza, a Fé leva-nos além da dúvida. Não se opõe à ciência. Pressupõe-na, na certeza que o essencial, o amor, os afetos, a ligação aos outros, ultrapassa qualquer ciência positivista. A luz da Fé introduz-nos na alegria e na esperança. Não estamos sós e não desapareceremos com a morte.
       Hoje, escondo a minha fé? Por preguiça? Por comodismo? Ou deixo que a Luz da Fé me faça transparecer para os outros e para o mundo o Deus que me habita? Pelas palavras e pelos gestos, pela voz e pela vida?

sábado, 22 de setembro de 2018

O semeador saiu para semear a sua semente

        Ele falou-lhes por meio da seguinte parábola:
       «O semeador saiu para semear a sua semente. Quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho: foi calcada e as aves do céu comeram-na. Outra parte caiu em terreno pedregoso: depois de ter nascido, secou por falta de humidade. Outra parte caiu entre espinhos: os espinhos cresceram com ela e sufocaram-na. Outra parte caiu em boa terra: nasceu e deu fruto cem por um».
       Dito isto, exclamou: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça».
       Os discípulos perguntaram a Jesus o que significava aquela parábola e Ele respondeu:
       «A vós foi concedido conhecer os mistérios do reino de Deus, mas aos outros serão apresentados só em parábolas, para que, ao olharem, não vejam, e, ao ouvirem, não entendam. É este o sentido da parábola: A semente é a palavra de Deus. Os que estão à beira do caminho são aqueles que ouvem, mas depois vem o diabo tirar-lhes a palavra do coração, para que não acreditem e se salvem. Os que estão em terreno pedregoso são aqueles que, ao ouvirem, acolhem a palavra com alegria, mas, como não têm raiz, acreditam por algum tempo e afastam-se quando chega a provação. A semente que caiu entre espinhos são aqueles que ouviram, mas, sob o peso dos cuidados, da riqueza e dos prazeres da vida, sentem-se sufocados e não chegam a amadurecer. A semente que caiu em boa terra são aqueles que ouviram a palavra com um coração nobre e generoso, a conservam e dão fruto pela sua perseverança» (Lc 8, 4-15)
       Para que melhor possamos compreender e sobretudo para que possamos acolher e viver em Reino de Deus, Jesus narra diversas parábolas. Hoje é sobre o semeador que saiu a semear... depois falar-nos-á do proprietário que nas diferentes horas dos dias sai à praça para chamar trabalhadores para a sua vinha, por outras palavras, chama-nos ao Seu reino de amor a todas as horas da nossa vida.
       Somos convidados a tornarmo-nos terra fértil para que a Palavra de Deus germine em abundância em nós, e através de nós, pelo testemunho de vida, germine para o mundo que nos rodeia.
       Nem sempre somos a terra fértil. Quantas vezes nos tornamos inóspitos, terra árida, ressequida, sem água, dura como a pedra, no cansaço, na irritação, no ódio, na inveja, no ciúme, na sede de vingança. Mas Deus não cessa de lançar a semente à terra. Cabe-nos cuidar da nossa casa, na terra que é a nossa vida, para que irrigados do amor, do perdão, da bondade de Deus possamos acolhê-l'O, partilh'a-l'O, comunicá-lO ao mundo inteiro.
sobre esta parábola pode ver  a Reflexão Dominical, proposta para o XV Domingo do tempo Comum (2011).

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

São Mateus, Apóstolo e Evangelista

       Mateus foi chamado por Jesus no seu posto de cobrança. Era conhecido como publicano, o que equivalia a ser tido como traidor para com o povo judeu. Os cobradores de impostos estavam ao serviço do império romano, o povo opressor. E, por outro lado, os impostos eram muito elevados, pois visavam sustentar toda a máquina da opressão, soldados, oficiais, dirigentes, para lá dos impostos que beneficiavam directamente o cobrador.
       Exercia a sua profissão em Cafarnaum. Dotado de certa cultura.
       Deixa tudo para seguir Jesus.
       De Apóstolo, torna-se evangelista. Recolhe informações sobre a vida e a missão de Jesus e põe por escrito, no Evangelho que leva o seu nome, escrito entre 62 e 70 da nossa era.
       "Naquele tempo, Jesus ia a passar, quando viu um homem chamado Mateus, sentado no seu posto de cobrança dos impostos, e disse-lhe: 'Segue-me?. Ele levantou-se e seguiu Jesus" (Mt 9, 9-13).

Oração de colecta:
       Senhor nosso Deus, que, na vossa infinita misericórdia, escolhestes o publicano Mateus para vosso Apóstolo, concedei-nos que, ajudados pelo seu exemplo e intercessão, Vos sigamos fielmente e nos entreguemos a Vós de todo o coração. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

HOMILIA que se segue serviu de inspiração a Francisco para o lema episcopal, e que manteve como Papa: miserando atque eligendo - olhou-o com misericórdia e escolheu-o...

Das Homilias de São Beda Venerável, presbítero

Jesus viu-o, compadeceu-Se dele e chamou-o

Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: Segue-Me. Viu-o não tanto com os olhos do corpo, como com o seu olhar interior, cheio de misericórdia. Jesus viu um publicano e compadeceu-Se dele; escolheu-o e disse-lhe: Segue-Me, isto é, imita-Me. Disse para O seguir não tanto com os seus passos como no modo de viver. Porque, quem diz que permanece em Cristo, deve também proceder como Ele procedeu.
Mateus levantou-se e seguiu-O. Não devemos admirar nos de que o publicano, ao primeiro chamamento do Senhor, abandonasse os negócios terrenos em que estava ocupado e, renunciando aos seus bens, seguisse Aquele que via totalmente desprovido de riquezas. É que o Senhor chamava o exteriormente com a sua palavra, mas iluminava o de um modo interior e invisível para que O seguisse, infundindo na sua mente a luz da graça espiritual, para que pudesse compreender que Aquele que na terra o afastava dos negócios temporais, lhe podia dar no Céu tesouros incorruptíveis.
E quando Ele estava sentado à mesa em sua casa, vieram muitos publicamos e pecadores e sentaram se à mesa com Jesus e os seus discípulos. A conversão de um publicano deu a muitos publicanos e pecadores um exemplo de penitência e de perdão. Foi, na verdade, um belo e feliz precedente: aquele que havia de ser apóstolo e doutor das gentes, atraiu consigo ao caminho da salvação, logo no primeiro momento da sua conversão, um numeroso grupo de pecadores. Deste modo, já desde os primeiros indícios da sua fé, começou o ministério de evangelização que mais tarde havia de desempenhar, quando chegasse à perfeição das suas virtudes.
Se desejamos compreender mais profundamente o significado destes factos, devemos observar que Mateus não se limitou a oferecer ao Senhor um banquete corporal na sua casa terrestre, mas preparou-Lhe com a sua fé e o seu amor um banquete muito mais agradável na morada interior do seu coração, segundo o testemunho d’Aquele que diz: Eu estou à porta e chamo; se alguém ouvir a minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo.
Tendo ouvido a sua voz, nós abrimos-Lhe a porta para O receber quando damos o nosso livre assentimento às suas advertências interiores ou exteriores e pomos em prática o que sabemos ser sua vontade. E Ele entra para cear, Ele connosco e nós com Ele, porque habita no coração dos eleitos pela graça do seu amor, para os alimentar continuamente com a luz da sua presença, a fim de que se elevem cada vez mais para os desejos celestes, e Ele próprio seja saciado com as aspirações eternas dos seus eleitos, que são o mais delicioso manjar que Lhe podem oferecer.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

SS. André Kim Taegon, presbítero, Paulo Chong Hasang e Companheiros, mártires

Nota Biográfica:
       No início do século XVII, por iniciativa de alguns leigos, entrou pela primeira vez a fé cristã na Coreia. Assim se formou uma comunidade forte e fervorosa, sem pastores, quase só conduzida por leigos, até ao ano 1836, durante o qual chegaram os primeiros missionários, vindos de França, que entraram furtivamente na região. Nas perseguições dos anos 1839, 1846 e 1866, surgiram desta comunidade 103 santos mártires, entre os quais se distinguem o primeiro presbítero e ardente pastor de almas André Kim Taegon e o insigne apóstolo leigo Paulo Chong Hasang. Os outros são quase todos leigos, homens e mulheres, casados ou não, anciãos, jovens e crianças, que, suportando o martírio, consagraram com o seu glorioso sangue os florescentes primórdios da Igreja coreana.
Oração de colecta:
        Deus, criador e salvador de todos os povos, que, nas terras da Coreia, de modo admirável chamastes à fé católica um povo de adopção filial e o fizestes crescer pelo glorioso testemunho dos santos mártires André, Paulo e seus companheiros, concedei que, a seu exemplo e por sua intercessão, também nós permaneçamos até à morte fiéis aos vossos mandamentos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Da última exortação de Santo André Kim Taegon, presbítero e mártir

A fé é coroada pelo amor e pela perseverança

Irmãos e amigos caríssimos, pensai e refleti atentamente: No início dos tempos, Deus criou o céu e a terra e todo o universo; meditai por que razão e com que finalidade Ele formou o homem à sua imagem e semelhança, como diz a Escritura.
Portanto, se neste mundo de perigos e misérias, não reconhecêssemos o Senhor como nosso criador, de nada nos aproveitaria ter nascido e continuar a viver. Viemos a este mundo pela graça de Deus; pela graça de Deus recebemos o Batismo e entrámos na Igreja, tornando-nos discípulos do Senhor e adquirindo um nome glorioso. Mas de que serviria tão grande nome sem a verdadeira realidade? Perderia de facto todo o sentido ter vindo ao mundo e entrado na Igreja; mais ainda, seria uma ofensa ao Senhor e à sua graça. Mais valeria não ter nascido do que receber a graça do Senhor e pecar contra Ele.
Considerai o agricultor que faz a sementeira no seu campo: em tempo oportuno lavra a terra; depois aduba a e lança a semente, não se poupando a canseiras sob o ardor do sol. Quando chega o tempo da colheita, se encontra as espigas cheias de grão, exulta de alegria, esquecendo os trabalhos e suores. Mas se as espigas estão vazias e nada resta senão palha e cascas, então o agricultor, recordando a dureza dos trabalhos e suores, tanto mais decididamente abandona o campo quanto mais cuidadosamente o cultivara.
De modo semelhante, o Senhor faz do mundo o seu campo: nós somos o seu arroz; o adubo é a graça; mediante a Encarnação e Redenção Ele nos rega com o seu Sangue, para que possamos crescer e chegar à maturidade. Quando chegar o tempo da colheita, no dia do Juízo, quem estiver amadurecido pela graça gozará a felicidade no reino dos Céus, como filho adoptivo de Deus; mas aquele que não estiver amadurecido será seu inimigo, embora tenha sido, também ele, filho adoptivo de Deus, e merecerá ser punido com o castigo eterno.
Sabeis, irmãos caríssimos, que Nosso Senhor Jesus Cristo, vindo ao mundo, suportou inúmeras dores e pela sua Paixão fundou a santa Igreja, que continua a aumentar pela paixão dos seus fiéis. Por mais que os poderes deste mundo a oprimam e combatam, nunca poderão prevalecer. Depois da Ascensão de Jesus, desde os tempos dos Apóstolos até aos nossos dias, a santa Igreja por toda a parte cresceu no meio das tribulações.
Pois bem. Durante estes cinquenta ou sessenta anos, isto é, desde que a santa Igreja entrou na nossa Coreia, os fiéis sofreram constantes perseguições; e ainda hoje grassa o furor da perseguição, de tal modo que numerosos amigos foram encarcerados pela mesma fé, como eu próprio, e também vós permaneceis no meio da tribulação. Uma vez que formamos um só corpo, como não estar tristes no íntimo do coração? Como deixar de experimentar o sentimento humano desta separação dolorosa?
No entanto, como diz a Escritura, Deus vela pelo mais pequeno cabelo da nossa cabeça e toma o a seu cuidado na sua omnisciência; portanto, como poderemos considerar tão grande perseguição, senão como ordem de Deus ou sua recompensa ou porventura seu castigo?
Aceitai portanto a vontade de Deus e combatei corajosamente pelo capitão divino Jesus e vencei o demónio neste mundo, já vencido por Cristo.
Peço-vos, irmãos: não negligencieis o amor fraterno, mas ajudai vos mutuamente e sede perseverantes até que o Senhor tenha piedade de nós e afaste a tribulação.
Estamos aqui vinte pessoas e pela graça de Deus ainda todos se encontram de saúde. Se algum for morto, peço-vos que não vos esqueçais da sua família. Tenho muitas coisas a dizer-vos, mas como posso exprimi-las com papel e tinta? Termino a carta. Como estamos já próximos do combate, rogo-vos que vivais firmes na fé, de modo que um dia entremos no Céu e lá nos encontremos para gozar da alegria comum. Despeço-me com o ósculo do meu amor.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

A Sabedoria é justificada por todos os seus filhos

       Disse Jesus à multidão: «A quem hei-de comparar os homens desta geração? Com quem se parecem? São como as crianças, que, sentadas na praça, falam umas com as outras, dizendo: ‘Tocámos flauta para vós e não dançastes, entoámos lamentações e não chorastes’. Porque veio João Baptista, que não comia nem bebia vinho, e vós dizeis: ‘Tem o demónio com ele’. Veio o Filho do homem, que come e bebe, e vós dizeis: ‘É um glutão e um ébrio, amigo de publicanos e pecadores’. Mas a Sabedoria é justificada por todos os seus filhos» (Lc 7, 31-35).
       Perante um atitude de incredulidade, Jesus sugere uma comparação das pessoas daquele tempo, e deste também, a crianças que se lamentam pelas outras que não aderem às brincadeiras, nem de uma outra forma nem de outra. Nas crianças até se compreendem, por vezes fazem apenas o que lhes apetece e respondem com espontaneidade. Nos adultos, a comparação insinua o cinismo como muitas vezes nos colocamos diante de desafios concretos.
       Indiferença, desprezo pelas propostas dos outros e por tudo o que se apresenta como novidade, sem razões, sem ponderação, simplesmente porque "não fui eu a propor", ou não foi ninguém do meu grupo. Nem quente nem frio, morno. Nem lá vou nem faço míngua. Nem carne nem peixe. Não faço e quando outros fazem não quero saber. Leia-se o comentário do Apocalipse, dirigindo-se à Igreja de Laodiceia: "Conheço as tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente. Assim, porque és morno - e não és frio nem quente - vou vomitar-te da minha boca" (Ap 3, 15-16).
       Jesus faz uma constatação face às reações diante de duas maneiras diferentes de cumprir a vontade de Deus, mas que não oferecem muita adesão. João Batista, com a sua forma de vestir e de se situar à margem, ou à entrada do povo, é olhado de lado, como esquisito, estranho; Jesus entra no povo, está com as pessoas, segue um padrão de vida mais normal, mas nem assim é visto com bons olhos, mas com suspeição. Por outras palavras, trata-se de provocar uma reação nas pessoas, de as despertar, de elas fazerem opções...

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Jovem, Eu te ordeno: levanta-te

        Dirigia-Se Jesus para uma cidade chamada Naim; iam com Ele os seus discípulos e uma grande multidão. Quando chegou à porta da cidade, levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva. Vinha com ela muita gente da cidade. Ao vê-la, o Senhor compadeceu-Se dela e disse-lhe: «Não chores». Jesus aproximou-Se e tocou no caixão; e os que o transportavam pararam. Disse Jesus: «Jovem, Eu te ordeno: levanta-te». O morto sentou-se e começou a falar; e Jesus entregou-o à sua mãe. Todos se encheram de temor e davam glória a Deus, dizendo: «Apareceu no meio de nós um grande profeta; Deus visitou o seu povo». E a fama deste acontecimento espalhou-se por toda a Judeia e pelas regiões vizinhas (Lc 7, 11-17).
       A fama de Jesus vai-se espalhando por toda a parte. Deus está entre nós, Deus visitou o Seu povo. As palavras, os gestos, a denúncia dos abusos dos poderosos, a intervenção a favor dos mais desprotegidos da sociedade, o acolhimento dos marginalizados da sociedade, da religião e da vida, o convívio com a "escumalha", a cura de doentes, o diálogo com todas as pessoas, o expulsar e exorcizar de todas as forças demoníacas/diabólicas, a salvação que se alarga e comunica aos estrangeiros, como ontem ao Centurião, representante da autoridade colonizadora, curando o seu servo, as companhias que traz conSigo, a delicadeza diante de pessoas magoadas com a vida, o perdão dos pecados a quem já não se considera digno, tudo isto fazem d'Ele uma pessoa querida e querida sobretudo das pessoas mais simples. Dos simples e puros de coração será o reino de Deus.
       Jesus passa por nós e cura-nos. Jesus ia a passar e, vendo o sofrimento atroz daquela mãe, não poderia ficar indiferente. Nem foi preciso que alguém viesse interceder. Sendo viúva, e perdendo agora o filho, aquela mãe perdia o seu maior e único tesouro e socialmente ficaria totalmente exposta, não teria nenhuma forma de sustento que não fosse mendigar esmolas. Jesus reabilita esta mãe ressuscitando-lhe o filho, antecipando  e visualização a Sua ressurreição.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Não sou digno que entreis em minha morada...

       Um centurião tinha um servo a quem estimava muito e que estava doente, quase a morrer. Tendo ouvido falar de Jesus, enviou-Lhe alguns anciãos dos judeus para Lhe pedir que fosse salvar aquele servo. Quando chegaram à presença de Jesus, os anciãos suplicaram-Lhe insistentemente: «Ele é digno de que lho concedas, pois estima a nossa gente e foi ele que nos construiu a sinagoga». Jesus acompanhou-os. Já não estava longe da casa, quando o centurião Lhe mandou dizer por uns amigos: «Não Te incomodes, Senhor, pois não mereço que entres em minha casa, nem me julguei digno de ir ter contigo. Mas diz uma palavra e o meu servo será curado. Porque também eu, que sou um subalterno, tenho soldados sob as minhas ordens. Digo a um ‘Vai’ e ele vai; e a outro ‘Vem’ e ele vem; e ao meu servo ‘Faz isto’ e ele faz». Ao ouvir estas palavras, Jesus sentiu admiração por ele e, voltando-se para a multidão que O seguia, exclamou: «Digo-vos que nem mesmo em Israel encontrei tão grande fé». Ao regressarem a casa, os enviados encontraram o servo de perfeita saúde (Lc 7, 1-10).
        O encontro de Jesus com o Centurião (por intermédio dos seus emissários) mostra como é fundamental a tolerância e a colaboração com aqueles que não fazem parte da nossa religião, da nossa ideologia, do nosso partido, do nosso grupo. Por um lado a abertura do Centurião, um homem justo, honesto, crente, que ora ajuda os judeus, apesar de estar em nome da força dominadora, ora recorre a Jesus, depois de ter ouvido maravilhas acerca d'Ele, pedindo auxílio, não para si ou para a sua família, mas para um dos seus criados a quem ele estima.
       Por outro lado, Jesus mostra claramente que não é preciso ser judeu, pertencer a esta ou àquela religião para se ser bom e para fazer o bem. É um convite à tolerância, à compreensão, ao acolhimento do bem que nos chega dos outros, uma vez que todo o bem nos aproxima de Deus. Mas isso não alivia a nossa responsabilidade, todos podem ser bons, mas pelo facto de sermos cristãos a nossa consciência deve estar ainda mais apurada...
       O testemunho que Jesus dá acerca do centurião foi assumido e sublinhado pela Igreja, incluindo na Eucaristia a sua profissão de fé: "Não Te incomodes, Senhor, pois não mereço que entres em minha casa, nem me julguei digno de ir ter contigo. Mas diz uma palavra e o meu servo será curado" (na Liturgia: "Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei um palavra e eu serei salvo").

Nossa Senhora das Dores

       "Estavam junto à cruz de Jesus sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cleófas, e Maria Madalena. Ao ver a sua Mãe e o discípulo predilecto, Jesus disse a sua Mãe: «Mulher, eis aí o teu filho». Depois disse ao discípulo: «Eis aí a tua Mãe». E a partir daquela hora, o discípulo recebeu-a em sua casa" (Jo 19, 25-27).

       "O pai e a mãe do Menino Jesus estavam admirados com o que se dizia d’Ele. Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua Mãe: «Este Menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; – e uma espada trespassará a tua alma – assim se revelarão os pensamentos de todos os corações» (Lc 2, 33-35).
       A memória de Nossa Senhora das Dores mostra-nos o drama desta Mãe e de tantas mães que sofrem mais pelo que os filhos passam que pelas suas próprias dores. Maria acompanha o Seu Filho até à morte, prisão, acusação, mal tratos, crucifixão, escárnio. Jesus dá-nos Maria por Mãe, e confia-nos a Maria, como filhos.
       Depois de morto, colocam Jesus nos braços de Maria, sua Mãe. Os mesmos braços que O acariciaram ao nascer, O acolhem depois de morrer.

Oração de Colecta:
       Senhor, que, na vossa admirável providência, quisestes que, junto do vosso Filho, elevado sobre a cruz, estivesse sua Mãe, participando nos seus sofrimentos, concedei à vossa Igreja que, associada com Maria à paixão de Cristo, mereça ter parte na sua ressurreição. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Festa da Exaltação da Santa Cruz

"Cristo Jesus, que era de condição divina,
não Se valeu da sua igualdade com Deus,
mas aniquilou-se a Si próprio.
Assumindo a condição de servo,
tornou-Se semelhante aos homens.
Aparecendo como homem,
humilhou-se ainda mais,
obedecendo até à morte e morte de cruz"
(Filp 2, 6-11).
Nota histórica:
       Foi na Cruz que Jesus Cristo ofereceu ao Pai o Seu Sacrifício, em expiação dos pecados de todos os homens. Por isso, é justo que veneremos o sinal e o instrumento da nossa libertação.
       Objecto de desprezo, patíbulo de infâmia, até ao momento em que Jesus «obediente até à morte» nela foi suspenso, a Cruz tornou-se, desde então, motivo de glória, pólo de atracção para todos os homens.
       Ao celebrarmos esta festa, nós queremos proclamar que é da cruz, «sinal do amor universal de Deus, fonte de toda a graça» (N.A., 4) que deriva toda a vida de Igreja. Queremos também manifestar o nosso desejo de colaborar com Cristo na salvação dos homens, aceitando a Cruz, que a carne e o mundo fizeram pesar sobre nós (G.S. 38).

Oração de Colecta:
       Senhor, que, na vossa infinita misericórdia, quisestes que o vosso Filho sofresse o suplício da cruz para salvar o género humano, concedei que, tendo conhecido na terra o mistério de Cristo, mereçamos alcançar no Céu os frutos da redenção. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam

       «Digo-vos a vós que Me escutais: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam. Abençoai os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos injuriam. A quem te bater numa face, apresenta-lhe também a outra; e a quem te levar a capa, deixa-lhe também a túnica. Dá a todo aquele que te pedir e ao que levar o que é teu, não o reclames. Como quereis que os outros vos façam, fazei-lho vós também... amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem nada esperar em troca. Então será grande a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo, que é bom até para os ingratos e os maus. Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados. Não condeneis e não sereis condenados. Perdoai e sereis perdoados. Dai e dar-se-vos-á: deitar-vos-ão no regaço uma boa medida, calcada, sacudida, a transbordar. A medida que usardes com os outros será usada também convosco» (Lc 6, 27-38).
       O Evangelho deste dia está repleto de recomendações essenciais de Jesus.
       Para lá regra de ouro - faz aos outros o que queres que te façam a ti - Jesus acentua a misericórdia, a generosidade, o amor até aos inimigos, a compreensão com o próximo. A lei de talião - olho por olho, dente por dente - não cabe nas contas de Jesus: "a quem te bater numa face, apresenta-lhe também a outra".
       A caridade, ao jeito de Jesus, deve presidir a todos os nossos atos... quando estivermos irritados com alguém, como tem recomendado o Papa Francisco, rezemos por ele. Abençoemos em vez de condenarmos. Não julguemos. Não percamos tempo em juízos de valor acerca dos outros. Rezemos por todos.

São João Crisóstomo, Bispo e doutor da Igreja

Nota biográfica:
       Nasceu em Antioquia, cerca do ano 349. Depois de ter recebido uma excelente educação, dedicou se à vida ascética; e, tendo sido ordenado sacerdote, consagrou se com grande fruto ao ministério da pregação. Eleito bispo de Constantinopla no ano 397, revelou grande zelo e competência nesse cargo pastoral, atendendo em particular à reforma dos costumes, tanto do clero como dos fiéis. A oposição da corte imperial e de outros inimigos pessoais levou o por duas vezes ao exílio. Perseguido por tantas tribulações, morreu em Comana (Ponto, Ásia Menor) no dia 14 de Setembro do ano 407. A sua notável diligência e competência na arte de falar e escrever, para expor a doutrina católica e formar os fiéis na vida cristã, mereceu lhe o apelativo de Crisóstomo, «boca de ouro».

Oração de (coleta):
       Senhor, fortaleza dos que esperam em Vós, que destes ao bispo São João Crisóstomo uma eloquência maravilhosa e uma grande coragem nas tribulações, concedei-nos que, iluminados pela sua sabedoria, nos fortaleça o exemplo da sua invencível constância. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


São João Crisóstomo, Antes de partir para o exílio

Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro

Muitas vagas e fortes tempestades nos ameaçam, mas não tememos ser submergidos, porque nos apoiamos na rocha firme. Por mais que se enfureça o mar, nunca poderá quebrar esta rocha; por mais que se levantem as ondas, nunca poderão afundar a nau de Jesus. Que havemos de temer? A morte? Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. O exílio? Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe. A confiscação dos meus bens? Nada trouxemos para este mundo e também nada daqui podemos levar. Para mim, os perigos deste mundo só merecem desprezo, e os seus bens não passam do ridículo. Não temo a pobreza nem ambiciono riquezas; não receio a morte nem desejo viver, senão para vosso proveito. Por isso, ao recordar vos a situação presente, exorto a vossa caridade para que tenha confiança.
Não ouvis a palavra do Senhor: Onde dois ou três se reúnem em meu nome, Eu estou no meio deles? E não estará presente o Senhor no meio de um povo tão numeroso, unido pelos vínculos da caridade? Estarei eu porventura confiado nas minhas próprias forças? Não. Eu tenho a promessa do Senhor, tenho comigo a sua palavra escrita: este é o meu bordão, esta é a minha segurança, este o meu porto tranquilo. Ainda que todo o mundo se perturbe, eu tenho a sua resposta por escrito, leio a sua Escritura: esta é a minha muralha, esta é a minha fortaleza. Que diz a Escritura? Eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo.
Cristo está comigo; a quem hei de temer? Ainda que se lancem contra mim as ondas do mar ou o furor dos príncipes, tudo isto para mim é mais desprezível do que uma teia de aranha. E se a vossa caridade me não retivesse aqui, não recusaria partir hoje mesmo para onde quer que fosse. Porque sempre estou dizendo: Senhor, seja feita a vossa vontade; não o que quer este ou aquele, mas o que Vós quereis que eu faça. Esta é a torre que me abriga, esta é a pedra firme que me sustenta, este é o bordão que não me deixa vacilar. Seja o que Deus quiser. Se Ele quer que eu permaneça aqui, fico Lhe agradecido. Se me chama para qualquer outro lado, sempre Lhe darei graças.
Onde eu estiver, ali estareis vós também; e onde estiverdes vós, ali estarei também eu. Somos um só corpo; e nem o corpo se separa da cabeça, nem a cabeça do corpo. Ainda que estejamos em lugares distantes, ficamos sempre unidos pela caridade e nem a própria morte poderá separar-nos. Porque o corpo morre, mas a alma sobrevive; e a minha alma sempre se recordará do meu povo.
Esta é a minha pátria e a minha família; vós sois os meus pais, meus irmãos e meus filhos; sois membros do mesmo corpo; sois a minha luz, uma luz mais amável que a luz do dia. Que brilho pode haver para mim mais agradável que a vossa caridade? O brilho da luz do dia é me útil na vida presente; mas a vossa caridade prepara me uma coroa para a vida futura.

Bem-aventuranças....

       Jesus, erguendo os olhos para os discípulos, disse:
       «Bem-aventurados vós, os pobres, porque é vosso o reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir. Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem, quando vos rejeitarem e insultarem e proscreverem o vosso nome como infame, por causa do Filho do homem. Alegrai-vos e exultai nesse dia, porque é grande no Céu a vossa recompensa.
       Era assim que os seus antepassados tratavam os profetas.
        Mas ai de vós, os ricos, porque já recebestes a vossa consolação! Ai de vós, que agora estais saciados, porque haveis de ter fome! Ai de vós, que rides agora, porque haveis de entristecer-vos e chorar! Ai de vós, quando todos os homens vos elogiarem!
       Era assim que os seus antepassados tratavam os falsos profetas» (Lc 6, 20-26).
        As bem-aventuranças, como a oração do Pai-nosso, encerram, de forma sintética, simples e clara, todo o Evangelho de Jesus Cristo, ou, pelo menos, o essencial da Sua mensagem.
       São um programa de vida. Para todos.
       O reino de Deus é daqueles e daquelas que estiverem dispostos a dar o melhor de si mesmos, abrindo-se à vida, acolhendo as intempéries do presente e do futuro com a mesma humildade e generosidade que as conquistas, procurando, em cada situação, retirar uma lição de vida, ajudando os outros, vivendo numa lógica de amor sem fim, perdoando as fragilidades próprias e alheias, convertendo-se à verdade, vivendo honestamente, identificando-se com Jesus Cristo, tornando-se, em gestos e palavras, um hino de louvor constante a Deus, confiando no bem, na justiça, em Deus. Assumindo o passado, mas voltados para o futuro, vivendo com alegria no presente.
       Bem-aventurados todos os que vivem, aspirando às coisas do alto, como nos refere hoje São Paulo, não apenas nos momentos fáceis da vida mas em todos os momentos.

Aniversário de D. Jacinto, Bispo Emérito de Lamego

       D. Jacinto Tomaz de Carvalho Botelho, natural de Moimenta da Beira (Prados de Cima - Vila da Rua), nasceu em 11 de Setembro de 1935.
       Entrou para o Seminário de Resende em 1946 e foi ordenado, no dia 15 de agosto de 1958, ano em que morreu o Papa Pio XII. Celebrou os 50 anos de Sacerdócio no dia 15 de agosto de 2008. Depois da Ordenação foi estudar para Roma.
       Concluídos os estudos em História da Igreja, regressou à Diocese de Lamego, concretamente ao Seminário Maior, sendo professor e integrando-se na Equipa Formadora, vindo a assumir a responsabilidade do Seminário. Entretanto, assumiu outras missões, como Vigário Geral Adjunto e Vigário Geral da Diocese. Durante algum tempo foi pároco de Sande (Lamego).
       Foi nomeado Bispo Auxiliar de Braga e a sua ordenação Episcopal, na Sé Catedral de Lamego, foi no dia 20 de janeiro de 1996, dia de S. Sebastião, Padroeiro de Lamego.
       Depois da morte de D. Américo Couto de Oliveira, Bispo antecessor, viria a assumir a responsabilidade da Diocese, tomando posse no dia 19 de março de 2000. No dia 8 de julho de 2000, seria ordenado o primeiro padre, na Diocese, pelas suas mãos, e que é o Pároco de Tabuaço, Pe. Manuel Gonçalves.
       Parabéns D. Jacinto e que a Senhora dos Remédios, a Senhora da Lapa, a Senhora da Conceição, a Senhora da Assunção, a Mãe de Jesus Cristo, continue a velar pelo seu ministério sacerdotal e episcopal.
       Atualmente a residir na cidade de Lamego, é Bispo Emérito deste nossa Diocese, desde o dia 29 de janeiro de 2012, dia da tomada de posse de D. António Couto, como Bispo de Lamego.

Aniversário do falecimento do Pe. Manuel Pinto Afonso

      Pe. Manuel Pinto Afonso, pároco de Tabuaço durante 37 anos, tendo sido também pároco em Barcos e em Pinheiros. Faleceu há quatro anos.
 
 
 
 
(Padre Manuel Pinto Afonso, na celebração presidida pelo Pe. Marcos, e com a presença do Pe. João Carlos e do actual pároco; nas duas últimas imagens, com o Pe. Cândido, pároco de Sernancelhe, na sua residência)
       
 
Pe. Manuel Pinto Afonso:
       nasceu no dia 18 de Dezembro de 1915, em Cinfães, e foi ordenado sacerdote no dia 7 de Julho de 1940. Faleceu no dia 11 de setembro de 2011, no Hospital de Lamego, com 95 anos de idade.
       Esteve como formador/professor no Seminário Maior por algum tempo, depois de ter sido ordenado, tendo-se tornado uma referência para o actual Bispo de Lamego, D. Jacinto Tomás de Carvalho Botelho, que via nele um modelo de sacerdote a seguir.
       Foi depois coadjuvar na paroquilidade de Ferreiros, sua terra natal. Na Igreja Paroquial, onde foi baptizado viria acolher o enlace matrimonial dos pais do actual Bispo de Aveiro, D. António Francisco dos Santos, a quem também baptizou.
       Algum tempo depois, foi nomeado pároco de Tendais, também no concelho de Cinfães.
       Entretanto veio para o Concelho/Arciprestado de Tabuaço, assumindo a paroquialidade de Barcos, Adorigo e Santa Leocádia, e colaborando como professor no Externato de Tabuaço. Foi nomeado pároco de Tabuaço, em 1961, assumindo também a direcção do Externato de Tabuaço, sucedendo ao Pe. Abel Ferreira Alves.
       Segundo D. Jacinto, ao longo da sua vida de sacerdote, manifestou uma grande predilecção por Nossa Senhora da Conceição, pelo que a Festa da Imaculada Conceição, Padroeira de Tabuaço, era um dos momentos mais queridos do pároco e da comunidade, bem como a novena que precede a Festa.
 
        Em 8 de Dezembro de 1988, foi benzido o monumento em honra de Nossa Senhora da Conceição, que está sobre a Vila de Tabuaço e que exprime a forte devoção à Padroeira.
       Era um homem de oração e reconhecido pregador. Foi Arcipreste de Tabuaço durante muitos anos. A sua dedicação pastoral traduziu-se também no movimento dos Cursos de Cristandade, que tiveram, por sua iniciativa, uma grande implantação em Tabuaço, tornando-se a Residência Paroquial (actual Centro Paroquial) lugar para as reuniões dos cursistas de Tabuaço, mas também de Arciprestados vizinhos.
       Como professor, foi-lhe reconhecida a mestria nomeadamente em Português (Língua Portuguesa), mas em outras áreas. Aliás, foi com o propósito de ser um dos professores do Externato que terá sido "puxado" para a paroquilidade de Barcos, Adorigo e Santa Leocádia, as paróquias que estavam disponíveis no Arciprestado. Até que veio para a Vila e assumiu a direcção do Externato, onde muitas pessoas prosseguiram os seus estudos, abrindo portas para o futuro profissional.
       Nos últimos anos tinha a colaboração do Pe. Luís na paroquialidade de Tabuaço e Pinheiros. Ou melhor foram constituídos como Equipa Sacerdotal, segundo o Sr. Bispo D. Jacinto, a primeira da Diocese de Lamego, englobando o espaço pastoral: Tabuaço, Pinheiros, Barcos, Adorigo, Santa Leocádia.
       Foi sepultado na sua terra natal, Ferreiros, de Cinfães, no dia 12 de setembro de 2011, um dia depois da sua morte. Presidiu às Exéquias solenes o Bispo de Lamego, D. Jacinto. Concelebraram o Bispo de Aveiro, D. António, e muitos sacerdotes da Diocese de Lamego, entre os quais os sacerdotes a exercer em Tabuaço, Pe. Luís, atual pároco de Barcos, Adorigo e Santa Leocádia, e que com ele formou equipa sacerdotal durante alguns anos, Pe. Ildo, pároco de Chavães e Arcos, Pe. Filipe, que nos últimos anos ia a sua casa celebrar Eucaristia com ele, o atual pároco de Tabuaço e Pinheiros, Pe. Manuel Gonçalves.
       A Igreja em que nasceu para a fé, estava repleta, de familiares e das pessoas que o acompanharam ao longo dos anos e dele cuidaram, de muitos amigos, a comunidade paroquial de Ferreiros, e da comunidade paroquial de Tabuaço, o Presidente da Câmara Municipal de Tabuaço, Dr. João Ribeiro, uma representação dos Bombeiros de Tabuaço.

Passou a noite a rezar a Deus... escolheu 12 Apóstolos

       Jesus subiu ao monte para rezar e passou a noite em oração a Deus. Quando amanheceu, chamou os discípulos e escolheu doze entre eles, a quem deu o nome de apóstolos: Simão, a quem deu também o nome de Pedro, e seu irmão André; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu, Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado o Zelota; Judas, irmão de Tiago, e Judas Iscariotes, que veio a ser o traidor. Depois desceu com eles do monte e deteve-Se num sítio plano, com numerosos discípulos e uma grande multidão de pessoas de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sidónia. Tinham vindo para ouvir Jesus e serem curados das suas doenças. Os que eram atormentados por espíritos impuros também ficavam curados. Toda a multidão procurava tocar Jesus, porque saía d’Ele uma força que a todos sarava (Lc 6, 12-19).
        A oração, diálogo e intimidade com Deus (Pai) é uma constante na vida de Jesus.
      Nos momentos mais importantes da Sua vida e missão, Jesus é apresentado em oração, por vezes toda a noite. Ora Se retira para o monte, para o deserto (antes da vida pública), ora se retira para um lugar afastado, ora Se afasta dos discípulos e da multidão. O "pão-nosso de cada dia" de Jesus é a oração, a sintonia com Deus, a disponibilidade constante para realizar a vontade do Pai.
       Depois da oração Jesus está mais preparado para a missão. Está mais alerta, mais confiante, mais esclarecido do caminho a seguir.
       É depois da noite de vigília, de oração, que Jesus escolhe 12 Apóstolos de entre os seus muitos discípulos.
       Logo, desce do monte e rodeado dos discípulos, aproxima-se da multidão que chega para O ouvir e ser curada das muitas enfermidades, corporais e espirituais...

Levanta-te, põe-te de pé, estende a mão!

       Jesus entrou numa sinagoga a um sábado e começou a ensinar. Estava lá um homem com a mão direita paralítica. Os escribas e fariseus observavam Jesus, para verem se Ele ia curar ao sábado e encontrarem assim um pretexto para O acusarem. Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse ao homem que tinha a mão paralítica: «Levanta-te e põe-te de pé, aí no meio». O homem levantou-se e ficou de pé. Depois Jesus disse-lhes: «Eu pergunto-vos se é permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar a vida ou tirá-la». Então olhou para todos à sua volta e disse ao homem: «Estende a mão». Ele assim fez e a mão ficou curada. Os escribas e fariseus ficaram furiosos e começaram a falar entre si do que haviam de fazer a Jesus (Lc 6, 6-11).
 
       Jesus entra numa sinagoga, lugar de oração, de escuta da Sagrada Escritura, e de reflexão, para os judeus. Aproveita a ocasião para ensinar. Entre os presentes um homem com a mão direita paralítica. Os doutores da lei e os fariseus estão atentos ao ensino de Jesus mas também aos gestos que Ele possa fazer.
        Jesus não se inibe e chama o homem para que ele fique ainda mais visível, trá-lo para a luz, para o meio, para que todos possam testemunhar, pergunta se é permitido fazer bem ou mal em dia de Sábado, o dia sagrado dos judeus... e cura a mão paralítica.
       Para Jesus, como para os seus seguidores, todos os dias são bons para fazer bem... e todos os dias sãos ruins para fazer mal
       Por outro lado, as curas são sinal da força e presença de Deus em Jesus Cristo, juntamente com os exorcismos e o perdoar pecados.
        A discussão de hoje não se centra tanto na cura do paralítico, mas sobretudo no facto de se realizar a um Sábado. Para os judeus aceitava-se com facilidade que alguém pudesse, inspirado por Deus, ter poderes curativos. Facilmente aceitariam este facto em Jesus. Mas o Sábado é sagrado, motivo para censurarem Jesus.
        Por sua vez, Jesus aproveita para lhes dizer com clareza: o bem não tem dia nem hora, deve fazer-se em todo o tempo. As leis, as tradições, os preceitos não devem servir para escravizar mas para libertar a pessoa.

Natividade de Nossa Senhora

Nota Histórica:
       A vinda do Filho de Deus à terra, foi preparada, pouco a pouco, ao longo dos séculos, através de pessoas e acontecimentos. Entre as pessoas escolhidas por Deus para colaborarem no Seu projecto de salvação, houve uma, à qual foi confiada uma missão única: Maria, chamada a ser a Mãe do Salvador e cumulada, por isso, de todas as graças necessárias ao cumprimento dessa missão.
       O nascimento de Maria foi, portanto, motivo de esperança para o mundo inteiro: anunciava já o de Jesus. Era a autora da salvação a despontar; «Ela vem ao mundo e com Ela o mundo é renovado. Ela nasce e a Igreja reveste-se da sua beleza». (Liturgia bizantina).
       Felicitando a Mãe do Salvador, no dia do Seu aniversário natalício, peçamos a graça de à Sua semelhança, colaborarmos, generosamente, na salvação do mundo.
(Domenico Ghirlandaio, Cappella Tornabuoni, Santa Maria Novella, Florença)

Oração (de coleta):
       Dai, Senhor, aos vossos servos o dom da graça celeste e fazei que a festa do nascimento da bem-aventurada Virgem Maria, cuja maternidade divina foi o princípio da nossa salvação, aumente em nós a unidade e a paz. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Dos Sermões de Santo André de Creta, bispo

O que era antigo passou. Tudo se renova 

Cristo é o fim da lei; Ele nos faz passar da escravidão da lei para a liberdade do espírito. N’Ele está a perfeição da lei, porque, sendo o supremo legislador, deu pleno cumprimento à sua missão, transformando em espírito a letra da lei e recapitulando em Si todas as coisas. A lei foi vivificada pela graça e foi posta ao seu serviço, formando com ela uma composição harmoniosa e perfeita. Cada uma delas conservou as suas características próprias, sem alteração nem confusão; mas o que na lei havia de penoso e servil tornou se, por uma transformação divina, fonte de suavidade e liberdade, e deste modo, como diz o Apóstolo, já não somos escravos dos elementos do mundo, nem oprimidos pelo jugo da letra da lei.
O mistério de Deus que Se faz homem e a consequente divinização do homem assumido pelo Verbo representam o compêndio perfeito dos benefícios de Cristo em nosso favor e o aniquilamento de toda a vã presunção da natureza humana. Mas convinha que a esplendorosa e surpreendente vinda de Deus aos homens fosse precedida por uma alegria especial que nos preparasse para o dom grandioso e admirável da salvação. Este é o significado da festa que hoje celebramos, porque o nascimento da Mãe de Deus é o princípio desses bens prometidos, princípio que terá o seu termo e conclusão na predestinada união do Verbo com a carne. Hoje nasce a Virgem Maria; será amamentada e crescerá, preparando se deste modo para ser a Mãe de Deus, Rei de todos os séculos. 
Deste nascimento nos vem um duplo benefício: por um lado, eleva-nos ao conhecimento da verdade; e por outro, liberta nos de uma vida escravizada à letra da lei. De que modo e em que condições? A luz dissipa as trevas e a graça liberta nos da escravidão da lei. Esta é uma solenidade de confins entre o Antigo e o Novo Testamento: a verdade substitui os símbolos e as figuras, e a nova aliança substitui a antiga.
Cantem e exultem todas as criaturas e participem condignamente na alegria deste dia. Juntem-se nesta celebração festiva os céus e a terra, tudo o que há no mundo e acima do mundo. Porque hoje é o dia em que o Criador do universo edificou o seu templo; hoje é o dia em que a criatura prepara uma nova e digna morada para o seu Criador.

Ninguém coloca remendo novo num vestido velho...

       Os fariseus e os escribas disseram a Jesus: «Os discípulos de João Baptista e os fariseus jejuam muitas vezes e recitam orações. Mas os teus discípulos comem e bebem». Jesus respondeu-lhes: «Quereis vós obrigar a jejuar os companheiros do noivo, enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo lhes será tirado; nesses dias jejuarão». Disse-lhes também esta parábola: «Ninguém corta um remendo de um vestido novo, para o deitar num vestido velho, porque não só rasga o vestido novo, como também o remendo não se ajustará ao velho. E ninguém deita vinho novo em odres velhos, porque o vinho novo acaba por romper os odres, derramar-se-á e os odres ficarão perdidos. Mas deve deitar-se vinho novo em odres novos. Quem beber do vinho velho não quer do novo, pois diz: ‘O velho é que é bom’» (Lc 5, 33-39).
       Todas as instituições, constituídas por pessoas, enquadram regras, ritos, tradições, que as identificam. As religiões não são excepção. Pelo contrário, é nos ritos e nas tradições que têm a sua força e a sua identidade. Mas para que a religião seja saudável e redentora não pode ser fixista e aprisionar as pessoas a tradições válidas no passado mas que na atualidade estão desajustadas.
       Jesus depara-se com as tradições judaicas. Os fariseus e os escribas chamam-n'O a atenção para o não cumprimento das normas religiosas por parte dos seus discípulos. Embora Jesus não se volte diretamente contra as tradições - importa sobretudo a vivência interior, a transformação de vida, o compromisso com a justiça e com a paz, e a coerência entre o que se exige aos outros e o que se vive -, ainda assim aproveita a ocasião para lembrar que os tempos são novos e se são novos não se encerram nas mesmas estruturas do passado.
       A salvação vai para lá de todas as estruturas, tradições, usos e costumes, normas e preceitos. A graça de Deus é maior, e não está prisioneira das nossas estruturas ou concepções.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca

       "Estava a multidão aglomerada em volta de Jesus, para ouvir a palavra de Deus. Ele encontrava-Se na margem do lago de Genesaré e viu dois barcos estacionados no lago. Os pescadores tinham deixado os barcos e estavam a lavar as redes. Jesus subiu para um barco, que era de Simão, e pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra. Depois sentou-Se e do barco pôs-Se a ensinar a multidão. Quando acabou de falar, disse a Simão: «Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca». Respondeu-Lhe Simão: «Mestre, andámos na faina toda a noite e não apanhámos nada. Mas, já que o dizes, lançarei as redes». Eles assim fizeram e apanharam tão grande quantidade de peixes que as redes começavam a romper-se. Fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco para os virem ajudar; eles vieram e encheram ambos os barcos de tal modo que quase se afundavam. Ao ver o sucedido, Simão Pedro lançou-se aos pés de Jesus e disse-Lhe: «Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador». Na verdade, o temor tinha-se apoderado dele e de todos os seus companheiros, por causa da pesca realizada. Isto mesmo sucedeu a Tiago e a João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão. Jesus disse a Simão: «Não temas. Daqui em diante serás pescador de homens». Tendo conduzido os barcos para terra, eles deixaram tudo e seguiram Jesus" (Lc 5, 1-11).
       A multidão segue Jesus. Procuremos situar-nos naquele tempo, no meio daquela multidão. Alguns de nós estaríamos pela primeira vez, outras vinham acompanhando Jesus há vários dias, outros já tinham ouvido falar d'Ele, outros tinham-se cruzado com Ele em outras cidades e aldeias.
       E o que é que estamos a fazer junto de Jesus? Nem todos estaremos pelas mesmas razões, cada um leva a sua vida. Segundo o próprio evangelista a multidão está ali aglomerada para ouvir Jesus. Da Sua boca saem palavras de desafio e de esperança.
       Todos podem ser cooperadores de Jesus Cristo e da Boa Notícia. Os pescadores já estão a lavar os barcos. Jesus sobre para o barco de Simão, para criar as melhores condições para a pregação e para a escuta. Senta-Se e do barco põe-se a ensinar a multidão.
       Segundo momento, diz a Simão para lançar as redes ao mar, como se fosse um entendido em pescaria. Pedro coloca a suas reservas/dúvidas, tal como faria cada um de nós se fosse pescador. Pedro entendia mais de pesca que Jesus. Como é que Este convida a pescar durante o dia. Mas o benefício da dúvida, já que o dizes, nós faremos como dizes. E lançaram as redes ao mar. E não é que a pescaria foi abundante!
       Mais vale quem Deus ajuda do que quem muito madruga. Sem Deus a pesca, a vida, é vazia, insignificante. Com Deus toda a pesca é abundante. Deus conta que façamos a nossa parte. O milagre não é "gratuito", pressupõe a fé e o empenho. Ele conta com o nosso barco, com as nossas redes, com os nossos braços, para lançar as redes e para pescar.
       A Pedro, como a outros, o desafio vai ainda mais longe: doravante serás pescadores de homens. Maior exigência. trabalho constante. Uma certeza: se Deus está connosco a pesca vai ser abundante.