A terceira Carta Encíclica de Bento XVI empresta o título a este blogue. A Caridade na Verdade. Agora permanecem a fé, a esperança e a caridade, mas só esta entra na eternidade com Deus. Espaço pastoral de Tabuaço, Távora, Pinheiros e Carrazedo, de portas abertas para a Igreja e para o mundo...
sábado, 27 de junho de 2020
terça-feira, 23 de junho de 2020
sábado, 20 de junho de 2020
quarta-feira, 17 de junho de 2020
sexta-feira, 12 de junho de 2020
quarta-feira, 10 de junho de 2020
ZACHARIAS HEYES - Como encontrar Deus
ZACHARIAS HEYES (2020). Como encontrar Deus... e porque nem é preciso procurá-l'O. Lisboa: Paulus Editora. 128 páginas
Jesus, com a Sua encarnação, vida, mensagem, com a Sua morte e ressurreição mostra-nos que Deus é um Deus tão próximo, tão próximo, que Se confunde com a humanidade. Em Jesus, Deus não apenas vem à procura da humanidade "perdida", mas faz-Se Ele mesmo humanidade, assumindo a nossa carne, a nossa fragilidade. Por conseguinte, se diz que o cristianismo não é tanto uma religião, mas um encontro, um acontecimento: Deus, Pai/Mãe, faz-Se ser humano, vem e faz a Sua morada em nós e no mundo que é a nossa casa, a casa de todos.
"Como encontrar Deus... e porque nem é preciso procurá-l'O". O título do livro faz-nos intuir o propósito do autor com estas reflexões. O Padre Zacharias Heyes é monge na Abadia de Münsterschwarzach, na Alemanha. Logo a abrir diz o que pretende. "Aquele que parte em busca de Deus não precisa de ficar constantemente no 'modo de procura', mas ter apenas a disposição interna de permitir que Deus o encontre e de O encontrar no meio das pessoas... em Jesus é evidente que Deus não só Se aproximou das pessoas, mas que Ele está nas pessoas, Ele mesmo tornou-Se homem e, como tal, pôde ser vivenciado pelos outros... O caminho leva à descoberta de Deus em mim e no outro, pois em Jesus evidencia-se que aquele que deseja encontrar Deus precisa de procurar o ser humano... se Deus está no meio da vida, no quotidiano das pessoas, então é exatamente aí que a Igreja precisa de estar".
A Encarnação de Jesus é o acontecimento decisivo. "Os cristãos acreditam que em Jesus o próprio Deus Se tornou homem. Ele viveu entre as pessoas, deu-lhes o seu amor, a sua amizade, curou-as e instruiu-as. As pessoas que conhecem Jesus recebem uma nova esperança e força através desse encontro. Deus encontrou o ser humano no homem Jesus. O desejo de Deus é estar presente entre as pessoas porque Ele ama os seres humanos".
A primeira parte do livro apresenta as experiências bíblicas essenciais e a certeza que Deus encontra o ser humano. O autor apresenta algumas personagens bem conhecidas: Adão e Eva, a certeza que não somos fruto do ocaso, mas somos criados pelo amor de Deus; Abraão, que Deus encontra através dos Seus mensageiros, revelando-Se como um Deus da partida e do caminho, num encontro que muda a sua vida e parte para outra terra; Moisés, salvo pelas águas e a certeza que "não existe lugar neste mundo que não seja lugar da presença de Deus, não existe lugar que não seja chão sagrado, não existe lugar em que não possamos encontrar Deus"; David, que Deus encontra para o ungir e tornar Rei do Seu povo; Maria, moça simples do Povo de Israel, que é surpreendida pelo Anjo Gabriel e se entrega à vontade de Deus, permitindo que n'Ela se realize a encarnação, tornando-Se a Mãe de Deus; José, a quem Deus Se comunica pelos sonhos, e que aceita o que lhe é pedido em sonho; Zaqueu, cobrador de impostos, é encontrado por Jesus, na sua banca, na certeza que Deus vem ao nosso encontro na nossa vida, antes de qualquer exigência moral, vem para ficar em nossa casa; a mulher junto ao poço: "Deus não está preso a nenhum lugar geográfico, as pessoas podem encontrá-l'O em qualquer sítio; os discípulos de Jesus: "ninguém deve acreditar que está sozinho e abandonado... a maneira mais simples de experimentar o amor de Deus é no amor de outra pessoa, porque esse amor é palpável", e Jesus, na certeza que "Deus não Se esconde. Ele deseja ser encontrado e redescoberto; nunca para de bater à porta, de chamar a nossa atenção para se relacionar connosco".
Num segundo momento - Não procures, encontra! - o autor conduz-nos a encontrar Deus em mim, partindo do facto de sermos imagem de Deus, aceitando Deus na nossa vida e no nosso corpo e com Ele tornando-nos cocriadores; a encontrar Deus nos outros - "Se eu quiser encontrar Deus no outro, o 'mapa do tesouro' que me leva até Ele é a conduta e as palavras de Jesus. Como ser humano, Ele viveu como todos os outros, entre os seres humanos. Ele amou, sofreu e zangou-se como todos não fazemos. Mas fez algumas coisas de modo diferente ao que as pessoas estavam acostumadas a fazer na época que não só surpreendeu mas também chocou aquelas que conviviam com Ele. Mas isso também significa encontrar Deus, e ás vezes pode ser incómodo... Deus pode ser experimentado no outro, no diálogo que aquece, fortalece, cura, edifica e que não julga nem condena"; a comunhão na Igreja - o encontro com Deus passa pelo encontro das pessoas umas com as outras, estamos vinculados uns aos outros, comungamos o mesmo corpo, o mesmo pão. "Eu encontro-me no outro". Solidariedade radical; o Deus em mim busca e encontra o Deus no outro, como João e Jesus, no encontro entre Isabel e Maria e todos são lugar para encontrar Deus, todos "são lugar da presença de Deus. são imagem de Deus; ou, por outras palavras, o outro é sarça ardente... o Ser humano é local da presença de Deus. Ele é a luz do mundo.. Deus deseja brilhar em cada um e por meio de cada um neste mundo". Jesus há de lembrar-nos, a propósito: o que fizerdes ao mais pequeno dos meus irmãos é a Mim que o fazeis. Entra aqui então o programa das obras de misericórdia... Na terceira parte: "Onde é a Igreja?" e obviamente que a Igreja é... a caminho, mosteiro, peregrinação, convívio, rituais, para o espírito do tempo, misericórdia. A Igreja é com cada um, em caminho e em comunhão, na busca e sobretudo na descoberta e no encontro de Deus em cada ser humano.
domingo, 7 de junho de 2020
terça-feira, 2 de junho de 2020
ANTÓNIO COUTO - Leitura do tempo em que vamos
ANTÓNIO COUTO (2020). Daqui, desta planura: Leitura do Tempo em que vamos. Lisboa: Óbidos: Aletheia Editores. 140 páginas.
D. António Couto, Bispo de Lamego, já nos habituou à clareza e profundidade de pensamento, no campo da reflexão bíblica, mas também com as pontes com a cultura deste tempo, do tempo dos escritos sagrados, da antropologia e arqueologia, com a etimologia dos termos e da linguagem, procurando a fidelidade a cada autor e sobretudo ao Autor primeiro.
Esta é uma obra diferente de todas as outras que publicou, ainda que haja expressões e conteúdos já insinuados, refletidos ou aprofundados noutros textos, nomeadamente nas pistas de reflexão que nos apresenta para cada domingo, sentando-se connosco à mesa da Palavra.
O tempo em que vamos remete-nos para a egolatria, para o culto do eu sem um tu como interlocutor e quando muito um tu que é adversário, inimigo e osbtáculo às minhas pretensões. O individualismo, a cultura do "ego" e, por outro lado, a exaltação da liberdade pura, sem entraves, nem ligações. Dispensa-se o outro, tudo o que é institucional, e passo a ser "eu" o critério para a minha vida, sou eu que decido, que faço. Quero, posso e mando. Dispenso o outro e o Outro que é Deus. Fico sem Deus, sem chão nem céu, sem pai nem mãe, sem religião. Eu decido o que sou, sem umbigo, escolho se sou homem ou sou mulher, ou uma mistura de ambos. Deus foi remetido para o pensamento e do pensamento para a inexistência. Não há nenhum critério moral fora de mim.
Ao individualismo atual, D. António Couto propõe a socialidade, a partir sobretudo da reflexão filosófica de Emmanuel Levinas. A opção pelo outro, que me cabe acolher. O outro aponta para o totalmente Outro, Deus, que Se revela em cada rosto. O outro impõe-se, irrompe na minha vida, com o mandamento: não matarás. O outro não é redutível, não é enquadrado, é sempre um mistério, não da razão, mas da humanidade. Levinas propõe o primado do outro.
A questão do Ocidente é a questão de uma liberdade absoluta que rejeita e exclui o rosto, a resposta, a responsabilidade. Daí que a questão do Ocidente se torne na questão do "outro", a questão da alteridade. O rosto do outro, a alteridade, conduz à socialidade, isto é, à responsabilidade pelo outro, que não tem princípio em mim, é "fruto do rosto do outro vindo sem se fazer anunciar, vindo como eleiçãi em que a minha humanidade recebe a sua verdadeira identidade e unicidade pela impossibilidade de se subtrair à eleição... a socialidade é a minha responsabilidade pelo outro, pelo próximo". "A socialidade póe-me em relação com o rosto ou o viso do outro, ao mesmo tempo, pobre e senhor, porque porque nu, e senhor porque pobre e nu, rosto ou viso que não surge como conteúdo, mas como súplica e mandamento, que quebra e interrompe a minha espontaneidade e expansividade selvagem... impõe-me a responsabilidade pelo outro, que é o verdadeiro sentido da proximidade, na aceção nova de me obrigar a responder ao outro e pelo outro, portanto, por aquilo que não fui eu que fiz".
Deixemos o autor falar um pouco mais: "De facto, perdemos o «amor», o cinto, o cíngulo, o cordão, o sýndesmos, que dava segurança, sentido e beleza à nossa vida. Vendo bem, andamos por aí perdidos, desconstruídos, à deriva, vivendo de «relações de bolso» e de «compromissos enlatados, com a advertência bem visível: »consumir de preferência antes de...». A música que nos chega aos ouvidos são notas servidas em pautas enlatadas,sons de mármore, ritmos de marchas militares ou fúnebres. Só o Rosto nu do pobre que é, afinal, o verdadeiro soberano, que nos elege, institui, veste, e ordena, vindo de fora e acolhido à porta com amor, surpresa e maravilha, dom, e-vento, ad-vento, pode romper e fecundar este areal espesso com gesso. Falo do alento de Deus, beijo de Deus no pó que modela em suas mãos. Só Ele pode transformar estas pedras em filhos e irmãos".
O tempo em que vamos remete-nos para a egolatria, para o culto do eu sem um tu como interlocutor e quando muito um tu que é adversário, inimigo e osbtáculo às minhas pretensões. O individualismo, a cultura do "ego" e, por outro lado, a exaltação da liberdade pura, sem entraves, nem ligações. Dispensa-se o outro, tudo o que é institucional, e passo a ser "eu" o critério para a minha vida, sou eu que decido, que faço. Quero, posso e mando. Dispenso o outro e o Outro que é Deus. Fico sem Deus, sem chão nem céu, sem pai nem mãe, sem religião. Eu decido o que sou, sem umbigo, escolho se sou homem ou sou mulher, ou uma mistura de ambos. Deus foi remetido para o pensamento e do pensamento para a inexistência. Não há nenhum critério moral fora de mim.
Ao individualismo atual, D. António Couto propõe a socialidade, a partir sobretudo da reflexão filosófica de Emmanuel Levinas. A opção pelo outro, que me cabe acolher. O outro aponta para o totalmente Outro, Deus, que Se revela em cada rosto. O outro impõe-se, irrompe na minha vida, com o mandamento: não matarás. O outro não é redutível, não é enquadrado, é sempre um mistério, não da razão, mas da humanidade. Levinas propõe o primado do outro.
A questão do Ocidente é a questão de uma liberdade absoluta que rejeita e exclui o rosto, a resposta, a responsabilidade. Daí que a questão do Ocidente se torne na questão do "outro", a questão da alteridade. O rosto do outro, a alteridade, conduz à socialidade, isto é, à responsabilidade pelo outro, que não tem princípio em mim, é "fruto do rosto do outro vindo sem se fazer anunciar, vindo como eleiçãi em que a minha humanidade recebe a sua verdadeira identidade e unicidade pela impossibilidade de se subtrair à eleição... a socialidade é a minha responsabilidade pelo outro, pelo próximo". "A socialidade póe-me em relação com o rosto ou o viso do outro, ao mesmo tempo, pobre e senhor, porque porque nu, e senhor porque pobre e nu, rosto ou viso que não surge como conteúdo, mas como súplica e mandamento, que quebra e interrompe a minha espontaneidade e expansividade selvagem... impõe-me a responsabilidade pelo outro, que é o verdadeiro sentido da proximidade, na aceção nova de me obrigar a responder ao outro e pelo outro, portanto, por aquilo que não fui eu que fiz".
Deixemos o autor falar um pouco mais: "De facto, perdemos o «amor», o cinto, o cíngulo, o cordão, o sýndesmos, que dava segurança, sentido e beleza à nossa vida. Vendo bem, andamos por aí perdidos, desconstruídos, à deriva, vivendo de «relações de bolso» e de «compromissos enlatados, com a advertência bem visível: »consumir de preferência antes de...». A música que nos chega aos ouvidos são notas servidas em pautas enlatadas,sons de mármore, ritmos de marchas militares ou fúnebres. Só o Rosto nu do pobre que é, afinal, o verdadeiro soberano, que nos elege, institui, veste, e ordena, vindo de fora e acolhido à porta com amor, surpresa e maravilha, dom, e-vento, ad-vento, pode romper e fecundar este areal espesso com gesso. Falo do alento de Deus, beijo de Deus no pó que modela em suas mãos. Só Ele pode transformar estas pedras em filhos e irmãos".
LUIGI GIUSSANI - Gerar rasto na História do Mundo
LUIGI GIUSSANI, STEFANO ALBERTO e JAVIER PRADES (2019). Gerar Rasto na História do Mundo. Lisboa: Paulus Editora. 212 páginas.
"O verdadeiro protagonista da história é o mendicante: Cristo mendicante do coração do homem e o coração do homem mendicante de Cristo". O Acontecimento Cristo torna concreto a realidade de Deus; o Infinito garante que a história tem um sentido que vai além de mim e de ti, de que não somos a medida das coisas, porque então seria um sentido limitado, finito, vazio. É um acontecimento que dá origem a um povo, o povo Eleito, primeiro, com o chamamento de Abraão, do novo povo de Deus, a Igreja, com a encarnação de Deus em Jesus Cristo. Este acontecimento há de gerar o encontro, o seguimento, o envio, a missão. Posteriormente, a memória tornará atual o acontecimento Cristo.
O autor, Pe. Luigi Giussani, já falecido, é o fundador do movimento Comunhão e Libertação e em algumas páginas é visível essa pertença, com a preocupação de que o carisma esteja aberto à Igreja, como um todo, e à sociedade. Sublinha ele que se o movimento estiver preocupado em defender-se e promover-se perde sentido e verdade. O livro conta com a colaboração de mais dois sacerdotes: Stefano Alberto e Javier Prades que recolheram textos, ordenando-os de forma sistemática para que resultasse num livro com princípio, meio e fim.
Vivemos uma época em que o "eu" ocupa uma lugar cimeiro, contrapondo-se ao "tu", excluindo um "nós". Os outros surgem como concorrentes ou empecilhos ao meu poder. Quando eu sou a medida das coisas e do mundo, então tudo se torna relativo até se tornar vazio ou até desaparecer. Ora, como sustenta o autor, há um Acontecimento que me precede, que nos procede, para nós cristãos, Jesus Cristo, um Acontecimento que se faz encontro. No encontro a vida acontece, altera-se, muda-se para sempre.
Logo a abrir o primeiro capítulo, o autor diz claramente que "o cristianismo é o anúncio de que Deus Se fez homem, nascido de uma mulher, num determinado lugar e num determinado tempo... Deus deu-Se a conhecer revelando-e, tomando Ele a iniciativa de colocar-se como fator da experiência humana, num instante decisivo para toda a vida humana". Deus torna-Se acessível, em Cristo podemos encontrá-l'O. É a experiência de João e André, e depois Pedro e outros apóstolos. Pedro, como João e André é surpreendido por Jesus: Tu és Simão... serás Pedra. É a "simpatia" de Jesus que atrai, chama, provoca, constitui-se em companhia, para depois enviar.
"O Cristianismo é um acontecimento: tudo o resto é consequência... Deus também poderia ter escolhido como caminho para Se comunicar aos homens o caminho de uma inspiração direta, de maneira a que cada um tivesse de seguir aquilo que Deus sugeria ao seu pensamento e ao seu coração. Um caminho, esse, que em nada seria mais fácil e seguro, sempre exposto à flutuação de sentimentos e pensamentos. mas a modalidade que Deus escolheu para nos salvar é um acontecimento".
Um acontecimento é algo palpável, é-nos exterior, irrompe na nossa vida, na história, pode ter um início, um caminho. É experimentável. O sentido da fé parte, então de um acontecimento, de um encontro, engloba a razão. "A fé cristã é a memória de um facto histórico no qual o Homem disse de si mesmo uma coisa que os outros aceitaram como verdadeira e que agora, graças à forma excecional como esse Facto ainda me alcança, aceito também. Jesus é um homem que disse: «Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida». É um Facto que aconteceu na história: um menino nascido de mulher, inscrito no registo civil de Belém... a fé é um ato da razão movida pela excecionalidade de uma presença, que leva o homem a dizer: «Este fala a verdade, não iz mentiras, aceito aquilo que Ele diz»". Sendo um Facto, possibilita o encontro. O encontro por sua vez é um facto histórico, pois acontece num momento preciso da vida, assinala o início de um caminho, sujeito às coordenadas espácio-temporais.
"O encontro feito hoje é verdadeiro porque Ele, Jesus Cristo, nascido da Virgem Maria, morreu e ressuscitou, subiu ao céu e investe a realidade com o seu Espírito. Este encontro é válido graças a um Facto acontecido há dois mil anos. A Fé é a consciência de uma presença que começou no passado: por isso o encontro ativa a memória... O encontro presente faz descobrir o acontecimento original que, por sua vez, funda, decide da verdade do encontro presente, explica-o... A memória é a história entre a origem e o agora... Jesus Cristo está presente aqui e agora: Ele permanece na história através da sucessão ininterrupta dos homens que pela ação do seu Espírito, Lhe pertencem, quais membros do Seu Corpo, prolongamento no tempo e no espaço da Sua presença. O Batismo é o gesto com que Cristo morto e ressuscitado agarra nas suas mãos os homens que o Pai Lhe deu e os leva para dentro de Si".
Vivemos uma época em que o "eu" ocupa uma lugar cimeiro, contrapondo-se ao "tu", excluindo um "nós". Os outros surgem como concorrentes ou empecilhos ao meu poder. Quando eu sou a medida das coisas e do mundo, então tudo se torna relativo até se tornar vazio ou até desaparecer. Ora, como sustenta o autor, há um Acontecimento que me precede, que nos procede, para nós cristãos, Jesus Cristo, um Acontecimento que se faz encontro. No encontro a vida acontece, altera-se, muda-se para sempre.
Logo a abrir o primeiro capítulo, o autor diz claramente que "o cristianismo é o anúncio de que Deus Se fez homem, nascido de uma mulher, num determinado lugar e num determinado tempo... Deus deu-Se a conhecer revelando-e, tomando Ele a iniciativa de colocar-se como fator da experiência humana, num instante decisivo para toda a vida humana". Deus torna-Se acessível, em Cristo podemos encontrá-l'O. É a experiência de João e André, e depois Pedro e outros apóstolos. Pedro, como João e André é surpreendido por Jesus: Tu és Simão... serás Pedra. É a "simpatia" de Jesus que atrai, chama, provoca, constitui-se em companhia, para depois enviar.
"O Cristianismo é um acontecimento: tudo o resto é consequência... Deus também poderia ter escolhido como caminho para Se comunicar aos homens o caminho de uma inspiração direta, de maneira a que cada um tivesse de seguir aquilo que Deus sugeria ao seu pensamento e ao seu coração. Um caminho, esse, que em nada seria mais fácil e seguro, sempre exposto à flutuação de sentimentos e pensamentos. mas a modalidade que Deus escolheu para nos salvar é um acontecimento".
Um acontecimento é algo palpável, é-nos exterior, irrompe na nossa vida, na história, pode ter um início, um caminho. É experimentável. O sentido da fé parte, então de um acontecimento, de um encontro, engloba a razão. "A fé cristã é a memória de um facto histórico no qual o Homem disse de si mesmo uma coisa que os outros aceitaram como verdadeira e que agora, graças à forma excecional como esse Facto ainda me alcança, aceito também. Jesus é um homem que disse: «Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida». É um Facto que aconteceu na história: um menino nascido de mulher, inscrito no registo civil de Belém... a fé é um ato da razão movida pela excecionalidade de uma presença, que leva o homem a dizer: «Este fala a verdade, não iz mentiras, aceito aquilo que Ele diz»". Sendo um Facto, possibilita o encontro. O encontro por sua vez é um facto histórico, pois acontece num momento preciso da vida, assinala o início de um caminho, sujeito às coordenadas espácio-temporais.
"O encontro feito hoje é verdadeiro porque Ele, Jesus Cristo, nascido da Virgem Maria, morreu e ressuscitou, subiu ao céu e investe a realidade com o seu Espírito. Este encontro é válido graças a um Facto acontecido há dois mil anos. A Fé é a consciência de uma presença que começou no passado: por isso o encontro ativa a memória... O encontro presente faz descobrir o acontecimento original que, por sua vez, funda, decide da verdade do encontro presente, explica-o... A memória é a história entre a origem e o agora... Jesus Cristo está presente aqui e agora: Ele permanece na história através da sucessão ininterrupta dos homens que pela ação do seu Espírito, Lhe pertencem, quais membros do Seu Corpo, prolongamento no tempo e no espaço da Sua presença. O Batismo é o gesto com que Cristo morto e ressuscitado agarra nas suas mãos os homens que o Pai Lhe deu e os leva para dentro de Si".
Luigi Maria Epicoco - O QUE ÉS PARA MIM
LUIGI MARIA EPICOCO (2019). O que és para mim. Palavras sobre a intimidade. Lisboa: Paulus Editora. 104 páginas.
Este pequeno livro foi recomendado pelo Papa Francisco a sacerdotes e bispos.
Italiano, o padre Luigi Epicoco escreveu alguns apontamentos para os exercícios espirituais de alguns sacerdotes americanos, já que não lhe era possível naquele momento deslocar-se à América. O livro resulta destas meditações, tendo em cada uma delas um texto bíblico e algumas questões/desafios para a reflexão e vida de cada um. Embora os destinatários sejam antes de mais os consagrados, é um belíssimo texto de reflexão para todos, para crentes cristãos, podendo ser um bom texto para aqueles que andam em busca de Algo ou de Alguém.
As reflexões deram origem a dois outros livros: "Somente os doentes que curam" (já o sugerimos como leitura aqui na Voz de Lamego) e "A Estrela no caminho, o Menino", para leitura futuro quando estiver disponível.
Cinco meditações: primeira pausa ou realismo de misericórdia; segunda pausa ou do pão e do silêncio: terceira pausa ou do tesouro escondido; quarta pausa ou do êxodo da competência ao abandono confiante; quinta pausa ou da parábola do Pai reencontrado.
- Na primeira pausa somos desafiados a colocar Deus em primeiro lugar, amor único e exclusivo, que não faz concorrência, antes alimenta o amor aos outros. "Um cristão é aquele que faz a sua vida em intimidade com Deus e vive tudo e só por Deus, com Deus e em Deus, o que quer que faça e em qualquer circunstância em que se encontre". Reconhecer que só Deus é Deus, para não converter ninguém em ídolo, numa perfeição que não existe.
- Na segunda etapa da viagem, a certeza de que Deus caminha connosco em todos os momentos, também quando as trevas nos assolam. Como acontece com os discípulos de Emaús, Cristo faz-Se ver especialmente na Eucaristia. "O nosso Amado faz-Se, de novo, pão e vinho, corpo e sangue. E, de novo, estamos ali, naquele cenário, sob a cruz, diante do sepulcro vazio... comemos aquela bússola e tornamo-nos direção. O caminho está em nós, em nós a verdade, em nós a vida. Já não são só os nossos olhos a ver, mas é todo o nosso ser a viver daquilo que apenas tínhamos visto". Por outro lado, "desde que Cristo encarnou, cada fragmento da realidade é, potencialmente, um lugar de encontro com o Senhor".
- A viagem continua.O reino de Deus que Jesus nos traz não é apenas para o além."Esta existência não pode ser apenas um vazio à espera de ser preenchido, porque esta vida não pode conter toda a plenitude da vida eterna, uma vez que é, ela própria, um tempo limitado, um recipiente demasiado pequeno para conter o céu... O cristianismo não é uma dieta que possamos começar na segunda-feira da próxima semana. O cristianismo ou é verdadeiro agora ou nunca será verdadeiro".
- A pausa leva-nos a colocar-nos diante de Deus com a nossa vulnerabilidade. "Amamos verdadeiramente quando nos entregamos com a nossa fragilidade à pessoa que amamos. Uma pessoa que se defende é uma pessoa que estudo de tal modo o seu inimigo que imagina o movimento seguinte... Aquele a quem nos deveríamos entregar na nossa vulnerabilidade torna-se naquele de quem nos defendemos. Procuramos, deste modo, conhecer o outro não para amar mas para dele nos defendermos... É a confiança em nós próprios e no próximo aquilo que nos falta... um inseguro é alguém que não tem disponibilidade para se ocupar do outro, porque passa a maior parte do tempo a tentar permanecer à tona".
- A última incursão leva-nos a refletir sobre o Pai que vai ao encontro de Jesus para que liberte o seu filho (cf. Mt 17, 14-21). Os discípulos não conseguem libertar aquela crianças do demónio que a atormenta. O pai vai até Jesus. Ser pai é ter a noção dos seus limites. Faz tudo o que pode, quando não pode pede ajuda. Um pai não vive em lugar do filho e nem é a única resposta credível para o filho. "Às vezes falta-nos a inteligência, porque nos falta a humildade. Às vezes falta-nos, mesmo, esta simplicidade: o pedir".
Nuno Tovar de Lemos, sj - Eugénia Kraft
NUNO TOVAR DE LEMOS, s.j. (2019). Eugénia Kraft. Braga, Editorial Frente e Verso. 224 páginas.
Trinta anos para escrever um livro.
Muito tempo para refletir, ponderar, amadurecer ideias e conceitos, para acolher contributos, experiências, para viver histórias, para testemunhar a vida, os sonhos, a evolução dos tempos, o amor, a amizade, a solidariedade, o sentido da vida, mas mudanças.
É assim que o sacerdote jesuíta, Pe. Nuno Tovar de Lemos, no posfácio, fala da cronologia de um livro que foi escrevendo, partilhando páginas, acolhendo sugestões, deitando fora páginas, limando a linguagem e a narrativa. O ponto de partida permaneceu: o personagem principal, Tiago, vai perder todas as memórias. Uma doença rara, da qual só percebe a palavra Kraft, atribuindo-lhe, então, um nome próprio, Eugénia. Eugénia significa "bom nascimento", quando o fio condutor deste romance é recomeço(s). Ao longo de trinta anos o texto é refeito por completo, à exceção do ponto de partida.
A personagem principal, Tiago, vai ao médico, um neurologista, para saber o resultado dos exames, nomeadamente TAC's que fez à cabeça, depois de ter descoberto um alto na cabeça, seis meses antes, pelo barbeiro. O neurologista informa-o de uma doença que não mata, mas que provocará a perda de memória, mais de 40 anos de vida que passam à história. Será como acordar de manhã em Tóquio sem saber como foi lá parar, sem conhecer ninguém, sem saber como lá chegou e tendo que explorar tudo como se fosse a primeira vez.
Haverá, contudo, uma informação básica que não perderá, a memória associada às funções básicas e primárias. Será bastante ignorante mas basicamente autossuficiente. A partir daqui decide colocar por escrito vivências, informações que irá precisar para saber quem é, quais os amigos que tem, o que faz, o que lhe pertence, números de contas e os momentos mais importantes da sua vida. Quando a "Eugénia" chegar, terá de começar de novo a construir memórias. O que será essencial nessa nova fase da vida? Então, ao rever aquilo que quer guardar começa já a mudar, a perceber quem são os verdadeiros amigos a preservar, com quem pode contar. E se a "eugénia" não aparecer? Há 20% de hipótese de tal não suceder. De qualquer forma o melhor é contar com isso! E porque esperar dois meses, porque não mudar já? "Um começo novo. Este recomeço há de certamente implicar aceitar perder muitas coisas para serem possíveis outras novas: novas ideias, novas maneiras de estar na vida, novos gostos, novos objetivos, novas maneiras de olhar para mim, novas compreensões acerca do que é a vida e o que estamos cá a fazer".
Uma das vivências que não pode esquecer: a Flowers. Legalmente ainda é a sua mulher, embora estejam separados. Na nova vida, precisa de alguém. Egoísmo, talvez! Mas talvez esteja no momento de corrigir o que falhou, a vida mais ou menos superficial, as saídas noturnas e as bebedeiras. A reaproximação a Flowers vai levá-lo a perceber a amizade e o amor, mas também o que é a fé e o amor aos outros.
Algumas expressões para refletir:
"o amor não era uma bengala onde nos apoiamos mas umas asas que nos permitem voar mais alto"
"Não é tapando buracos que se recomeça. Uma outra relação pode, eventualmente, ajudar a dar um impulso inicial de confiança mas recomeçar é um assunto estritamente pessoal. Recomeçar. acho eu, implica aprender a abraçar a própria solidão e a aprender a viver assente sobre os próprios pés em vez de se tentar agarrar a outra pessoa para poder ficar de pé. Mesmo que se tenha um companheiro ou companheira, há muitas coisas na vida que temos de viver sozinhos... a solidão é abraço entre nós e a verdade".
"Quando uma pessoa está a nadar num rio e é apanhada num remoinho, não deve tentar nada para a superfície porque não conseguirá sair e vai esgotar as suas forças. O que a pessoa deve fazer - curiosamente - é nadar para o fundo. Porquê? Porque a porta de saída está precisamente no vértice do cone invertido, no fundo do remoinho".
"Vou abraçar a minha solidão e tirar partido dela sem andar a mendigar migalhas afetivas de outras pessoas"
"É muito mau adiar coisas importantes. Achamos que temos sempre tempo. Claro, há sempre tantas coisas a fazer que o tempo não chega. Mas o tempo chega sempre para aquilo a que damos prioridade. O problema não é a falta de tempo; o problema é termos prioridades trocadas."
"Não só por amor das pessoas a quem te dás mas por amor de alguém invisível que te ama como ninguém. E imagina que sabes que em cada gesto de amor na terra está a antecipar um abraço eterno no Céu. E uns dias são fáceis, outros difíceis; uns dias consegues, outros não consegues; uns dias percebes, outros não percebes. Mas sabes que é por aí o caminho e sentes a paz das coisas certas. E depois, quando caia, Alguém te levanta para que possas recomeçar a viagem e voltar a amar".
"Quando tempo é preciso para uma pessoa ser alguém? O tempo que precisar para aceitar que não é ninguém".
"Mais vale um garrafa cheia que uma pessoa vazia"
Deus... "diz-te para olhares para a frente, que o melhor está para vir; convida-te a seguires a tua consciência e não as expetativas dos outros ou o 'politicamente correto'; inspira-te grandes ideais que te fazem sonha alto. Aponta-te alternativas originais, sempre. E quando ficas enredado na culpa dá-te o perdão, que é a força para recomeçares... tudo na fé tem a ver com recomeçar, desde o batismo".
Não interessa "tanto se as coisas estão a ser fáceis ou difíceis mas se estamos a avançar na direção certa ou na direção errada. A maior parte das pessoas vive como se não houvesse meta, vive como uma criança de dois anos atrás de uma bola. A criança, cada vez que chega á bola, chuta numa direção qualquer, arbitrária. Sem uma meta, no fim, a bola andou aos ziguezagues"
"o que nos dá mais força não é o amigo de ferro mas aquele que partilha connosco as suas lágrimas"
"A fé que tens nos outros vem da fé que sentes que Deus tem em ti"
"Não tenho receio de morrer. Apenas um grande receio de viver sem amor".
"Vamos fugir... Vamos aproveitar. Viver cada instante como se fosse o último...
Acho que devemos fazer exatamente o oposto: viver cada dia normalmente. Não alterar nada. Viver cada instante como se fosse o do meio, não o último. E depois viver o que vier com a mesma confiança. O último já não será cá... devemos viver bem cada minuto sem estarmos a pensar se é o último ou não... em qualquer circunstância, em qualquer dia da nossa vida, devemos aproveitar bem todas as oportunidades sem nos deixarmos levar pela rotina".
"Se vivesse a caminhar p'ra Santiago...
talvez não carregasse tantos bens materiais nas malas do meu coração
e amasse mais a simplicidade de vida, a sobriedade e a partilha;
talvez não me perguntasse tanto se a vida está a ser está ser fácil ou difícil
mas sim se estou a dar passos na direção certa ou na direção errada;
talvez não pusesse a minha segurança em nenhum abrigo, pois tudo é frágil,
mas em cada estrada buscasse Presença que me conduz;
talvez nunca mais olhasse outra pessoa pensando no que me pode dar
mas perguntasse sempre como posso ser um bom companheiro de viagem;
talvez não perdesse a cabeça com os fracassos nem me autocoroasse com os sucessos,
mas tudo agradecesse humildemente a Deus e com tudo aprendesse a caminhar melhor;
talvez não me defendesse dos outros nem me deixasse possuir por ninguém
mas todos procurasse amar com inteligência, devoção e liberdade;
talvez não ficasse agarrado às paisagens - bonitas ou feias - porque todas passam,
mas recordasse cada dia o Santuário Final para onde me dirijo e ao qual já pertenço;
e assim, cada passo, anteciparia o gozo de chegar ao Fim,
de Te encontrar no Céu e de me deixar abraçar por Ti, Senhor meu Deus.
São Vicente Ferrer, o Anjo do Apocalípse
São Vicente Ferrer, o Anjo do Apocalípse
(texto de Almas Castelos)
São Vicente Ferrer nasceu em 1350, em Valência na Espanha. Estudou filosofia, teologia, exegese bíblica e sabia falar hebraico. Foi um religioso da ordem dos dominicanos.
Certo dia, estando em Avignon (França), caiu gravemente doente a ponto de quase falecer. Foi quando teve a visão de Nosso Senhor Jesus Cristo, acompanhado de São Domingos e São Francisco, conferindo-lhe a missão de pregar pelo mundo. Assim, repentinamente, recuperou a saúde.
Sua oratória, brilhante e cheia de fogo, mantinha entretanto a lógica imperturbável das argumentações escolásticas. Mas a atração que as pessoas sentiam por suas palavras era devida principalmente a dois fatores: a percepção da presença de Deus nele e o enlevo, cheio de consolações, ocasionado pela graça divina.
Ao chegar perto de uma cidade, a população vinha ao seu encontro, e todos disputavam um lugar próximo dele. E só escapava de ser esmagado porque andava no meio de pranchões sustentados por homens possantes. Em várias cidades, enquanto durava sua pregação, os negócios paravam, as lojas fechavam, as audiências dos próprios tribunais eram suspensas.
São Vicente trabalhou ardentemente pela conversão dos judeus e dos maometanos. Há historiadores que afirmam que converteu 25.000 judeus e 8.000 mouros. Exagero? Com milagres tão abundantes e portentosos, a pergunta não deve se pôr a um espírito sério e objetivo.
No Domingo de Ramos de 1407, na igreja de Ecija (Espanha), uma dama judia, rica e poderosa, que seguia seus sermões por curiosidade e desafio, sem ocultar os sarcasmos que fazia a meia voz, atravessou de improviso a multidão para sair. Não conseguia conter-se de raiva. O povo, explicavelmente, ficou indignado. "Deixai-a sair, disse o Santo, porém afastai-vos do pórtico", o qual caiu sobre ela, matando-a.
"Mulher, em nome de Cristo, volte à vida!", ordenou ele, e assim se fez. Após um tal milagre, não é de causar estranheza que essa senhora tenha prontamente se convertido à verdadeira Religião...
Naquela cidade, uma procissão anual passou a comemorar a morte, ressurreição e conversão da judia.
Quando se encontrava na Bretanha (França), percebeu que sua vida estava chegando ao fim, por causa de uma chaga que lhe envenenara a perna.
Depois de dez dias de agonia, assistido pelos amigos, pelos irmãos dominicanos e pelas damas da corte da Duquesa da Bretanha, entregou sua bela e combativa alma a Deus, com 69 anos de idade e várias décadas de luta no cumprimento de sua missão. Era o dia 5 de abril de 1419.
O processo de canonização começou no dia seguinte à sua morte e Roma reconheceu como fidedignos 873 milagres. Foi elevado à honra dos altares em 1455 pelo Papa Calisto III, o qual recebera, muito antes de ocupar a Sé de Pedro, uma profecia do Santo. Com efeito, durante uma das pregações que este último fez em Valência, entre a multidão dos que se aproximavam de São Vicente Ferrer para se encomendar às suas orações, prestou atenção em um sacerdote, que lhe pedia também a caridade de uma prece, ao qual o grande taumaturgo dirigiu as seguintes palavras: "Eu te felicito, meu filho. Tendes presente que és chamado a ser um dia a glória de tua pátria e de tua família, pois serás revestido da mais alta dignidade a que pode chegar um homem mortal. E eu mesmo serei, após minha morte, objeto de tua particular veneração".
_______________________
Fontes de referência:
* Frei Vicente Justiniano Antist, Vida de San Vicente Ferrer, in Biografía y Escritos de San Vicente Ferrer, BAC, Madrid, 1956.
* Ludovico Pastor, Historia de los Papas, vol. II, Ediciones G. Gili, Buenos Aires, 1948.
* José Leite S.J., Santos de Cada Dia, vol. I, Editorial A.O., Braga, 1987.
* Matthieu-Maxime Gorce, Saint Vincent Ferrier, Librairie Plon, Paris, 1924.
* Henri Gheon, San Vicente Ferrer, Ediciones e Publicaciones Espanholas S.A., Madrid, 1945.
Certo dia, estando em Avignon (França), caiu gravemente doente a ponto de quase falecer. Foi quando teve a visão de Nosso Senhor Jesus Cristo, acompanhado de São Domingos e São Francisco, conferindo-lhe a missão de pregar pelo mundo. Assim, repentinamente, recuperou a saúde.
Sua oratória, brilhante e cheia de fogo, mantinha entretanto a lógica imperturbável das argumentações escolásticas. Mas a atração que as pessoas sentiam por suas palavras era devida principalmente a dois fatores: a percepção da presença de Deus nele e o enlevo, cheio de consolações, ocasionado pela graça divina.
Ao chegar perto de uma cidade, a população vinha ao seu encontro, e todos disputavam um lugar próximo dele. E só escapava de ser esmagado porque andava no meio de pranchões sustentados por homens possantes. Em várias cidades, enquanto durava sua pregação, os negócios paravam, as lojas fechavam, as audiências dos próprios tribunais eram suspensas.
São Vicente trabalhou ardentemente pela conversão dos judeus e dos maometanos. Há historiadores que afirmam que converteu 25.000 judeus e 8.000 mouros. Exagero? Com milagres tão abundantes e portentosos, a pergunta não deve se pôr a um espírito sério e objetivo.
No Domingo de Ramos de 1407, na igreja de Ecija (Espanha), uma dama judia, rica e poderosa, que seguia seus sermões por curiosidade e desafio, sem ocultar os sarcasmos que fazia a meia voz, atravessou de improviso a multidão para sair. Não conseguia conter-se de raiva. O povo, explicavelmente, ficou indignado. "Deixai-a sair, disse o Santo, porém afastai-vos do pórtico", o qual caiu sobre ela, matando-a.
"Mulher, em nome de Cristo, volte à vida!", ordenou ele, e assim se fez. Após um tal milagre, não é de causar estranheza que essa senhora tenha prontamente se convertido à verdadeira Religião...
Naquela cidade, uma procissão anual passou a comemorar a morte, ressurreição e conversão da judia.
Quando se encontrava na Bretanha (França), percebeu que sua vida estava chegando ao fim, por causa de uma chaga que lhe envenenara a perna.
Depois de dez dias de agonia, assistido pelos amigos, pelos irmãos dominicanos e pelas damas da corte da Duquesa da Bretanha, entregou sua bela e combativa alma a Deus, com 69 anos de idade e várias décadas de luta no cumprimento de sua missão. Era o dia 5 de abril de 1419.
O processo de canonização começou no dia seguinte à sua morte e Roma reconheceu como fidedignos 873 milagres. Foi elevado à honra dos altares em 1455 pelo Papa Calisto III, o qual recebera, muito antes de ocupar a Sé de Pedro, uma profecia do Santo. Com efeito, durante uma das pregações que este último fez em Valência, entre a multidão dos que se aproximavam de São Vicente Ferrer para se encomendar às suas orações, prestou atenção em um sacerdote, que lhe pedia também a caridade de uma prece, ao qual o grande taumaturgo dirigiu as seguintes palavras: "Eu te felicito, meu filho. Tendes presente que és chamado a ser um dia a glória de tua pátria e de tua família, pois serás revestido da mais alta dignidade a que pode chegar um homem mortal. E eu mesmo serei, após minha morte, objeto de tua particular veneração".
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Fontes de referência:
* Frei Vicente Justiniano Antist, Vida de San Vicente Ferrer, in Biografía y Escritos de San Vicente Ferrer, BAC, Madrid, 1956.
* Ludovico Pastor, Historia de los Papas, vol. II, Ediciones G. Gili, Buenos Aires, 1948.
* José Leite S.J., Santos de Cada Dia, vol. I, Editorial A.O., Braga, 1987.
* Matthieu-Maxime Gorce, Saint Vincent Ferrier, Librairie Plon, Paris, 1924.
* Henri Gheon, San Vicente Ferrer, Ediciones e Publicaciones Espanholas S.A., Madrid, 1945.
(Trechos do que foi escrito por Roberto Alves Leite na Revista Catolicismo de abril de 1997)
segunda-feira, 1 de junho de 2020
Tu, meu Deus, a Quem busco
Tu meu Deus a quem busco
sede de ti tenho na alma
qual terra seca, qual terra seca sem água.
Porque o Teu amor é melhor que a vida
meus lábios querem cantar para Ti
e assim quero com a vida bem dizer-Te
e levantar as mãos abertas para Ti.
Quantas vezes de noite, quando o sono se vai, penso em Ti
e tranquilo me encontro à Tua sombra
como uma criança, minha alma se aperta contra Ti
e segura a Tua mão me sustém.
Uma só coisa Te peço, Senhor, uma coisa estou buscando:
viver em Tua casa para sempre e conhecer-Te.
Tu sabes quem eu sou. Tu sabes o que eu tenho, o que eu anseio,
o que eu não sou, o que eu não tenho.
Música interpretada por Carolina Canelas, voz e órgão, e Cláudia Canelas, na voz. A autoria da letra/música é-nos desconhecida.