quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Homilia de João Paulo II sobre Santa Teresa d'Ávila


MISSA NO IV CENTENÁRIO DA MORTE DE SANTA TERESA DE JESUS
HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

Solenidade de Todos os Santos 
Ávila, 1 de Novembro de 1982

Veneráveis Irmãos no Episcopado
Queridos irmãos e irmãs!

1. "Assim implorei, e a inteligência foi-lhe dada; eu supliquei e o espírito de sabedoria veio a mim... Amei-a mais do que a saúde e a beleza... Com ela vieram a mim todos os bens, e nas suas mãos inumeráveis riquezas. Regozijei-lhe, porque a Sabedoria é o seu guia" (Sab 7, 7.10-12).
       Vim hoje a Ávila para adorar a Sabedoria de Deus, ao término deste IV Centenário da morte de Santa Teresa de Jesus, que foi filha singularmente amada da Sabedoria divina. Quero adorar a Sabedoria de Deus, juntamente com o Pastor desta diocese, com todos os Bispos da Espanha, com as Autoridades de Ávila e de Alba de Tormes presididas por Suas Majestades e Membros do Governo, com tantos filhos e filhas da Santa e com todo o Povo de Deus aqui reunido, nesta festividade de Todos os Santos.

Teresa de Jesus é riacho que leva à fonte, é resplendor que conduz à luz. E a sua luz é Cristo, o "Mestre da Sabedoria" (cf. Caminho de Perfeição, 21. 4), o "Livro vivo" em que ela aprendeu as verdades (cf. Vida, 26, 5); é essa "luz do céu", o Espírito da Sabedoria, que ela invocava para que falasse no seu nome e guiasse a sua pena (cf. Castelo Interior, IV, 1, 1; V, 1, 1 e 4, 11). Vamos unir a nossa voz ao seu canto eterno das misericórdias divinas (cf. Sl 88, 2; cf. Vida 14, 10-12); para dar graças a esse Deus que é "a mesma Sabedoria" (Caminho de Perfeição, 22, 6).

2. E alegra-me poder fazê-lo nesta Ávila de Santa Teresa que a viu nascer e conserva as recordações mais íntimas desta virgem de Castela. Uma cidade célebre pelas suas muralhas e torres, pelas suas igrejas e mosteiros que, com o seu conjunto arquitectónico, evoca na sua conformação esse castelo interior e luminoso que é a alma do justo, em cujo centro Deus tem a sua morada (cf. Castelo Interior, I, 1, 1.3). Uma imagem da cidade de Deus com as suas portas e muralhas, iluminada pela luz do Cordeiro (cf. Apoc 21, 11-14.23).
       Tudo nesta cidade conserva a recordação da sua filha predileta. "A Santa", lugar do seu nascimento e casa de nobre linhagem; a paróquia onde foi baptizada; a Catedral, com a imagem da Virgem da Caridade que recebeu a sua precoce consagração (cf. Vida, 1.7); a Encarnação, que acolheu a sua vocação religiosa e onde atingiu o ápice da sua experiência mística; São José, primeiro pombal teresiano, de onde saiu Teresa, como "andarilha de Deus", a fundar por toda a Espanha.
       Aqui também eu desejo estreitar ainda mais os meus vínculos de devoção para com os Santos do Carmelo nascidos nestas terras, Teresa de Jesus e João da Cruz. Neles não só admiro e venero os mestres espirituais da minha vida interior, mas também dois luminosos faróis da Igreja na Espanha, que iluminaram com a sua doutrina espiritual os caminhos da minha pátria, a Polónia, desde que no princípio do século XVII chegaram a Cracóvia os primeiros filhos do Carmelo Teresiano.
       A circunstância providencial do encerramento do IV Centenário da morte de Santa Teresa permitiu-me realizar esta viagem, há muito por mim desejada.

3. Quero repetir nesta ocasião as palavras que escrevi no principio deste Ano Centenário: ''Santa Teresa de Jesus está viva, a sua voz ressoa ainda hoje na Igreja" (Carta "Virtutis exemplum et magistra": AAS 73, 1981, p. 699). As celebrações do ano jubilar, aqui na Espanha e no mundo inteiro, confirmaram as minhas previsões.
       Teresa de Jesus, primeira Doutora da Igreja Universal, fez-se palavra viva a respeito de Deus, convidou à amizade com Cristo, abriu novas sendas de fidelidade e serviço à Santa Mãe Igreja. Sei que ela chegou ao coração dos bispos e sacerdotes, para neles renovar desejos de sabedoria e de santidade, para ser "luz da sua Igreja" (cf. Castelo Interior, V, 1.7). Exortou os religiosos e as religiosas a "seguirem os conselhos evangélicos com toda a perfeição" (cf. Caminho, 1, 2) para serem "servos do amor" (Vida, 11, 1). Iluminou a experiência dos leigos cristãos com a sua doutrina acerca da oração e da caridade, caminho universal de santidade, porque a oração, como a vida cristã, não consiste "em pensar muito mas em amar muito" e "todos são naturalmente capazes de amar" (cf. Castelo Interior, IV, 1, 7 e Fundações, 5, 2).
       A sua voz ressoou para além da Igreja católica; suscitando simpatia a nível ecuménico, e traçando pontes de diálogo com os tesouros de espiritualidade de outras culturas religiosas. Alegra-me sobretudo saber que a palavra de Santa Teresa foi acolhida com entusiasmo pelos jovens. Eles apoderam-se dessa sugestiva palavra de ordem teresiana, que eu quero oferecer como mensagem à juventude da Espanha: "Neste tempo são necessários destemidos amigos de Deus" (Vida, 15, 5).
        Por tudo isto quero expressar a minha gratidão ao Episcopado Espanhol que promoveu este acontecimento eclesial de renovação. Agradeço também o esforço da Comissão Nacional do Centenário e o das delegações diocesanas. A todos os que colaboraram na realização dos objectivos do Centenário, a gratidão do Papa que é o agradecimento em nome da Igreja.

4. As palavras do salmo responsorial recordam a grande empresa de Santa Teresa ao realizar as fundações: "Felizes os que habitam na vossa casa. Senhor, aí eles vos louvam para sempre.:. Um dia nos vossos átrios vale mais que milhares fora dele... O Senhor dá-nos a graça e a glória. Ele não recusa os seus bens... Feliz o homem que em Vós confia" (Sl 83. 5.11-13).
       Aqui em Ávila realizou-se, com a fundação do mosteiro de São José, e que foi seguido por outras fundações suas, um desígnio de Deus para a vida da Igreja. Teresa de Jesus foi o instrumento providencial, a depositária de um novo carisma de vida contemplativa que tantos frutos havia de dar.
       Cada mosteiro de Carmelitas Descalças tem de ser "pequeno recanto de Deus", "morada" da sua glória e "paraíso do seu deleite" (cf. Vida, 32, 11; 35, 12). Há-de ser um oásis de vida contemplativa, "um pequeno pombal da Virgem Nossa Senhora" (cf. Fundações, 4, 5). Onde se viva em plenitude o mistério da Igreja que é Esposa de Cristo; com esse tom de austeridade e de alegria característico da herança teresiana. E onde o serviço apostólico em favor do Corpo Místico, segundo os desejos e a recomendação da Mãe Fundadora, pode sempre expressar-se numa experiência de imolação e de unidade: "Todas juntas se oferecem em sacrifício por Deus" (Vida, 39, 19). Em fidelidade às exigências da vida contemplativa que recordei recentemente na Carta às Carmelitas Descalças (cf. Carta de 31 de Maio de 1982), serão sempre a honra da Esposa de Cristo, na Igreja Universal e nas igrejas particulares, onde estão presentes como santuários de oração.
        E o mesmo vale para os filhos de Santa Teresa, os Carmelitas Descalços, herdeiros do seu espírito contemplativo e apostólico, depositários dos anseios missionários da Mãe Fundadora. Oxalá as celebrações do Centenário os infundam também nos vossos propósitos de fidelidade no caminho da oração e de fecundo apostolado na Igreja! Para se manter sempre viva a mensagem de Santa Teresa de Jesus e de São João da Cruz.

5. As palavras de São Paulo, que escutámos na segunda leitura desta Eucaristia, levam-nos até a essa profunda nascente da oração cristã, de onde promana a experiência de Deus e a mensagem eclesial de Santa Teresa. Recebemos "o espírito de adopção pelo qual clamamos: Aba, Pai!... E, se filhos, também herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo, isto, porém, se padecermos com Ele, para que também com Ele sejamos glorificados" (Rom 8, 15.17).
       A doutrina de Teresa de Jesus está em perfeita sintonia com essa teologia da oração apresentada por São Paulo, o apóstolo com o qual ela se identificava tão profundamente. Seguindo o Mestre da oração, em plena consonância com os Padres da Igreja, quis ela ensinar os segredos da Oração comentando a prece do Pai Nosso.
      Na primeira palavra, Pai, a Santa descobre a plenitude que nos confia Jesus Cristo, mestre e modelo da oração (cf. Caminho, 26, 10; 27, 1, 2). Na oração filial do cristão encontra-se a possibilidade de estabelecer um diálogo com a Trindade que habita na alma de quem vive em graça, como tantas vezes experimentou a Santa (cf. Jo 14, 23; e Castelo Interior, VII, 1, 6): "Entre tal Filho e tal Pai — escreve — necessariamente há-de estar o Espírito Santo que enamore a vossa vontade, e juntos nutrem-na de grandíssimo amor..." (Caminho 27, 7). Esta é a dignidade filial dos cristãos: poderem invocar a Deus como Pai, deixarem-se guiar pelo Espírito, para serem em plenitude filhos de Deus.

6. Por meio da oração, Teresa buscou e encontrou Cristo. Buscou-O nas palavras do Evangelho que já desde a sua juventude "atuavam fortemente no seu coração" (Vida, 3, 5); encontrou-O "trazendo-O presente dentro de si" (cf. Vida, 4, 7); aprendeu a admirá-1'O com amor nas imagens do Senhor, das quais era tão devota (cf. Vida, 7, 2; 22, 4); com esta Bíblia dos pobresas imagense esta Bíblia do coraçãoa meditação da palavra pôde reviver interiormente as cenas do Evangelho e aproximar-se do Senhor com imensa confiança.
       Quantas vezes meditou Santa Teresa aquelas cenas do Evangelho que narram as palavras de Jesus às mulheres! Que alegre liberdade interior lhe proporcionou, em tempos de acentuado antifeminismo, esta atitude condescendente do mestre com a Madalena, com Marta e Maria de Betânia, com a Cananeia e a Samaritana, figuras essas femininas tantas vezes recordadas pela Santa nos seus escritos! Não há dúvida que Teresa pôde defender a dignidade da mulher e as suas possibilidades de um apropriado serviço na Igreja, a partir desta perspectiva evangélica: "Não Vos aborrecíeis. Senhor da minha alma, com as mulheres, quando andáveis pelo mundo, antes procuráveis favorecê-las sempre com muita piedade..." (Caminho, Autógrafo de El Escorial, 3, 7).
       A cena de Jesus com a Samaritana junto do poço de Sicar, que recordámos no Evangelho, é significativa. O Senhor promete à Samaritana a água viva: "Quem bebe desta água voltará a ter sede; mas quem beber da água que Eu lhe der jamais terá sede, porque a água que Eu lhe der tornar-se-á nele uma nascente de água a jorrar para a vida eterna" (Jo 4, 13-14).
       Entre as mulheres santas da história da Igreja, Teresa de Jesus é sem dúvida a que respondeu a Cristo com o maior fervor do coração: Dá-me desta água! Ela mesma no-lo confirma quando recorda os seus primeiros encontros com o Cristo do Evangelho: "Oh, quantas vezes me recordo da água viva de que falou o Senhor à Samaritana! E assim sou muito afeiçoada àquele Evangelho" (Vida, 30, 19). Teresa de Jesus, como uma nova Samaritana, convida agora todos a aproximarem-se de Cristo, que é manancial de águas vivas.
       Cristo Jesus, o Redentor do homem, foi o modelo de Teresa. N'Ele encontrou a Santa a majestade da sua divindade e a condescendência da sua humanidade: "Grande coisa é tê-1'O humano, enquanto vivemos e somos humanos" (Vida, 22, 9); via que, embora fosse Deus, embora fosse Homem, não se admirava das fraquezas dos homens. Que horizontes de familiaridade com Deus nos descobre Teresa na Humanidade de Cristo! Com que precisão afirma a fé da Igreja em Cristo, que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem! Como o experimenta tão perto, "companheiro nosso no Santíssimo Sacramento!" (cf. ib. 22, 6).
       Partindo do mistério da Humanidade Sacratíssima que é porta, caminho e luz, chegou ao mistério da Santíssima Trindade (cf. ib. VII, 1, 6) fonte e meta da vida do homem, "espelho em que a nossa imagem está gravada" (ib. 2, 8). E a partir da altura do mistério de Deus compreendeu o valor do homem, a sua dignidade, a sua vocação de infinito.

7. Aproximar-se do mistério de Deus, de Jesus, "ter Jesus Cristo presente" (Vida, 4, 8) constitui toda a sua oração. Esta consiste num encontro pessoal com Aquele que é o único caminho para nos conduzir ao Pai (cf. Castelo Interior, VI, 7, 6). Teresa reagiu contra os livros que propunham a contemplação como um vago engolfar-se na divindade (cf. Vida, 22, 1) ou como um "não pensar em nada" (cf. Castelo Interior, IV, 3, -6) vendo nisso um perigo de se fechar sobre si mesmo, de se afastar de Jesus de quem nos "vêm todos os bens" (cf. Vida, 22. 4). Daqui o seu brado: "afastar-se de Cristo... tal não posso sofrer" (Vida, 22, 1). Este brado vale também nos nossos dias contra algumas técnicas de oração que não se inspiram no Evangelho e que tacticamente tendem a prescindir de Cristo em favor de um vazio mental, que dentro do cristianismo não tem sentido. Toda a técnica de oração é válida enquanto se inspira em Cristo e conduz a Cristo, o Caminho, a Verdade e a Vida (cf. Jo 14,6).
       Bem é verdade que o Cristo da oração teresiana vai mais além de toda a Imaginação corpórea e de toda a representação figurativa (cf. Vida, 9, 6); é Cristo ressuscitado, vivo e presente, que ultrapassa os limites de espaço e lugar, sendo ao mesmo tempo Deus e homem (cf. Vida, 27, 7-8). Mas contemporaneamente é Jesus Cristo, Filho da Virgem que nos acompanha e nos ajuda (cf. Vida, 27, 4).
       Cristo cruza o caminho da oração teresiana de extremo a extremo, desde os primeiros passos até ao ápice da comunhão perfeita com Deus. Cristo é a porta pela qual a alma tem acesso ao estado místico (cf. Vida, 10, 1). Cristo introdu-la no mistério trinitário (cf. Vida, 27, 2-9). A sua presença no desenvolvimento deste "trato amistoso", que é a oração, é obrigatória e necessária: Ele é que o actua e gera. E Ela é também objecto do mesmo. É o "livro vivo". Palavra do Pai (cf. Vida, 26, 5). O homem aprende a permanecer em profundo silêncio, quando Cristo o ensina interiormente "sem ruído de palavras" (cf. Caminho, 25, 2); esvazia-se dentro de si "contemplando o Crucificado" (cf. Castelo Interior, VII, 4, 9). A contemplação teresiana não é busca de escondidas virtualidades subjectivas por meio de depuradas técnicas de purificação interior. mas abrir-se em humildade a Cristo e ao seu Corpo místico que é a Igreja.

8. No meu ministério pastoral afirmei com insistência os valores religiosos do homem, com quem Cristo mesmo se identificou (cf. Gaudium et spes, 22); esse homem que é o caminho da Igreja, e pelo qual tanto determina a sua solicitude e o seu amor, para que todo o homem alcance a plenitude da sua vocação (cf. Redemptor hominis, 13, 14, 18).
       Santa Teresa de Jesus tem um ensinamento muito explícito sobre o imenso valor do homem: ó, meu Jesus — exclama numa formosa oração — quão grande é o amor que tendes pelos filhos dos homens, pois o melhor serviço que se lhes pode fazer é deixá-los a Vós por amor e proveito deles, e então sois possuído mais inteiramente... Quem não amar o próximo, não Vos ama. Senhor meu; pois com tanto sangue vemos demonstrado o amor tão grande que tendes pelos filhos de Adão!" (Exclamação, 2, 2). Amor de Deus e amor do próximo, unidos indissoluvelmente, são a raiz sobrenatural da caridade que é o amor de Deus e com a manifestação concreta do amor do próximo, como "o mais certo sinal" de que amamos a Deus (cf. Castelo Interior, V, 3, 8).

9. A ideia fundamental da vida de Teresa, como projecção do seu amor por Cristo e do seu desejo da salvação dos homens, foi a Igreja. Teresa de Jesus "sentiu a Igreja", viveu "a paixão pela Igreja" como membro do Corpo Místico.
       Os tristes acontecimentos da Igreja do seu tempo, foram como feridas progressivas que suscitaram ondas de fidelidade e de serviço. Sentiu profundamente a divisão dos cristãos como um dilaceramento do seu próprio coração. Respondeu eficazmente com um movimento de renovação para manter resplandecente o rosto da Igreja santa. Foram-se alargando os horizontes do seu amor e da sua oração à medida que tomava consciência da expansão missionária da Igreja Católica, com o olhar e o coração fixos em Roma, o centro da Catolicidade, com um afecto filial para com "o Padre Santo", como ela chama o Papa, que a levou inclusivamente a manter uma correspondência epistolar com o meu predecessor o Papa Pio V. Emociona-nos ler esta confissão de fé com a qual rubrica o livro das Moradas:"Em tudo submeto-me ao que a Santa Igreja Católica Romana determina, pois nisto vivo, confesso e prometo viver e morrer" (Castelo Interior, Epílogo, 4).
       Em Ávila estimulou-se aquela incandescência de amor eclesial que iluminava e afervorava teólogos e missionários. Aqui teve início aquele serviço original de Teresa na Igreja do seu tempo; num momento tenso de reformas e contra-reformas optou pelo caminho radical do seguimento de Cristo, pela edificação da Igreja com pedras vivas de santidade; levantou a bandeira dos ideais cristãos para animar os chefes da Igreja. E era Alba de Tormes, ao término de uma intensa jornada de caminhos de fundações, Teresa de Jesus, a cristã verdadeira e a esposa que desejava logo encontrar-se com o Esposo, exclama: "Obrigado... meu Deus..., porque me fizeste filha da tua santa Igreja Católica" (Declaração de Maria de São Francisco: Biblioteca Mística Carmelitana, 19, pp. 62-63). Sou filha da Igreja! Eis aqui o título de honra e de compromisso que a Santa nos legou para amarmos a Igreja, para a servirmos com generosidade!

10. Queridos irmãos e irmãs, recordámos a figura luminosa e sempre actual de Teresa de Jesus, a filha singularmente amada da divina Sabedoria, a andarilha de Deus, a Reformadora do Carmelo, glória da Espanha e luz da Santa Igreja, honra das mulheres cristãs, presença ilustre na cultura universal.
       Ela quer continuar caminhando com a Igreja até ao fim dos tempos. Ela, que no leito de morte dizia: "É hora de caminhar". A sua corajosa figura de mulher em caminho, sugere-nos a imagem da Igreja, Esposa de Cristo, que caminha no tempo já nos alvores do terceiro milénio da sua história.
       Teresa de Jesus que conheceu as dificuldades dos caminhos, convida-nos a caminhar levando Deus no coração. Para orientar o nosso roteiro e fortalecer a nossa esperança lança-nos ela esta palavra de ordem, que foi o segredo da sua vida e da sua missão: "Coloquemos os olhos em Cristo nosso bem!" (cf. Castelo Interior, I, 2, 11), para Lhe abrir de par em par as portas do coração de todos os homens. E assim, o Cristo luminoso de Teresa de Jesus será na sua Igreja, "Redentor do homem, centro do cosmos e da história".
       Os olhos em Cristo! (cf. Caminho, 2, 1; Castelo Interior, VII, 4, 8; Heb 12, 2). Para que no caminho da Igreja, como nos caminhos de Teresa que partiram desta cidade de Ávila, Cristo seja "Caminho, Verdade e Vida" (cf. Jo 14, 5 e Castelo Interior, VI, 7, 6).

Assim seja.

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