sábado, 31 de maio de 2014

Ascensão do Senhor ao Céu - ano A - 1 de junho

       1 – IDE E FAZEI DISCÍPULOS.
       Antecipando a paixão e morte, acontecimentos difíceis de gerir e aceitar, Jesus alerta os discípulos para esses tempos que se aproximam, preparando-os para as adversidades, e logo propondo um encontro para depois, na Galileia dos gentios. A morte levá-los-á à dispersão, à fuga, ao medo, ao desencanto. Jesus tem consciência dos limites dos seus seguidores, instruiu-os mas sabe até onde são capazes de suportar os primeiros embates negativos e sem Ele por perto. Com a Ressurreição, através de Maria Madalena, Jesus recorda-lhes esse reencontro.
       As aparições do Ressuscitado são pontuais, mas decisivas, servem um propósito: revelação, experiência, o Crucificado está vivo, Ressuscitado, no meio, no CENTRO dos discípulos. Quando e sempre que estes se reunirem em Seu nome, Ele estará no meio deles, até ao fim, em todos os tempos e lugares. Agora o TEMPO é NOVO. A Sua Presença far-se-á pelo Espírito Santo, que lhes revelará toda a verdade, atualizando, sacramentalmente, a Sua entrega e o Seu amor por eles e por nós.
       Jesus aproximou-Se deles e aproxima-Se de nós, encontra-nos na nossa vida, com os nossos afazeres e preocupações. Disse-lhes e diz-nos: «Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra. Ide e ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos».
       IDE E FAZEI DISCÍPULOS. Mandato para todos os seus discípulos. CHAMADOS para O seguir, para O amar, para O viver. ENVIADOS a transparecer no mundo o Seu amor em nós. Somos, como sublinhava o Papa Francisco n' "A Alegria do Evangelho", a sua primeira Exortação Apostólica, discípulos missionários, tanto mais discípulos quanto mais apóstolos, missionários, evangelizadores. A nossa Diocese de Lamego vive este ano pastoral sob este desafio: IDE E FAZEI DISCÍPULOS, na certeza que o encontro com Jesus abre as portas do nosso coração e da nossa vida para irmos ao encontro de outros, sobretudo os que se encontram em situação mais frágil.
       2 – Lucas, no início dos Atos dos Apóstolos, relata, de maneira muito luminosa e clarificadora, a Ascensão de Jesus ao Céu, em perspetiva de envio. Para encontrarmos Jesus havemos de fitar o olhar para as alturas, que nos permite ver mais largo e mais longe, e ter as mãos e os pés e a vontade ligados à terra, comprometidos com os que prosseguem connosco as encruzilhadas da vida. O Céu nunca poderá ser uma desculpa para nos afastarmos dos outros ou para deixarmos de os servir. Pelo contrário, porque, em Jesus, o Céu chegou até nós, e está a descoberto, outra obrigação não nos cabe que não seja despertar os outros para o que está a acontecer – o Reino de Deus em ebulição –, através da nossa voz e da nossa vida.
       A propósito de São Lucas é investigar tudo o que diz respeito a Jesus, do nascimento à morte e ressurreição, do que ouviu a outros e das investigações que pôde fazer, e assim nasce o Evangelho, dando também nota do acolhimento do Evangelho nos primeiros tempos, no período pós-Ressurreição, com as vivências das primeiras comunidades cristãs, as perseguições e a dispersão dos apóstolos e consequente expansão do cristianismo, e como (sobretudo) Pedro e Paulo levam a Palavra de Deus além das fronteiras judaicas, e assim nasce o seu segundo livro, Atos /Feitos dos Apóstolos.
       E por onde começar esta segunda parte? Precisamente quando Jesus passa o testemunho aos Seus discípulos. Jesus começa por os prevenir para que não percam energias a saber quando Deus restaurará o reino de Israel: «Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a sua autoridade; mas recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra». Há assuntos que continuarão a ser mistério. Ainda bem. Lidar com o fim nunca é fácil, muito menos quando se sabe o dia e a hora. Talvez nos tornássemos uma espécie de presos condenados à morte a aguardar por uma injeção letal.
       O importante é receber o Espírito Santo, para sermos verdadeiramente testemunhas de Jesus em toda a parte e em todos os ambientes.
       3 – Depois das últimas recomendações, Jesus "elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos". Extasiados, os discípulos ficam a olhar para os Céus. Já se tinham habituado à presença corpórea de Jesus. Que sensações terão experimentado, que dúvidas, que inquietações? Que será de nós? Como saberemos que Ele está connosco? Como Se manifestará o Espírito Santo em nós? Seremos capazes de prosseguir com os Seus gestos? Até onde e até quando anunciaremos o Reino de Deus? Quem nos há de liderar? Como viver ao jeito do Mestre sem a Sua presença física?
       São perguntas que talvez também fizéssemos! Quem ocupará o seu lugar de alguém que parte? Quem vem, saberá preencher o espaço deixado vago?
       Mais uma vez, ainda que lugar-comum, o caminho faz-se caminhando. "Apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco, que disseram: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu». O Céu é um referencial constante, foi de lá que veio Jesus e que de novo virá. Mas como? Do mesmo jeito, isto é, do meio de vós, do meio de nós. É no meio, no CENTRO, que encontraremos Jesus. Há que procurá-l'O entre nós, servindo-O nas outras pessoas. O que fizerdes ao mais pequeno dos irmãos é a Mim que o fazeis. IDE E FAZEI DISCÍPULOS, anunciai o Evangelho, batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Eu estarei sempre convosco, diz-nos Jesus.

       4 – Ficar a olhar para o céu, de braços cruzados, nunca será solução. Choverá quando Deus quiser e do mesmo modo fará sol. Não adianta ficarmos a cismar, ou a rezar para que Deus faça a nossa vontade.
       A oração, sem dúvida, é uma oportunidade de acolhermos o Espírito que vem de Deus, tomando consciência da nossa identidade, da nossa pertença comum, e, simultaneamente, far-nos-á sentir mais próximos uns dos outros, pois quanto mais estivermos próximos de Deus, que é Pai de todos, mais estaremos em relação aos irmãos. A oração não é apenas um refúgio, um porto de abrigo. É isso, mas é muito mais. É bênção, é luz, é desafio. Prepara-nos para as dificuldades, ajuda-nos a encontrar soluções, deixando que Deus nos conforte, e que n’Ele possamos ter um Amigo que nos compreende e nos apoia contra todo o mal. A oração compromete-nos com o melhor que há em nós, faz-nos descobrir a nossa origem, a nossa identidade mais profunda, o lugar do silêncio em que ressoa a voz de Deus.
       Hoje, como em tantas outras ocasiões, escutamos a oração de Paulo, a favor da comunidade, intercedendo e suplicando a Deus por todos. Mostrando a grandeza e o poder de Deus, traduzidos no amor de Deus por nós, Paulo reza: “O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de revelação para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza do seu poder para nós os crentes”.
       5 – Ascensão do Senhor e Dia Mundial das Comunicações Sociais. Jesus ascende para enviar o Espírito Santo que nos revela toda a verdade. Ascende para se tornar mais próximo, comunicando-Se através do Espírito a agir nos Seus discípulos. A comunicação social há de ser meio privilegiado para anunciar a verdade, a justiça e a transparência, para aproximar pessoas e comunidades, para levar as pessoas a tomar consciência da sua responsabilidade por um mundo mais justo e fraterno. Os meios da comunicação social permitem-nos hoje estar bem informados, tornarmo-nos vizinhos, mas nem sempre nos fazem irmãos (Bento XVI).
       Para os cristãos e para a Igreja, os meios de comunicação social são instrumento para levar mais longe a Palavra de Deus, e para um compromisso mais efetivo com os mais frágeis do mundo que nos são mostrados, por vezes, sublinhando o escândalo, outras, provocando indiferença pela multiplicação e repetição de notícias que põem a descoberto a miséria humana. Por outro lado, os próprios meios de comunicação social, nomeadamente as redes sociais, merecem cuidado e são espaço de evangelização. Algumas pessoas só se encontram mesmo neste ambiente, com as suas fragilidades e com os seus sonhos de vida, e merecem sempre uma resposta ao modo de Jesus: atenção e cuidado, testemunho e oração. 

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano A): Atos 1, 1-11; Sl 46 (47); Ef 1, 17-23; Mt 28, 16-20.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

ANSELM GRÜN - O Pai-Nosso, uma ajuda para a vida

ANSELM GRÜN (2009). O Pai-Nosso. Uma ajuda para a vida autêntica. Prior Velho: Paulinas Editora. 128 páginas
       Monge beneditino, formado em economia e teologia, alemão, Anselm Grün, através dos seus livros, conferências, procura testemunhar os tesouros da vida. É por muitos considerado um guia espiritual, reunindo grandes audiências. Este pequeno livro é mais um desses tesouros que nos dá vontade de o recomendar vivamente e de ler outros escritos deste autor, já temos mais dois títulos entre mãos.
       Grün percorre os diversos pedidos do Pai-nosso, baseando predominantemente no Evangelho de São Mateus, cuja versão desta oração a Igreja privilegiou. O autor interpreta o Pai-nosso a partir, ou enquadrando as 8 Bem-aventuranças. Estas, segundo ele, são a autêntica interpretação da Oração. A interpretação e a vivência de Jesus.
       Rezar o Pai-nosso implica reconhecer-nos filhos do mesmo Pai, do mesmo Deus, aproximando-nos de Jesus, porque rezamos como Ele rezou, com os mesmos sentimentos. Rezar juntos implica uma novo comportamento. A Oração aproxima-nos de Deus, que por sua vez, nos implica a procurar sentir, pensar, e agir como Ele. As Bem-aventuranças desafiam-nos ao despojamento diante dos bens materiais, numa grande confiança em Deus, mas simultaneamente a trabalhar pelo pão de cada dia, sabendo que Deus caminha connosco e nos apoia na luta contra o mal. Por outro lado, a oração leva-nos a imitar Jesus. Uma vez que a sua opção pelos mais frágeis foi o seu estilo, será também o nosso.
       Na parte final, Grün apresenta o Pai-nosso na versão de são Lucas, cuja oração ocupa o centro do Evangelho mas também o livro dos Atos dos Apóstolos. De uma forme acessível, o autor mostra como a oração é eficaz, no caminho que nos torna solidários uns com os outros, nos prepara para as adversidades e nos leva ao encontro do nosso íntimo, onde podemos ouvir a voz de Deus.
       A leitura desta profunda, mas clara, reflexão, vai por certo ajudar-nos a rezar melhor a sublime oração do Pai-nosso, tomando consciência da riqueza espiritual, mas também do compromisso inegável com os outros, que reconhecemos como irmãos desde logo quando reconhecemos que Deus é Pai Nosso, isto é, Pai de todos.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Paróquia de Tabuaço - Entrega do Credo 2014

       O CREDO é o nosso Bilhete de Identidade, ou o nosso Cartão de Cristão (CC), professamos a fé no mesmo Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na Comunhão dos Santos, na Vida eterna, para agirmos em conformidade com a nossa identidade de irmãos, filhos do mesmo Pai, batizados no mesmo Espírito. O 5.º ano da Catequese preparou-se para receber em festa o CREDO, no sábado, 24 de maio de 2014. É-lhes entregue para o professar com os lábios, o acolher com o coração e para o viver no compromisso com os outros, em Igreja e em sociedade.
       Algumas imagens da Eucaristia com a Entrega do Credo.
       Para mais imagens visitar a página da Paróquia de Tabuaço no Facebook.

sábado, 24 de maio de 2014

Domingo VI da Páscoa - ano A - 25 de maio de 2014

       1 – O que é que faz uma pessoa quando vai partir? A resposta dependerá do tipo de partida: se vai de viagem, em trabalho para um país estrangeiro ou para uma cidade distante para voltar seis meses depois, ou se a partida é definitiva, para a eternidade. Há, porém, pontos comuns e um deles é a casa arrumada, no aspeto mais físico mas sobretudo espiritual. Fazer as malas. Despede-se dos amigos. Passa os últimos momentos com a família, aproveitando para tranquilizar os que ficam, com a presença e o estímulo dos que o veem partir. Deixa recomendações, para a sua ausência, prometendo não se esquecer e não querendo, consequentemente, ser esquecido. Se é por algum tempo, terá meios, e hoje mais que nunca, de permanecer ligado, contactável, para que não seja tão intensa e desgastante a saudade e a distância. Se a partida é para sempre... para quem tem fé, o apelo à esperança, a certeza de um reencontro na eternidade, a fé de uma presença na Presença de Deus, pela oração. Para quem não tem fé, as palavras poderão não ser muito diferentes, esperando um "quem sabe!"
       Jesus, tomando consciência da HORA que se aproxima, prepara os seus discípulos. Pode ver-se, no evangelho HOJE proposto, a tensão para a Cruz mas também para a Ascensão ao Céu. "Não vos deixarei órfãos: voltarei para junto de vós. Daqui a pouco o mundo já não Me verá, mas vós ver-Me-eis, porque Eu vivo e vós vivereis... Eu pedirei ao Pai, que vos dará outro Paráclito, para estar sempre convosco: Ele é o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece, mas que vós conheceis, porque habita convosco e está em vós".
       Foram tão intensos aqueles três anos com os discípulos, que estes terão oportunidade para reviver os momentos e as palavras, descobrindo novos significados, colocando em prática o que antes experimentaram. O passado não será uma prisão, ou um tempo para esquecer, mas um desafio para novas vivências, seguindo a postura do Mestre.
       2 – Ele vai partir. Há que esclarecer os seus discípulos, os amigos mais próximos, sossegando-os e fixando a condição para manterem a CONEXÃO: guardar o Seus Mandamentos. Não é propriamente um conjunto de regras ou normas que abriguem uma cartilha de pecados e de proibições. Guardar os Mandamentos significa acolher o amor de Deus, o amor que une o Pai e o Filho, enlaçado pelo Espírito Santo. Quem ama permanece em Deus e Deus permanece nele. Quem O ama, procura em tudo ser-Lhe agradável, como procuramos ser agradáveis para com as pessoas de quem gostamos. Sublinhe-se, que agradar a Deus não é um capricho divino, mas é a forma, o conteúdo, o instrumento, de entrarmos em lógica de salvação. Seremos agradáveis a Deus amando e servindo o próximo. Sentindo-nos úteis e protagonistas da história que se refaz pela compaixão, pelo amor, pelo serviço aos outros.
       «Se Me amardes, guardareis os meus mandamentos. Se alguém aceita os meus mandamentos e os cumpre, esse realmente Me ama. E quem Me ama será amado por meu Pai e Eu amá-lo-ei e manifestar-Me-ei a ele». Esta é a condição e a certeza de estar em Deus: cumprindo os Seus Mandamentos, viver amando. Exatamente a atitude que assumimos com aqueles que respeitamos, por aqueles a quem nos unem laços de amizade, ou por aqueles a quem temos a obrigação de servir.

       3 – Depois da morte de Jesus, os discípulos precisam de tempo para processar e atualizar tudo o que Ele lhes tinha dito, mas sobretudo precisam do Espírito Santo, dado com a Sua Ressurreição. Só à luz da Ressurreição se torna possível entender a Mensagem de Jesus e torná-la acessível para todos. Ressuscitando, Jesus aparece aos discípulos e logo lhes dará o Espírito Santo, para que a Sua Ascensão signifique sobretudo uma presença mais espiritual, mais abrangente, mais profunda. Doravante prevalecerá a fé e a esperança, animadas com a caridade, ligando deste modo a profissão de fé ao mundo e à história. Foi o Seu compromisso, terá de ser o dos seus discípulos, é o horizonte, o chão, o ambiente da nossa vida.
       Tudo se altera a partir da Vida Nova que Ele traz aos Seus, com a força do Espírito Santo, com a Luz que vem das alturas e inunda o mundo inteiro, a começar pelo túmulo onde fora colocado.
       É HORA de os discípulos espalharem a Boa Notícia da salvação. Aquele que foi morto, Deus O ressuscitou dos mortos. O projeto de perdão e de compaixão, de amor e de serviço, protagonizado por Jesus, volta agora com toda a força do Ressuscitado, a vastidão do Céu – feliz expressão de Bento XVI – chega até nós.
       O tempo das portas fechadas já lá vai: "Filipe desceu a uma cidade da Samaria e começou a pregar o Messias àquela gente. Houve muita alegria naquela cidade. Quando os Apóstolos que estavam em Jerusalém ouviram dizer que a Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram-lhes Pedro e João. Quando chegaram lá, rezaram pelos samaritanos, para que recebessem o Espírito Santo, que ainda não tinha descido sobre eles: só estavam batizados em nome do Senhor Jesus. Então impunham-lhes as mãos e eles recebiam o Espírito Santo". 
       Os dons de Deus não são um exclusivo dos primeiros, são privilégio que se estende ao mundo inteiro, a todos aqueles e aquelas que se predispuserem a acolher o próprio Deus. Deus não dá nada menos que a Si mesmo (Ratzinger/Bento XVI). Os Apóstolos recebem o Espírito Santo, anunciam o Evangelho, e comunicam-n'O a outros, aumentando o número dos discípulos de Jesus.
       4 – Eloquente e luminosa a mensagem de São Pedro, anunciando Jesus, convocando outros para O anunciarem, dando razões da fé professada, mas pedindo cuidado e respeito por todos, mesmo quando maltratados. Em tudo, o importante é fazer o bem, seguindo as pegadas de Jesus:
       "Venerai Cristo Senhor em vossos corações, prontos sempre a responder, a quem quer que seja, sobre a razão da vossa esperança. Mas seja com brandura e respeito, conservando uma boa consciência, para que, naquilo mesmo em que fordes caluniados, sejam confundidos os que dizem mal do vosso bom procedimento em Cristo. Mais vale padecer por fazer o bem, se for essa a vontade de Deus, do que por fazer o mal. Na verdade, Cristo morreu uma só vez pelos nossos pecados – o Justo pelos injustos – para nos conduzir a Deus. Morreu segundo a carne, mas voltou à vida pelo Espírito".
       A alegria que nos vem da fé há de ser ponte de diálogo, de encontro, de partilha, de comunhão, com novos laços, vida nova, libertando-nos para construir um mundo novo, inundado de Deus. O nosso testemunho há de ser perfume que atrai, que envolve, que provoca adesão e seguimento de Jesus Cristo. As palavras e os gestos que usamos deverão ser promotores de vida e de felicidade. Fazer o bem, sempre. Amor com amor se paga (São João da Cruz). Ao Amor recebido, de Deus, amor partilhado, com os irmãos. Mesmo à ofensa, responder com este Amor maior.

       5 – O anúncio da Boa Nova, que nos compromete, gera alegria em nós e a quem escuta de coração leve, disponível, humilde. É na humildade que Maria Se enche de Alegria, e prepara o Seu Corpo e a Sua vida por inteiro para acolher o Corpo de Deus e no-l’O dar.
       A primeira Igreja, Maria, alegra-se no Seu Senhor. A Sua alma rejubila em Deus, predispondo-Se a engrandecer a presença de Deus. E tal é o Seu sim, que a Palavra Se faz Carne e Vida n’Ela. E com este jeito simples, belo, humilde, de acolher Deus, a alegria que se estende a Isabel, aos noivos de Caná, e se renova com a vinda do Espírito Santo, em dias de Pentecostes, que breve celebramos como quem se dispõe a transparecer o Deus que também em nós quer ser carne e vida.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano A): Atos 8, 5-8.14-17; Sl 65 (66) 1 Ped 3, 15-18; Jo 14, 15-21.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

PAGOLA - Pai-nosso. Orar com o Espírito de Jesus

JOSÉ ANTONIO PAGOLA (2012). Pai-nosso. Orar com o Espírito de Jesus. Petrópolis: Editora Vozes, 144 páginas.
       José Antonio PAGOLA é já nossa conhecido destas andanças. Recomendaram-no-lo e agora recomendamo-lo em outras tantas leituras. Sacerdote católico. Professor catedrático. Teólogo, dedicando-se sobretudo à Pessoa de Jesus Cristo.
       Este é um livrinho sobre o Pai-nosso. Sendo a oração mais importante dos discípulos, pois é original. A única oração criada e ensinada por Jesus. Simples. Contém o essencial da Mensagem de Cristo. É um Evangelho breve e simples. Tem o essencial. Há muitos estudos, reflexões, propostas sobre esta oração. E cada livrinho nos pode trazer coisas novas, ainda que o ponto de partida seja Cristo, seja a Sua ligação com o Pai, ligação na qual nos enxerta.
       Pagola reflete, numa primeira parte, nos três pedidos iniciais do Pai-nosso: "Santificado seja", "venha o Teu Reino", "Seja feita a Tua vontade", e nas quatro súplicas: "Dá-nos o Pão", "Perdoa-nos a nossas ofensas", "Não nos deixes cair em tentação", "Livra-nos do mal". Para cada uma das preces, o autor enriquece as suas reflexões com outras passagens do da Sagrada Escritura, mormente com palavras de Jesus Cristo, do Evangelho, com a recorrência dos Salmos, orações também usadas amiúde por Jesus.
       A segunda parte, subdividindo, pelas 7 preces (pedidos e súplicas), num convite à oração do Pai-nosso, com o recurso aos Salmos. Enquanto na primeira parte se valoriza a reflexão, nesta segunda, o convite à oração. Para cada uma das expressões do Pai-nosso, a sugestão de vários Salmos, com os quais nos permite rezar e também perceber melhor a riqueza inesgotável do Pai-nosso.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

João César das Neves - LÚCIA DE FÁTIMA e os seus primos

JOÃO CÉSAR DAS NEVES (2014). Lúcia de Fátima e os seus primos. Lisboa: Paulus Editora. 168 páginas.
       João César das Neves é um conhecido economista, e um reconhecido católico, com intervenções oportunas em diversas áreas, com o pano de fundo da mensagem do Evangelho. Mais um original contributo de um tema incontornável para os católicos (portugueses), o acontecimento de Fátima e as Aparições aos três Pastorinhos, dois deles já beatificados, em 2000, pelo Papa João Paulo II, que se deslocou a Fátima com esse propósito, no dia mais importante, 13 de maio, altura em que foi também revelada a terceira parte do segredo. A Irmã Lúcia viria a falecer cinco anos depois, a 13 de fevereiro de 2005, uns meses antes do Papa João Paulo II, que faleceu a 2 de abril de 2005. Três anos depois, Bento XVI dispensou do prazo para se iniciar o processo de beatificação, que são cinco anos, mas que passados três anos se iniciou o processo.
       O título, desde logo, nos centra no papel preponderante de Lúcia, pela extensão de vida, grande parte dos quais como mensageira da Senhora de Fátima. É do seu testemunho, respondendo aos diversos processos paroquiais, diocesanos, ou em resposta ao Vaticano, seja pelos escritos e pelas respostas que vão dando. O centro de toda a mensagem é DEUS. Outra protagonista é Nossa Senhora. E no serviço de divulgar o amor e a misericórdia de Deus, através da veneração do Imaculado Coração de Jesus e de Maria, os Pastorinhos.
       Se o título nos aponta imediatamente para a irmão Lúcia, o autor não deixa de contextualizar os acontecimentos de Fátima, com o lugar e o ambiente do interior de Portugal, aquela época, a proximidade à primeira guerra mundial, os erros espalhados pela Rússia, os costumes da época, o que envolveu a auscultação dos factos e a evolução dos acontecimentos.
       Antes de Lúcia, os dois primos: Francisco - reservado, decidido, disposto a tudo fazer para consolar Nosso Senhor, sério, não se importando de perder nos jogos. Jacinta - a mais nova. Determinada. Emotiva. A que colhe mais simpatia por parte das pessoas. A primeira a revelar a aparição de Nossa Senhora. Oferece os seus sacrifícios pela conversão dos pecadores, para consolar o Imaculado Coração de Jesus e de Maria, e pelo Santo Padre, a quem vê em grande sofrimento. Sensível, mas ao mesmo tempo corajosa, permanecendo dócil a Nossa Senhora, mas guardando para si o que é necessário guardar. Com a pneumónica sabe que não há nada a fazer, revelação de Nossa Senhora, mas aguenta todos os tratamentos para a conversão dos pecadores e pelo Santo Padre. Morre sozinha.
       Certamente que as Memórias da Irmã Lúcia são imprescindíveis para compreender o acontecimento de Fátima e o desenvolvimento de devoções e da consagração do mundo a Nossa Senhora, o carácter dos seus primos, e o desenrolar das investigações, e os padecimentos a que estiveram sujeitos. No entanto, tem surgido um enorme volume de textos, reflexões, e outras devoções decorrentes da Mensagem de Fátima. João César das Neves apresenta aqui um belíssimo testemunho sobre Fátima, com as PESSOAS incontornáveis nesta Mensagem vinda do Céu, que concorre com Lúcia, Jacinta e Francisco, para fazer chegar o Evangelho mais longe.
        É uma leitura leve, no sentido que é acessível a todos. Em pouco texto diz muito, leva-nos ao essencial. É um daqueles livros sobre o qual não existe dificuldade em recomendar, e que nos permite perceber um acontecimento sobrenatural.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Hans Urs Von Balthasar - Em Maria a Palavra faz-Se Carne

"A Palavra de Deus que quer tomar carne em Maria, necessita de sim 'sim' acolhedor, que seja dito por toda a pessoa, corpo e espírito, sem qualquer restrição (mesmo inconsciente) e que ofereça toda a natureza humana como lugar de incarnação. Receber e permitir não tem que ser uma atitude passiva; perante Deus, receber e permitir, quando realizados na fé, são sempre uma altíssima atividade" (p 103).
"Nenhuma espiritualidade aprovada pela Igreja pode permitir-se pretender chegar a Deus passando ao lado deste modelo de perfeição cristã e não sendo também mariana. De facto não há em toda a realidade eclesial nenhum outro momento em que a resposta de fé esperada da Igreja tenha soado de forma mais pura e tenha sido vivida de forma mais consequente" (p 120).
in RATZINGER e VON BALTASHAR. Maria, primeira Igreja. AQUI.

Ratzinger/Bento XVI - Maria é habitável por Deus

"Tudo o que é dito na Bíblia da ecclesia vale para a Maria, e vice-versa: o que a Igreja é e deve ser, é por ela aprendido na contemplação de Maria. Esta é o seu espelho, a verdadeira medida da sua natureza, porque existe à medida de Cristo e de Deus, 'habitada' por Ele. E para que existiria a Igreja senão para ser habitação de Deus no mundo? Deus não age com coisas abstratas. Ele é Pessoa, e a Igreja é pessoa. Quanto mais nós e cada um de nós nos tornarmos pessoa, pessoa no sentido da inabitação de Deus em nós, Filha de Sião, tanto mais seremos um e tanto mais seremos Igreja, e tanto mais a Igreja será ela própria" (p 64).
"Ela vive de tal maneira que é permeável a Deus, habitável por Ele. Ela vive de tal maneira que se torna um lugar para Deus. Ela vive ao ritmo da dimensão comunitária da história santa de tal forma que não nos aparece bela o estreito e mesquinho 'eu' de um indivíduo isolado, mas sim o todo do verdadeiro Israel" p 65
"Deus não dá menos do que Ele próprio. O dom de Deus é Deus, que, enquanto Espírito Santo, é comunhão connosco. 'És cheia de graça' - isso significa portanto também que Maria é uma pessoa totalmente aberta, que se dilatou totalmente, que se entregou audaciosa e ilimitadamente, sem temor quanto ao seu próprio destino, nas mãos de Deus. Significa que vive inteiramente a partir da relação com Deus e no interior dessa relação. Maria é uma pessoa à escuta e em oração, cujo sentido e cuja alma estão despertos para múltiplos apelos sussurrados pelo Deus vivo. É um ser orante, totalmente tenso para Deus e, por isso, um ser amante com a amplitude e a generosidade do verdadeiro amor, mas também com a sua capacidade infalível de discernimento e com disponibilidade para o sofrimento que existe no amor" (p 67).
"Engrandecer o Senhor - isso significa não se engrandecer a si próprio, ao seu próprio nome, ao seu próprio 'eu', ampliar-se e reivindicar um lugar, mas dar-lhe espaço a Ele para que se torne presente no mundo. Quer dizer: tornarmo-nos mais verdadeiramente o que somos, não uma monada fechada que só se representa a si própria, mas imagem de Deus. Significa libertarmo-nos do pó e da fuligem que torna a imagem opaca e a recobre, e tornarmo-nos verdadeiramente pessoas, inteiramente referidas a Deus" (p 73).
"Só nela a imagem da cruz se cumpre inteiramente, porque é a cruz assumida, a cruz partilhada no amor que nos permite, na sua compaixão maternal, experimentar a compaixão de Deus. Assim, a dor da mãe é dor pascal que já agora opera a abertura da transformação da morte à presença salvífica do amor" (p 77).
"Maria é a Igreja viva. Sobre Ela desce o Espírito Santo e assim se torna no novo Templo. José, o justo, é tornado gerente dos mistérios de Deus, como pai de família e protetor do santuário que constituem a Esposa e o Verbo nela" (p 86).
in RATZINGER e VON BALTASHAR. Maria, primeira Igreja: AQUI.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Ratzinger/Bento XVI - a fé de Maria inicia a Nova Aliança

"Tal como a fé de Abraão esteve no início da Antiga Aliança, assim a fé de Maria inicia a Nova Aliança na cena da Anunciação... Maria põe o seu corpo, todo o seu ser à disposição de Deus para abrigar a Sua presença..." (p 46).
"No momento da queda começa também a promessa" (p 49)
"Na saudação do anjo torna-se claro que a bênção é mais forte que a maldição. O sinal da mulher tornou-se sinal de esperança, a mulher torna-se a guia da esperança"  (p 50).
"A Igreja não inventou nada de novo quando começou a enaltecer Maria; não desceu do cume da adoração do Deus único para um mero louvor humano. A Igreja faz o que deve fazer e o que lhe foi cometido desde o princípio" (p 59).
"O louvor de Maria, conservado, pelo menos, num dos ramos da tradição do cristianismo mais antigo, é o fundamento do Evangelho de infância de Lucas. O registo destas palavras no Evangelho eleva esta veneração de Maria  de um mero facto a uma tarefa da Igreja de todos os lugares e de todos os tempos.
A Igreja negligencia algo que lhe é comandado se não louva Maria. Quando o louvor de Maria nela emudece, a Igreja afasta-se da palavra bíblica. Quando isso acontece também não louva a Deus de forma suficiente. Pois, por um lado, conhecemos Deus através da sua criação: 'O que é invisível em Deus - o seu eterno poder e divindade - tornou-se visível à inteligência, desde a criação do mundo, nas suas obras' (Rom 1,20). Por outro lado, conhecemos Deus, de forma mais próxima, através da história que ele fez com os homens...
O verso do Magnificat mostra-nos que Maria foi uma dessas pessoas que se inserem de forma muito especial no nome de Deus, tanto que não O louvamos suficientemente quando A pomos de parte" (pp 60-61)
"O fundamento da nossa tristeza é a caducidade do nosso amor, a supremacia da finitude, da morte, do sofrimento, da maldade, da mentira; é a nossa solidão no mundo contraditório, no qual os misteriosos e luminosos sinais da bondade de Deus irrompendo pelas frinchas do mundo, são postos em causa pelo poder das trevas, o qual ou faz com que se atribua o mal a Deus ou faz com que Deus pareça ausente" (p 63).
in RATZINGER e VON BALTASHAR. Maria, primeira Igreja: AQUI.

Ratzinger/Bento XVI - A Igreja precisa do mistério mariano

"A Igreja não é um produto 'feito' mas sim a semente viva de Deus que quer crescer e amadurecer. Por isso a Igreja precisa do mistério mariano, por isso é ela própria mistério mariano. A fecundidade só pode acontecer nela quando a Igreja se coloca sob este signo, quando se torna terra sagrada para a Palavra" (p 11).
"Igreja é mais que 'povo', mais que a estrutura e ação: nela vive o mistério da maternidade e do amor esponsal que permite a maternidade. A piedade eclesial, o amor pela Igreja só é realmente possível no seio deste mistério. Onde a Igreja é vista só como masculina, estrutural, institucional, aí desvanece-se o que é a especificidade da Igreja..." (p 20)
"A Igreja é o corpo, a carne de Cristo na tensão espiritual do amor, na qual se cumpre o mistério esponsal de Adão e Eva, e, assim, na dinâmica da unidade que não elimina o face a face. Isto quer dizer que precisamente o mistério eucarístico-cristológico da Igreja, anunciado na expressão 'corpo de Cristo', preserva a sua justa medida só ao incluir o mistério mariano: a serva que escuta, que - tornada livre pela graça - diz o seu fiat e nele se torna esposa e, por isso, corpo" (p 21)
in RATZINGER e VON BALTASHAR. Maria, primeira Igreja: AQUI.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

LAETARE - concerto de oração em Tabuaço

       Maio, o mês de Maria, é preenchido por diversas e variedades celebrações e eventos. O concerto de oração do grupo Laetare, no passado dia 17 de maio, na Igreja Paroquial de Tabuaço, é mais um destes momentos significativos de vivência da fé, através da beleza da música e do canto. Uma harmonia perfeita entre a belíssima voz da Clara, e o engenho do Pedro Marques, à guitarra, e no contraponto de alguns coros. Extraordinariamente belo. Algumas imagens deste início de noite, louvando, rezando, cantando.
Para outras fotos visitar o perfil da Paróquia de Tabuaço no facebook.

XIX Jornada Diocesana da Juventude - 2014

       No fim de semana 16 e 17 de maio, realizou-se a XIX Jornada Diocesana da Juventude, com a presença do GJT (Grupo de Jovens de Tabuaço). Um ano depois da Jornada realizada em Tabuaço, no Santuário de Santa Maria do Sabroso, em Barcos, desta feita, em 2014, no Santuário de Nossa Senhora da Carvalha, em Freixo de Numão, envolvendo as Zonas Pastorais de Meda e de Vila Nova de Foz Côa.
       Momentos diversificados da Jornada, com workshop's, Eucaristia - o centro da Jornada -, e com festa e animação quanto baste.
       Na Eucaristia, o Sr. Bispo, D. António Couto, partindo da liturgia da Palavra do 5.º Domingo da Páscoa e da temática da Jornada - "Eu vos envio a vós" (Jo 20, 21), envolveu a assembleia com palavras muito vivas, desafiando todos, especialmente os jovens, a irem, viverem, anunciarem com alegria e paz, o Evangelho. Jesus mostra o Pai. Os cristão hão de mostrar Jesus. Para isso é necessário vivê-l'O. Ele é a Pedra angular, como refere São Pedro, nós as pedras vivas, animadas pelo Espírito Santo. As pedras, estando vivas, movem-se, vão, formam a Igreja e interagem. Oração e Palavra de Deus que devem ocupar Bispo e sacerdotes, mas também os demais cristãos. Serviço das mesas, caridade, atenção aos mais frágeis.
       "Somos palhaços, se dizemos uma coisa e fazemos outra. Eu, Bispo, os padres, vós. Somos palhaços, se não fazemos o que dizemos". (Sublinhe-se a propósito, que durante a manhã havia alguns palhaços a animar os grupos que chegavam. O palhaço, mesmo estando triste, tem que animar, sorrir, fazer rir, faz rir os outros e por vezes a chorar por dentro). O cristão há de transparecer o que lhe vai dentro, deixando-se "abanar" pelo Espírito Santo, para ser música nova, para ser mensageiro da esperança e do amor, da alegria e da paz.
       Algumas imagens deste dia disponibilizadas nas páginas de jovens e Secretarido Diocesano da Juventude:
Para mais fotografias visitar o perfil da página da Paróquia de Tabuaço no facebbok.

domingo, 18 de maio de 2014

Samperi - Nossa Senhora Desatadora de Nós

MIGUEL CUARTERO SAMPERI (2014). Nossa Senhora Desatadora de Nós. História de uma devoção mariana. Lisboa: Paulus Editora. 56 páginas.
       Um opúsculo sobre uma devoção muito original, mas com uma ligação histórica interessante: nasce na Alemanha e espalha-se na Argentina; existia na Itália, e espalha-se para todo o mundo com o Papa Francisco, que antes tinha levado a devoção para a Argentina.
       No início do século XVII, um casal estava em vias de se divorciar. O marido, Wolfgang, decidiu ir a um mosteiro, em Augsburg, cujo responsável era o sacerdote, Jakob Rem, jesuíta, e onde havia a devoção a Nossa Senhora "três vezes admirável". Na Capela do mosteiro, a imagem de Nossa Senhora das Neves, atualmente padroeira da cidade de Buenos Aires e com devoção também na cidade de Roma. O sacerdote recomenda o casal a Nossa Senhora, uma oração durante 28 dias, o ciclo de reprodução feminino, ou o ciclo para preparar e gerar uma nova vida. Assim o refere o autor.
       O sacerdote confiou a Maria as dificuldades do casal, para que Ela desatasse os NÓS que havia no seu casamento. Um dia, ainda que não haja dados históricos, o sacerdote viu nas mãos de Nossa Senhora um elástico com nós que entretanto Ela foi desatando e o elástico voltou a ser brilhante, branco, como no dia do casamento. A tradição, na celebração do casamento, era colocar um elástico branco em volta das mãos do casal, entrelaçando as suas vidas. A esposa de Wolfgang, Sophie, por cada dificuldade atava um nó no elástico. Nossa Senhora das Neves devolveu a brancura do mesmo e o casal resolveu os problemas.
       O neto do casal, Von Langenmantel (1666-1709, entrou para a vida religiosa e tornou-se cónego da Igreja Sankt Peter  Perlach, em Augsburg (Augusta). Dedicou então um altar em honra dos avós, com um tela em honra da Santíssima Virgem do Bom Conselho, acrescentando-lhes alguns pormenores que recordassem a história da família Lanenmanttel. E assim surge a imagem de Nossa Senhora Desatadora de Nós, com um manto da família, possivelmente um símbolo da família, com um Anjo a passar o elástico a Nossa Senhora que o desata. Outro Anjo recebe o elástico sem nós. Aparece as coroa de doze estrelas, em conformidade com o Apocalipse, e ainda, sob a imagem, um Anjo que leva Tobias ao encontro daquela que será a sua esposa.
       O então Pe. Mario Bergoglio, agora Papa Francisco, tem um papel fundamental na divulgação desta devoção. Tendo ido preparar o doutoramento, na Alemanha, em Augsburg. Aí toma conhecimento desta devoção. Regressando a Buenos Aires leva várias estampas com a Nossa Senhora que desata Nós, que entrega a sacerdotes, casais, que coloca nas cartas que envia a uns e a outros.
       Em 1996, o Cardeal Quarracino autoriza que o pároco de São José del Talar, divulga a devoção na paróquia. E 2010, o Cardeal Bergoglio eleva a paróquia a Santuário de Nossa Senhora que desata nós. No dia 8 de cada mês e especialmente no dia 8 de dezembro, uma multidão de fiéis recorre a Nossa Senhora Desatadora de Nós.
       A devoção existe também em Roma.
       O livrinho faz um enquadramento histórico, teológico, bíblico. Ao mesmo tempo contém uma novena e bem como orações, uma aprovada pelo então Cardeal Jorge Mario Bergoglio, e outra do Papa Francisco, no dia 31 de maio de 2013.
       A Leitura demora alguns minutos.

sábado, 17 de maio de 2014

Mensagem de D. António Couto aos Jovens

COMO ME ENVIOU O PAI, TAMBÉM EU VOS ENVIO
«Portas fechadas» é um dos símbolos deste tempo de medos, incertezas e desconfianças. Mas o Ressuscitado vem com as mãos carregadas de paz e de esperança, deita abaixo as nossas portas fechadas, dissipa os nossos medos, gera alegria e confiança. Ana pelo ar uma energia nova, e tudo à nossa volta se renova. Dentro de nós rebenta um bolhão, pulsa o coração, põe-se uma mesa com vinho e pão. Será que podemos chamar «juventude» a este mar que chegou aqui, mas que não pode parar aqui? Parece que sim, pois este aroma de alegria rejuvenesce todas as coisas. Vai então, mar de amor e de alegra nova, cresce como uma avalanche, derruba portas, abre corações, mostra também as mãos e o lado, vive dando a vida como o Ressuscitado! Vai com o Ressuscitado. Só se pode ir com Ele.
«Disse-lhes então Jesus outra vez: "A paz convosco! Como Me enviou (apéstalken) o Pai, também Eu vos envio (pémpô)"» (João 20,21)
Como em muitas outras passagens, o uso do verbo apostéllô (enviar) acentua o papel do «enviado», que é Jesus, do mesmo modo que o uso do verbo pémpô (também enviar) sublinha o papel do enviante, que, neste caso, continua a ser Jesus. Por outro lado ainda, o envio de Jesus apresenta-se no perfeito grego, pelo que a sua missão começou e continua. Não terminou. Ele continua em missão. A nossa missão está no presente. O presente da nossa missão aparece, portanto, agrafado à missão de Jesus, e não faz sentido sem ela e sem Ele: «Como me enviou o Pai, também Eu vos envio» Nós implicados e imbricados n'Ele e na missão d'Ele, sabendo nós que Ele está connosco todos os dias (cf, Mateus 28, 20).

Vai, então, mar de amor, vai com Jesus, e inunda este mundo de alegria! Há tanta gente à espera que lhe mostres Jesus!

+ António, vosso bispo e irmão

sexta-feira, 16 de maio de 2014

RATZINGER . Von BALTHASAR - Maria, primeira Igreja

Cardeal JOSEPH RATZINGER e HANS URS VON BALTASHAR (2014). Maria, primeira Igreja. Coimbra: Gráfica de Coimbra 2, 190 páginas.

       Uma colaboração curiosa entre dois dos maiores teólogos do século XX. Aquele que viria a ser eleito Papa, adotando o nome de Bento XVI, Cardeal Ratzinger, alemão. Hans Urs Von Balthasar, teólogo e sacerdote suíço, morreu (1988) dois dias antes de ser escolhido para Cardeal pelo Papa João Paulo II.
       O livro foi publicado pela primeira vez na Alemanha em 1980. A versão que temos entre mãos é a tradução portuguesa da quarta edição alemã de 1997, aumentada com novos artigos dos dois amigos que enriqueceram o pensamento da Igreja na segunda metade do século XX.
       É certo que não se devem ler os livros só pelo nome dos seus autores. Mas estes dois, em conjunto, ou individualmente, são uma garantia de fidelidade a Jesus Cristo e ao Seu Evangelho, de fidelidade comprometida com a Igreja e com a sociedade. Hans Urs Von Balthasar foi considerado como o homem "mais culto" do século XX, e um dos maiores teólogos do seu tempo. De Ratzinger não existem dados novos: um dos teólogos mais brilhantes do século XX e nos começos do século XXI. Ligação dos dois ao papa que agora é santo, João Paulo II, que elevaria Balthasar a Cardeal e que escolheu o Cardeal para o ajudar no serviço da Igreja, nomeando-o como Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé e não lhe concedendo a reforma que algumas vezes lhe solicitou. Até ao fim, Ratzinger foi o "braço direito" de João Paulo II, sucedendo-lhe no ministério petrino.
       Mas vamos ao livro que motiva esta sugestão de leitura. Os textos recolhidos foram escritos como intervenções, artigos, homilias, sintonizados na figura ímpar de Maria, a primeira Igreja. São textos acessíveis, de fácil compreensão, como estamos habituados em Ratzinger/Bento XVI e que não difere muito no que se refere a Von Blathasar. Procuram-se dos dados bíblicos sobre a figura e a missão de Maria, procurando apresentar linhas e critérios para uma sã devoção. Um e outro mostram a evolução da devoção a Nossa Senhora, fazendo a ponte para o diálogo com os protestantes e com os ortodoxos. Mostram que Maria não apenas é a primeira discípula de Jesus, mas tem um papel especialíssimo, como primeira Igreja, a Igreja espiritual. Por exemplo, Balthasar, fala na Igreja petrina, ministerial, masculina, e na Igreja mariana, anterior, que nasce com a Encarnação, espiritual e feminina. Maria é Mãe de Jesus, e torna-se Mãe da Igreja. O que se diz da Igreja pode dizer-se de Nossa Senhora, e o que se diz de Maria pode dizer-se da Igreja. O SIM de Maria vem antes, Ela é a Igreja sem mácula, santa, pura. A Igreja é santa também neste fundamento. É pecadora nos seus membros.
       Um dos aspetos abordados e curiosos, e que temos ouvido expressar ao Papa Francisco, é precisamente o papel da Mulher na Igreja e que valeria uma reflexão mais aprofundada como desafio o atual Papa. Maria tem uma missão precedente em relação a Pedro, a Igreja Espiritual, santa, imaculada, feminina. Maria, criatura como nós, assume-se primeira discípulo, envolvida pelo mistério pascal do Seu Filho Jesus. Pelo Espírito Santo, nasce Jesus, nasce a Igreja. É verdadeira intercessora, mesmo onde Jesus a coloca no silêncio como nas Bodas de Caná: Mulher, que temos nós a ver com isso? Ainda não chegou a Minha hora. No entanto, Maria prossegue: Fazei o que Ele vos disser. É um papel que continua a desempenhar.
       A Igreja é, com Maria, sobretudo feminina, custodia a vida biológica e a vida espiritual. Mas a Igreja é também uma realidade sociológica, que se rege com regras e estrutura e daí a necessidade da dimensão masculina, o ministério petrino. Como Cristo encarnou, por Maria, também a Igreja tem que encarnar no tempo e na história.
       Outro aspeto importante, que ambos os autores sublinham, é a necessidade de não descurar as devoções populares que traduzem uma grande sensibilidade. A esse propósito, o então Cardeal Ratzinger sublinhava como os teólogos da libertação deram um contributo decisivo nomeadamente partindo do Magnificat, pelo qual se mostra a exaltação dos humildes e o derrube dos poderosos.

Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei

       Disse Paulo na sinagoga de Antioquia da Pisídia: «Irmãos, descendentes de Abraão e todos vós que temeis a Deus, a nós foi dirigida esta palavra da salvação. Na verdade, os habitantes de Jerusalém e os seus chefes não quiseram reconhecer Jesus, mas, condenando-O, cumpriram as palavras dos Profetas que se lêem cada sábado. Embora não tivessem encontrado nada que merecesse a morte, pediram a Pilatos que O mandasse matar. Cumprindo tudo o que estava escrito acerca d’Ele, desceram-no da cruz e depuseram-n’O no sepulcro. Mas Deus ressuscitou-O dos mortos e Ele apareceu durante muitos dias àqueles que tinham subido com Ele da Galileia a Jerusalém e são agora suas testemunhas diante do povo. Nós vos anunciamos a boa nova de que a promessa feita a nossos pais, Deus a cumpriu para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus, como está escrito no salmo segundo: ‘Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei’» (Atos 13, 26-33).
       O Livro dos Atos dos Apóstolos, depois de narrar diversos feitos que envolvem todos os apóstolos, mas sobretudo a liderança de São Pedro, centra-se agora na figura ímpar de São Paulo. Os discípulos, com as perseguições à Igreja, espalhavam, com mais fervor no anúncio do Evangelho.
       Em Antioquia, dirigindo-se ainda aos judeus, Paulo mostra como em Jesus se cumprem as promessas de Deus a Israel. Os Profetas lidos em cada Sábado na sinagoga veem confirmados as suas palavras na vinda de Jesus, como Messias e Senhor. Mas, os judeus de Jerusalém, sobretudo os chefes, não O reconheceram, condenaram-n'O à morte... mas Deus ressuscitou-O dos mortos e Ele apareceu aos discípulos.
       Com a Ressurreição e com as aparições do Ressuscitado, a missão dos Apóstolos de anunciarem a boa notícia de que Deus cumpriu as promessas em Jesus Cristo. Também São Paulo é testemunha privilegiada de Jesus Cristo.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Viver em função dos outros: um desafio e um perigo

       Há uma forma positiva de viver em função dos outros, como serviço e cuidado ao próximo. E há uma forma destrutiva, desumana e idolátrica de viver em função do que o outro diz, do que pode pensar sobre mim, da palavra que me possa dirigir, ou do agradecimento que posso receber por tentar fazer tudo perfeito.
       Viver em função de alguém como nós, frágil e imperfeito, é desumano. Só Deus é Deus, e neste prisma só deveremos viver em função do louvor e da glória de Deus, para não corrermos o risco da idolatria, do engano e da desilusão. A minha vida não pode ficar dependente do que o outro "quer" pensar ou dizer acerca de mim. Todos temos necessidade de ser reconhecidos como pessoas, com qualidades e defeitos. Se fizermos depender a nossa vida do que alguém pode pensar ou dizer, cairemos num ciclo de insegurança e de ansiedade. Como diria o célebre psiquiatra, Augusto Cury, o nosso pensamento acelera de tal forma que nos pode conduzir ao desespero e à depressão.
       Na perspetiva cristã, agir a favor dos outros, querer o bem dos outros, leva-nos a usar palavras e obras como instrumento de serviço, sem que a preocupação primeira seja o elogio. Isso poderá ser consequência. Se é uma condição prévia, mergulhamos num ciclo de ansiedade, inquietação e espera pelo que pode não chegar, ou chegar de outra forma que não a esperada.
       Não colocar demasiadas expetativas nas outras pessoas.
       Não significa falta de confiança, mas sereno realismo. Os outros são humanos como nós, podem falhar, podem desiludir-nos. Nós podemos desiludir os outros que colocam demasiada confiança em nós. Não é falta de honestidade, de bondade ou de vontade, simplesmente somos humanos. A confiança é a base de tudo, da amizade, do amor, da família, das empresas, da relação dos cidadãos com a cidade. Aliás, se falta a confiança, falta tudo. Só podemos amar alguém em quem confiamos. Mas confiar na pessoa enquanto pessoa, como UM todo, que aqui e além pode errar. Olhar para o outro, o pai, a mãe, o marido, a mulher, o filho, como um ser absolutamente perfeito é o primeiro passo para a desilusão, e por vezes para a rutura. Há que aceitar o outro como ser humano, com as suas limitações, pois também estas integram o pacote.
       Jesus não age para ser agradável aos outros, mas para os ajudar, concretizando a vontade Deus.

publicado na Voz de Lamego, n.º 4263, de 6 de maio de 2014.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

(In)confidências: … fui lá e até foi simpático.

       É uma expressão que ouvimos amiúde em relação a um médico, a um professor ou diretor de turma, a um presidente de Câmara, a um sacerdote, a um funcionário público, denotando desconfiança prévia sobre alguém que deveria ser afável. A ideia inicial: uma pessoa “naquela posição” há estar “cheio de nove horas”, “deve ter o rei na barriga”. Resultará de alguma experiência negativa, própria ou partilhada por outros; ou uma expectativa reduzida.
       Há dias ouvi esta confidência em relação a outros, mas também já a ouvi referida a mim. E, no caso mais pessoal, sempre admira. A consciência do que somos nem sempre corresponde àquilo que os outros veem ou àquilo que efetivamente somos para os outros. "O senhor Padre HOJE está muito simpático". Por vezes é apenas, e só, a diferença entre o contacto e o não contacto, e no contacto as pessoas são naturalmente diferentes, positiva ou negativamente. 
       O bom Papa João XXIII, canonizado no passado domingo, no "Diário da Alma", confessa que muito do que é – a bondade, a paciência, a humildade, a boa disposição – lhe vem da maneira de ser e não do esforço que tenha de fazer, ainda que procure melhorar. Tenho para mim, no que concerne à boa disposição, que esta me é conatural, pelo que sempre me surpreende a surpresa de alguém com a minha boa disposição.
       Conclusões: pressuposição que o sacerdote ou o professor, ou um funcionário, não são habitualmente simpáticos, e cuja "seriedade" deixa os outros de pé atrás; ou é um mero preconceito que tem a ver com o não contacto pessoal; ou ainda, uma constatação concreta, e infeliz, de má vontade, mau atendimento, distanciamento.
       Como cristãos, seguindo Jesus Cristo, o traço da nossa postura há levar-nos a ser simpáticos, agradáveis com todos e concretamente com os que estão situação mais frágil, não para que mudem de opinião a nosso respeito, mas porque decorre da nossa condição humana e que se acentua com o nosso compromisso cristão. Agirmos ao jeito de Jesus Cristo, em prol do outro, oferecer a vida pelos outros. Ser simpático não significa apenas um olhar ou presença sorridente, ainda que possa ser um começo. Simpático e compaixão, seguindo o significado original, implica "sofrer com", colocar-se no lugar do outro, procurando responder às suas necessidades, sem esperar nada em troca, ainda que qualquer relação, entre pessoas ou de Deus para connosco, como sublinha Bento XVI, seja expectável uma resposta.

publicado na Voz de Lamego, n.º 4262, de 29 de abril de 2014.

Quem era eu para poder opor-me a Deus?

Disse-lhes Pedro:
       Quando comecei a falar, o Espírito Santo desceu sobre eles, como sobre nós ao princípio. Lembrei-me então das palavras que o Senhor dizia: ‘João baptizou com água, mas vós sereis baptizados no Espírito Santo’. Se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós, por terem acreditado no Senhor Jesus Cristo, quem era eu para poder opor-me a Deus?» Quando ouviram estas palavras, tranquilizaram-se e deram glória a Deus, dizendo: «Portanto, Deus concedeu também aos gentios o arrependimento que conduz à vida» (Atos 11, 1-18).
       São Pedro regressa à comunidade judaica depois de ter estado entre pagãos. A reacção da comunidade é, de início, apreensiva, desconfiada, cautelosa. A salvação em Cristo é manifestada aos judeus, como é que Pedro vai até junto dos incircuncisos, os pagãos?
       Pedro, inspirado pelo Espírito Santo fala-lhes do sonho que teve e como Deus lhe manifestou a necessidade de alargar a mensagem para os pagãos e, ao mesmo tempo, a recepção positiva dos pagãos à mensagem pregada por Pedro, em nome de Jesus Cristo.
       Finalmente, a comunidade compreende que a salvação não é exclusiva de um povo, de uma nação, de um grupo de pessoas, mas destina-se à humanidade inteira... ainda que episódios destes se repitam pela história da Igreja...

sábado, 10 de maio de 2014

Domingo IV da Páscoa - ano A - 11 de maio de 2014

       1 – A belíssima imagem do pastor e das ovelhas, em Dia Mundial das Vocações, remete-nos imediatamente para a iniciativa de Deus, que cria por amor, respeitando a nossa liberdade, mas mantendo-Se próximo, potenciando as nossas capacidades e opções. Mas se Ele é o Bom Pastor, que Se mistura com as Suas ovelhas, nós somos o rebanho que deve fixar o olhar em Jesus Cristo. Permanentemente. Para não nos desviarmos, para não nos perdermos, para não corrermos o risco de ser devorados pelos lobos, pelo mal, pelo egoísmo.
       Quando nos centramos no nosso interesse, naquilo que comemos, naquilo que temos, a séria possibilidade de nos perdermos dos outros e de Jesus Cristo. Incisiva a imagem: se uma ovelha pastar, preocupada em saciar a sua fome, mas esquecendo-se das que seguem ao lado, ou deixando de avistar o pastor, poderá perder-se momentaneamente ou para sempre. Assim connosco. Em todo o caso, o Pastor vigia o tempo todo e, se o rebanho é muito grande, conta com ajudantes, companheiros, parentes, ou cães de guarda. Nós somos as ovelhas, o rebanho do Senhor, mas somos também os Seus ajudantes, procurando, com a nossa voz e o nosso peregrinar, fazer com que nenhuma ovelha se perca, e como ovelhas não perder de vista os que nos acompanham e Aquele que é o Bom Pastor.
       O Bom Pastor dá a vida pelas ovelhas, congregando-as na unidade, procurando as melhores pastagens. «O Senhor é meu pastor: nada me falta. Leva me a descansar em verdes prados, conduz me às águas refrescantes e reconforta a minha alma» (Salmo). Se alguma tem dificuldade em acompanhar o rebanho, o Pastor volta atrás, pega-lhe ao colo ou põe-na aos ombros. É o que faz Jesus pela humanidade. É o que deveremos fazer uns pelos outros. Ele identifica-Se connosco, não para ficar como nós, mas para que nós possamos tornar-nos semelhantes a Ele, seguindo-O.
       2 – O pastor conhece as ovelhas pelo nome e sabe as características específicas de cada uma. Elas, por sua vez, conhecem a sua voz, percebem a aproximação até pelo jeito de andar. Se entra no aprisco um ladrão ou salteador, as ovelhas ficam agitadas.
«Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas. As ovelhas conhecem a sua voz. Ele chama cada uma delas pelo seu nome. Caminha à sua frente e as ovelhas seguem-no, porque conhecem a sua voz. Se for um estranho, não o seguem, mas fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos».
       O pastor entra pela porta, às claras, falando, cantando. O salteador, o inimigo, entra silencioso, sorrateiro, para que ninguém se aperceba da sua presença, de noite quando todos dormem, ou em momentos em que o pastor não está por perto. É um pouco como os lobos, pronto para devorar. As obras do bem e da verdade não precisam de estar acobertas da noite e da escuridão.
       Outra imagem sugestiva usada por Jesus:
Eu sou a porta das ovelhas. Aqueles que vieram antes de Mim são ladrões e salteadores, mas as ovelhas não os escutaram. Eu sou a porta. Quem entrar por Mim será salvo: é como a ovelha que entra e sai do aprisco e encontra pastagem. O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que as minhas ovelhas tenham vida e a tenham em abundância».
       É por Ele que seremos salvos. Podemos abrandar o nosso passo, distrair-nos, afastar-nos. Poderemos seguir por outras portas, ou ir atrás de outros "pastores", mas no final é n'Ele que nos encontraremos como irmãos. Identificando-nos com Jesus, sabemos que estamos no bom caminho. Há que adaptar a nossa vida ao jeito de ser e de viver de Jesus: amando, dando a vida. A salvação que chega até nós não nos castiga ou destrói. Como referia Bento XVI, nas Jornadas Mundiais da Juventude, em Colónia, Cristo não nos tira nada. Ele vem precisamente para que tenhamos a vida e vida em abundância.
       3 – Pedro – escolhido por Cristo para sobre ele assentar a Sua Igreja –, mostra-se pastor atento, desenvolto, testemunhando a alegria da Ressurreição mas também as implicações do seguimento.
       Nos Atos dos Apóstolos, assumindo a liderança que lhe cabe, diz alto e bom som: «Saiba com absoluta certeza toda a casa de Israel que Deus fez Senhor e Messias esse Jesus que vós crucificastes». A constatação de Pedro traz ao de cima a sua espontaneidade, aproveitando para desafiar: «Convertei-vos e peça cada um de vós o Batismo em nome de Jesus Cristo, para vos serem perdoados os pecados. Recebereis então o dom do Espírito Santo, porque a promessa desse dom é para vós, para os vossos filhos e para quantos, de longe, ouvirem o apelo do Senhor nosso Deus».
       O perdão dos pecados e a vida nova no Espírito Santo está ao alcance de todos. Porém e mais uma vez Pedro não esconde as dificuldades do tempo presente. Tornamo-nos novas criaturas mas não super-homens ou supermulheres imunes ao sofrimento. A identificação a Jesus permite-nos suportar melhor e relativizar as adversidades:
“Se vós, fazendo o bem, suportais o sofrimento com paciência, isto é uma graça aos olhos de Deus. Para isto é que fostes chamados, porque Cristo sofreu também por vós, deixando-vos o exemplo, para que sigais os seus passos. Ele não cometeu pecado algum e na sua boca não se encontrou mentira. Insultado, não pagava com injúrias; maltratado, não respondia com ameaças; mas entregava-Se Àquele que julga com justiça. Ele suportou os nossos pecados no seu Corpo, no madeiro da cruz, a fim de que, mortos para o pecado, vivamos para a justiça: pelas suas chagas fomos curados. Vós éreis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes para o pastor e guarda das vossas almas”.
       É Jesus, o Bom Pastor, que nos congrega para Deus. É a referência. O testemunho de pessoas próximas de nós ajuda-nos a perceber o caminho, mas o critério último é sempre Jesus Cristo.
       4 – Na Mensagem para Dia Mundial das Vocações, o Papa Francisco sublinha que a abundância de vocações se deve antes de mais à proximidade a Deus:
«Disse, então, aos seus discípulos: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe” (Mt 9, 35-38). Estas palavras causam-nos surpresa, porque todos sabemos que, primeiro, é preciso lavrar, semear e cultivar, para depois, no tempo devido, se poder ceifar uma messe grande. Jesus, ao invés, afirma que “a messe é grande”. Quem trabalhou para que houvesse tal resultado? A resposta é uma só: Deus. Evidentemente, o campo de que fala Jesus é a humanidade, somos nós. E a ação eficaz, que é causa de “muito fruto”, deve-se à graça de Deus, à comunhão com Ele (cf. Jo 15, 5). Assim a oração, que Jesus pede à Igreja, relaciona-se com o pedido de aumentar o número daqueles que estão ao serviço do seu Reino".
       Continua o Papa Francisco: «Não devemos ter medo: Deus acompanha, com paixão e perícia, a obra saída das suas mãos, em cada estação da vida. Ele nunca nos abandona!»
       Somos terra de cultivo. «A vocação é um fruto que amadurece no terreno bem cultivado do amor uns aos outros que se faz serviço recíproco, no contexto duma vida eclesial autêntica. Nenhuma vocação nasce por si, nem vive para si. A vocação brota do coração de Deus e germina na terra boa do povo fiel, na experiência do amor fraterno.»
       Seremos testemunhas do Evangelho, mas antes teremos que deixar que a nossa vida frutifique em abundância. «Disponhamos, pois, o nosso coração para que seja “boa terra” a fim de ouvir, acolher e viver a Palavra e, assim, dar fruto. Quanto mais soubermos unir-nos a Jesus pela oração, a Sagrada Escritura, a Eucaristia, os Sacramentos celebrados e vividos na Igreja, pela fraternidade vivida, tanto mais há de crescer em nós a alegria de colaborar com Deus no serviço do Reino de misericórdia e verdade, de justiça e paz. E a colheita será grande, proporcional à graça que tivermos sabido, com docilidade, acolher em nós».
       Ninguém pode dar o que não tem. Cabe-nos acolher a misericórdia de Deus, no Espírito Santo, e tornarmo-nos facilitares do mesmo Espírito para os outros, deixando que a Luz de Cristo, atuando em nós, transparece para os outros.

Pe. Manuel Gonçalves

Textos para a Eucaristia (ano A): Atos 2, 14a. 36-41; Sl 22 (23), 1 Ped 2, 20b-25; Jo 10, 1-10.