LUIGI MARIA EPICOCO (2019). Sal, não mel. Para uma Fé que incendeie. Lisboa: Paulus Editora. 180 páginas.
"A Fé não é um pouco de mel na boca para enganar o sabor de um comprimido amargo. Por vezes, é uma coisa que arde, como o sal numa ferida. Mas exatamente por isto impede-a de 'apodrecer'. Somos chamados a ser sal, não mel".
É desta forma que termina este pequeno livro, sublinhando que a Fé não nos livra da luta, do fracasso ou do sofrimento. Quando muito leva-nos a viver a tempestade como esperança para o que há de vir, com a certeza do bem que está além e apesar de todo o mal, na certeza que somos amados, que Deus nos ama mesmo que a nossa vida contradiga a nossa pertença ao Senhor.
É leitura sobre as três virtudes teologais: Fé, Esperança e Caridade. A abrir, o autor cita o Diário de um pároco de aldeia, de Georges Bernanos: "Uma cristandade, como como um homem, não se nutre de compota. O bom Deus não escreveu que fôssemos o mel da terra, meu rapaz, mas o sal... O sal, sobre a pele ferida, é uma coisa que arde. Mas também a impede de apodrecer". A partir daqui Luigi Picoco reflete sobre a vida espiritual como dom e como caminho, encontro entre a Graça de Deus e a nossa abertura para a acolher na nossa vida. "A nossa vida está sempre prestes a apodrecer... As coisas que se arriscam a apodrecer são as coisas vivas, as coisas transbordantes de vida... Uma doença desenvolve-se onde há vida. Uma chaga dói porque agride um corpo vivo".
Por vezes, na vida espiritual somos como discípulo noturno, como Nicodemos, temos a necessidade de escutar Jesus, de O seguir, de alargar a nossa humanidade, mas ao mesmo tempo estamos presos à noite, ao julgamento dos outros, com medo de perder o pé. Optamos pelo compromisso, ansiosos pelo Espírito, mas não abdicando das nossas certezas. "A humildade é deixar de confiar em nós mesmos e começar a confiar exclusivamente n'Ele".
Antes de refletir especificamente sobre as virtudes teologais o autor faz-nos ver que elas são dom de Deus. Não são esforço nosso. É dom do Céu. "No máximo, humanamente, somos capazes de confiança, que é assunto diferente da Fé; somos capazes de otimismo que não é Esperança, e somos capazes de bem que é matéria diferente de Caridade", aos quais hão de corresponder comportamentos humanos, mas estes só por si são insuficientes.
"A Fé uma direção, não uma explicação... Caminhos mais que respostas... A Fé é sempre um caminho. É uma direção na escuridão... uma estrada a percorrer". A Fé liberta-nos da posse. É significativo que Abraão "abdique" da posse do seu filho Isaac, por acreditar no amor de Deus.
A Fé fala da relação de amor, entre mim e Ele. Deus ama-me! A Esperança é acreditar que no fundo de tudo o que existe está escondido o bem. Assim, a esperança diz respeito á nossa relação com tudo o que Deus criou. Há que conjugar, então, a relação entre duas montanhas, a do Tabor e a do Calvário. O Tabor mostra-nos a divindade de Jesus. O Calvário, a Sua humanidade. "Na hora da cruz, a hora do Calvário, não verás mais luz, mas só a memória da luz te poderá segurar. É a memória profunda, a recordação de quem uma vez vimos uma luz. É isto que nos salva na escuridão... A Esperança é a memória viva desta luz que nos acompanha quando estamos na escuridão".
O primordial é a Caridade. A Fé e a Esperança são necessárias, mas o fundamento é o amor, a caridade. "A Fé é crer que Deus me ama. A Esperança é saber que, no fundo de tudo, o que existe é um bem... A Caridade é saber que primeiro que tudo, antes de qualquer coisa, existe o amor". É importante amar, mas igualmente saber-se e sentir-se amado. "Ser cristão não significa viver apenas o mandamento de amar. O mandamento do amor é amar, sim, mas também deixar-se amar. Isto fundamenta a nossa vida. É o pressuposto para que uma vida permaneça humana, porque o coração do homem, crente ou não-crente, cristão ou não-cristão, exige, pela sua natureza, saber-se amado... Todos procuramos o amor, todos procuramos ser amados. A maior parte das nossas patologias nascem exatamente do amor, isto é, de não nos sentirmos amados... a única coisa que satisfaz o nosso coração, mais ainda que a Fé, mas do que a Esperança, é o Amor, é a Caridade, é saber-se amado de maneira estável, definitiva, decisiva... Só o amor cura a nossa angústia, a nossa tristeza, o nosso desconforto, a nossa insatisfação. Só o Amor. Deus envia o Seu Filho ao mundo por tomar a sério este desejo de nos sentirmos amados que existe em todos nós... Não são os mandamentos que nos fazem sentir amados... Deus dá-nos o Filho. Porque sabe que temos necessidade da concretização do Amor e não da explicação do Amor... O amor preenche-nos a vida... A Caridade é o pressuposto da vida".
É leitura sobre as três virtudes teologais: Fé, Esperança e Caridade. A abrir, o autor cita o Diário de um pároco de aldeia, de Georges Bernanos: "Uma cristandade, como como um homem, não se nutre de compota. O bom Deus não escreveu que fôssemos o mel da terra, meu rapaz, mas o sal... O sal, sobre a pele ferida, é uma coisa que arde. Mas também a impede de apodrecer". A partir daqui Luigi Picoco reflete sobre a vida espiritual como dom e como caminho, encontro entre a Graça de Deus e a nossa abertura para a acolher na nossa vida. "A nossa vida está sempre prestes a apodrecer... As coisas que se arriscam a apodrecer são as coisas vivas, as coisas transbordantes de vida... Uma doença desenvolve-se onde há vida. Uma chaga dói porque agride um corpo vivo".
Por vezes, na vida espiritual somos como discípulo noturno, como Nicodemos, temos a necessidade de escutar Jesus, de O seguir, de alargar a nossa humanidade, mas ao mesmo tempo estamos presos à noite, ao julgamento dos outros, com medo de perder o pé. Optamos pelo compromisso, ansiosos pelo Espírito, mas não abdicando das nossas certezas. "A humildade é deixar de confiar em nós mesmos e começar a confiar exclusivamente n'Ele".
Antes de refletir especificamente sobre as virtudes teologais o autor faz-nos ver que elas são dom de Deus. Não são esforço nosso. É dom do Céu. "No máximo, humanamente, somos capazes de confiança, que é assunto diferente da Fé; somos capazes de otimismo que não é Esperança, e somos capazes de bem que é matéria diferente de Caridade", aos quais hão de corresponder comportamentos humanos, mas estes só por si são insuficientes.
"A Fé uma direção, não uma explicação... Caminhos mais que respostas... A Fé é sempre um caminho. É uma direção na escuridão... uma estrada a percorrer". A Fé liberta-nos da posse. É significativo que Abraão "abdique" da posse do seu filho Isaac, por acreditar no amor de Deus.
A Fé fala da relação de amor, entre mim e Ele. Deus ama-me! A Esperança é acreditar que no fundo de tudo o que existe está escondido o bem. Assim, a esperança diz respeito á nossa relação com tudo o que Deus criou. Há que conjugar, então, a relação entre duas montanhas, a do Tabor e a do Calvário. O Tabor mostra-nos a divindade de Jesus. O Calvário, a Sua humanidade. "Na hora da cruz, a hora do Calvário, não verás mais luz, mas só a memória da luz te poderá segurar. É a memória profunda, a recordação de quem uma vez vimos uma luz. É isto que nos salva na escuridão... A Esperança é a memória viva desta luz que nos acompanha quando estamos na escuridão".
O primordial é a Caridade. A Fé e a Esperança são necessárias, mas o fundamento é o amor, a caridade. "A Fé é crer que Deus me ama. A Esperança é saber que, no fundo de tudo, o que existe é um bem... A Caridade é saber que primeiro que tudo, antes de qualquer coisa, existe o amor". É importante amar, mas igualmente saber-se e sentir-se amado. "Ser cristão não significa viver apenas o mandamento de amar. O mandamento do amor é amar, sim, mas também deixar-se amar. Isto fundamenta a nossa vida. É o pressuposto para que uma vida permaneça humana, porque o coração do homem, crente ou não-crente, cristão ou não-cristão, exige, pela sua natureza, saber-se amado... Todos procuramos o amor, todos procuramos ser amados. A maior parte das nossas patologias nascem exatamente do amor, isto é, de não nos sentirmos amados... a única coisa que satisfaz o nosso coração, mais ainda que a Fé, mas do que a Esperança, é o Amor, é a Caridade, é saber-se amado de maneira estável, definitiva, decisiva... Só o amor cura a nossa angústia, a nossa tristeza, o nosso desconforto, a nossa insatisfação. Só o Amor. Deus envia o Seu Filho ao mundo por tomar a sério este desejo de nos sentirmos amados que existe em todos nós... Não são os mandamentos que nos fazem sentir amados... Deus dá-nos o Filho. Porque sabe que temos necessidade da concretização do Amor e não da explicação do Amor... O amor preenche-nos a vida... A Caridade é o pressuposto da vida".