quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Domingo IV do Advento - C - 19 de dezembro de 2021


1 – O Evangelho de São Lucas abre praticamente com visitação do Anjo Gabriel a Zacarias e a Maria, uma virgem desposada com um homem chamado José. Cada uma das visitações traz um anúncio. Zacarias e Isabel vão ser pais, apesar da idade avançada. Para eles, a idade de serem pais já tinha passado, já se tinham conformado com essa “maldição”. Apesar disso, são tementes a Deus, justos e cumpridores da Lei, procedendo irrepreensivelmente segundo os mandamentos e preceitos do Senhor. A Deus nada é impossível. Deus opera para além dos nossos limites racionais e torna viável o que é inalcançável, favorecendo-nos com a Sua benevolência. É inacreditável. Zacarias fica sem palavras. Não há palavras que possam expressar o inaudito que nos chega de Deus. Estamos longe de nos apercebermos de quanto bem Deus faz por nós ou coloca ao nosso alcance!

2 – A visitação do Anjo a Maria tem um propósito que alterará para sempre a história da humanidade. Mesmo para os que não acreditam, contestam ou se manifestam indiferentes, Aquele que está para vir ao mundo deixará marcas na pequena cidade de Nazaré, em Belém, em Jerusalém e no mundo inteiro. Nada, nunca será como antes. “Salve, cheia de graça, o Senhor está contigo… conceberás e darás à luz um filho, e chamá-lo-ás Jesus. Ele será grande e será chamado Filho de Deus Altíssimo”. Sim, como é possível! Deus a nascer de uma jovem, humilde, campónia, como será isso? Diante de tão grande assombro, Maria confia no anúncio que lhe é feito e predispõe-se a ser parte do mistério salvífico: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Deus chama, desafia, espera por nós, confiando no nosso discernimento! Maria responde e confia na fé que A liga a Deus. O seu “sim” assenta na intimidade com o Senhor. Ela alimenta-se de oração, é cheia de graça!

3 – A palavra de Deus desinstala-nos, inquieta-nos, põe-nos em movimento. Mau será quando a Palavra de Deus já não nos inquietar, quando nos deixar ficar como antes e/ou sentadinhos à espera que a vida aconteça. A palavra de Deus é viva e eficaz! Mas a sua eficácia também depende do nosso sim, da nossa vontade em Lhe respondermos. Esta resposta tem duas direções: Deus e próximo.
A Virgem Maria mostra-nos como se faz!
Depois de tão grandes novas, Ela podia fazer-se grande, orgulhar-se de ter sido a escolhida, mas continua ser serva, disposta, em tudo, a ser prestável. Não reserva tempo para refletir, para festejar, para medir as consequências, as dificuldades que possam vir pela frente. Não pensa no futuro. Sabe que pode confiar. Confia absolutamente em Deus. Maria levantou-se, diz-nos o Evangelho, e foi apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá (Ein-Karim, seis quilómetros a oeste de Jerusalém), e entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.
Maria levanta-se e parte apressadamente, como mulher da caridade, vai ajudar Isabel nos últimos tempos de gravidez, e como mulher missionária, transportando a Alegria que contagia aqueles que encontra. Isabel fica cheia do Espírito Santo: “Eis que quando a voz da tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança soltou de júbilo no meu ventre”.
Como Maria, levantemo-nos e vamos apressadamente anunciar o Evangelho, com a voz e com a vida.

4 – O que nos faz correr é a fé revelada, vivida e comunicada em Jesus Cristo, que vem da eternidade para entranhar no mundo o amor do Pai e nos fazer participantes da vida divina. Deus sempre está perto de quantos o invocam de coração sincero. Não está apenas nos bons momentos como uma ideia vaga de Alguém que cuida de nós e nos protege, mas está em todo o tempo, também ou sobretudo nos momentos de aflição, cuidando de nós. É, com efeito, nesses momentos que a nossa oração terá que ser mais intensa, mais amadurecida, mais confiante e mais despojada.
A vinda do Messias, o Emanuel, Deus connosco, insere-se nas promessas de Deus e na certeza que Ele não abandona a obra das Suas mãos, do Seu amor. «De ti, diz o Senhor, Belém-Efratá, pequena entre as cidades de Judá, de ti sairá aquele que há de reinar sobre Israel... Deus os abandonará até à altura em que der à luz aquela que há de ser mãe. Então voltará para os filhos de Israel o resto dos seus irmãos. Ele se levantará para apascentar o seu rebanho pelo poder do Senhor, pelo nome glorioso do Senhor, seu Deus. Viver-se-á em segurança, porque ele será exaltado até aos confins da terra. Ele será a paz».
Entenda-se, Deus não Se afasta, o povo é que O coloca à margem, procurando, como Adão e Eva, e Caim, viver como se Ele não existisse ou como se fosse um adversário da nossa afirmação e da nossa felicidade. Temos que caminhar, rezar, para fazermos, novamente, a experiência da Sua presença entre nós.

5 – Não havendo muitos dados sobre Nossa Senhora, nos Evangelhos, como em todo o Novo Testamento, há os suficientes para nos dizerem que Maria é uma mulher de fé, simples, dócil, atenta aos sinais de Deus, talvez mística, a viver num ambiente pacífico, orante, numa família fiel aos preceitos da Lei de Moisés.
Só num ambiente orante é possível ser-se místico, escutar a voz de Deus, perceber a Sua presença e reconhecer a Sua vontade. Por conseguinte, neste tempo de Advento, que nos prepara para o Natal e nos faz viver, sempre, inseridos no mistério pascal, a oração há de ser o combustível que alimenta a nossa fé, clarifica a nossa esperança e fortalece o nosso cuidado pelos irmãos.
A abrir a celebração, suplicamos: "Infundi, Senhor, a vossa graça em nossas almas, para que nós, que pela anunciação do Anjo conhecemos a encarnação de Cristo, vosso Filho, pela sua paixão e morte na cruz alcancemos a glória da ressurreição". A glória da ressurreição está reservada, não apenas para a eternidade, para o momento da nossa morte, mas para o presente histórico, aqui e agora, concretizável em todo o bem que façamos em nome de Jesus Cristo.
Com o salmista, pedimos que o Senhor venha em nosso auxílio. Por outras palavras, que deixemos que o Senhor Deus aja em nossos corações, na nossa vida e no mundo, tornando-nos seus mensageiros e ativando o Seu amor em nós e na terra que habitamos. "Pastor de Israel, escutai... Despertai o vosso poder e vinde em nosso auxílio... Deus dos Exércitos, vinde de novo, olhai dos céus e vede, visitai esta vinha; protegei a cepa que a vossa mão direita plantou, o rebento que fortalecestes para Vós... Estendei a mão sobre o homem que escolhestes, sobre o filho do homem que para Vós criastes".
A nossa prece é acompanhada de um compromisso: "Nunca mais nos apartaremos de Vós, fazei-nos viver e invocaremos o vosso nome".

6 – Há oito dias, a multidão, os soldados, os publicanos perguntavam a João Batista o que deveriam fazer para mudar de vida, para efetivarem a conversão. São João Batista responde com recomendações concretas e realizáveis, como a opção pela justiça, pela verdade e pela não violência, o usar a profissão, não para explorar, mas para ajudar, vivendo honestamente.
Hoje visualizamos a postura de Nossa Senhora: levanta-se e vai apressadamente, a anunciar a Boa Nova e a assegurar-se que a sua prima Isabel tem a ajuda que precisa. Para isso, Maria deixa a comodidade da casa e da terra e parte sem calcular perigos nem dificuldades.
Na segunda leitura, Jesus é-nos apontado como modelo de filho e de "discípulo" do Pai. Jesus vem para nos redimir e para nos ensinar a viver segundo a vontade do Pai, que nos quer bem e a viver harmoniosamente, sendo auxiliares uns dos outros.
«Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formaste-Me um corpo. Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado. Então Eu disse: ‘Eis-Me aqui; no livro sagrado está escrito a meu respeito: Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’».
A verdadeira transformação opera-se a partir do interior, mesmo que os sinais e situações exteriores possam despertar-nos para essa conversão interior. No mistério pascal, "fomos santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita de uma vez para sempre". Cabe-nos colocar a render os dons e os talentos e ativar a vida nova que recebemos do Senhor.

Pe. Manuel Gonçalves

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Domingo III do Advento - ano C - 12 de dezembro de 2021


1 – “Alegrai-vos sempre no Senhor. Novamente vos digo: alegrai-vos. Seja de todos conhecida a vossa bondade. O Senhor está próximo. Não vos inquieteis com coisa alguma; mas em todas as circunstâncias, apresentai os vossos pedidos diante de Deus, com orações, súplicas e ações de graças. E a paz de Deus, que está acima de toda a inteligência, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus”.
Belíssimo este pensamento do apóstolo São Paulo. Sobressai de imediato o desafio à alegria, que não é mero contentamento exterior, mas a paz e a confiança que brotam do coração do crente e do facto de se saber amado por Deus, salvo por Jesus Cristo. É simultaneamente um compromisso com a bondade. O apóstolo fala da segunda vinda de Jesus, mas partindo da primeira, encarnação, vida, missão, morte e ressurreição de Cristo Jesus. Estamos dentro de uma inclusão cristológica e salvífica, encontramo-nos na plenitude dos tempos.
A este propósito vale a pena recordar a reflexão do apóstolo, em diversas ocasiões, em que sublinha que a vinda de Jesus não está remetida (somente) para o fim dos tempos mas acontece agora, connosco, no tempo presente. Daí a importância da oração – que nos liga a Deus e n’Ele aos outros – e do bem que possamos fazer – expressão de uma fé autêntica –, procurando a configuração a Jesus Cristo, antecipando para a nossa vida a eternidade de Deus.
A alegria assenta na certeza que Deus atende às nossas súplicas, com prontidão em socorrer-nos em todos os momentos da nossa existência e lança-nos ao encontro daqueles que peregrinam ao nosso lado, pela história e pelo tempo fora.

2 – O terceiro domingo do Advento é precisamente conhecido como o Domingo da Alegria. Razões não faltam aos cristãos para viverem na ALEGRIA do Deus que vem e que permanece. Não estamos isentos de contratempos, de dificuldades, é algo de incontornável, faz parte da nossa fragilidade e finitude humanas. Não somos deuses, estamos a caminho e sujeitos às circunstâncias do tempo que corre, do mundo, das pessoas que nos rodeiam, da nossa identidade biológica e da nossa inserção social.
A alegria, como anteriormente ficou insinuado, vem de dentro, da nossa identidade – somos herdeiros/filhos de Deus –, da nossa pertença – irmãos em Jesus Cristo – e da salvação que Ele nos traz. Não somos prisioneiros nem do pecado nem da morte. Estamos configurados, pelo batismo, à morte e ressurreição de Jesus Cristo. Ele veio, Ele vem, Ele virá, para a todos elevar para Deus, para todos salvar, não no fim mas a partir da Cruz e para sempre.
Nesta tensão, entre a celebração festiva do Natal, que nos coloca no presépio junto a Deus que Se faz criança, e a vinda definitiva de Jesus, no dia-a-dia, e no final, quando Deus fizer regressar a Si toda a criação, saboreamos já a salvação de Deus.
A profecia de Sofonias faz um apelo semelhante ao de São Paulo: «Clama jubilosamente, filha de Sião; solta brados de alegria, Israel. Exulta, rejubila de todo o coração, filha de Jerusalém. O Senhor revogou a sentença que te condenava, afastou os teus inimigos. O Senhor, Rei de Israel, está no meio de ti e já não temerás nenhum mal. Naquele dia, dir-se-á a Jerusalém: 'Não temas, Sião, não desfaleçam as tuas mãos. O Senhor teu Deus está no meio de ti, como poderoso salvador. Por causa de ti, Ele enche-Se de júbilo, renova-te com o seu amor, exulta de alegria por tua causa, como nos dias de festa'».
O que Sofonias profetiza para o futuro, São Paulo vive-o como experiência, testemunhando a presença constante de Jesus na sua vida e na via das comunidades cristãs.

3 – Nestes ou noutros tempos, a alegria dos cristãos não significa a resignação com as situações do mal, pelo contrário, a alegria manifesta a certeza que o bem vencerá, Deus terá a última palavra. Nem a espada, nem a perseguição, nem a vida, nem a morte, prevalecerão à força do amor que nos vem de Deus. Esta certeza inunda o nosso coração de alegria, renova as nossas energias, compromete-nos com a justiça, com a paz, com a harmonia, com a construção da casa da Fé e do Evangelho, casa de todos e para todos.
Sem a fé, sem a certeza da salvação, muitos dos projetos não fariam sentido, far-nos-iam morrer na desilusão, na incerteza permanente, na resignação perante o mal. Se existe o mal e não há forma de o vencer não adianta o compromisso, o esforço, a luta. Se Ele vence o mundo, isto é, as forças do mal, então também nós podemos, com Ele, com a Sua graça, contribuir para vencer o a injustiça, o medo, o egoísmo, a intolerância e todas as manifestações malévolas.
O anúncio de João Batista traz a iminência do Messias, a alegria por O sabermos próximo, mas igualmente o envolvimento com o bem e com a verdade. As pessoas percebem que o anúncio de João leva a mudar de vida. João responde em concreto: «quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma; e quem tiver mantimentos faça o mesmo»; aos publicanos diz «não exijais nada além do que vos foi prescrito»; aos soldados, «não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo».

4 – Estamos a poucos dias do Natal, expressão da Encarnação, Deus que Se faz homem, assumindo a nossa humanidade. O Advento convoca-nos a entrar no presépio com Maria e com José, para acolhermos Jesus que está mesmo a chegar. Aí residirá a nossa alegria, a nossa esperança e que se multiplicará em caridade. A fé reveste-se de esperança, de alegria, funda-se em Deus que é Pai e nos ama com amor e coração de Mãe. Não é uma fé aérea, algo vago, efémero, mas assenta na omnipotência e misericórdia do Senhor Deus. Sendo Deus e sendo Pai responsabiliza-nos uns pelos outros, pois n’Ele somos irmãos. É essa a revelação de Jesus. A fé não nos desliga, não nos afasta, não faz de nós melhores que outros, em sentido de sobranceria, dá-nos a responsabilidade de sermos santos. É fé é para manusear, para colocar mãos à obra, a fé conduz-nos, fortalece-se e madurece na prática da caridade.
Os contemporâneos de João Batista alegram-se com o anúncio da vinda do Messias. Querem estar preparados. João anuncia-lhes a Boa Nova, mas esclarece: «Eu batizo-vos com água, mas está a chegar quem é mais forte do que eu, e eu não sou digno de desatar as correias das suas sandálias. Ele batizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo. Tem na mão a pá para limpar a sua eira e recolherá o trigo no seu celeiro; a palha, porém, queimá-la-á num fogo que não se apaga».
Deixemo-nos contagiar pelas suas palavras e com Isaías rezemos: “Cantai ao Senhor, porque Ele fez maravilhas, anunciai-as em toda a terra. Entoai cânticos de alegria, habitantes de Sião, porque é grande no meio de vós o Santo de Israel”.
A oração predispõe-nos a acolher a vontade de Deus e a fazermos o que nos compete para realizar a Sua santa vontade. A alegria que transborda em nós é comunicável e partilhável. Uma pessoa triste e melancólica tende a afastar-se, a isolar-se, a dobrar-se sobre si própria. Uma pessoa alegre, confiante, convicta das suas raízes e consciente da meta para onde se dirige, contagia os outros, trasvaza nas palavras e nos gestos, torna-se generosa. Uma alegria tão grande, fundada em Deus, faz com que nem as adversidades sejam obstáculo para viver. Pelo contrário, se sabemos Deus connosco, então caminhamos seguros e saberemos que nada nos poderá separar desse amor e dessa vida.

Pe. Manuel Gonçalves

sábado, 20 de novembro de 2021

Isabel Galriça Neto - CUIDADOS PALIATIVOS

ISABEL GALRIÇA NETO (2020). Cuidados Paliativos. Conheça-os melhor. Lisboa: Fundação francisco Manuel dos Santos. 104 páginas.


Em fim de mandato, a Assembleia da República, à pressa, fez aprovar a lei da Eutanásia, não seja a alterar-se a configuração do Parlamento e não poderem dar seguimento a tais propostas de lei. Sabe-se, contudo, que mais tarde ou mais cedo, como as leis da despenalização e, progressivamente, liberalização do aborto, esta lei seria aprovada, no Parlamento, tendo os deputados necessários ou, em alternativa, os proponentes levá-la-iam a referendo, as vezes que fossem necessárias para a aprovar. Desta vez era mais fácil não possibilitar o referendo e agregar os defensores da mesma, com um debate sempre muito apressado e feito quase nas trevas. Sendo que a vida, como direito e valor inalienável, não pode ser referendada, porém, quando foi do aborto facilitou os referendos que se foram fazendo!
Um tema que anda muito ligado à eutanásia (bem entendida, seria boa morte, morte digna), é este dos cuidados paliativos que visam eliminar/controlar/aliviar o sofrimento, sem retirar tempo de vida à pessoa ou beliscar a sua dignidade, ajudando-a nas doenças crónicas, em situação terminal ou não. Os cuidados paliativos visam não apenas ajudar o doente, mas as suas famílias e os cuidadores, acompanhá-los no decorrer da doença, refletir as intervenções, no domicilio, em lares ou centros especializados nestes cuidados. E, quanto às famílias, acompanhá-las também no processo de luto, que pode iniciar-se mesmo antes da morte do familiar.
Isabel Neto explica detalhadamente, mas de forma muito clara e acessível, o que são os cuidados paliativos, os avanços em Portugal e no mundo, como há leis que respondem satisfatoriamente, mas como a operacionalização é lenta, a distinção entre cuidados paliativos especializados e ações paliativas; como estes cuidados não têm como "missão" retirar a consciência aos doentes, nem diminuir-lhes as capacidades, pelo contrário, como podem dar-lhes qualidade de vida, sem lhes diminuírem o tempo...
Um dado curioso e preocupante: 70 % dos doentes que precisam de cuidados paliativos, em Portugal, não têm acesso a eles. Já se fez caminho, mas ainda há muito para fazer e melhorar, e investir.
Fica também claro que os cuidados paliativos não têm como propósito "prolongar" a vida. Ou seja, nem prolongá-la usando a desproporcionalidade de meios, nem encurtá-la para poupar recursos, ainda, como sublinha a autora, é possível poupar recursos investindo-se nos cuidados paliativos, pois muitas vezes a insistência em curar o que não tem cura desgaste médicos e enfermeiros e exige muitos mais recursos.
O prefácio é do Professor Marcelo Rebelo de Sousa. Percebe-se que faz visitas a doentes nos cuidados paliativos!

Isabel Galriça Neto é médica desde 1985. Dedica-se aos Cuidados Paliativos (CP) há mais de 25 anos. Foi presidente da Associação Portuguesa de CP. É diretora da Unidade de CP do Hospital da Luz-Lisboa, docente da Faculdade de Medicina de Lisboa e da Universidade Católica. Preside à Competência de Medicina Paliativa da Ordem dos Médicos. Assume que tem sido um privilégio trabalhar nesta área e já cuidou de mais de seis mil doentes e respetivas famílias. Foi deputada à Assembleia da República durante dez anos. É comendadora da Ordem do Mérito desde 2004.

sábado, 2 de outubro de 2021

BYUNG-CHUL HAN - A SOCIEDADE PALIATIVA

BYUNG-CHUL HAN (2020). A sociedade Paliativa. A dor nos nossos dias. Lisboa: Relógio D'Água. 80 páginas.


Logo que a dor se aproxima, desconfiamos do seu amor! Bem se pode dizer deste estudo, reflexão, que aborda a dor nos nossos dias. Vivemos numa sociedade paliativa, que esconde e foge a todo e qualquer dor, qualquer sofrimento. Inevitavelmente há situações de fragilidade e dor, de contrariedade, doente, morte, mas que a todo o custo procurámos esconder. Neste tempo da pandemia, acentuou-se a virtualidade das relações, a presença do outro é mais igual, o mesmo. Perdeu-se a alteridade. A dor desperta-nos, diferencia-nos, provoca-nos, é uma dádiva que incentiva à superação, à comunhão e à solidariedade.
Se por um lado, afastamos tudo o que transpareça dor, por outro lado há um excesso de violência nos meios de comunicação social, na televisão, internet e nas redes sociais, ao ponto de, progressivamente, levar à indiferença, habituamo-nos de tal forma que deixa de nos despertar os sentidos.

"Neste seu ensaio, o filósofo germano-coreano Byung-Chul Han aborda o tema da expansão da algofobia, do medo à dor da sociedade atual. Como mostra a recente crise dos opiáceos nos EUA e o que se passa com a pandemia da Covid-19, a dor, física ou psicológica, tende a ser evitada a todo o custo. Até a dor causada pelo amor está sob suspeita. A tolerância ao sofrimento decai rapidamente, instalando-se uma anestesia permanente. Evitam-se conflitos e controvérsias que possam levar a conflitos dolorosos.
Byung-Chul Han assume que essa é uma mudança de paradigma na nossa sociedade. A psicologia acompanha esta evolução, assistindo-se ao desenvolvimento daquela que trata do sofrimento e da psicologia positiva ocupada com o bem-estar, a felicidade e o otimismo. A algofobia também atinge a política, surgindo a pressão social para se chegar a acordos e mesmo a consensos. A pós-democracia está a espalhar-se, enquanto democracia paliativa" (contracapa).

Byung-Chul Han, nasceu na Coreia, estudou filosofia na Universidade de Freiburg e Literatura Alemã e Teologia na Universidade de Munique. Em 1994, fez o doutoramento na primeira destas universidades com uma tese sobre Martin Heidegger. Atualmente é Professor de Filosofia e Estudos Culturais na Universidade de Berlim.

ROLF DOBELLI - A ARTE DE PENSAR COM CLAREZA

ROLF DOBELLI (2013). A arte de pensar com clareza. 52 erros de raciocínio que não devemos cometer. Círculo de Leitores. 256 páginas.


O nosso cérebro pode enganar-nos e com alguma facilidade, conduzindo-nos pela simpatia, pela voz, pela beleza. Quantas vezes compramos, porque o/a vendedor/a foi atencioso/a connosco, usando um tom de voz agradável, sincronizando os seus gestos com os nossos, dizendo-nos o que queremos ouvir. Outro exemplo, pessoas bem sucedidas que escrevem um livro, dando conselhos como atingir o sucesso... ou pessoas que tiveram sucesso (e fama) e foram entrevistados pela televisão ou jornal ou revista, mostrando como o talento e o esforço compensou... na verdade, muitos outros tinham talento e esforçaram-se do mesmo modo, mas não atingiram a fama... Um livro de orientação baseia-se no sucesso do seu autor e não nos fiascos de muitos outros, que não são escutados nem tidos em conta.
"As pessoas enganam-se facilmente. Quem souber isto está mais bem preparado. Rolf Dobelli examina os erros de raciocínio mais traiçoeiros e mais comuns para nos ajudar a perceber:
  • porque sobrevalorizamos sistematicamente os nossos próprios conhecimentos (e tomamos os outros por mais parvos do que são);
  • por que motivo há coisas que não estão certas apesar de milhões de pessoas acharem que sim;
  • porque nos agarramos a teorias que estão comprovadamente erradas".
É mesmo uma leitura muito interessante e de agradável digestão. Uma Universidade obtém melhores resultados, supostamente, o ensino será melhor. Mas como se comprova isso? Pelos professores ou pelos alunos? É que o sucesso pode ter a ver com o facto dos alunos selecionados terem já à partida melhores resultados, pois a exigência das médias era muito maior, levando a que só entrassem os melhores... obviamente que estão reunidas as condições para o sucesso dos alunos e da Universidade!

"Rolf Dobelli nasceu em Lucerna, na Suíça, em 1966. Licenciou-se em Ciências Empresariais pela Universidade de St. Gallen, foi diretor executivo de diversas empresas e fundou com amigos a emprega getAbstract, a maior produtora a nível mundial de obras condensadas de economia. Viveu em Hong Kong, na Austrália, em Inglaterra e durante vários anos nos EUA. É fundador e administrador de WORD.MINDS, uma comunidade de personalidades mundialmente conhecidas do domínio da ciência, da cultura e da economia".

Domingo XXVII do Tempo Comum - ano B - 3.10.2021

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Pe. Diamantino Alvaíde - A presença de Deus nos caminhos dos Homens

DIAMANTINO ALVAÍDE (2021). A presença de Deus nos caminhos dos Homens. Uma proposta de pastoral integrada. Lisboa: Universidade Católica Editora. 296 páginas.


O Pe. Diamantino Alvaíde, autor deste trabalho, é o Coordenador da Pastoral da Diocese de Lamego, Pároco de Moimenta da Beira, de Cabaços e de Sendim. O livro dado à estampa resulta da tese de doutoramento, realizado na Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma, sob o título: “O envelhecimento da população como desafio á renovação pastoral diocesana de Lamego. Um projeto de pastoral integrada”.
Para propor ou sugerir um projeto é necessário conhecer as raízes, o contexto, as dificuldades e potencialidades, os aspetos facilitadores e os possíveis entraves. Com este propósito, o Pe. Diamantino estudou os dados sociológicos, a densidade populacional das 223 paróquias que constituem a Diocese, a evolução demográfica ao longo dos anos, relacionamento com as dioceses vizinhas, com Portugal, inserido na Europa. Desde logo uma constatação imediata: envelhecimento da população e desertificação do interior, que afeta as nossas terras.
À análise sociológica e antropológica, sucede a reflexão e fundamentação bíblica e teológica, na certeza de que o Evangelho se destina a todos e todos, os cristãos, são responsáveis por viver, testemunhar e anunciar a Boa Nova da salvação, independentemente da idade, do contexto, as circunstâncias.
Como o título sugere, propõe-se uma pastoral integrada, isto é, dando prioridade à comunidade no seu conjunto, envolvendo todos em todas as iniciativas. Há acentuações que se fazem, setores que se privilegiam, da juventude ou da catequese, mas perante o quadro estudado da realidade diocesana, há de prevalecer a pastoral de conjunto, promovendo a pastoral familiar, que envolve os mais novos e os mais idosos, os netos, filhos, pais e avós. O Pe. Diamantino sugere, por exemplo, que nas festas da catequese os avós tenham uma intervenção ativa (e visível).


Mas vejamos a apresentação do livro (in Voz de Lamego, ano 91/35, n.º 4617, 14 de julho de 2021) nas palavras do Pe. Diamantino:

A obra que se desdobra nas páginas desta publicação oferece uma proposta pastoral denominada «integrada», que abandona a dinâmica dos setores e a lógica do tria munera, para abrir caminho a uma ação eclesial mais integrada e integradora do que compartimentada e setorial, mais personalizada e personalizadora do que organizativa e institucional.
A pastoral integrada surge como urgente, dadas as múltiplas e aceleradas transformações em todos os quadrantes da vida social e do tecido eclesial. Mais urgente se torna, quando nos encontramos num contexto demográfico como o da diocese de Lamego (e de todo o interior de Portugal), onde o envelhecimento das populações prolifera de forma assustadora e a desertificação do território cavalga desmedidamente.
São essencialmente estes dois fenómenos que alavancam a redação deste trabalho, que reforça a urgência de colocar a antropologia no centro e como centro de toda a ação eclesial e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento exaustivo de uma consistente eclesiologia de comunhão. Como bem explica D. António Couto, no prefácio do livro, o autor “optou por deixar de lado os rumos estreitos da chamada pastoral setorial, obviamente sem os excluir, e se aventurou no caminho mais largo da chamada Pastoral Integrada, que privilegia a pessoa humana concreta, e a sua envolvência numa Igreja de comunhão, onde todos se sintam envolvidos numa dinâmica permanente de vivência e transmissão da fé, saber Jesus e evangelizar Jesus, que tem de permanecer sempre no meio do nosso círculo, que nunca se pode fechar, mas deve alargar-se cada vez mais, obedecendo à dinâmica do redemoinho do Pentecostes”.
Sem perder de vista que a Igreja só acontece se for sinodal, a proposta que sobressai deste livro é de uma contínua e constante conversão pastoral, com redobrada atenção a todas as pessoas. Desde o mais velho ao mais novo, desde o mais afastado ao mais incluído. A intergeracionalidade e o trabalho em rede, entre pessoas e estruturas pastorais são, talvez, a urgência mais gritante da nossa realidade eclesial.
Para garantir esta sinodalidade, a pastoral integrada propõe uma verificação permanente e um discernimento ininterrupto para acolher os sinais de Deus no tempo e recolher os sinais do tempo de Deus.

Padre DIAMANTINO ALVAÍDE
Diamantino José Alvaíde Duarte, nascido em 1979, em Sarzedo, concelho de Moimenta da Beira, da diocese de Lamego. Entrou para o Seminário de Lamego em 1998. Licenciou-se em Teologia no Instituto Superior de Teologia – Beiras e Douro, da UCP. Foi ordenado presbítero a 30 julho de 2005. De 2005 a 2010 foi pároco em diversas paróquias dos concelhos de Vila Nova de Foz Côa e Mêda. De 2010 a 2015 fez estudos de especialização em Teologia Pastoral, na Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma. De 2015 até então, é pároco de Moimenta da Beira, Cabaços e Sendim. De 2016 a 2018 foi presidente da Comissão para a Missão e Nova Evangelização. Desde 2018 é o Coordenador Diocesano da Pastoral.

BENTO XVI e ARIE FOLGER - JUDEUS E CRISTÃOS

BENTO XVI e ARIE FOLGER (2020). Judeus e Cristãos. Cascais: Lucerna. 120 páginas.


Por ocasião dos 50 anos da Declaração Nostra Aetate, documento do concílio Vaticano II sobre o diálogo inter-religioso, com o número quatro a ser dedicado ao diálogo entre a Igreja Católica e os Judaísmo, vieram a lume alguns documentos que ajudam a aprofundar as relações amistosas entre as duas religiões.
No diálogo bilateral, os judeus foram convidados a preparar uma resposta ao n.º 4 da Nostra Aetate. É nesse contexto, que o rabino Arie Folger mantém um debate público e por escrito, como o próprio refere no prefácio a este pequeno livro, primeiro contra e depois com Bento XVI, Papa Emérito, com quem se viria a encontrar.
Bento XVI escreve “Graça e chamamento sem revogação. Observações sobre o tratado De Iudaeis”. A publicação gera contestação, não da parte dos judeus, mas da parte de teólogos católicos. Porém, ajuda à reflexão, num pressuposto imediato: o diálogo não se faz à custa de abdicar das convicções e da identidade de cada um. Há caminho para o diálogo, para a reflexão, para aprofundar o conhecimento mútuo, para trabalhar temáticas que levem a um efetivo compromisso com a paz, com a justiça social, com a ecologia e a erradicação da pobreza, com a tolerância religiosa e com a liberdade de expressão. Arie Folger coloca-se do lado de Bento XVI, defendendo que o Papa Emérito propõe a leitura cristã-católica. Não se compreenderia que um Papa defendesse uma visão judaica da Bíblia e da Aliança. Bento XVI agradece e responde a Folger, por escrito, clarificando alguns pontos, como o facto de não haver revogação da Aliança de Deus com o Povo Eleito, e não haver lugar à substituição de uma Aliança por outra, mas de haver sucessivas Alianças de Deus com o Seu Povo, com Abraão, com Noé, com Moisés. Na fé e visão cristã, a nova e definitiva Aliança acontece com Cristo, na oferenda do Seu Corpo, na sua morte e ressurreição.
Há outros pontos de contacto, aproximações, compreensão mútua, compromisso moral, permitindo encontrar-se e rezar juntos.


Este livro contém a reflexão de Bento XVI; o prefácio de Arie Folger; a correspondência entre o Papa Emérito e o Rabino; o número 4 da Nostra Aetate; duas intervenções do Papa Francisco; o documento “Entre Jerusalém e Roma – Reflexões a 50 anos da Nostra Aetate”.
Papa Francisco: “De inimigos e estranhos tornámo-nos amigos e irmãos. Tenho esperança de que a proximidade, a mútua compreensão e o respeito entre as nossas duas comunidades continuem a crescer”.
Bento XVI: “De acordo com as previsões humanas, este diálogo nunca conduzirá à unidade das duas interpretações durante a história atual. Essa unidade está reservada para Deus no fim da história”.

Frei DARLEI ZANON - SIMPLESMENTE JOSÉ

 FR. DARLEI ZANON (2021). Simplesmente José. Romance baseado na vida do Pai adotivo de Jesus. Apelação: Paulus, 392 páginas.


O Papa Francisco estabeleceu que, a partir de 8 de dezembro de 2020, 150.º aniversário da proclamação do Decreto Quemadmodum Deus, com o qual o Beato Pio IX, movido pelas graves e lutuosas circunstâncias em que se encontrava a Igreja, insidiada pela hostilidade dos homens, declarou São José Patrono da Igreja Católica, bem como dia dedicado à Bem-aventurada Virgem Imaculada e Esposa do castíssimo José, até 8 de dezembro de 2021, seja celebrado um especial Ano de São José, em que todos os fiéis, seguindo o seu exemplo, possam reforçar em cada dia a sua vida de fé no pleno cumprimento da vontade de Deus.
A partir do século XVIII começam a aparecer as chamadas "Vidas de Jesus", com o intento de preencher as lacunas existentes na sua biografia, nomeadamente naqueles trinta e poucos anos de vida oculta em Nazaré. Por outro lado, a tentativa de fundir os quatro evangelhos num só, para que houvesse uma maior harmonização, limando e eliminando factos ou palavras que não fosse inteiramente concordes. Este é, com efeito, um critério da autenticidade dos Evangelhos, pois não são cópias uns dos outros ao ponto de coincidirem nos mais ínfimos pormenores. O outro critério complementar é que coincidem nos grandes acontecimentos / ensinamentos. Os evangelhos, porém, não têm uma preocupação biográfica, mas tão somente se fixam no mistério da morte e da ressurreição de Jesus. Esta faz com que os discípulos se voltem a reunir e formem comunidade. A partir daí começam a "pregar", dizer, ensinar o que Jesus disse e fez. Logo, a transmissão leva também o cunho da interpretação de cada um dos apóstolos, ainda que uns possam "aperfeiçoar" o relato dos outros. Mais à frente, a necessidade de fixar por escrito, para não se correr o risco, depois da morte dos apóstolos, não haver fontes fidedignas do que aconteceu na Galileia, na Judeia e na Samaria, com o Mestre dos Mestres.
Neste ano especial de São José, o Frei Darlei Zanon procurou perfazer a (auto)biografia de São José, que relata o que sucedeu para se tornar o pai adotivo de Jesus, recuando à sua genealogia, como à de Maria, e relatando o compromisso, os sonhos, a fuga, o crescimento de Jesus e como Jesus ia surpreendendo a todos.
Já havia um ou outro livro sobre a "biografia" de Nossa Senhora, agora chega-nos a de São José.
É um livro muito interessante para ler neste ano especial, não apenas para perceber melhor a missão de São José, mas de algum modo entendermos mais facilmente a sensibilidade de Jesus. Vejamos a finalizar a autobiografia, em que Deus, em sonhos, comunica com São José, através do Seu anjo: 
José, encontraste graça junto de Deus. Não tenhas medo. A morte dura apenas um instante, não tem poder. O Altíssimo está à tua espera. José, o teu exemplo de humildade e retidão, de dedicação e cuidado, de trabalho e caridade, de justiça e fé serão impressos no tempo e cruzarão todos os séculos. Por pouco tempo, permanecerás afastado de Jesus e Maria, e dos demais familiares aqui deste mundo. Será apenas por alguns instantes, fragmentos de tempo. Em breve a família celeste estará completa. Não tenhas medo, José!
Assim disse o anjo. E eu confiei. Estou pronto. Sinto-me fraco fisicamente, mas muito forte espiritualmente. As minhas energias diminuem, porém a minha confiança no poder do Altíssimo só aumenta. Ele guiará Jesus a partir de agora. O Pai Celeste indicará a hora do seu Filho.

No mesmo sonho, eu respondi ao anjo, comunicando-me com o Senhor:
Obrigado, Adonai, meu Senhor e meu Deus. Cumpriram-se todos os dias da vida que me deste neste mundo, por isso peço-Te que fiques ao meu lado, até que a minha alma saia do corpo sem dor nem aflição. Conforta toda a minha família, para que não sejam tocados pela dor e perturbação. Permite-me em breve contemplar a Tua face, ver a glória de Teu rosto, ser abençoado com a Tua misericórdia e graça, Adonai.
Não temo. Já experimentei o amor no mundo, estou pronto para provar o amor junto do Criador. Superei há pouco meus quarenta anos, vivi tudo o que um homem pode esperar. Sou feliz, estou realizado. Não temo a separação momentânea de todos os que me completam.

O Autor:
Nascido no Brasil fez a sua profissão perpétua em 2007 e está em Portugal desde 2008. É conselheiro geral da Sociedade São Paulo tendo desempenhado a função de diretor editorial da PAULUS Editora, bem como de conselheiro regional e secretário da Sociedade São Paulo em Portugal. É formado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte e recebeu o título de Mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação pelo ISCTE-IUL

ÂNGELA COELHO - DENTRO DA TUA LUZ

ÂNGELA DE FÁTIMA COELHO (2021, 2.ª edição). Dentro da Luz. Um itinerário para compreender a Mensagem de Fátima. Fátima: Santuário de Fátima. 288 páginas.


A Irmã Ângela Coelho é licenciada em Medicina, pela Faculdade de Medicina do Porto (1995) e em Ciências Religiosas pela Universidade Pontifícia de Comillas - Madrid (2008); natural de Frende-Baião, na Diocese do Porto, é religiosa desde 1995 e pertence à Aliança de Santa Maria, congregação que se dedica a divulgar a Mensagem de Fátima.
Em 2009 foi nomeada Vice-Postuladora das Causas de Canonização de Francisco e Jacinta Marto e, em 2012, foi nomeada Postuladora Romana das referidas causas, até 13 de maio de 2017, data da canonização dos Pastorinhos em Fátima, em Peregrinação presidida pelo Papa Francisco. Desde 2014 é Vice-Postuladora da Causa de Beatificação e Canonização da Serva de Deus Irmã Lúcia de Jesus. É também Diretora da Fundação Francisco e Jacinta Marto e Mestra de Noviças na sua congregação.
Esta pequena apresentação da Irmã Ângela Coelho coloca-nos de sobreaviso: as suas intervenções sobre a Mensagem de Fátima, como este livro, revela alguém que lida com muita informação, questões, correspondência, investigação, encontros e colóquios, em todo o mundo. Quem teve a alegria de a escutar, a falar dos Pastorinhos, de Francisco, Jacinta e de Lúcia de Jesus, do Imaculado Coração de Maria, do Papa, volta a revê-la nesta obra, com aquele brilho no olhar, que transparece convicção, uma grande fé, acolhida, rezada, refletida. Mantém o entusiasmo na assembleia e facilmente nos envolve com a vida dos Pastorinhos, com o que todos sabemos, ouvimos ou lemos, uma catrefada de curiosidades que permitem abeirar-nos um pouco mais de cada um dos pequenos videntes.
Há imensa literatura sobre a Mensagem de Fátima, com destaque especial para as Memórias da Irmã Lúcia (1 e 2), Apelos da Mensagem de Fátima e Como vejo a Mensagem através dos tempos e dos acontecimentos, e ainda “O meu caminho”, diário da Irmã Lúcia. Obviamente que ler a vidente que assumiu a missão de espalhar a devoção ao Imaculado Coração de Maria é como que acolher a Mensagem de Fátima em primeira mão. A Irmã Ângela, estando tão comprometida com a divulgação da Mensagem, até pelo facto de a congregação a que pertence ter esse especial carisma, o facto de ter mantido conversas com a Irmã Lúcia, no processo de postulação das Causas de Canonização de Francisco e Jacinta Marto, e ter acesso a documentos, a cartas, ouvindo muitos testemunhos, estudando/escutando “especialistas”, a participação em seminários e colóquios dedicados à Mensagem de Fátima, fazem com que tenha um manancial de informação, mas que converte em testemunho de fé.
Ao longo do Livro perpassa também o magistério da Igreja, mormente com os Papas Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI (cujo comentário teológico sobre a terceira parte do Segredo de Fátima, quando era Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, então Cardeal Joseph Ratzinger, fazem dele um intérprete privilegiado da mensagem de Fátima, lida em nome da Igreja com fundamentação bíblica e teológica) e Papa Francisco, que veio a Fátima, em 2017, para declaração os Pastorinhos Francisco e Jacinta como Santos.

O relance pelo índice do livro, permite abrir o apetite para a leitura do mesmo:
1. Uma escola de fé;
2. Uma luz para o nosso mundo
3. Conhecer-se à luz da Trindade
4. A Eucaristia acreditada, celebrada e vivida
5. O Segredo que revela o essencial
6. O Imaculado Coração de Maria
7. O Rosário, a oração de todos os dias
8. A reparação, vida oferecida
9. Consagração ao coração de Maria
10. Francisco Marto, o Menino da Sarça Ardente no coração
11. Jacinta Marto, a Menina ferida no coração
12. Lúcia, uma vida plena de luz

O Prefácio esteve a cargo do Cardeal de Fátima, D. António Marto. Diz-nos ele: “Esta publicação é, em grande medida, fruto do empenho pastoral de várias dezenas de anos, mas particularmente dos Cursos sobre a Mensagem de Fátima, iniciativa com que o Santuário de Fátima assinalou o septenário de preparação para o Centenário das Aparições e que se mantém ainda como lugar privilegiado de divulgação da Mensagem.

Que a leitura desta obra permita ao leitor penetrar a Mensagem que em Fátima nos é confiada e, acima de tudo, viver dentro da luz. É essa a experiência fundamental da vida cristã, chegarmos a dizer como São Francisco Marto: «Nós estávamos a arder naquela luz que é Deus e não nos queimávamos». Nada mais desejamos do que habitar nessa luz terna, suave, no meio da noite, que nos leva mais longe, porque é apenas ela a nossa morada permanente”.

domingo, 22 de agosto de 2021

Pe. Justino Lopes - Estrelas no meu caminho

JUSTINO JOSÉ LOPES (2020). Estrelas no meu caminho. Lamego.


“Pe. Justino, tu és jovem, trazes contigo o sonho, o entusiasmo, o espírito de aventura. Nós temos a experiência de muitos anos de trabalho. Se nós aceitarmos o teu entusiasmo jovem e tua aceitares a nossa experiência, podemos fazer um bom trabalho pastoral nesta zona”. Palavras do Padre José Augusto Neto ao Pe. Justino por ocasião da sua entrada em Nespereira como pároco. 
Fazer pontes entre os novos e os anciãos. É uma das insistências do Papa Francisco. Valorizar o sonho e a memória, um futuro com raízes e sabedoria. É uma das perspetivas desde livro, do Padre Justino, colaborador amigo da Voz de Lamego: fazer memória… memória agradecida, mas também desafio às novas gerações de sacerdotes. Os que aqui apresenta estão mais ligados ao Touro, Alhais, Vila Nova de Paiva, Vila Cova à Coelheira, Queiriga, naturais dessas terras ou entranhados nelas como párocos, além de outros padres amigos e, claro, dos Bispos, a começar por D. Alberto Cosme do Amaral, natural do Touro, e continuando com D. Américo Henriques, Bispo Mariano, Bispo Mártir, Bispo Missionário; D. António Castro Xavier Monteiro; D. António José Rafael… O livro termina com as Bodas de Ouro sacerdotais do Padre Justino com uma breve autobiografia, que é também um testamento sacerdotal. 
Muitos dos textos foram publicados na Voz de Lamego. É um trabalho meritório que recolhe apontamentos sobre sacerdotes que brilharam como estrelas sem darem pontapés na lua (cf. Prefácio). Creio que numa próxima Assembleia do Clero ou Jornadas de Formação o livro será devidamente apresentado. Pode ser um incentivo a que se faça o mesmo para outras zonas pastorais da Diocese, recuperando a memória dos pastores que nos precederam e como, em circunstâncias adversas, souberam viver e testemunhar Jesus Cristo e deixar marcas profundas de adesão ao Evangelho. Há outras coletâneas interessantes como “Seminário e Seminaristas”, do Pe. Manuel Gonçalves da Costa, e também dele as Paróquias Beiraltinas (Penude e Magueija), ou recentemente “Religiosos e Sacerdotes de Magueija (Biografias do séc. XX )”, de Paulo Jorge de Almeida Ribeiro ou livros sobre um padre específico, mas há espaço para que outras paróquias possam reavivar a memória dos seus padres e dos seus párocos. 
Para nós sacerdotes, mas também para os leigos, será uma forma de conhecermos melhor aqueles que nos precederam e como as paróquias/freguesias evoluíram com umo contributo inegável dos seus párocos. 
Uma das dimensões que o Pe. Justino ressalta é a dimensão missionária da Igreja, com sacerdotes que dedicaram a sua vida às “missões” ou que, mais tarde, deixaram a vida paroquial para concretizarem o sonho de serem missionários. 
Inicialmente, a sugestão do livro era para se centrar num antigo Diretor da Voz de Lamego, mas quando a pena começa a deslizar nunca se sabe onde vai parar. Já o sugerimos, logo no início do confinamento… com um texto de Louro de Carvalho, apenso ao próprio livro, e posteriormente na resenha do reverendo Pe. Joaquim Correia Duarte… e daí o sublinhado que gostaríamos de fazer, sendo, como dizíamos, que muitos textos foram publicados no nosso Jornal Diocesano.

Notas: D. António Rafael, administrador da Voz de Lamego… articulistas na Voz de Lamego, como o Pe. Ilídio Fernandes ou o já citado Pe. Neto… Diretor: Pe. Manuel Alves da Fonseca Pinto da Gama, natural dos Alhais, com intervenções em diversos jornais… em 1921, “foi-lhe entregue o ‘Boletim da Diocese’ e, depois, a Voz de Lamego, onde assinava com o pseudónimo de Mininimus”, enfim, um jornalista brilhante!

Alberto Camus - A Peste

 ALBERTO CAMUS (2019). A Peste. Porto: Livros do Brasil. 264 páginas.


A Peste, do filósofo Alberto Camus, é um romance que bem poderia ter sido escrito para a pandemia, ou resultante da pandemia do novo coronavírus, que se transforma em doença, Covid-19. A Peste descreve, com grande exatidão, o que sucedeu e o que está a acontecer com este surto pandémico atual.
Na cidade de Orão, na Argélia, em 1940, surge a peste. Aparece um rato ensanguentado, do nada, e morre, como que rebentando. Multiplicam-se os ratos mortos. Um bairro, rapidamente se espalha por outros bairros e por toda a cidade. Ativa-se uma plano para desinfestar a cidade, para recolher os ratos mortos e tentar que não invadam nem as ruas nem as casas. Tenta desvalorizar-se o fenómeno que não se percebe, procurando que os jornais não dramatizem.
Entretanto, surge um homem, doente, com febre, com falta de ar, com pequenos caroços na pele, que rebentam e expelem sangue. Surgem outros casos. A preocupação das autoridades é controlar a peste, agir com cautela, procurando não gerar pânico, controlando, de algum modo, a informação. Os primeiros dias são de reserva, de dúvidas, não falando em peste e não assumindo claramente tal doença. Adia-se ao máximo falar de peste para evitar situações de alarme, até ao ponto de ser inevitável. "A opinião pública é sagrada: nada de pânico. Sobretudo, nada de pânico". A partir de então traçam-se as medidas a adotar, isolar as pessoas que têm peste, retirando-as do ambiente familiar, criando espaços de quarentena, recolher obrigatório, evitar aglomerações e festas, fechar as fronteiras - ninguém pode sair e só podem entrar os que são residentes em Orão, aos funerais só podem assistir familiares próximos, e com o avançar da peste, abrem-se valas comuns e são sepultados sem a presença de familiares, o culto é suspenso, a economia para e favorece a economia paralela."A peste é a ruína do turismo". O número de mortos vai aumentando, organizam-se equipas para recolher as pessoas com peste, para assistência nos hospitais, para os funerais; prepara-se e testa-se um soro de forma a salvar os contaminados, com momentos de elevada expetativa e com desilusões sucessivas.
A falta de meios mas também a falta de pessoas para lutar contra a peste.
À peste junta-se o medo, o anseio de contactar familiares e amores, vai-se perdendo a esperança, vive-se um dia de cada vez, com um certo embotamento que se vai gerando, vive-se em suspenso, quase anestesiado. O risco de loucura aumenta progressivamente. A separação é uma das consequências mais nefasta da peste e do fechar das fronteiras. Até a correspondência é suspensa, com medo que as cartas possam provocar contágio.
Como na pandemia atual, também em Orão se percebe que estão todos no mesmo barco. "uma vez fechadas as portas, aperceberam-se de que estavam todos, até o próprio narrador, metidos no mesmo saco e que era necessário arranjarem-se". E mais à frente: "É claro que as coisas não estão melhor. Mas, ao menos, toda a gente está metida nos mesmos lençóis".
Produzem-se crenças erradas, como acontece também com a pandemia, como por exemplo, o álcool preservar das doenças infeciosas, pelo que aumenta o número de bêbados todas as noites. É interessante o diálogo do médico, Rieux, ateu, com o Padre, Tarrou: "O que eu odeio é a morte e o mal, bem sabe. E, quer queira quer não, estamos juntos para os sofrer e combater. Bem vê, nem mesmo Deus pode agora separar-nos". E por falar em crenças, a religião é substituída pela superstição, com uso de amuletos e medalhas protetoras, bem como profecias, como de Nostradamus, ajustando-as aos tempos presentes.
Coisa curiosa também, em paralelo com a pandemia pelo novo coronavírus, também em relação à peste, as autoridades contam com a sazonalidade. No caso da pandemia, contavam com o tempo quente; no caso da peste, contavam com o tempo frio para deter o avanço da mesma. "À força de esperar, não se espera já, e a nossa cidade vivia sem futuro".
Quando se aproxima o Natal... para eles "o Natal, nesse ano, foi mais a festa do Inferno do que do Evangelho. As lojas desertas, privadas de luz... as igrejas estavam cheias de lamentos, mais do de ações de graças...."
Coloca-se também a questão da normalidade e do futuro após a peste. "Cottar não sorria. Queria saber se se podia pensar que a peste nada mudaria na cidade e que tudo recomeçasse como dantes, ou seja, como se nada se tivesse passado. Tarrou pensava que a peste mudaria e não mudaria a cidade, que, bem entendido, o mais forte desejo dos nossos concidadãos era e seria fazer como se nada tivesse mudado e que, portanto, em certo sentido, seria mudado, mas que, noutro sentido, não se pode esquecer tudo, mesmo com a vontade necessária, e a peste deixaria vestígios, pelo menos nos corações".
"Em Orão, como no resto do mundo, por falta de tempo e de reflexão, é-se obrigado a amar sem o saber...

Naruto - algumas expressões


Não queria ficar para trás... não te quis dizer o que sentia e a mágoa foi crescendo dentro de nós. Naruto

Sorrir é a melhor maneira de lidar com situações difíceis (Jiraya)

Um sorriso é a maneira mais fácil de sair de uma situação difícil (Sakura Haruno).

Um sorriso pode tirar-te de uma situação difícil, mesmo que seja falso (Sai).

Aqueles que não obedecem às regras são lixo, mas aqueles que não se importam com os amigos são mais lixo ainda. (Kakashi).

Quem quebra as regras pode ser considerado escumalha, mas quem abandona seus amigos é pior que escumalha (Hatake Kakashi).

Aqueles que quebram as regras são tratados como lixo, mas aqueles que abandonam seus companheiros são piores que lixo (Obito Uchiha).

Quando conheces a dor e o sofrimento, não machucas as pessoas. (Jiraya).

Amor e perdão não são sentimentos que compramos com palavras bonitas. (Pain).

Quando estás com alguém que gostas, sorris sempre (Sai).

Um lugar onde alguém ainda pensa em ti; é aquilo que a gente pode chamar de lar. (Jiraya).

O céu é muito vasto para a pessoa viver a vida sozinha! (Shino).

Por mais que te tornes forte, nunca tentes fazer nada sozinho...caso contrário irás falhar (Itachi).

Eu amo uma mulher, mas não vou obrigá-la a amar-me. Vou cercá-la com o meu amor, enquanto rezo pela sua felicidade (Jiraya).

Mas eu tenho fé que um dia as pessoas realmente entenderão umas as outras... (Jiraya)

Um sorriso que não vem do coração é só um grito de agonia (Shino)

Dor, tristeza e alegria... esses sentimentos permitem que entendas os outros (Gaara).

O sol já se foi, agora só nos restam as memórias daquela luz. (Naruto).

Quando uma pessoa… tem algo importante que ela quer proteger… é quando ela se pode tornar realmente forte. (Haku).

Desista de me fazer desistir! (Naruto).

sábado, 21 de agosto de 2021

Domingo XXI do Tempo Comum - ano B - 22.agosto.2021

O Grande Homem

O GRANDE HOMEM, de José Luiz Silva, in Tribuna do Norte 18/04/1982


O grande homem não ama. E não desama. Tem mulher para casa e amante para exibições mundanas. As duas, presas à sua condição de grande homem.
O grande homem tem emoções, mas controla-as através de um computador miniaturizado que carrega no ventre próspero. Tem coração, mas as suas pulsações são controladas pelo marca-passo. Tudo nele é funcional. O riso e o sorriso, a cara fechada, as piscadelas, o suor na fronte, a untuosidade, os dedos grossos, as unhas curtas encerradas. Até o pigarro é motivo para desfraldar o lenço branco e atrás esconder o seu enfado.
O grande homem não trai. Faz política. Tem jogo de cintura. Traidores são os que divergem de suas opiniões pendulares, da sua verdade granítica, os que enfarados o abandonam.
O grande homem não rouba. É negociante. Ladino. Comércio é isso desde que o mundo é mundo. Desde que surgiu na terra o primeiro grande homem. Ladrão é pequeno e desonesto, que ousou o primeiro avanço, quis imitá-lo, repetindo no varejo o que só no atacado conquista imunidades.
O grande homem não mente. Falta com a verdade. É otimista. Ilude-se com as aparências. É traído pelas perspetivas. A sua palavra é lei. A sua verdade também. Chamado a legislar, não se enquadra nos mandamentos legais, que cria para disciplinar o vulgo.
O grande homem entende que as pessoas existem em função dele. Ao seu serviço. Para ele, quando não servem são descartadas. Enquanto ele não tem contas a prestar. Às vezes, na sua intuição (o grande homem é intuitivo), vende o servidor que já não lhe interessa. Negócio é negócio.
O grande homem criou, numa de suas iluminações interiores (ele é um iluminado), um código de ética ao seu serviço. E outro para limitar os outros. Pelo seu código, “amigos, amigos, negócios à parte”. No código alheio, um descuido é traição ou dureza de coração.
O grande homem não se prende à lealdade. Leais devem ser os servos. Ele paira acima das contingências.
O grande homem não ouve ninguém fora do círculo próprio dos grandes homens. Decide. E exige obediência, coerência. Daí porque é líder. E nele descobrem veios do carisma.
O grande homem pode comercializar, negociar, instrumentalizar, atendendo aos seus interesses. O homem comum, não. Quem nada tem, deve ter vergonha na cara.
Diante de outros grandes homens, o grande homem é humilde e manso de coração. Pede. Suplica. Requer. Espera deferimento. Oferece. Dá. Diante do homem comum, é impetuoso, valente, intransigente, moralista. A humanidade, ele olha-a de cima para baixo, se possível e quando, em gesto de compunção.
O grande homem vive dos outros, dos favores, conceções, condescendência, credulidade, trocas, arreglos, advocacia administrativa, conluios, mordomias, ociosidade (se possível com dignidade). Grandes frases, grandes discursos, grandes patriotismos. O homem comum pede pouco, o sobejo da mesa, o mínimo sem o qual (Santo Tomaz de Aquino) a própria virtude não é exigível. É um impertinente, importuno, postulante, chato.

Definições do Canalha

DEFINIÇÕES DO CANALHA, segundo José Luiz Silva, Na Calçada do Café São Luiz (1982)...


O canalha é aquele que não concorda contigo, mas diz que estás certo.
O canalha é aquele que aprova sem aprovar, que aplaude sem aplaudir, que sofre sem sofrer, que manda cartões de pêsames sentindo parabéns.
Os amigos do canalha duram o tempo da função que eles exercem.
O canalha pode ser tratado permanentemente por excelência, mas jamais será excelente.
Onde reside o canalha? Em todos os lugares, todas as situações, menos nele mesmo.
O Canalha é um sertanejo às avessas. Ele é, antes de tudo, um fraco.
O canalha engorda com a inflação.
Quem diz que o canalha dorme? Ele é um eterno vigilante. Por isso, com ele os bons não conseguem sobreviver.
Quando Jesus Cristo disse que os filhos das TREVAS são mais espertos do que os filhos da LUZ, Ele via diante de Si a multidão de canalhas querendo usufruir o poder. Lá na Palestina…
Quando um canalha mora num palácio, ele se diz pragmático.
O canalha jamais aceitará um concorrente. Ele vive de jogadas. Aliás, para ele a vida é simplesmente um jogo.
O carro preto à mão de um canalha, será o carro fúnebre do povo.
As artimanhas do canalha, muitas vezes o transformam em amado. Aí reside o grande perigo. Mussolini foi amado por algum tempo. Hitler também.
Um país está em decadência, quando não consegue distinguir quem não é canalha.
Não se preocupe com o que estou escrevendo.
O CANALHA JAMAIS SOFRE.

sábado, 31 de julho de 2021

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Santos irmãos Marta, Maria e Lázaro, amigos de Jesus

"A 2 de fevereiro do presente ano, de 2021, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos decretou que a Igreja passasse a celebrar os Santos Marta, Maria e Lázaro numa única Memória Litúrgica, a 29 de Julho, que o Calendário Litúrgico já dedicava a Santa Marta, exclusivamente. E que bom que assim é! A Igreja reconhece assim o grande dom da amizade, dos grupos de amigos, e a importância deste grupo de amigos especiais de Jesus.
Ação e contemplação não se contradizem. Aliás, não existe vida cristã sem que as duas dimensões estejam presentes. Porém, a missão nasce da escuta do Senhor, do estar aos pés de Jesus a ouvi-lo" (Passo a Rezar, 29 de julho).

Nota Histórica
Marta, Maria e Lázaro eram irmãos. Tendo hospedado o Senhor em sua casa de Betânia, Marta servia-O diligentemente e Maria escutava-O piedosamente; e com as suas orações pediram a ressurreição do irmão.

Oração de coleta:
Senhor nosso Deus, cujo Filho chamou de novo Lázaro do sepulcro para a vida e aceitou a hospitalidade que Marta Lhe oferecia em sua casa, concedei-nos que, servindo a Cristo em cada um dos nossos irmãos, mereçamos ser alimentados com Maria na meditação da sua palavra.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.

Evangelhos propostos:

Evangelho de São João (11, 19-27):
Naquele tempo, muitos judeus tinham ido visitar Marta e Maria, para lhes apresentar condolências pela morte do irmão. Quando ouviu dizer que Jesus estava a chegar, Marta saiu ao seu encontro, enquanto Maria ficou sentada em casa. Marta disse a Jesus: «Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Mas sei que, mesmo agora, tudo o que pedires a Deus, Deus To concederá». Disse-lhe Jesus: «Teu irmão ressuscitará». Marta respondeu: «Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia». Disse-lhe Jesus: «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá. Acreditas nisto?». Disse-Lhe Marta: «Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo».
Ou Evangelho de São Lucas (10, 38-42):
Naquele tempo, Jesus entrou em certa povoação e uma mulher chamada Marta recebeu-O em sua casa. Ela tinha uma irmã chamada Maria, que, sentada aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Entretanto, Marta atarefava-se com muito serviço. Interveio então e disse: «Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe que venha ajudar-me». O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada».
São Bernardo, abade
(Sermo 3 in Assumptione beatæ Mariæ Virginis, 4. 5: PL 183, 423. 424).
Na nossa casa o ordenamento da caridade distribuiu três ministérios

Consideremos, irmãos, como uma caridade bem ordenada distribuiu três diferentes ocupações na nossa casa, dando a administração a Marta, a contemplação a Maria e a penitência a Lázaro. Qualquer alma perfeita tem tudo isso conjuntamente; todavia cada uma dessas ocupações parece convir mais a um do que a outros, de modo que se dedicam uns à santa contemplação, outros ao serviço dos seus irmãos e outros, por fim, a refletirem de alma amargurada nos anos da sua vida, como feridos dormindo nos sepulcros. Eis meus irmãos, sim: eis como Maria deve pensar no seu Deus com piedosos e elevados sentimentos, Marta no seu próximo com disposições de benevolência e de misericórdia e Lázaro em si mesmo com humildade e comiseração.
Considere cada qual em que situação se encontra. «Se estes três homens – Noé, Daniel e Job – se encontrarem nessa cidade, livrar-se-ão a si mesmos pela sua justiça, diz o Senhor, mas não poderão livrar nem filho nem filha». Não adulo ninguém e oxalá que também nenhum de vós se iluda! Os que não receberam qualquer ocupação, nenhum cargo para desempenhar, devem manter-se sentados, ou aos pés de Jesus com Maria, ou então no fundo do sepulcro com Lázaro. E porque não haveria Marta de andar atarefada com muitas coisas, se ela tem por função ocupar-se de todos os outros? Mas a ti, que não tens essa incumbência, resta-te uma das outras duas: ou não ficares perturbado, e antes te deleitares mais no Senhor ou, se ainda não és disso capaz, a não te preocupares com mais nada, mas somente contigo, como diz de si próprio o Profeta.
Mas também a própria Marta deve ser advertida de que o que acima de tudo se requer nos administradores é que sejam fiéis. Ora será fiel se procura os interesses de Jesus Cristo e não os seus, se tiver uma intenção pura, se faz a vontade de Deus e não a sua, se, enfim, a sua atividade for bem regulada. Há quem não tenha o olhar puro e receberá a sua recompensa. Outros há que se deixam guiar pelos seus próprios impulsos e tudo o que fazem está contaminado pela marca da sua vontade própria que aí fica gravada.
Vem agora comigo ao canto nupcial e consideremos como o Esposo, quando chama a si a Esposa, nem omite alguma destas três coisas nem lhes acrescenta nada: «Levanta-te – diz ele – vem daí, ó minha bem amada, formosa minha, minha pomba e vem!». Não será bem amada, porventura, a alma que só pensa nos interesses do seu Senhor e leva a sua fidelidade ao ponto de por Ele sacrificar a sua vida? Porque, de todas as vezes que, pelo mais pequenino dos que Lhe pertencem, ela interrompe a sua ocupação espiritual, ela sacrifica, espiritualmente falando, a sua vida por Ele. Porventura não será formosa a alma que, contemplando de rosto descoberto a glória do Senhor, se transforma nessa mesma imagem e avança de claridade em claridade como por obra do próprio Espírito do Senhor? E, por fim, não será pomba a alma que suspira e geme nas fendas do rochedo, nas frestas dos penhascos, como se estivesse sepultada sob uma lápide tumular?

domingo, 11 de julho de 2021

SAROO BRIERLEY - A LONGA ESTRADA PARA CASA

SAROO BRIERLEY (2015). A Longa Estrada para casa. Lisboa: Editorial Presença. 208 páginas.


Esta é uma história real colocada em livro. Um menino perde-se, numa estação de comboios, na Índia, e só passado 25 anos volta a encontrar a sua mãe, e também a irmã e o irmão, já casados e com filhos. O mais velho, que o tinha levado para trabalhar e o deixou na estação, com a intenção de voltar, morreu nesse dia debaixo de um comboio.
Como o irmão mais velho não regressasse, Saroo entrou num comboio que o levou durante várias horas até Calcutá, ficando a quilómetros de distância de casa e sem saber como se identificar ou à localidade de onde era originário.
Entregue às autoridades, acabaria por ser adotado por um casal australiano, que decidiu que já havia demasiadas pessoas no mundo, e assim, em vez de terem filhos biológicos, adotariam. Foi numa altura que a adoção estava mais agilizada, e que muitos australianos adotaram crianças oriundas da Índia. Saroo foi de avião para a Tasmânia, na Austrália. Os pais adotivos acabariam por adotar outra criança também indiana.
Nunca se esqueceu de alguns dos pormenores, desde que se perdeu, até embarcar num comboio, a caminhar quilómetros, com a noção de que pelo menos durante 12 horas, e parar às ruas de Calcutá. Junto á estação, procurando comida no lixo ou junto de outras crianças na rua, enfrentando diversos perigos... até um jovem o levar á polícia, entrando assim num sistema público até á adoção. Pelo caminho, entrou em vários comboios com a esperança de regressar a casa.
Procurou memorizar lugares, pessoas, percursos, a mãe, os irmãos, para um dia regressar. No quarto  tinha o mapa da Índia que a mãe (adotiva) lhe tinha colocado lá, para sempre se lembrar das raízes. Já no tempo da universidade, regressou às pesquisas, através do Google Earth, incentivado e ajudado por outros indianos, procurando rotas dos comboios, velocidades que fariam os comboios nos anos oitenta, fazendo zoom sobre imagens reais, á procura de estações que se assemelhassem à estação de comboios da sua terra. A pronúncia da terra, como também do nome, sempre dificultaram a pesquisa. Depois de muitas horas e quando se preparava para continuar a procurar, moveu o mapa aleatoriamente e aumentou o perímetro de procura e encontrou a sua terra. Recorreu depois a um grupo no Facebook para confirmar com os dados que tinha. E isso também foi de grande ajuda.
Passados 25 anos regressa à Índia para encontrar a família, visitar novamente Calcutá e as pessoas que o ajudaram e para tentar reconstruir a viagem de comboio, da sua terra até Calcutá.
Foi entrevistado para televisão. Publicou este livro que, entretanto, inspirou um filme: Lion - A Longa Estrada Para Casa. Quem tiver a oportunidade de ler o livro e ver o filme, vai verificar que existem algumas diferenças na história, ainda assim permitem perceber a história vivida e narrada, e visualizar a imensa pobreza que ainda existe na Índia. Por outro lado, o livro tem o propósito de ajudar outras crianças ou jovens, perdidos, a não desistirem de encontrar as famílias de origem. Perdem-se cerca de 80 mil crianças, por ano, na Índia.


Vejamos agora o livro apresentado pela Editorial Presença:

Quando Saroo Brierley se serviu do Google Earth para descobrir a aldeia onde nasceu, a milhares de quilómetros de onde vive e da qual quase não se lembra, rapidamente se tornou notícia em todo o mundo.

Saroo, de cinco anos, está numa estação de caminho de ferro, sozinho. Perdeu-se de Guddu, o irmão mais velho, que o acompanhava. Sem saber como regressar a casa, enfia-se num comboio acreditando que Guddu há de encontrá-lo. Ali adormece e no dia seguinte vê-se nas perigosas ruas de Calcutá, por onde deambuIa durante semanas, só e sem qualquer documento, perante a indiferença da multidão. Acaba por ser acolhido num orfanato e, mais tarde, é adotado por um casal australiano. Embora feliz na Austrália, com a sua nova família, que em vão tenta conhecer as suas origens, Saroo nunca deixa de pensar na mãe e nos irmãos que ficaram a quase meio mundo de distância. Anos depois, passa horas a perscrutar imagens do Google Earth na esperança de localizar e identificar referências da sua aldeia que lhe permitam reencontrar a mãe biológica.

Um testemunho verídico na primeira pessoa, comovente e intenso, que já inspirou milhões de pessoas em todo o mundo. um hino à esperança, ao poder dos sonhos e à coragem de nunca desistir, que agora vê nova luz numa adaptação ao cinema pelo realizador Garth Davis com Nicole Kidman, Rooney Mara e Dev Patel