segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

São Silvestre I, Papa

       Eleito bispo da Sé Romana no ano 314, governou a Igreja no tempo do imperador Constantino Magno, quando o cisma donatista e a heresia ariana provocavam graves danos ao povo cristão. Morreu em 335 e foi sepultado no cemitério de Priscila, na via Salária.
        Este Papa dos inícios da nossa Igreja era um homem piedoso e santo, mas de personalidade pouco marcada. São Silvestre I apagou-se ao lado de um Imperador culto e ousado como Constantino, o qual, mais que servi-lo, se terá antes servido dele, da sua simplicidade e humanidade, agindo por vezes como verdadeiro Bispo da Igreja, sobretudo no Oriente, onde recebe o nome de Isapóstolo, isto é, igual aos apóstolos.
       E na realidade, nos assuntos externos da Igreja, o Imperador considerava-se acima dos próprios Bispos, o Bispo dos Bispos, com inevitáveis intromissões nos próprios assuntos internos, uma vez que, com a sua mentalidade ainda pagã, não estava capacitado para entender e aceitar um poder espiritual diferente e acima do civil ou político. 
       E talvez São Silvestre, na sua simplicidade, tivesse sido o Papa ideal para a circunstância. Outro Papa mais exigente, mais cioso da sua autoridade, teria irritado a megalomania de Constantino, perdendo a sua proteção. Ainda estava muito viva a lembrança dos horrores por que passara a Igreja no reinado de Diocleciano, e São Silvestre, testemunha dessa perseguição que ameaçou subverter por completo a Igreja, terá preferido agradecer este dom inesperado da proteção imperial e agir com moderação e prudência.
        Constantino terá certamente exorbitado. Mas isso ter-se-á devido ao desejo de manter a paz no Império, ameaçada por dissenções ideológicas da Igreja, como na questão do donatismo que, apesar de já condenado no pontificado anterior, se vê de novo discutido, em 316, por iniciativa sua. 
       Dois anos depois, gerou-se nova agitação doutrinária mais perigosa, com origem na pregação de Ario, sacerdote alexandrino que negava a divindade da segunda Pessoa e, consequentemente, o mistério da Santíssima Trindade. Constantino, inteirado da agitação doutrinária, manda mais uma vez convocar os Bispos do Império para dirimirem a questão. Sabemos pelo Liber Pontificalis, por Eusébio e Santo Atanásio, que o Papa dá o seu acordo, e envia, como representantes seus, Ósio, Bispo de Córdova, acompanhado por dois presbíteros.
       Ele, como dignidade suprema, não se imiscuiria nas disputas, reservando-se a aprovação do veredito final. Além disso, não convinha parecer demasiado submisso ao Imperador. 
       Foi o primeiro Concílio Ecuménico (universal) que reuniu em Niceia, no ano 325, mais de 300 Bispos, com o próprio Imperador a presidir em lugar de honra. Os Padres conciliares não tiveram dificuldade em fazer prevalecer a doutrina recebida dos Apóstolos sobre a divindade de Cristo, proposta energicamente pelo Bispo de Alexandria, Santo Atanásio. A heresia de Ario foi condenada sem hesitação e a ortodoxia trinitária ficou exarada no chamado Símbolo Niceno ou Credo, ratificado por São Silvestre.
       Constantino, satisfeito com a união estabelecida, parte no ano seguinte para as margens do Bósforo onde, em 330, inaugura Constantinopla, a que seria a nova capital do Império, eixo nevrálgico entre o Oriente e o Ocidente, até à sua queda em poder dos turcos otomanos, em 1453.
        Data dessa altura a chamada doação constantiniana, mediante a qual o Imperador entrega à Igreja, na pessoa de São Silvestre, a Domus Faustae, Casa de Fausta, sua esposa, ou palácio imperial de Latrão (residência papal até Leão XI), junto ao qual se ergueria uma grandiosa basílica de cinco naves, dedicada a Cristo Salvador e mais tarde a São João Batista e São João Evangelista (futura e atual catedral episcopal de Roma, São João de Latrão). Mais tarde, doaria igualmente a própria cidade.
       Depois de um longo pontificado, cheio de acontecimentos e transformações profundas na vida da Igreja, morre S. Silvestre I no último dia do ano 335, dia em que a Igreja venera a sua memória. Sepultado no cemitério de Priscila, os seus restos mortais seriam transladados por Paulo I (757-767) para a igreja erguida em sua memória.

ORAÇÃO
        Vinde, Senhor, em auxílio do vosso povo, que confia na intercessão do papa São Silvestre, e conduzi-o ao longo desta vida presente, para que chegue um dia à felicidade da vida que não tem fim. Por Nosso Senhor.

sábado, 29 de dezembro de 2018

Agora deixareis ir em paz o vosso servo...

       Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, para O apresentarem ao Senhor, como está escrito na Lei do Senhor: «Todo o filho primogénito varão será consagrado ao Senhor», e para oferecerem em sacrifício um par de rolas ou duas pombinhas, como se diz na Lei do Senhor. Vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão, homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava nele. O Espírito Santo revelara-lhe que não morreria antes de ver o Messias do Senhor; e veio ao templo, movido pelo Espírito. Quando os pais de Jesus trouxeram o Menino para cumprirem as prescrições da Lei no que lhes dizia respeito, Simeão recebeu-O em seus braços e bendisse a Deus, exclamando: «Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo». O pai e a mãe do Menino Jesus estavam admirados com o que d’Ele se dizia. Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua Mãe: «Este Menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; – e uma espada trespassará a tua alma – assim se revelarão os pensamentos de todos os corações» (Lc 2, 22-35).
       Na apresentação de Jesus no Templo, cumprindo todas as exigências da Lei, destaca-se hoje no Evangelho a profecia do velho Simeão, homem justo e piedoso, que esperava a salvação de Israel. Depois e acolher o Messias em seus braços, cumpre com a vida, não há mais nada a esperar, chegou a plenitude do tempo e da história, o momento da morte pode agora chegar, o último dos desejos foi cumprido.
       Por outro lado, o velho Simeão diz a Maria que Aquele Menino Lhe trará muita dor, mas ao mesmo tempo a Sua vida será LUZ que revelará os corações, vem para evidenciar a salvação e salvar até o que está perdido...

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Santos Inocentes, Mártires

Nota Histórica:
       «Hoje celebramos o nascimento para o Céu das crianças que foram assassinadas por Herodes, o rei cruel» (S. Cesário de Arles).
       Ao venerar estas crianças, que proclamaram a glória de Deus, não com palavras mas com o seu sangue, a Igreja quer, em primeiro lugar, levar-nos à sua imitação sendo testemunhas de Cristo, através do martírio silencioso do cumprimento do dever quotidiano.
       Ao lembrar, em plena quadra natalícia, o sacrifício destas «flores dos mártires que se fecharam para sempre no seio do frio da infidelidade» (Sto. Agostinho), quer também dirigir um apelo para que se respeite a vida, em todas as suas manifestações, desde a sua origem até ao seu termo. Na verdade, como lembrou o Concílio Vaticano II, «Deus, Senhor da Vida, confiou aos homens a nobre missão de protegê-la: missão, que deve ser cumprida de modo digno do homem. Por isso, a vida, desde a concepção, deve ser amparada com o máximo cuidado: o aborto e o infanticídio são crimes abomináveis» (Gaudium et Spes: GS 51).

Oração de Coleta:
       Senhor nosso Deus, que neste dia fostes glorificado não pelas palavras mas pelo sangue dos Mártires Inocentes, fazei que a nossa vida dê testemunho da fé que os nossos lábios professam. Por Nosso Senhor Jesus Cristo vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Sermão de São Quodvultdeus, bispo 

Ainda não falam e já confessam a Cristo 

Nasceu o grande Rei, como um menino pequeno. Os Magos são atraídos de longes terras; vêm para adorar Aquele que ainda está no presépio, mas já reina no Céu e na terra. Quando os Magos anunciam que nasceu o Rei, Herodes perturba-se e, para não perder o reino, decide matar o recém-nascido; e, no entanto, se tivesse acreditado n’Ele, poderia reinar tranquilo na terra e para sempre na outra vida.
Que temes, Herodes, ao ouvir dizer que nasceu o Rei? Ele não veio para te destronar, mas para vencer o demónio. Tu, porém, não o compreendes; e por isso te perturbas e te enfureces, e, para que não escape aquele único Menino que buscas, te convertes em cruel assassino de tantas crianças.
Nem as lágrimas das mães nem o lamento dos pais pela morte de seus filhos, nem os gritos e gemidos das crianças te comovem. Matas o corpo das crianças, porque o temor te matou o coração; julgas que, se conseguires o teu propósito, poderás viver muito tempo, quando precisamente queres matar a própria Vida. 
Aquele que é a fonte da graça, que é pequeno e grande ao mesmo tempo, e que jaz no presépio, aterroriza o teu trono; por meio de ti, e sem que tu o saibas, realiza os seus desígnios e liberta as almas do cativeiro do demónio. Recebeu como filhos adoptivos os filhos dos que eram seus inimigos.
As crianças, sem o saberem, morrem por Cristo; os pais choram os mártires que morrem. Àqueles que ainda não podiam falar, Cristo os faz suas dignas testemunhas. Eis como reina Aquele que veio para reinar. Eis como já começa a conceder a liberdade Aquele que veio para libertar, e a dar a salvação Aquele que veio para salvar.
Mas tu, Herodes, ignorando tudo isto, perturbas-te e enfureces-te; e enquanto te enfureces contra aquele Menino, já estás a prestar-Lhe, sem o saberes, a tua homenagem.
Maravilhoso dom da graça! Que méritos tinham aquelas crianças para obterem tal triunfo? Ainda não falam e já confessam a Cristo. Ainda não podem mover os seus membros para travar batalha e já alcançam a palma da vitória.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

São João, Apóstolo e Evangelista

       Filho de Zebedeu, rico pescador de Bethsaida (Mc 1, 20; Mt 4, 18--22; Jo 1, 44), e de Salomé, que mais tarde se viria a consagrar ao serviço de Jesus e dos Apóstolos, foi educado, com o seu irmão Tiago, na seita dos zelotes. Tornado discípulo de João Baptista, por ele seria encaminhado para Jesus, vindo a ser bem depressa, um dos membros mais ativos do grupo.
       A João confiou Jesus não só o maior número de missões, mas também os Seus mais íntimos segredos. A ele confiará igualmente Sua Mãe, que terminará os Seus dias na companhia do «Discípulo amado». Após uma longa vida apostólica, o Apóstolo do amor será exilado para a ilha de Patmos (Apoc. 1), no tempo de Domiciano, sendo o último dos Doze a deixar a terra.
       João é o autor de vários Cartas, do Apocalipse e do quarto Evangelho.

Oração de colecta:
       Deus todo-poderoso e eterno, que por meio do apóstolo São João nos revelastes os mistérios do Verbo, concedei-nos a graça de compreender e amar as maravilhas que ele nos fez conhecer. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


Santo Agostinho, bispo, sobre a Primeira Epístola de São João 

A Vida manifestou-Se na carne 

O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos, o que tocámos com as nossas mãos acerca do Verbo da Vida. Quem poderia tocar com suas mãos o Verbo, se não fosse porque o Verbo Se fez carne e habitou entre nós?
O Verbo, que Se fez carne para poder ser tocado com as mãos, começou a ser carne no seio da Virgem Maria; mas não foi então que começou a ser o Verbo, porque, como diz São João, Ele era desde o princípio. Vede como a sua Epístola é confirmada pelas palavras do seu Evangelho que acabais de escutar: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus.
Talvez haja alguém que tome a expressão «Verbo da Vida» como se fosse referida a Cristo, mas não ao corpo de Cristo que podia ser tocado com as mãos. Reparai no que vem a seguir: E a Vida manifestou-Se. Portanto, Cristo é o Verbo da Vida.
E como Se manifestou? Era desde o princípio, mas não se tinha manifestado aos homens; apenas Se tinha manifestado aos Anjos, que O contemplavam e se alimentavam d’Ele como de seu pão. Mas que diz a Escritura? O homem comeu o pão dos Anjos.
Portanto, a Vida manifestou-Se na carne, para que, nesta manifestação, aquilo que só o coração podia ver, fosse visto também com os olhos e desta forma sarasse os corações. De facto o Verbo só pode ser visto com o coração, ao passo que a carne pode ser vista também com os olhos corporais. Éramos capazes de ver a carne, mas não éramos capazes de ver o Verbo. Por isso O Verbo Se fez carne que nós podemos ver, para sarar em nós aquilo que nos torna capazes de ver o Verbo.
Nós damos testemunho do Verbo e vos anunciamos a vida eterna, que estava junto do Pai e foi manifestada em nós, isto é, foi manifestada entre nós e, ainda mais claramente, foi-nos manifestada.
Nós vos anunciamos o que vimos e ouvimos. Prestai atenção: Nós vos anunciamos o que vimos e ouvimos. Eles viram o Senhor presente na carne, ouviram as palavras da sua boca e anunciaram-nas a nós. Por isso também nós ouvimos, mas não vimos.
Seremos nós, por isso, menos afortunados que aqueles que viram e ouviram? Mas então, porque acrescenta: Para que estejais também em comunhão connosco? Eles viram e nós não vimos; e, apesar disso, estamos em comunhão, porque temos uma fé comum.
E a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo; e vos escrevemos isto, para que a vossa alegria seja completa. A alegria completa encontra-se, como ele diz, na mesma comunhão de vida, na mesma caridade, na mesma unidade.

Fonte: Secretariado Nacional da Liturgia.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Paróquia de Pinheiros | Natal 2018

O Natal celebra, para nós cristãos, o nascimento de Jesus, pelo que a forma honesta de o celebrar é precisamente pela celebração da Santa Missa, onde Ele se torna presente pela ação do Espírito Santo, em Igreja, fazendo-Se o maior dos presentes à humanidade.
na Paróquia de Pinheiros, como em tantas comunidades, a Missa de Natal envolveu as famílias, com o acolhimento aos familiares emigrados. No final da Eucaristia, a passagem pelo Cemitério, para relembrar os que já partiram, mas que Deus no-los devolve na celebração do mistério Pascal na Eucaristia. 

Paróquia de Távora | Festa de Natal | 2018

Em vésperas de Natal, 23 de dezembro de 2018, os meninos da catequese, com as suas catequistas, preparam a Festa de Natal:
De manhã a Santa Missa e a Feirinha de Natal.
De tarde, a música, a dança, o teatro.., o convívio e o lanche.

Santo Estêvão, o primeiro mártir

Nota biográfica:
       Estêvão foi um dos primeiros sete Diáconos escolhidos pelos Apóstolos, com o fim de por eles serem aliviados de tarefas administrativas (Atos. 6, 1-6). Homem cheio do Espírito Santo, não limitou Estêvão o seu «diaconado» aos serviços caritativos. Com efeito, dedicou-se, com toda a sua alma, à evangelização, tornando-se testemunho de Cristo Ressuscitado. O livro dos Actos dos Apóstolos (Ato, 7) atribui-lhe um discurso, que, sendo o primeiro ensaio cristão da leitura dos textos do Antigo Testamento em função da vinda do Senhor, servirá de modelo aos primeiros arautos do Evangelho. Primeiro diácono, foi também o primeiro mártir da Igreja. Cerca do ano 36 da nossa era, com uma morte aceite com as mesmas disposições com que Jesus aceitou a Sua, Estêvão dava o supremo testemunho do Seu amor por Ele.
Oração de coleta:
       Ensinai-nos, Senhor, a imitar o que celebramos,amando os nossos inimigos, a exemplo do primeiro mártir, Santo Estêvão, que soube implorar o perdão para os seus perseguidores. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Atos dos Apóstolos:
       Naqueles dias, Estêvão, cheio de graça e fortaleza, fazia grandes prodígios e milagres entre o povo. Entretanto, alguns membros da sinagoga chamada dos Libertos, oriundos de Cirene, de Alexandria, da Cilícia e da Ásia, vieram discutir com Estêvão, mas não eram capazes de resistir à sabedoria e ao Espírito Santo com que ele falava. Ao ouvirem as suas palavras,estremeciam de raiva em seu coração e rangiam os dentes contra Estêvão. Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, de olhos fitos no Céu, viu a glória de Deus e Jesus de pé à sua direita e exclamou: «Vejo o Céu aberto e o Filho do homem de pé à direita de Deus». Então levantaram um grande clamor e taparam os ouvidos; depois atiraram-se todos contra ele, empurraram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas colocaram os mantos aos pés de um jovem chamado Saulo. Enquanto o apedrejavam, Estêvão orava, dizendo: «Senhor Jesus, recebe o meu espírito» (6, 8-10; 7, 54-49).
São Fulgêncio de Ruspas, bispo

As armas da caridade

Ontem celebrámos o nascimento temporal do nosso Rei eterno; hoje celebramos o martírio triunfal do seu soldado. Ontem, o nosso rei, revestido com o manto da carne, saindo do seio virginal, dignou-Se visitar o mundo; hoje, o soldado, saindo do tabernáculo do seu corpo, entrou triunfante no Céu.
O nosso Rei, o Altíssimo, humilhou-Se por nós; mas a sua vinda não foi em vão: Ele trouxe grandes dons aos seus soldados, a quem não só enriqueceu abundantemente, mas também fortaleceu para serem invencíveis na luta. Trouxe o dom da caridade que torna os homens participantes da natureza divina.
Ao repartir tão liberalmente os seus dons, nem por isso ficou mais pobre: enriquecendo de modo admirável a pobreza dos seus fiéis, Ele conservou a plenitude dos seus tesouros inesgotáveis.
Assim, a mesma caridade que Cristo trouxe do Céu à terra, fez subir Estêvão da terra ao Céu. A mesma caridade que precedeu no Rei, resplandeceu depois no soldado.
Estêvão, para merecer a coroa que o seu nome significava, tomou como arma a caridade e com ela triunfava em toda a parte. Por amor de Deus não cedeu perante os judeus que o atacavam; por amor do próximo, intercedia pelos que o apedrejavam. Pela caridade, argumentava contra os que estavam no erro para que se corrigissem; pela caridade, orava pelos que o apedrejavam para que não fossem castigados.
Confiado na força da caridade, venceu a crueldade de Saulo e mereceu ter como companheiro no Céu aquele que na terra foi seu perseguidor. Movido pela santa e infatigável caridade, desejava conquistar com a sua oração aqueles que não pôde converter com as suas palavras.
E agora, Paulo alegra-se com Estêvão, com Estêvão goza da glória de Cristo, com Estêvão triunfa, com Estêvão reina. Onde entrou primeiro Estêvão, martirizado pelas pedras de Paulo, entrou depois Paulo, ajudado pelas orações de Estêvão.
Oh como é verdadeira aquela vida, meus irmãos, em que Paulo não fica confundido pela morte de Estêvão, e Estêvão se alegra pela companhia de Paulo, porque em ambos exulta a mesma caridade. A caridade de Estêvão superou a crueldade dos judeus, a caridade de Paulo cobriu a multidão dos seus pecados; pela caridade mereceram ambos possuir o reino dos Céus.
A caridade é a fonte e origem de todos os bens, é a mais segura protecção, é o caminho que leva ao Céu. Quem caminha na caridade não pode temer nem errar; ela dirige, protege e leva a bom termo.
Por isso, irmãos, uma vez que Jesus Cristo nos deu a escada da caridade pela qual todo o cristão pode subir ao Céu, conservai fielmente a caridade verdadeira, exercitai a uns com os outros e, subindo por ela, progredi sempre no caminho da perfeição.

sábado, 22 de dezembro de 2018

Domingo IV do Advento - ano C - 23 d dezembro d 2018

A minha alma glorifica o Senhor

       Maria disse:
       «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-poderoso fez em mim maravilhas, Santo é o seu nome. A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem. Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre».
       Maria ficou junto de Isabel cerca de três meses e depois regressou a sua casa (Lc 1, 46-56).
       No encontro de Nossa Senhora com a sua prima Isabel, a quem fora ajudar prontamente, quando soube que esta se encontrava grávida há seis meses, às palavras de alegria de Isabel, manifestando o próprio júbilo e o do filho (João Batista) que carrega no seio, Maria responde com esta belíssima oração.
       Maria expressa a grandeza de Deus, que ao longo do tempo realizou maravilhas em favor do Seu povo, na promoção dos mais frágeis, dos desprotegidos da sociedade e da religião, protegendo o Seu povo. A misericórdia divina está presente em todos os momentos, favoráveis e desfavoráveis, do povo da primeira aliança.
       Por outro lado, Maria reconhece, de novo, a sua pequenez, a humildade que Lhe permite escutar Deus, acolher o Seu mistério e dizer "sim" para toda a vida. Só a humildade nos salva. Só com humildade perscrutamos Deus na nossa vida, só a humildade nos abre ao mistério...

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Bendita és Tu entre as mulheres...

       Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direcção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor» (Lc 1, 39-45).
       Ontem escutámos o Evangelho da anunciação do Anjo a Nossa Senhora, cujas palavras finais continuam a ser um desafio permanente para os cristãos: faça-se em mim segundo a tua palavra... Hoje escutamos o Evangelho da Visitação de Nossa Senhora à Sua prima Santa Isabel onde se destaca uma postura a imitar, a pressa em ser prestável, em ajudar. Maria corre para a Montanha em auxílio da Sua prima. E nós, quando detectamos necessidades também corremos para o nosso semelhante?
       Por outro lado, a alegria do encontro... também nós, crentes cristãos, deveremos experimentar a alegria do encontro com Jesus Cristo, motivando-nos para a transformação positiva da nossa vida e do mundo que nos envolve.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Faça-se em mim segundo a tua palavra

       O Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José, da descendência de David. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?» O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível». Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 26-38).
       Vivemos em ambiente de Natal. Façamos com que a celebração festiva do nascimento de Jesus não seja uma passagem apenas exterior, mas que a Luz do presépio, onde encontramos Maria, José e Jesus, nos aproxime dos outros, dentro de portas, em nossa casa, com a nossa família e desta paz em família a partilha da alegria com quem encontramos.
       Hoje, com Maria também nós queremos sentir-nos interpelados por Deus. Também nós, como Maria, tenhamos a humildade e a coragem de dizer ao Senhor: faça-se em mim segundo a Tua santa vontade.

Paróquia de Tabuaço | Festa de Natal | 2018

Na proximidade do Natal, a Festa alusiva esta festa tão importante para as famílias e para as comunidades. Este ano a 15 de dezembro e, como tradicionalmente, no Auditório do Centro de Promoção Social do Concelho de Tabuaço.
A Festa começou com a Santa Missa, seguindo-se uma pequena história de Amor, com a alegria contagiante dos mais novos, bem entranhados na história. Seguiram poemas referentes ao ambiente natalício, mas uma forma de dizer e acolher Deus. Depois, a bela intervenção dos Pais das nossas crianças. Encerrámos com os Pais, as Catequistas e as crianças a desejarem, cantando, a todos um Feliz Natal.

Créditos:
Fotos: Paróquia de Tabuaço - Sara e Mara
Música: Pe. Salvador Cabral - Cantai ao Menino

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Paróquia de Tabuaço | Imaculada Conceição | 2018

Nossa Senhora da Conceição é a Padroeira de Tabuaço, pelo que o dia 8 de dezembro é dos dias mais solenes e significativos da vida da comunidade. Mantendo-se estritamente religiosa, a Festa da Padroeira de Tabuaço, Madrinha dos Bombeiros Voluntários, Padroeira da Santa Casa, continua a mobilizar as pessoas à volta da veneração de Nossa Senhora da Conceição.

Créditos:
Paróquia de Tabuaço: Mara Longa e Daniela Rodrigues
Música de fundo: Grupo de Jovens de Avões (Lamego)

Não temas, Zacarias, a tua súplica foi atendida...

       Zacarias ficou perturbado e encheu-se de temor. Mas o Anjo disse lhe: «Não temas, Zacarias, porque a tua súplica foi atendida. Isabel, tua esposa, dar-te-á um filho, ao qual porás o nome de João. Será para ti motivo de grande alegria e muitos hão-de alegrar-se com o seu nascimento, porque será grande aos olhos do Senhor. Não beberá vinho nem bebida alcoólica; será cheio do Espírito Santo desde o seio materno e reconduzirá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. Irá à frente do Senhor, com o espírito e o poder de Elias, para fazer voltar os corações dos pais a seus filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, a fim de preparar um povo para o Senhor». Zacarias disse ao Anjo: «Como hei-de saber que é assim, se eu estou velho e a minha esposa de idade avançada?». O Anjo respondeu-lhe: «Eu sou Gabriel, que assisto na presença de Deus e fui enviado para te anunciar esta boa nova. Mas tu vais guardar silêncio, sem poder falar, até ao dia em que tudo isto aconteça, por não teres acreditado nas minhas palavras, que se cumprirão a seu tempo» (Lc 1, 5-25).
       Na cultura judaica, a fertilidade/fecundidade do casal é sinal e expressão da bênção de Deus. Ao contrário, a infertilidade do casal é infortúnio e desonra. Sendo Zacarias sacerdote no templo fica mais exposto por não ter descendentes. Nem a proximidade de Deus o afastou desse opróbrio. Mas nem tudo está perdido, Deus olha para o Seu povo e neste caso específico para o Seu servo Zacarias, ele será pai e terá um descendente. Zacarias nem quer acreditar que a bênção de Deus se efetiva finalmente, num tempo em que já restava pouca esperança.
       O filho que vai nascer de Zacarias e Isabel será um sinal de salvação, do mistério de Deus que vem até à humanidade...

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Nascimento de Jesus, segundo São Mateus

       "O nascimento de Jesus deu-se do seguinte modo: Maria, sua Mãe, noiva de José, antes de terem vivido em comum, encontrara-se grávida por virtude do Espírito Santo. Mas José, seu esposo, que era justo e não queria difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo. Tinha ele assim pensado, quando lhe apareceu num sonho o Anjo do Senhor, que lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo. Ela dará à luz um Filho e tu pôr-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados». Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor anunciara por meio do Profeta, que diz: «A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado ‘Emanuel’, que quer dizer ‘Deus connosco’». Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua esposa" (Mt 1, 18-25).
        Ontem, o evangelho apresentava-nos a genealogia de Jesus, segundo Mateus, salientando-se a inserção histórica de Jesus numa cultura e num povo determinado, com nome, ascendência, pertença ao povo da aliança, mas na abertura a outros povos, a inclusão de mulheres (quatro pecadoras), dizendo-nos que Jesus vem assumir o nosso pecado e nos redimir. Por outro lado, se José Lhe dá o nome, o apelido, a casa, Jesus nasce de Maria, concebido pelo Espírito Santo, é verdadeiro Homem, é verdadeiro Deus.
       Hoje acentua-se esta dimensão mistérica do nascimento de Jesus. O Deus que salva (= Jesus), nasce pelo poder do Espírito Santo no seio de Maria. São José é envolvido neste mistério, sendo-lhe revelado a origem do Menino Deus. José recebe o encargo de dar NOME a Jesus...
       A figura de São José aparece em relevância nesta passagem, como essencial é a sua missão no mistério de Jesus, na proteção da família de Nazaré, na legalidade e na ligação ao povo. Não é mera figura decorativa, Deus visita-O e fala com Ele, escolhendo-O para ser o Pai (adotivo e legal) de Jesus, dando uma lar, um espaço de segurança e de afetividade, para que o Menino Deus possa ter uma verdadeira família humana. No silêncio, na oração e na meditação, José ensina-nos a discernir os mistérios que se colocam na nossa vida e, percebendo-os, a acolhê-los.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Genealogia de Jesus...

       Genealogia de Jesus Cristo, Filho de David, Filho de Abraão: Abraão gerou Isaac; Isaac gerou Jacob; Jacob gerou Judá e seus irmãos. Judá gerou, de Tamar, Farés e Zara; Farés gerou Esrom; Esrom gerou Arão; Arão gerou Aminadab; Aminadab gerou Naasson; Naasson gerou Salmon; Salmon gerou, de Raab, Booz; Booz gerou, de Rute, Obed; Obed gerou Jessé; Jessé gerou o rei David. David, da mulher de Urias, gerou Salomão; Salomão gerou Roboão; Roboão gerou Abias; Abias gerou Asa; Asa gerou Josafat; Josafat gerou Jorão; Jorão gerou Ozias; Ozias gerou Joatão; Joatão gerou Acaz; Acaz gerou Ezequias; Ezequias gerou Manassés; Manassés gerou Amon; Amon gerou Josias; Josias gerou Jeconias e seus irmãos, ao tempo do desterro de Babilónia. Depois do desterro de Babilónia, Jeconias gerou Salatiel; Salatiel gerou Zorobabel; Zorobabel gerou Abiud; Abiud gerou Eliacim; Eliacim gerou Azor; Azor gerou Sadoc; Sadoc gerou Aquim; Aquim gerou Eliud; Eliud gerou Eleazar; Eleazar gerou Matã; Matã gerou Jacob; Jacob gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo. Assim, todas estas gerações são: de Abraão a David, catorze gerações; de David ao desterro de Babilónia, catorze gerações; do desterro de Babilónia até Cristo, catorze gerações (Mt 1, 1-17).
       A genealogia de Jesus, embora de difícil leitura, diz-nos algo de importantíssimo e que faz parte do Credo: Jesus é verdadeiramente homem. Nasce num povo, com história, e está ligado às várias gerações de judeus, de Abraão a David, de Salomão a José, esposo de Maria.
       É uma pertença cósmica, isto é, está ligado ao Povo da Aliança, mas aparecem também, nesta genealogia personagens estrangeiras. Segundo Bento XVI, no recente livro "Jesus de Nazaré - A Infância de Jesus", há também a referência a quatro mulheres, quatro pecadores. Neste caso para indicar que Jesus carrega em si os pecados da humanidade.
       Vem de Deus, mas percorre o tempo, o nosso tempo, encarna numa cultura, numa determinada ocasião, tem raízes na terra, na humanidade, não vem do exterior, mas está profundamente enraizado no povo de Deus, na história, no tempo.
       Como Ele, saibamos também nós encarnar no tempo, na história atual das pessoas e do mundo.

sábado, 15 de dezembro de 2018

Domingo III do Advento - ano C - 16 d dezembro d 2018

Elias já veio... em João Baptista

       Jesus respondeu-lhes: «Certamente Elias há-de vir para restaurar todas as coisas. Eu vos digo, porém, que Elias já veio; mas, em vez de o reconhecerem, fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim também o Filho do homem será maltratado por eles». Então os discípulos compreenderam que Jesus lhes falava de João Baptista (Mt 17, 10-13).
       Neste tempo do Advento a figura de João Baptista é incontornável. Ele é o Precursor. Vem antes para anunciar a vinda do Messias, para preparar a Sua chegada. Vem para contrariar o que veio em parte a acontecer com a chegada do Messias, que muitos não percebam que estão diante o Ungido do Senhor.
       Há sempre tanta gente à espera e a olhar para o Céu, aguardando um sinal inequívoco para agir, para avançar, para seguir em frente. Quantas vezes não era mais fácil Deus impor-se claramente e com força?! Mas Ele é brisa suave, está em nós como o ar que respiramos, por vezes nem sentimos a Sua presença. Muitas pessoas, no tempo de Jesus, continuaram à espera de Elias... a olhar para o Céu, e afinal Ele estava no meio deles.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

São João da Cruz, Presbítero e Doutor da Igreja

Nota Histórica:
       Nasceu em Fontiveros, província de Ávila (Espanha) pelo ano de 1542. Depois de ter passado algum tempo na Ordem dos Carmelitas, foi o primeiro entre os seus irmãos de Religião que, a partir de 1568, persuadido por Santa Teresa de Jesus, se declarou a favor da reforma da sua Ordem, e suportou, por isso, inumeráveis sofrimentos e trabalhos. Morreu em Úbeda no ano 1591, com grande fama de santidade e sabedoria, de que dão testemunho os seus escritos espirituais.
Oração:
    Senhor, que inspirastes ao presbítero São João da Cruz a perfeita abnegação de si mesmo e o ardente amor à cruz, concedei que, imitando o seu exemplo, cheguemos à contemplação eterna da vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Do Cântico Espiritual de São João da Cruz, presbítero

Conhecimento do mistério escondido em Cristo Jesus

Por mais mistérios e maravilhas que tenham descoberto os santos Doutores e entendido as almas santas neste estado de vida, o melhor fica-lhes por dizer e até por entender.
Efectivamente, há muito que aprofundar em Cristo, porque Ele é como uma mina abundante com muitas cavidades cheias de tesouros, que por mais que afundem nunca lhes encontram fim nem termo, antes em cada cavidade vão encontrando novas veias de novas riquezas.
Por isso disse São Paulo, falando de Cristo: N’Ele estão todos os tesouros da sabedoria e da ciência, nos quais a alma não pode entrar nem a eles pode chegar, se, como dissemos, não passar primeiro pela estreiteza do padecer interior e exterior. Porque mesmo ao que nesta vida se pode alcançar desses mistérios de Cristo não se pode chegar sem ter padecido muito e recebido muitas mercês intelectuais e sensitivas de Deus, e sem ter precedido muito exercício espiritual, porque todas estas mercês são mais baixas que a sabedoria dos mistérios de Cristo, pois todas elas são como disposições para chegar a esta sabedoria.
Oh se se acabasse já de entender que não se pode chegar à espessura e sabedoria das riquezas de Deus, que são de muitas maneiras, senão entrando na espessura do padecer de muitas maneiras, pondo nisso a alma a sua consolação e desejo! E como a alma, que deveras deseja a sabedoria divina, deseja primeiro padecer, para entrar nela, pela espessura da cruz!
Por isso admoestava São Paulo aos Efésios, que não desfalecessem nas tribulações, que fossem bem fortes e arraigados na caridade, para que pudessem compreender com todos os santos, qual seja a largura e o comprimento e a altura e a profundidade, e conhecer também aquele amor de Cristo, que excede toda a ciência, para serem cheios de toda a plenitude de Deus. Porque para entrar nas riquezas desta sabedoria, a porta é a cruz, que é uma porta estreita, e desejar entrar por ela é de poucos; mas desejar os deleites a que se chega por ela, é de muitos.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Santa Luzia, Virgem e Mártir

Nota biográfica:
       Morreu provavelmente em Siracusa, durante a perseguição de Diocleciano. O seu culto estendeu-se, desde a antiguidade, quase a toda a Igreja, e o seu nome foi introduzido no Cânon Romano.
       (É venerada como a Santa dos olhos. A imagem que se segue tem, numa bandeja, um par de olhos. No concelho de Tabuaço é, especialmente, venerada na paróquia de Sendim, tendo uma capela que lhe é dedicada e uma romaria muito popular em sua honra)
Oração:
       Protegei, Senhor, o vosso povo com a intercessão gloriosa da virgem e mártir Santa Luzia, para que, celebrando hoje o seu martírio na terra, contemplemos um dia o seu triunfo no Céu. Por Nosso Senhor.

Santo Ambrósio, bispo, sobre a virgindade

O esplendor da alma ilumina a graça do corpo

Tu, que vieste de entre o povo, do meio da multidão, e és agora uma das virgens, que iluminas com o esplendor da alma a graça do teu corpo – e, por isso, és uma imagem fiel da Igreja – recolhe-te no teu aposento e durante a noite pensa sempre em Cristo e espera a todo o momento a sua chegada.
É isto que Ele deseja de ti, para isto te escolheu. Ele entrará certamente, se encontrar a porta aberta; Ele prometeu vir e não faltará à sua promessa. E quando vier, abraça Aquele a quem buscavas, aproxima-te d’Ele e serás iluminada; conserva-O junto de ti, roga-Lhe que não parta tão depressa, suplica-Lhe que não Se afaste de ti. Porque o Verbo de Deus corre velozmente: onde vê desinteresse, não Se demora; onde sente negligência, não Se detém. Concentra a tua alma para escutar a sua palavra e segue atentamente a ressonância da sua voz, porque Ele passa depressa.
Que diz a esposa do Cântico dos Cânticos? Procurei-o e não o encontrei; chamei por ele e não me respondeu. Se partiu tão depressa Aquele a quem tu chamaste, a quem suplicaste e a quem abriste a porta, não penses que Lhe desagradaste, pois muitas vezes Ele permite que sejamos postos à prova. E que respondeu no Evangelho às multidões que Lhe pediam para não partir dali? Tenho de pregar a palavra de Deus noutras cidades, porque para isso fui enviado. Mas se te parece que se foi embora, sai tu uma vez mais e busca-O de novo.
Quem, senão a Igreja, te ensinará o modo de conservares a Cristo contigo? Aliás, já to ensinou, se bem entendes o que lês: Mal passei pelos guardas, encontrei aquele que meu coração ama; segurei-o e não o deixarei partir.
Com que laços se pode segurar a Cristo? Não com laços de violência, nem com cordas bem apertadas, mas com os vínculos da caridade, com as cadeias do espírito e o afecto da alma.
Se queres conservar a Cristo contigo, busca-O incansavelmente e não temas o sacrifício. Muitas vezes Ele encontra-se mais facilmente no meio dos suplícios corporais e nas mãos dos perseguidores.
Mal passei pelos guardas, diz o Cântico. De facto, passado um breve espaço de tempo, quando te vires livre dos perseguidores e vitoriosa sobre os poderes do mundo, Cristo virá ao teu encontro e não permitirá que se prolongue mais a tua prova.
Aquela que assim busca a Cristo e O encontra, pode exclamar: Segurei-O e não O deixarei mais, até que O tenha introduzido na casa de minha mãe, no quarto daquela que me concebeu. Qual é a casa de tua mãe e o seu quarto senão o santuário mais íntimo do teu ser?
Guarda bem esta casa, limpa todos os seus recantos, para que assim, purificada de toda a mancha, se levante como um templo espiritual fundado sobre a pedra angular, até se formar um sacerdócio santo e habite nela o Espírito de Deus.
Aquela que assim busca a Cristo, aquela que assim Lhe suplica, jamais se verá abandonada por Ele; ao contrário, será visitada por Ele com frequência, porque Ele está connosco até ao fim do mundo.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Homem, os teus pecados estão perdoados

       Certo dia, enquanto Jesus ensinava, estavam entre a assistência fariseus e doutores da Lei, que tinham vindo de todas as povoações da Galileia, da Judeia e de Jerusalém; e Ele tinha o poder do Senhor para operar curas. Apareceram então uns homens, trazendo num catre um paralítico; tentavam levá-lo para dentro e colocá-lo diante de Jesus. Como não encontraram modo de o introduzir, por causa da multidão, subiram ao terraço e, através das telhas, desceram-no com o catre, deixando-o no meio da assistência, diante de Jesus. Ao ver a fé daquela gente, Jesus disse: «Homem, os teus pecados estão perdoados». Os escribas e fariseus começaram a pensar: «Quem é este que profere blasfémias? Não é só Deus que pode perdoar os pecados?» Mas Jesus, que lia nos seus pensamentos, tomou a palavra e disse-lhes: «Que estais a pensar nos vossos corações? Que é mais fácil dizer: ‘Os teus pecados estão perdoados’ ou ‘Levanta-te e anda’? Pois bem, para saberdes que o Filho do homem tem na terra o poder de perdoar os pecados... Eu te ordeno – disse Ele ao paralítico – levanta-te, toma a tua enxerga e vai para casa». Logo ele se levantou à vista de todos, tomou a enxerga em que estivera deitado e foi para casa, dando glória a Deus. Ficaram todos muito admirados e davam glória a Deus; e, cheios de temor, diziam: «Hoje vimos maravilhas» (Lc 5, 17-26).
       O perdão dos pecados é exclusivo de Deus. Jesus, ao usar esta linguagem, "provoca" a mente dos seus ouvintes. Ele não é simplesmente um curandeiro, é muito mais que isso, é o Messias que estava para vir ao mundo, é o Deus connosco. Milagres, curas, exorcismos, perdão dos pecados, atributos próprios do Messias, ainda que este último aspeto só se deva referir a Deus. Se Jesus perdoa os pecados, então o reino de Deus chegou até nós.
       O próprio nome, revelado a São José e a Maria, Jesus, traz consigo esta dimensão divina. Jesus é Aquele que salva, é o Salvador. Ele trará um reino de cura, a partir do interior, não apenas cura de doenças mas muito mais que isso, redenção. A cura é sobretudo um sinal do poder de Deus entre nós e que atua a nosso favor. A verdadeira cura, porém, é a que nos redime do pecado e da morte e nos aproxima de Deus e dos outros, de forma simples e verdadeira, sem reservas.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Santo Ambrósio, Bispo e Doutor da Igreja

Nota Histórica:
       Nascido em Tréveris, cerca do ano 340, de uma família romana, fez os seus estudos em Roma e iniciou em Sírmio a carreira pública. Em 374, vivendo em Milão, foi inesperadamente eleito para bispo da cidade e recebeu a ordenação em 7 de Dezembro. Fiel cumpridor do seu dever, distinguiu-se sobretudo na caridade para com todos, como verdadeiro pastor e mestre dos fiéis.       Defendeu corajosamente os direitos da Igreja; com seus escritos e sua atividade ilustrou a verdadeira doutrina contra o arianismo. Morreu no Sábado Santo, em 4 de Abril de 397.

Oração:
       Senhor, que nos destes em Santo Ambrósio um mestre insigne da fé católica e um exemplo de apostólica fortaleza, fazei surgir na Igreja homens segundo o vosso coração, que a governem com firmeza e sabedoria. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Fonte: Secretariado Nacional da Liturgia.

Papa Bento XVI sobre Santo Ambrósio:

Das cartas de Santo Ambrósio, bispo
(Epist. 2, 1-2.4-5.7: PL 16 [ed. 1845], 847-881) (Sec. IV)

O encanto da tua palavra inspire confiança ao povo

Recebeste o ofício sacerdotal e, sentado à popa da Igreja, governas a barca contra a fúria das ondas. Segura bem o timão da fé, para que não te inquietem as violentas tempestades deste mundo. O mar é, sem dúvida, grande e espaçoso, mas não temas: Ele a fundou sobre os mares e a consolidou sobre as águas.
Por isso, a Igreja do Senhor, edificada sobre a pedra apostólica, mantém-se segura entre os escolhos do mundo e, apoiada em tão sólido fundamento, permanece firme contra as investidas do mar em tempestade. Vê-se envolvida pelas ondas, mas não abalada; e embora muitas vezes os elementos deste mundo a sacudam com grande fragor, ela oferece aos navegantes cansados um porto seguro de salvação. Ela flutua no mar, mas navega também pelos rios, sobre aqueles rios de que se diz no salmo: Os rios levantam a sua voz. São os rios que brotam do coração daqueles que beberam da água de Cristo e receberam o Espírito de Deus. Quando transbordam de graça espiritual, estes rios levantam a sua voz.
Há também um rio que corre para os seus santos como uma torrente. Há um rio que alegra com as suas águas a alma tranquila e pacífica. Quem receber da plenitude deste rio, como João Evangelista, Pedro e Paulo, levanta a sua voz; e do mesmo modo que os Apóstolos difundiram até aos confins da terra a voz da pregação evangélica, também o que recebe deste rio começará a anunciar o Evangelho do Senhor Jesus. Recebe também tu da plenitude de Cristo, para que se faça ouvir também a tua voz. Recebe a água de Cristo, essa água que louva o Senhor. Recolhe a água dos numerosos lugares em que a deixam cair as nuvens dos Profetas.
Quem recolhe a água dos montes ou a tira e bebe das fontes, pode enviar o seu orvalho como as nuvens. Enche, portanto, o teu coração com esta água, para que a terra da tua alma seja regada e tenhas a fonte em tua própria casa.
Quem muito lê e entende, enche-se com aquilo que lê; e quem está cheio pode regar os demais; por isso, diz a Escritura: Se as nuvens estão cheias, derramarão chuva sobre a terra.
As tuas pregações sejam fluentes, puras e claras, de modo que a tua exortação moral se infunda suavemente no coração dos ouvintes e o encanto da tua palavra inspire a confiança do povo; deste modo ele te seguirá voluntariamente para onde o conduzires.
Os teus discursos estejam cheios de inteligência. Neste sentido diz Salomão: Os lábios do sábio são as armas da sabedoria; e noutro lugar: O pensamento dirija os teus lábios, isto é, os teus sermões brilhem pela sua clareza e inteligência, os teus discursos e as tuas explicações não precisem de sentenças alheias mas sejam capazes de se defender por si mesmas; enfim não saia da tua boca nenhuma palavra inútil e sem sentido.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

S. Martinho de Dume, S. Frutuoso, e S. Geraldo, bispos

Nota Histórica:
       Martinho, oriundo da Panónia, nasceu no princípio do século VI e foi, ainda novo, para a Palestina. Era um homem de grande erudição e «por inspiração divina», como ele mesmo afirmava, veio para a Galiza cerca do ano 550. Converteu os suevos do arianismo à fé católica e fixou-se em Dume; aí fundou um mosteiro de que foi eleito bispo. Em 569 ficou a ser também bispo metropolita de Braga. Com a sua virtude e saber, diz S. Isidoro, a Igreja floresceu na Galiza. Morreu no dia 20 de Março do ano 579.
       Frutuoso nasceu no princípio do século VII, de nobre família visigótica. Fundou numerosos mosteiros, que muito contribuíram para a educação da juventude, como centros de vida religiosa e cultural. Nomeado arcebispo de Braga, a fama da sua santidade e sabedoria estendeu-se a toda a Península Hispânica. Morreu cerca do ano 666.
       Geraldo nasceu na Gália, de nobre família; professou no mosteiro de Moissac onde desempenhou os cargos de bibliotecário, mestre dos oblatos e cantor. O bispo Bernardo de Toledo conseguiu levá-lo para a sua catedral para aí exercer as funções de mestre e de cantor. Eleito bispo de Braga, exerceu grande actividade na reorganização da diocese, na promoção da vida monástica, na reforma litúrgica e pastoral, bem como na aplicação da disciplina eclesiástica. Morreu a 5 de Dezembro de 1108.

Oração:
       Deus, inspirador dos pastores da Igreja e luz de todos os povos, que chamastes os santos bispos Martinho, Frutuoso e Geraldo para ensinar ao vosso povo os mistérios do reino, concedei-nos que, animados pelo seu exemplo e iluminados pela sua doutrina, cheguemos ao esplendor eterno da vossa glória. Por Nosso Senhor.
«Fórmula de vida honesta», de São Martinho de Dume, bispo

Os que temem o Senhor são justificados e as suas boas obras brilham como a luz

Não procures granjear a amizade de alguém por meio da adulação, nem permitas que outros por meio dela granjeiem a tua. Não sejas ousado nem arrogante; submete-te e não te imponhas; conserva a serenidade e aceita de boa mente as advertências e com paciência as repreensões. Se alguém te repreender com razão, reconhece que é para teu bem; se o faz sem motivo, admite que é com boa intenção. Não temas as palavras ásperas, mas sim as brandas. Emenda-te dos teus defeitos e não sejas curioso indagador ou severo censor dos alheios; corrige os outros sem incriminação, prepara a advertência com mostras de sincera simpatia, e ao erro dá facilmente desculpa.
Não exaltes nem humilhes pessoa alguma. Sê discreto a respeito do que ouves dizer e acolhedor benévolo dos que te querem ouvir. Responde prontamente a quem te pergunta e cede facilmente a quem porfia, para que não venhas a cair em contendas e imprecações.
Se és moderado e senhor de ti mesmo, vigia sobre as moções do teu ânimo e os impulsos do teu corpo, evitando todas as inconveniências; não os ignores pelo facto de serem ocultos; pois não importa que ninguém os veja, se tu de facto os vês.
Sê flexível, mas não leviano; constante, mas não teimoso. A tua ciência não seja ignorada nem molesta. Considera a todos iguais a ti; não desprezes os inferiores com altivez, e não temas os superiores, se vives rectamente. Em matéria de obséquios e saudações não te dispenses nem os exijas. Para todos deves ser afável; para ninguém, adulador; com poucos, familiar; para todos, justo.
Sê mais severo no discernimento do que nas palavras e mais nobre na vida do que na aparência. Afeiçoa-te à clemência e detesta a crueldade. Quanto à boa fama, não apregoes a tua nem invejes a alheia. Sobre rumores, crimes e suspeitas não sejas crédulo nem inclinado a pensar mal, mas opõe-te decididamente àqueles que com aparente simplicidade maquinam a difamação alheia.
Sê tardo para a ira e fácil para a misericórdia; firme nas adversidades, prudente e moderado nas prosperidades; ocultador das próprias virtudes, como outros o são dos vícios. Evita a vanglória e não busques o reconhecimento das tuas qualidades.
A ninguém desprezes por ignorante. Fala pouco, mas tolera pacientemente os faladores. Sê sério mas não desumano, e não menosprezes as pessoas alegres.
Sê desejoso da sabedoria e dócil. Sem presunção, ensina o que sabes a quem to pedir; e sem disfarçar a ignorância, pede que te ensinem o que não sabes.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do Céu e da terra

Jesus exultou de alegria pela acção do Espírito Santo e disse:
       "Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque isto foi do teu agrado. Tudo Me foi entregue por meu Pai; e ninguém sabe o que é o Filho senão o Pai, nem o que é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar". Voltando-Se depois para os discípulos, disse-lhes: "Felizes os olhos que vêem o que estais a ver, porque Eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que vós vedes e não o viram e ouvir o que vós ouvis e não o ouviram" (Lc 10, 21-24).
       É bem conhecida esta passagem do Evangelho em que Jesus sublinha a simplicidade do coração para acolher e compreender a mensagem de Deus. A soberba e a sobranceria, o orgulho e a autosuficiência servem apenas para nos afastar dos outros, de Deus e dos grandes mistérios da vida humana. Só pergunta quem está a disposição de escutar, de compreender, de mudar. Ou as questões brotarão de um cinismo mordaz e destrutivo.
       Quem se julga dono da verdade e do mundo, nunca aceitará o que vem dos outros nem do Totalmente Outro, que em Jesus Se faz Totalmente próximo.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

São Francisco Xavier, presbítero

Nota Histórica:


       São Francisco Xavier nasceu a 7 de abril de 1506, no castelo de Xavier, em Navarra, na Espanha. Filho de Dom João e Maria Xavier. Desde cedo Francisco fez da capela, existente no castelo, um lugar especial, onde se ajoelhava e olhava o grande crucifixo, contemplando o amor daquele Homem da Cruz.
       Cresceu numa família abonada e, nessa medida, teve a possibilidade de estudar. Na juventude prosseguiu os estudos em Paris. Já professor viria a encontrar-se com Inácio de Loyola. Juntamente com mais 5 companheiros fundaram a Companhia de Jesus. A eles rapidamente se juntaram muitos outros, espalhando-se pelo mundo inteiro a anunciar o Evangelho.
       Foi ordenado sacerdote, em Roma, no ano de 1537 e dedicou-se a obras de caridade.
       Em 1541 partiu para o Oriente, cabendo-lhe evangelizar o Japão e a Índia, onde trabalhou incansavelmente,  durante 10 anos, percorrendo enormes distâncias, para propagar a fé, falando do Reino de Deus e do Seu amor pela humanidade, administrando os sacramentos. Não queria que ninguém ficasse sem conhecer Jesus Cristo, em quem se revelada a plenitude do amor de Deus. Uma das suas estratégias, para chegar mais longe e a mais pessoas, foi pedir a ajuda das crianças. "A cada dia crescia o número das pessoas que tinham desejo de Deus e eu tinha todo o interesse em satisfazer toda aquela pobre gente. Com receio que uma recusa enfraquecesse a sua confiança nos socorros da religião, decidi enviar as crianças para os diferentes bairros, para onde era chamado".
       As crianças, enviadas por São Francisco, levavam uma oração impressa, tocavam os doentes com o rosário e aspergiam-nos com água benta. Regressavam felizes.
       Depois de muito trabalho, já cansado e sem forças, Francisco adoece e no dia 3 de dezembro de 1552 abraçado ao crucifixo diz com voz fraca: "Senhor esperei em vós, não serei confundido eternamente!" Tinha 46 anos de idade.
       Foi beatificado pelo Papa Paulo V, a 25 de outubro de 1619 e canonizado pelo Papa Gregório XV, a 12 de março de 1622, em simultâneo com Santo Inácio de Loyola. Como Santa Teresinha do Menino Jesus, também ele é apontado como modelo de missionário, tendo sido proclamado padroeiro das missões pelo Papa Pio XI. A sua festa celebra-se a 3 de dezembro.      

Oração:
       Senhor, que, pela pregação de São Francisco Xavier, chamastes muitos povos ao conhecimento do vosso nome, concedei a todos os cristãos o mesmo zelo pela propagação da fé, para que, em toda a terra, a santa Igreja se alegre com novos filhos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
       A Primeira Leitura e o Evangelho mostram o mandato de Cristo e o cumprimento do mesmo por parte do Apóstolo São Paulo. Jesus aparece aos Onze Apóstolos e envia-os a anunciar o Evangelho a todo o mundo (Mc 16, 15-20). Paulo assume o anúncio do Evangelho como prioridade do seu ministério, assim também São Francisco Xavier:
"Anunciar o Evangelho não é para mim um título de glória, é uma obrigação que me foi imposta. Ai de mim se não anunciar o Evangelho! Se o fizesse por minha iniciativa, teria direito a recompensa. Mas, como não o faço por minha iniciativa, desempenho apenas um cargo que me está confiado. Em que consiste, então, a minha recompensa? Em anunciar gratuitamente o Evangelho, sem fazer valer os direitos que o Evangelho me confere. Livre como sou em relação a todos, de todos me fiz escravo, para ganhar o maior número possível. Com os fracos tornei-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, a fim de ganhar alguns a todo o custo. E tudo faço por causa do Evangelho, para me tornar participante dos seus bens" (1 Cor 9, 16-19.22-23).
São Francisco Xavier, presbítero, a Santo Inácio

Ai de mim se não anunciar o Evangelho

Viemos por povoações de cristãos, que se converteram há uns oito anos. Nestes sítios não vivem portugueses, por a terra ser muitíssimo estéril e extremamente pobre. Os cristãos destes lugares, por não terem quem os instrua na nossa fé, somente sabem dizer que são cristãos. Não têm quem lhes diga Missa e, ainda menos, quem lhes ensine o Credo, o Pai-Nosso, a Ave-Maria e os Mandamentos. Quando eu chegava a estas povoações, baptizava todas as crianças por baptizar. Desta forma, baptizei uma grande multidão de meninos que não sabiam distinguir a mão direita da esquerda. Ao entrar nos povoados, as crianças não me deixavam rezar o Ofício divino, nem comer, nem dormir, e só queriam que lhes ensinasse algumas orações. Comecei então a saber por que é deles o reino dos Céus. Como seria ímpio negar-me a pedido tão santo, comecei pela confissão do Pai, do Filho e do Espírito Santo, pelo Credo, Pai-nosso, Ave-Maria, e assim os fui ensinando. Descobri neles grande inteligência. Se houvesse quem os instruísse na fé, tenho por certo que seriam bons cristãos.
Muitos deixam de se fazer cristãos nestas terras, por não haver quem se ocupe de tão santas obras. Muitas vezes me vem ao pensamento ir aos colégios da Europa, levantando a voz como homem que perdeu o juízo e, principalmente, à Universidade de Paris, falando na Sorbona aos que têm mais letras que vontade para se disporem a frutificar com elas. Quantas almas deixam de ir à glória e vão ao inferno por negligência deles! E, se assim como vão estudando as letras, estudassem a conta que Deus Nosso Senhor lhes pedirá delas e do talento que lhes deu, muitos se moveriam a procurar, por meio dos Exercícios Espirituais, conhecer e sentir dentro de suas almas a vontade divina, conformando-se mais com ela do que com suas próprias afeições, dizendo: «Senhor, eis-me aqui; que quereis que eu faça? Mandai-me para onde quiserdes; e se for preciso, até mesmo para a Índia».

sábado, 1 de dezembro de 2018

Portanto, vigiai e orai em todo o tempo

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Tende cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados com a intemperança, a embriaguês e as preocupações da vida e esse dia não vos surpreenda subitamente como uma armadilha; porque ele atingirá todos os que habitam sobre a face da terra. Portanto, vigiai e orai em todo o tempo, para que possais livrar-vos de tudo isto que está para acontecer e comparecer sem temor diante do Filho do homem» (Lc 21, 34-36).
        No último dia do ano litúrgico, o Evangelho apresenta-nos a recomendação de Jesus - com que se iniciará o novo tempo litúrgico, o Advento -, vigiai e orai. Viver com alegria, com sentido, não esperar por tempos melhores ou mais favoráveis, viver em todo o tempo e em todas as circunstâncias dar o melhor de si. Orar para que o nosso coração não se torne pesado pelas situações do tempo actual mas nos abra à generosidade e à esperança.
       Ao olharmos à nossa volta, neste mundo em que vivemos, o nosso coração poderá tornar-se insensível, ou amargurado, pelo mal, pelo sofrimento, pelas diversas situações de injustiça e conflitualidade. A oração coloca-nos em Deus, na certeza que Ele, em Jesus Cristo já venceu, por nós e para nós, o mal. Cabe-nos agora prosseguir para construir à nossa volta, com palavras, gestos, obras, um ambiente mais saudável, sabendo que o mal não dura para sempre, mas sem cruzarmos resignadamente os braços à espera que as injustiças desapareçam por si mesmo...

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Festa de Santo André, Apóstolo

Nota biográfica:
       André é irmão de Simão Pedro e é natural de Betsaida.
       O nome é de origem grega e não hebraica. Na lista dos Apóstolos aparece em segundo lugar, e outras vezes em quarto. Gozava de um enorme prestígio nas comunidades cristãs do início. É, juntamente com Pedro, dos primeiros a ser chamado por Jesus: "Caminhando ao longo do mar da galileia, Jesus viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar. Disse-lhes: «Vinde comigo e Eu farei de vós pescadores de homens»" (Mt 4, 18-19; Mc 1, 16-17). O quarto Evangelho dá-nos a informação que ele foi primeiramente discípulo de João Baptista e depois seguiu a Cristo, a quem apresentou também seu irmão Pedro (Jo 1, 36-43).
       A Igreja Bizantina honra-o como Protóklitos, isto é o primeiro chamado por Jesus.
       Os Evangelho apresentam André em outras ocasiões: aquando da multiplicação dos pães, dizendo a Jesus que havia um jovem que tinha cinco pães de cevada e dois peixes, mas insuficiente para tanta gente (Jo 6, 8-9); quando Jesus refere que do Templo não ficará pedra sobre pedra, apesar da solidez da construção, então juntamente com Pedro e João, André interroga Jesus: "Diz-nos quando isto acontecerá e qual o sinal de que tudo está para acabar?" (Mc 13, 1-4); próximo da Páscoa, antes da Paixão, vêm à cidade alguns gregos e manifestam o desejo de ver Jesus e é André e Filipe que servem de intérpretes (Jo 12, 23-24). Depois do Pentecostes, segundo uma tradição, pregou em diversas regiões e foi crucificado na Acaia.
       A tradição narra a morte de André em Petrasso, onde sofreu o suplício da crucifixão e à semelhança de Pedro pediu para ser crucificado de maneira diferente á do Mestre, tendo sido crucificado numa cruz decussada, cruzada transversalmente e inclinada, e que ficou conhecida como a "cruz de Santo André".
       Portanto, diz-nos o Papa Bento XVI, "o apóstolo André ensina-nos a seguir Jesus com prontidão (cf (Mt 4,20; Mc 1, 18), a falar com entusiasmo d'Ele a quantos encontrarmos, e sobretudo a cultivar com Ele um relacionamento de verdadeira familiaridade, bem conscientes de que só n'Ele podemos encontrar o sentido último da nossa vida e da nossa morte".

Oração de coleta:
       Nós Vos suplicamos, Deus omnipotente, que, assim como o apóstolo Santo André foi na terra pregador do Evangelho e pastor da vossa Igreja, seja também no Céu poderoso intercessor junto de Vós. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo

BENTO XVI SOBRE SANTO ANDRÉ, o Protóklitos 
Queridos irmãos e irmãs!
Nas últimas duas catequeses falámos da figura de São Pedro. Agora queremos, na medida em que as fontes o permitem, conhecer mais de perto também os outros onze Apóstolos. Portanto, falamos hoje do irmão de Simão Pedro, Santo André, também ele um dos Doze. A primeira característica que em André chama a atenção é o nome: não é hebraico, como teríamos pensado, mas grego, sinal de que não deve ser minimizada uma certa abertura cultural da sua família. Estamos na Galileia, onde a língua e a cultura gregas estão bastante presentes. Nas listas dos Doze, André ocupa o segundo lugar, como em Mateus (10, 1-4) e em Lucas (6, 13-16), ou o quarto lugar como em Marcos (3, 13-18) e nos Actos (1, 13-14). Contudo, ele gozava certamente de grande prestígio nas primeiras comunidades cristãs.
O laço de sangue entre Pedro e André, assim como a comum chamada que Jesus lhes faz, sobressaem explicitamente nos Evangelhos. Neles lê-se: "Caminhando ao longo do mar da Galileia, Jesus viu os dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes: "Vinde comigo e Eu farei de vós pescadores de homens"" (Mt 4, 18-19; Mc 1, 16-17). Do Quarto Evangelho tiramos outro pormenor: num primeiro momento, André era discípulo de João Baptista; e isto mostra-nos que era um homem que procurava, que partilhava a esperança de Israel, que queria conhecer mais de perto a palavra do Senhor, a realidade do Senhor presente. Era verdadeiramente um homem de fé e de esperança; e certa vez, de João Baptista ouviu proclamar Jesus como "o cordeiro de Deus" (Jo 1, 36); então ele voltou-se e, juntamente com outro discípulo que não é nomeado, seguiu Jesus, Aquele que era chamado por João o "Cordeiro de Deus". O evangelista narra: eles "viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia" (Jo 1, 37-39). Portanto, André viveu momentos preciosos de familiaridade com Jesus.
A narração continua com uma anotação significativa: "André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. Encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: "Encontramos o Messias" que quer dizer Cristo. E levou-o até Jesus" (Jo 1, 40-43), demonstrando imediatamente um espírito apostólico não comum. Portanto, André foi o primeiro dos Apóstolos a ser chamado para seguir Jesus. Precisamente sobre esta base a liturgia da Igreja Bizantina o honra com o apelativo de Protóklitos, que significa exactamente "primeiro chamado". E não há dúvida de que devido ao relacionamento fraterno entre Pedro e André a Igreja de Roma e a Igreja de Constantinopla se sentem irmãs entre si de modo especial. Para realçar este relacionamento, o meu Predecessor, o Papa Paulo VI, em 1964, restituiu as insignes relíquias de Santo André, até então conservadas na Basílica Vaticana, ao Bispo metropolita Ortodoxo da cidade de Patrasso na Grécia, onde segundo a tradição o Apóstolo foi crucificado.
As tradições evangélicas recordam particularmente o nome de André noutras três ocasiões, que nos fazem conhecer um pouco mais este homem. A primeira é a da multiplicação dos pães na Galileia. Naquele momento foi André quem assinalou a Jesus a presença de um jovem que tinha cinco pães de cevada e dois peixes: era muito pouco observou ele para todas as pessoas reunidas naquele lugar (cf. Jo 6, 8-9). Merece ser realçado, neste caso, o realismo de André: ele viu o jovem portanto já se tinha perguntado: "mas o que é isto para tantas pessoas?" (ibid.) mas apercebeu-se da insuficiência dos seus poucos recursos. Contudo, Jesus soube fazê-los bastar para a multidão de pessoas que vieram ouvi-lo. A segunda ocasião foi em Jerusalém. Saindo da cidade, um discípulo fez notar a Jesus o espectáculo dos muros sólidos sobre os quais o Templo se apoiava. A resposta do Mestre foi surpreendente: disse que não teria ficado em pé nem sequer uma pedra daqueles muros. Então André, juntamente com Pedro, Tiago e João, interrogou-o: "Diz-nos quando tudo isto acontecerá e qual o sinal de que tudo está para acabar" (Mc 13, 1-4).
Para responder a esta pergunta Jesus pronunciou um importante discurso sobre a destruição de Jerusalém e sobre o fim do mundo, convidando os seus discípulos a ler com atenção os sinais do tempo e a permanecer sempre vigilantes. Podemos deduzir deste episódio que não devemos ter receio de fazer perguntas a Jesus, mas ao mesmo tempo devemos estar prontos para receber os ensinamentos, até surpreendentes e difíceis, que Ele nos oferece.
Por fim, nos Evangelhos está registrada uma terceira iniciativa de André. O Cenário ainda é Jerusalém, pouco antes da Paixão. Para a festa da Páscoa narra João tinham vindo à cidade santa alguns Gregos, provavelmente prosélitos ou tementes a Deus, que vinham para adorar o Deus de Israel na festa da Páscoa. André e Filipe, os dois apóstolos com nomes gregos, servem como intérpretes e mediadores deste pequeno grupo de Gregos junto de Jesus. A resposta do Senhor à sua pergunta parece como muitas vezes no Evangelho de João enigmática, mas precisamente por isso revela-se rica de significado. Jesus diz aos dois discípulos e, através deles, ao mundo grego: "Chegou a hora de se revelar a glória do Filho do Homem. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto" (12, 23-24).
O que significam estas palavras neste contexto? Jesus quer dizer: sim, o encontro entre mim e os Gregos terá lugar, mas não como simples e breve diálogo entre mim e algumas pessoas, estimuladas sobretudo pela curiosidade. Com a minha morte, comparável à queda na terra de um grão de trigo, chagará a hora da minha glorificação. A minha morte na cruz originará grande fecundidade: o "grão de trigo morto" símbolo de mim crucificado tornar-se-á na ressurreição pão de vida para o mundo; será luz para os povos e para as culturas. Sim, o encontro com a alma grega, com o mundo grego, realizar-se-á naquela profundidade à qual faz alusão a vicissitude do grão de trigo que atrai para si as forças da terra e do céu e se torna pão. Por outras palavras, Jesus profetiza a Igreja dos gregos, a Igreja dos pagãos, a Igreja do mundo como fruto da sua Páscoa.
Tradições muito antigas vêem em André, o qual transmitiu aos gregos esta palavra, não só o intérprete de alguns Gregos no encontro com Jesus agora recordado, mas consideram-no como apóstolo dos Gregos nos anos que sucederam ao Pentecostes; fazem-nos saber que no restante da sua vida ele foi anunciador e intérprete de Jesus para o mundo grego. Pedro, seu irmão, de Jerusalém, passando por Antioquia, chegou a Roma para aí exercer a sua missão universal; André, ao contrário, foi o apóstolo do mundo grego: assim, eles são vistos, na vida e na morte, como verdadeiros irmãos uma irmandade que se exprime simbolicamente no relacionamento especial das Sedes de Roma e de Constantinopla, Igrejas verdadeiramente irmãs.
Uma tradição sucessiva, como foi mencionado, narra a morte de André em Patrasso, onde também ele sofreu o suplício da crucifixão. Mas, naquele momento supremo, de modo análogo ao do irmão Pedro, ele pediu para ser posto numa cruz diferente da de Jesus. No seu caso tratou-se de uma cruz decussada, isto é, cruzada transversalmente inclinada, que por isso foi chamada "cruz de Santo André". Eis o que o Apóstolo dissera naquela ocasião, segundo uma antiga narração (início do século VI) intituladaPaixão de André: "Salve, ó Cruz, inaugurada por meio do corpo de Cristo e que se tornou adorno dos seus membros, como se fossem pérolas preciosas. Antes que o Senhor fosse elevado sobre ti, tu incutias um temor terreno.
Agora, ao contrário, dotada de um amor celeste, és recebida como um dom. Os crentes sabem, a teu respeito, quanta alegria possuis, quantos dons tens preparados. Portanto, certo e cheio de alegria venho a ti, para que também tu me recebas exultante como discípulo daquele que em ti foi suspenso... Ó Cruz bem-aventurada, que recebestes a majestade e a beleza dos membros do Senhor!... Toma-me e leva-me para longe dos homens e entrega-me ao meu Mestre, para que por teu intermédio me receba quem por ti me redimiu. Salve, ó Cruz; sim, salve verdadeiramente!".
Como se vê, há aqui uma profundíssima espiritualidade cristã, que vê na Cruz não tanto um instrumento de tortura como, ao contrário, o meio incomparável de uma plena assimilação ao Redentor, ao grão de trigo que caiu na terra. Nós devemos aprender disto uma lição muito importante: as nossas cruzes adquirem valor se forem consideradas e aceites como parte da cruz de Cristo, se forem alcançadas pelo reflexo da sua luz. Só daquela Cruz também os nossos sofrimentos são nobilitados e adquirem o seu verdadeiro sentido.
Portanto, o apóstolo André ensina-nos a seguir Jesus com prontidão (cf. Mt 4, 20; Mc 1, 18), a falar com entusiasmo d'Ele a quantos encontramos, e sobretudo a cultivar com Ele um relacionamento de verdadeira familiaridade, bem conscientes de que só n'Ele podemos encontrar o sentido último da nossa vida e da nossa morte.
Saudação em Língua portuguesa:
Amados irmãos!
Nossa Catequese de hoje se centra na figura do Apóstolo André, irmão de Pedro. A Igreja bizantina honra-o com o nome deProtóklitos, ou seja o que foi "chamado por primeiro", por ter sido o primeiro entre os apóstolos a seguir o Senhor. Depois dele viriam todos os demais, antes de mais Pedro, a quem o Messias confiara a sua Igreja. André foi o apóstolo do mundo grego; por isso, ele exprime uma simbólica aliança entre a Igreja de Roma e a de Constantinopla.
Ao recorrer à intercessão deste grande apóstolo, peço a todos os peregrinos presentes de língua portuguesa, especialmente aos grupos vindos de Portugal e do Brasil, que rezem pela unidade da Igreja e pela comunhão de todos os cristãos. Com a minha Bênção Apostólica.

BENTO XVI, Os Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Cristo. As origens da Igreja. Editorial Franciscana: Braga 2008.